terça-feira, 19 de junho de 2018

História: 30 anos do Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1988

Detroit seria a terceira corrida consecutiva na América do Norte e o destino final de uma frota de caminhões para movimentar o circo da F1 da Cidade do México, passando por Montreal até chegar nos Estados Unidos. As notícias vindas da Itália não eram boas sobre a saúde de Enzo Ferrari e isso mexia bastante nos bastidores da equipes, já que Marco Piccinini, afilhado de Ferrari, ia sendo substituído por Cesare Fiore, diretor de competição de Lancia no Mundial de Rally e queridinho de Gianni Agnelli, dono da Fiat. Os motores Judd estavam com uma péssima confiabilidade, para desespero de Ligier, March e principalmente Williams, completamente incapaz de defender seu título. Na Minardi, Pierluigi Martini substitui Adrian Campos, retornando ao time após três anos. O circuito citadino de Detroit não era muito apreciado pelos pilotos, além de ser bastante ondulado. 

No sábado à tarde, Stefano Modena bateu muito forte de traseira na curva Chrysler e o italiano chegou a ficar inconsciente, mas felizmente Modena não sofreu nenhum arranhão e passou a noite no hospital por precaução. Uma hora depois, Ivan Capelli perdeu o controle do seu March na saída da chicane da entrada dos boxes e bateu no muro a 200 km/h, bem em frente ao pit-wall de McLaren e Lotus. Uma roda invadiu os boxes, machucando dois mecânicos e quase acertando o engenheiro chefe de Prost e Gerard Ducarouge, projetista da Lotus. Capelli chegou a desmaiar, mas saiu do carro sozinho, mas mancando muito do pé direito, que acabou fraturado. Realizado sobre muito calor, a classificação viu Senna marcar sua sexta pole consecutiva, enquanto Prost era atrapalhado pelo tráfego e era apenas quarto, tendo as duas Ferraris entre ele e Senna. 

Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:40.606
2) Berger (Ferrari) - 1:41.464
3) Alboreto (Ferrari) - 1:41.700
4) Prost (McLaren) - 1:42.019
5) Boutsen (Benetton) - 1:42.690
6) Mansell (Williams) - 1:42.897
7) Nannini (Benetton) - 1:43.117
8) Piquet (Lotus) - 1:43.314
9) Warwick (Arrows) - 1:43.799
10) Patrese (Williams) - 1:43.810

O dia 19 de junho de 1988 amanheceu extremamente quente em Detroit, causando grande preocupação para as equipes e os organizadores, pois durante a classificação o asfalto começou a se desfazer por causa do calor e na madrugada, cimento foi colocado para disfarçar a buraqueira. A Ferrari falava em até duas paradas nos boxes e Senna chegou ao circuito gripado, por causa do ar-condicionado do seu quarto de hotel, o deixando debilitado para uma corrida que prometia ser muito dura. Enquanto levava seu carro para o grid, Mansell viu a transmissão da Williams quebrar e se não fosse uma carona de Cheever, Nigel não largaria com o seu carro reserva. Com os termômetros marcando 40ºC, Senna largou muito bem e manteve a ponta, mesmo pressionado por Berger. Prost tentou ultrapassar Alboreto, mas acabou surpreendido por Boutsen.

Senna não força muito e era perseguido pela dupla da Ferrari, enquanto Prost rapidamente se livra de Boutsen e parte para cima de Alboreto. O francês marcaria a volta mais rápida ainda na terceira passagem, por que o forte calor desgastaria pneus e o asfalto, não permitindo melhoras nos tempos. Prost ultrapassa Alboreto e Berger em voltas consecutivas, mas ao se ver na segunda posição, o francês já aparecia 6.5s atrás de Senna. Na sétima volta Alboreto tenta ultrapassar Berger, mas o italiano é surpreendido por Boutsen, que imediatamente ataca Berger, mas é fechado pelo austríaco, que toca na asa dianteira de Boutsen com o pneu traseiro esquerdo, que fura e provoca o abandono do piloto da Ferrari. Alboreto assumia a terceira posição, mas na volta seguinte era ultrapassado pelo valente Boutsen e rapidamente Nannini e Mansell se aproximam do italiano. Nannini atacou Alboreto e numa disputa de posição, acaba tocando no compatriota, que roda e retorna à corrida dando uma marcha ré muito perigosa. Na volta 15 Nannini vai aos boxes para conferir uma vibração na sua dianteira e o resultado era o abandono do italiano da Benetton com a suspensão dianteira quebrada, ainda por causa do toque de Nannini em Alboreto.

Senna administrava uma vantagem de 7s em cima de Prost, enquanto Mansell conhecia outro abandono, desta vez com o câmbio quebrado. Dez voltas depois o dia da Williams terminou quando Patrese encostou seu carro com o motor quebrado, enquanto Piquet rodava na curva 3 e abandonava a prova. Antes da prova Nelson disse que tentaria sobreviver num circuito que ele detestava, mas estava difícil se manter na corrida em Detroit trinta anos atrás. Quando Patrese abandonou, ele estava em quarto e era o último na mesma volta dos líderes. E a corrida nem estava na metade! Senna usou sua agressiva tática de deixar o mais rápido possível os retardatários e Prost foi perdendo cada vez mais terreno. Boutsen, mais de um minuto atrás, corria solitário em terceiro. Quando os dois pilotos da McLaren fizeram seus pit-stops para trocarem os pneus, Senna tinha uma vantagem de 36s em cima de Prost, enquanto várias surpresas apareciam na zona de pontuação. Andrea de Cesaris era quarto, seguido por um bem retornado Martini e Alex Caffi, que se aproveitava do abandono de Maurício Gugelmin mais cedo para ser sexto.

Alboreto vinha duas voltas atrasado e numa disputa por posição com Caffi, acaba fazendo o compatriota rodar e ter que voltar aos boxes trocar a asa dianteira. O piloto da Ferrari abandonou no local. Arnoux assumiu a sexta posição por poucos segundos, pois seu motor Judd quebrou na saída do túnel. Para demonstrar o tamanho da superioridade da McLaren frente aos demais, Senna coloca uma volta no terceiro colocado Boutsen ainda faltando doze voltas para o fim. Com o asfalto se desprendendo em alguns lugares, a McLaren aconselhou seus pilotos a diminuir o ritmo para evitar acidentes nas voltas finais. Ayrton Senna venceu pela terceira vez consecutiva o GP de Detroit, com Prost terminando em segundo na terceira dobradinha consecutiva da McLaren-Honda. Boutsen completou o pódio, recebendo a bandeirada logo atrás de Senna para não ter que dar outra volta. De Cesaris terminou em quarto e marcou os primeiros pontos da equipe Rial e também era a primeira vez que o italiano via a bandeira quadriculada desde o GP do México de 1986. Palmer terminou em quinto e Martini marcou o primeiro ponto da equipe Minardi, depois de três temporadas e meia de Fórmula 1. Ao pegar o voo de volta para a Europa, Andrea de Cesaris acabou se envolvendo numa confusão no aeroporto de Nova Iorque e ficou preso uma noite. "Isso só não foi pior do que correr em Detroit...", falou o italiano. Bernie Ecclestone cobrou do prefeito de Detroit uma série de mudanças no asfalto (que se deteriorou bastante na corrida e nos treinos) e na infra-estrutura móvel da pista. Como resposta, Bernie recebeu a promessa de uma mudança para a ilha artificial de Belle Isle, onde seus requisitos seriam preenchidos. Porém, um comitê em Detroit negou a mudança, alegando que seria muito caro para a cidade fazer os caprichos de Ecclestone. Como resultado, Detroit nunca mais sediaria uma corrida de F1 e os pilotos não pareciam tristes com isso.

Chegada:
1) Senna
2) Prost
3) Boutsen
4) De Cesaris
5) Palmer
6) Martini 

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