Entre os famosos irmãos Rodríguez e Sérgio Pérez, o México produziu um piloto que tentou levar sua carreira como no início da F1. Comprava-se um carro e disputava com os melhores pilotos pelas pistas do mundo. Infelizmente para Hector Rebaque, ele nasceu nessa mesma época romântica da F1 e quando partiu para a Europa, mais de vinte anos depois, a categoria já estava profissional demais para que Gentleman Drivers fizessem sucesso. Completando 60 anos no dia de hoje, vamos ver um pouco da carreira desse mexicano muitas vezes esquecido pelos próprios compatriotas.
Hector Alonso Rebaque nasceu no dia 5 de fevereiro de 1956 na Cidade do México, filho de um rico industrial mexicano, que nos anos 1950 chegou a participar de corridas de Endurance, incluindo as famosas provas em Daytona e Sebring. Apoiado firmemente pelo pai (principalmente financeiramente...), o pequeno Hector começou bem cedo nas corridas, participando de suas primeiras provas aos 15 anos de idade, em pequenas ralis no México. Com apenas 19 anos de idade, Rebaque pai comprou um lugar para o filho na famosa equipe de Fred Opert no Campeonato Inglês de F-Atlantic, mas mesmo tendo um bom equipamento em mãos, Hector Rebaque não consegue bons resultados e no final de 1975 atravessa o Atlântico para disputar o tradicional certame Norte-Americano de F-Atlantic. Rebaque se torna um piloto competitivo, mas não vencedor no Campeonato de F-Atlantic, onde tinha que enfrentar Gilles Villeneuve nos seus melhores anos na categoria de base.
Mesmo sem resultados bons para mostrar, Hector Rebaque tinha o suporte financeiro do pai e em 1977 ele investiu na Hesketh na F1, em sérias dificuldades desde a saída de James Hunt no final de 1975. Com apenas 21 anos de idade, Rebaque fez sua estreia na equipe no Grande Prêmio da Bélgica de 1977, mas com um carro ruim e sem muito talento, Hector só foi conseguir um lugar no grid na Alemanha, em Hockenheim, uma pista relativamente fácil para os pilotos da época. Mesmo com muito dinheiro, ninguém se interessou em contratar Rebaque e o mexicano montou sua equipe própria para 1978, comprando um Lotus 78, que pertenceu à Mario Andretti. O ítalo-americano tinha feito uma grande temporada em 1977 com esse carro, mas Colin Chapman o refinou ainda mais e criou o Lotus 79, que deixou todos os demais carros de F1 obsoletos, incluindo o Lotus 78. Era esperado que Rebaque conseguisse posições intermediárias, mas o mexicano raras vezes conseguia um top-20 e durante o escaldante Grande Prêmio do Brasil, Rebaque abandonou a corrida por fadiga. Em Hockenheim, um ano após sua primeira corrida na F1, Rebaque consegue o seu primeiro ponto com um sexto lugar. Para 1979, a família Rebaque consegue outro acordo com Colin Chapman e Hector teria nas mãos o carro que dominou a temporada de 1978, mas novamente os resultados do mexicano deixavam muito a desejar, transformando Hector Rebaque simplesmente num pay-driver sem nenhum perspectiva.
Contudo, Rebaque tinha uma surpresa. Durante 1979, um novo carro era produzido pela sua equipe, com ajuda da equipe Penske e com supervisão de John Barnard. O Rebaque HR100 ficou pronto no final de 1979, com o carro ficando muito parecido com o Lotus 79, mas com a lateral da Williams FW07, que estava dominando a segunda metade de 1979. O carro seria o primeiro mexicano e o segundo fabricado na América Latina a fazer uma corrida oficial de F1. Porém, o carro era muito pesado e a inexperiente equipe ainda cometia erros primários, como errar a montagem do motor e fazer com que Rebaque abandonasse a única corrida em que seu próprio carro esteve no grid. Muito lento, era preciso um grande investimento para que o Rebaque HR100 ficasse minimamente competitivo, além do que, Hector Rebaque ainda não tinha mostrado o mínimo talento na F1. Isso significou o fim do sonho mexicano de uma equipe própria na F1. Porém, não significava o fim da carreira de Hector Rebaque. Graças aos bons contatos da família, Hector Rebaque consegue o patrocínio da Pemex, uma petroleira mexicana. No entanto, ao invés de investir no próprio carro ou numa equipe particular, Rebaque volta às origens e tenta comprar um lugar num cockpit de uma equipe competitiva. A Brabham tinha em Nelson Piquet o piloto principal, enquanto que Bernie Ecclestone vendia o segundo carro à algum piloto endinheirado. Em 1980 este posto ficou com o argentino Ricardo Zunino, que substituiu de emergência Niki Lauda nas últimas corridas de 1979, mas Zunino havia se mostrado um piloto abaixo da crítica. Mais preocupado com as finanças, Ecclestone não se preocupou muito em vender seu segundo carro a outro piloto ruim de braço e bom de grana. E assim Hector Rebaque entrou na tradicional equipe Brabham ainda em 1980, ficando longe da briga do título de Piquet, mas ainda marcando um pontinho com o sexto lugar em Montreal.
Totalmente alheio ao Mundial de Construtores e mesmo com o próprio Piquet solicitando um melhor piloto como companheiro de equipe, Ecclestone manteve Rebaque para 1981 na Brabham. E não é que o mexicano até fez um bom papel? Em pistas em que o talento do piloto não era o mais importante, Rebaque fazia boas corridas, em especial na terceira etapa do ano, em Buenos Aires, quando o mexicano ficou boa parte da corrida em segundo, atrás de Piquet, até quebrar a suspensão do seu carro. Após conseguir um ótimo quarto lugar em Ímola no Grande Prêmio de San Marino, Rebaque conseguiu a proeza de não se classificar para o grid do Grande Prêmio de Mônaco (na época se largavam apenas 20 carros), enquanto Piquet conseguia a pole. A diferença entre os dois pilotos da Brabham era mesmo abissal, mas com outros dois quarto lugares (Alemanha e Holanda), Hector Rebaque terminou o ano numa respeitável décima posição no Mundial de Pilotos, com onze pontos. Ironicamente, sua melhor temporada na F1 foi também a última. Ecclestone havia conseguido expandir seu patrocínio com a Parmalat e com a BMW investindo no novo motor turbo, além da Parmalat pressionar por um piloto italiano, Rebaque foi dispensado para a entrada de Riccardo Patrese. Foram 41 corridas e treze pontos para Hector Rebaque, além de 20 não classificações para os grid ao longo de cinco temporadas.
Contando com apenas 25 anos, Hector Rebaque retornou à América do Norte tentar a sorte na ascendente F-Indy/CART, onde conseguiu um lugar na equipe Forsythe. As primeiras corridas de Rebaque na Indy foram marcadas por muitos acidentes, incluindo um muito forte em Michigan, que criou no mexicano uma aversão aos circuitos ovais. Na sua única 500 Milhas de Indianápolis, Rebaque terminou apenas em 13º, mas Hector decide que as corridas em pistas ovais eram perigosas demais e mesmo vencendo uma corrida em Elkhart Lake, onde Rebaque contou com a sorte do então líder Al Unser Sr abandonar na última volta, o mexicano decidiu desistir da Indy no final de 1982. Após uma tentativa frustrada de voltar à F1 em 1983, Hector Rebaque abandonou definitivamente sua carreira de piloto aos 27 anos de idade. Com talento para lá de questionável, mas com muito dinheiro para gastar, Rebaque teve uma carreira curta na F1, onde foi considerado um dos últimos Gentleman Drivers da história, onde foi piloto/construtor por um tempo e só conseguiu um lugar na competitiva Brabham devido aos seus contatos. Um piloto Lado B.
Parabéns!
Hector Rebaque
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