sábado, 10 de agosto de 2019

Volta completa

Para quem não sabe, por muitos anos a McLaren era uma equipe dividida em duas por seu fundador, Bruce McLaren. De um lado do Atlântico, crescia dentro da F1, a grande especialidade de Bruce. Do outro lado, a McLaren se destacava no rico automobilismo americano, primeiro dominando a Can-Am e depois construindo carros para a Indy, conseguindo importantes vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis. Claro que essa divisão não durou muito e em meados dos anos 1970, a McLaren se concentrou unicamente na F1, mas desde que Alonso viu que não venceria mais na categoria, a equipe decidiu seguir seu piloto principal rumo à Indy. O primeiro ano foi um sucesso, encorajando a McLaren a tentar um maior envolvimento na Indy, só que 2019 foi um fracasso retumbante. Porém, Zak Brown e seus blue caps não queria sair da Indy pelas portas dos fundos e nessa semana anunciou a entrada da McLaren full-time na Indy.

Por trás dessa reestreia da McLaren na Indy em todo o campeonato, aconteceram vários movimentos para que isso fosse possível. Alonso só se interessou pela Indy quando viu que suas chances de conquistar o terceiro título na F1 estavam indo para o ralo, muito por causa do noviciado da Honda com a tecnologia híbrida. Querendo agradar de qualquer maneira seu piloto, a McLaren deixou Alonso perder uma das corrida mais importantes da F1 (Mônaco) para estar em Indianápolis em 2017, em parceria com a equipe Andretti. Porém, o 'GP2 Engine' jamais foi esquecido pela Honda, que tem uma parceria forte com a Andretti e quando houve a ruptura com a McLaren na F1, fechou todas as portas para Alonso e por consequência, a McLaren na Indy. Com Alonso de fora da F1, a McLaren tentou correr em Indianápolis por conta própria esse ano, para isso contratando o experiente Rob Farley para comandar a empreitada. Foi um dos maiores fracassos da história gloriosa da McLaren. Após cometer erros básicos de preparação, a McLaren ficou de fora do grid de 33 carros em Indianápolis, tendo como piloto o grande Fernando Alonso.

Apesar do investimento ser exponencialmente menor do que na F1, preparar um carro na Indy não é tão simples e a McLaren percebeu isso da pior maneira possível. Na época da classificação em Indianápolis a McLaren escolheu a pequena Carlin como parceira. Mesmo muito tradicional nas categorias de base na Europa, a Carlin ainda engatinha nos Estados Unidos. A McLaren percebeu que precisava de uma equipe mais forte e estruturada, porém havia um pequeno detalhe: o veto da Honda. Os japoneses não queriam Alonso com seus motores de jeito nenhum e então a McLaren ficou com poucas opções viáveis na Indy, pois apenas a Penske utiliza motores Chevrolet, enquanto Andretti e Ganassi usam Honda. Restava a McLaren convencer uma equipe Honda trocar para Chevrolet. A Smith&Peterson é uma equipe emergente, mas com o tamanho do trio de ferro da Indy (Penske-Ganassi-Andretti), o time parecia que nunca brigaria pelo título, mesmo com essa ambição. A McLaren é uma parceira que todo mundo gostaria de ter e a SPM não ligou muito em trocar de motor para pintar seus carros de laranja em 2020. 

A chegada da McLaren na SPM causou várias reações dentro da Indy. Primeiro que a SPM já mudou de patamar tendo uma gigante ao seu lado e a geometria de gigantes da Indy pode mudar de um triângulo para um quadrado em breve. A McLaren não irá entrar num campeonato inteiro para perder e por isso tentará contratar os melhores pilotos disponíveis. Alexander Rossi, Josef Newgarden e Scott Dixon tem contratos sólidos com Andretti, Penske e Ganassi respectivamente, sendo assim, os três principais pilotos dessa temporada saíram do radar da McLaren. Resta saber se Alonso, que parece ainda tateando o que fazer em 2020, encararia uma temporada completa na Indy, como se ventilou por aqui, mas que acabou num tiro n'água. A dupla atual da SPM não é de toda ruim, mas tem seus problemas. James Hinchcliffe é um ótimo piloto, mas é piloto da... Honda! Mesmo com contrato para 2020, o canadense pode sair da SPM-McLaren. Marcus Ericsson até conseguiu um pódio nesse seu ano de estreia, mas o sueco, que nada fez na F1, vem se mostrando um novato muito irregular na Indy e não agrada. Felipe Nasr fez um bom teste com a equipe e tem o know-how de ter experiência na F1 e até conhecer alguns engenheiros da McLaren. Seria uma boa esperança para o Brasil na Indy, já que Tony Kanaan já faz hora extra na Indy e Matheus Leist ainda não mostrou a que veio, onde ambos estão na pior equipe (Foyt) da Indy. Também há Colton Herta, novato sensação da Indy, que está ligado à Andretti, mas sem espaço na equipe. As boas relações entre a McLaren e a Andretti podem facilitar um empréstimo. 

O que importa é que o interesse da McLaren na Indy só demonstra o bom crescimento da categoria, que volta a correr em circuitos tradicionais e está com um bom nível técnico de pilotos. Enquanto ainda tenta voltar aos tempos de glória na F1, a McLaren pode voltar a vencer no outro lado do Atlântico, como fazia muito bem seu fundador Bruce nos primeiros tempos da equipe.

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