sábado, 27 de junho de 2015

Lenda viva

Marc Márquez nunca escondeu que sempre teve Valentino Rossi como ídolo. E Rossi nunca escondeu que vê Márquez como uma espécie de sucessor, o cara que irá quebrar seus recordes na MotoGP. Neste sábado, mais uma vez vimos uma luta entre 'ídolo x fã', 'passado x futuro' ou 'novo x velho'. Rossi e Márquez protagonizaram uma corrida histórica numa corrida que já seria histórica pelo fato da edição desse ano ser a última do velho 'Dutch TT' no sábado, em Assen, a Catedral do Motociclismo.

Largando na pole, após longo e tenebroso inverno, com péssimas posições no grid no meio, Rossi manteve a ponta na largada, mesmo atacado por Márquez, que deixou a Suzuki de Aleix Espargaró para trás e passou a atacar Rossi. Da primeira à última volta. Chateado com a mudança dos pneus Bridgestone para essa corrida na Holanda, Jorge Lorenzo largou em oitavo e acusando os japoneses e a organização da MotoGP ter mudado o composto dos pneus logo após o espanhol da Yamaha conquistar quatro vitórias consecutivas e incontestáveis. Porém, Lorenzo abaixou a cabeça e numa largada arrebatadora, já aparecia em terceiro no final da primeira volta, dando a sensação que estaria na briga pela vitória, mas desconfortável com os pneus e com a moto, Lorenzo foi perdendo rendimento e fez uma corrida solitária em terceiro.

O que importava era lá na frente. Márquez corria ao seu estilo, mas com o quadro de 2014, o espanhol da Honda parecia mais confortável em andar de lado e correr no limite extremo da sua máquina. Enquanto isso, Rossi tinha uma pilotagem mais cartesiana, sabendo que sua Yamaha era mais constante que a Honda. Valentino liderou boa parte da corrida, mas com Márquez não mais do que três décimos atrás. A maioria das vezes menos. Faltando seis voltas para o fim, uma enigmática placa foi mostrada para Rossi: BKR. O que significa? Quem sabe nas próximas horas saberemos. O que importa foi que Márquez, andando no limite e escorregando para todo lado, conseguiu uma ultrapassagem, assumindo a ponta de uma corrida após muito tempo. Na hora, muita gente deve ter lembrado, como eu, das disputas de Valentino com Sete Gibernau dez anos atrás. Rossi sempre deixava o espanhol da Honda liderar nas últimas voltas para dar o bote no momento certo, acabando com o psicológico de Gibernau. O script foi parecido, mas o final foi diferente.

Rossi deu o bote na antepenúltima volta e logo abriu meio segundo. Parecia a ultrapassagem definitiva. Porém, Marc Márquez não é Sete Gibernau. O que faltava de cabeça para Gibernau, sobra agressividade para Márquez. Da mesma forma como Rossi fez várias ultrapassagens no último momento em sua carreira, Márquez (provavelmente inspirado em outras corridas de Rossi no passado), tentou um bote em cima de Rossi na entrada da chicane de Assen, na última volta. Alguém lembrou do incidente Rossi/Gibernau em Jerez/2005? Márquez entrou na curva sem tomada, da mesma forma que Rossi dez anos atrás, e tocou no italiano da Yamaha, como Vale fez em Sete na curva Ducados em Jerez. Porém, houve uma diferença. Enquanto Gibernau caiu ao levar o toque, Rossi conseguiu uma manobra antológica ao passar reto na chicane, surfar na brita e partir rumo a bandeirada com direito a uma olhadinha para trás, como se dizendo à Márquez: Você acha mesmo que eu ia cair na minha própria armadilha?

O desespero de Márquez na manobra demonstrou que o espanhol esqueceu um pouco o campeonato e está indo pro tudo ou nada, mas essa não é a primeira manobra tresloucada do espanhol da Honda, o que é uma perigosa constância de Márquez. Já Rossi conseguiu sua terceira vitória no ano e aumentou para dez pontos sua vantagem sobre um infeliz Lorenzo, que estava com cara de rapariga ruim após a prova. O fato de ter cruzado a chicane ainda pode causar reclamações por parte da Honda, mas a manobra que fez hoje mostra que o velho clichê serve muito bem para Valentino Rossi: Lenda Viva! 

Um comentário:

  1. Lorenzo sempre chorando e reclamando de tudo.

    A empáfia desse sujeito é interminável.

    ResponderExcluir