terça-feira, 29 de setembro de 2020

História: 30 anos do Grande Prêmio da Espanha de 1990


 A silly-season estava à todo vapor trinta anos atrás nos bastidores da F1. Alain Prost criticou publicamente a política interna da Ferrari, que lhe causou a derrota para Senna em Estoril. Mesmo chegando em segundo, Senna precisava somar um ponto a mais do que Prost para ser campeão em 1990, porém, o apertado circuito de Jerez favorecia à Ferrari, que prometia a Prost a primazia de ter o carro reserva para ele até o final do ano. Desiludido com a Ferrari, Mansell chegou a anunciar que estava se aposentando da F1, mas na verdade negociava abertamente com a Williams, que estava interessado numa grande estrela para a equipe em 1991. Mesmo fazendo uma melhor temporada do que seu companheiro de equipe Patrese, Thierry Boutsen foi sacado da Williams para a entrada de Mansell e anunciou que tinha um contrato até 1992 com a Ligier.


Para sempre os treinos para o Grande Prêmio da Espanha de 1990 ficarão marcados pelo terrível acidente de Martin Donnelly, que espatifou sua Lotus contra o guard-rail na curva Ferrari, tendo a frente do seu carro arrancada. Donnelly foi jogado para o meio da pista, ainda amarrado ao banco, com seu tornozelo virado, numa cena arrepiante. Todos no paddock prenderam a respiração, lembrando do acidente fatal de Gilles Villeneuve apenas oito anos antes. Donnelly estava vivo, mas profundamente inconsciente e foi levado para um hospital em Sevilla em estado grave, mas incrivelmente fora de perigo. Porém, a carreira de Martin Donnelly fora encerrada naquele momento. Senna conseguiu sua pole de número 50 na F1, mas estava tão triste com o acidente de Donnelly que nem comemorou seu feito.

Grid:

1) Senna (McLaren) - 1:18.387

2) Prost (Ferrari) - 1:18.824

3) Mansell (Ferrari) - 1:19.106

4) Alesi (Tyrrell) -  1:19.604

5) Berger (McLaren) - 1:19.618

6) Patrese (Williams) - 1:19.647

7) Boutsen (Williams) - 1:19.689

8) Piquet (Benetton) - 1:19.700

9) Nannini (Benetton) - 1:20.367

10) Warwick (Lotus) - 1:20.610




O dia 30 de setembro de 1990 estava nublado em Jerez de la Frontera, mas ainda com muito calor naquele outono na Espanha. Desde 1986 no calendário da F1, Jerez nunca levou grande público às suas corridas e por isso aquele seria o último GP da Espanha no circuito, que daria lugar a um circuito moderno, construído nos arredores de Barcelona, a partir de 1991. O chefe de equipe Cesare Fiori se reuniu com seus dois pilotos e convenceu Mansell a ajudar Prost até o final do ano, mas o racha entre Prost e Mansell era claro e ambos não se falavam mais. Na luz verde Senna se mantém na ponta, à frente dos dois pilotos da Ferrari, enquanto Berger colocava Alesi quase fora da pista, fazendo o francês encurralar Patrese, que tocou no pneu traseiro de Alesi, furando-o. Na freada da primeira curva, Alesi perdeu o controle do seu Tyrrell com o pneu já murcho e roda. Antes da largada Ron Dennis havia pedido à Alesi aliviar para Berger, deixando o piloto da Tyrrell furioso, mas no fim, foi Berger que forçou a barra e acabou com a corrida de Alesi na primeira volta.


Com um carro mais bem acertado para pistas lentas como Jerez, a dupla da Ferrari atacava Senna desde a primeira volta, mas a dificuldade de ultrapassagens impedia uma manobra mais agressiva de Prost. Largando com pneus duros, o quarto colocado Berger criava uma linha indiana atrás de si. Não haviam ultrapassagens, parecido com o que ocorre hoje e da mesma forma como em 2020, a luta de trinta anos atrás seria decidida nos boxes. Na volta 20 Mansell foi aos boxes trocar seus pneus, com Prost fazendo seu pit-stop cinco voltas depois, com Senna parando na volta 26. Numa manobra chamada hoje de undercut, a dupla da Ferrari emergiu na frente de Senna, com Mansell rapidamente cedendo sua posição para Prost, mas o inglês não presta atenção na manobra e acaba dando a segunda posição para Senna! Outra trapalhada de Nigel que não ajudou muito os planos da Ferrari. Nelson Piquet retardava sua parada e com isso, liderava uma corrida de F1 depois de três anos, mas bem mais lento, era alcançado por Prost e Senna, que andavam juntos. O motor de Piquet falhou e o brasileiro saiu da pista permitindo que Prost e Senna assumissem a ponta, porém, logo Prost marcou a volta mais rápida da corrida e se distanciava de Senna, que sabia que nada poderia fazer contra a força da Ferrari em circuitos com muito downforce.


Após ultrapassar Piquet, que tinha problemas no motor e abandonaria logo depois, Mansell alcançava Senna, que já tomava 27s de Prost, que fazia uma corrida mais agressiva do que o normal do francês. Na volta 42 Martini sai dos boxes, mas a Minardi não aperta bem uma de suas rodas e o italiano logo abandona. Enquanto era guinchado, o pneu de Martini se soltou no meio da pista, mas felizmente ninguém atingiu o pneu perdido. Na volta 51 Prost faz sua segunda parada e retorna à corrida ainda em primeiro, enquanto um filete de água era visto na McLaren de Senna. Seu radiador estava furado e na volta 53 o brasileiro encostou sua McLaren um pouco depois da saída dos boxes. Senna ficou um tempo assistindo a prova em cima do muro, enquanto a Ferrari partia para uma tranquila dobradinha. A prova da McLaren pioraria ainda mais algumas voltas depois, quando Berger, mais rápido do que Boutsen após fazer sua segunda parada, tenta uma manobra deveras otimista na última curva e acaba batendo na Williams de Thierry. A McLaren de Berger chegou a sair do chão, mas felizmente o austríaco pousou no lado certo, mas pela primeira vez em 1990 nenhum carro da McLaren veria a bandeirada.


O acidente de Berger foi praticamente o final dos acontecimentos daquela triste corrida espanhola de trinta anos atrás. Com os carros bem espaçados e sem maiores brigas no pelotão dianteiro, Prost e Mansell tiraram o pé nas voltas finais e garantiram a segunda dobradinha da Ferrari em 1990. Era também a quinta vitória de Prost no ano e uma sobrevida para o francês no campeonato. Numa corrida sólida, Nannini completou o pódio, com Boutsen sobrevivendo ao toque de Berger para ser o quarto, enquanto Patrese, que foi aos boxes para limpar o seu radiador pelo incidente com Alesi na primeira volta, terminou em quinto e Aguri Suzuki fechou a zona de pontuação. No pódio, toda a tensão da semana anterior dentro da Ferrari parecia terminada com um caloroso aperto de mãos entre Prost e Mansell. Senna ainda tinha nove pontos de vantagem sobre Prost com duas corridas para o fim. Mesmo com essa vantagem, o brasileiro estava tenso. As cicatrizes de 1989 ainda estavam abertas, mas a F1 respirava aliviada em não ter mais uma morte.

Chegada:

1) Prost

2) Mansell

3) Nannini

4) Boutsen

5) Patrese

6) Suzuki

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Figura(RUS): Charles Leclerc

Que ponto chegamos! Colocar como destaque da corrida um sexto lugar de um piloto da Ferrari, mas o presente é o que é. Charles Leclerc levar a carroça vermelha de Maranello ao sexto lugar foi o sinal de uma corrida acima da média do monegasco. A Ferrari passa por uma das fases mais complicadas de sua longa história e muito provavelmente a recuperação não virá em 2021, fazendo com que seus pilotos sofram como se estivessem no começo da década de 1990 na scuderia. Leclerc falhou por muito pouco em entrar no Q3, mas a liberdade de escolha de pneus se mostrou decisiva, mesmo que para conseguir sua ótima posição no início da prova, Leclerc tenha tido um toque passível de punição em cima de Lance Stroll na primeira volta. Mesmo hoje tendo um carro inferior à Racing Point, Renault e até mesmo McLaren, Leclerc ter superado um carro de Renault e McLaren é um verdadeiro feito, ainda mais levando seu carro ao sexto lugar, um resultado bem acima do potencial da Ferrari atual. Olhando de outra perspectiva, contudo, o sexto lugar de Leclerc o fazendo colocar como destaque da corrida só realça a draga que está a Ferrari em 2020.

Figurão(RUS): Mercedes

 Uma das funções dos vários engenheiros, técnicos e, principalmente, estrategistas dentro de uma equipe de F1 é avisar ou ao piloto ou ao engenheiro em contato direto com o piloto se há algo de errado acontecendo no carro, mas também dentro da corrida. Se há algo acontecendo que fere o regulamento, basta um aviso no rádio para que tudo seja resolvido o mais breve possível. Ok, o livro de regras da F1 deve ser do tamanho de um volume de bíblias originais em latim, porém, algumas regras básicas devem estar na cabeça de todos. Lewis Hamilton tinha tudo para transformar o final de semana russo em histórico na F1, quando se igualaria ao incrível número de vitórias de Michael Schumacher, mas tudo foi por água abaixo ainda antes da largada. No calor da emoção e já com treze anos de experiência, Hamilton resolveu testar largadas logo após a saída dos boxes, quando a FIA tinha determinado que não poderia ser ali. Mesmo que Hamilton tenha tido um branco mental, faltou alguém da Mercedes avisar que o seu piloto estava fazendo uma irregularidade e que não poderia fazer o tal teste. Para completar, Hamilton efetuou o tal teste não apenas uma, mas duas vezes! O resultado foi 10s de punição e a ciência de que a esperada vitória 91 de Hamilton seria adiada. Claro que a polêmica surgiu com o tamanho da penalidade de Hamilton. O crime foi proporcional a pena? A polêmica está aí, mas contra fatos não há argumentos: Hamilton testou largada (duas vezes!) em local proibido por isso. O espantoso de tudo isso foi que ninguém na Mercedes não tenha percebido isso, causando uma punição besta e ridícula, como o próprio Hamilton falou. Numa equipe tão organizada e entrosada como a Mercedes, um escorregão como o de ontem doeu ainda mais.

domingo, 27 de setembro de 2020

Reação de Fabio

 


Quando venceu duas vezes seguidas na abertura da temporada 2020, somada a saída forçada de Marc Márquez, Fabio Quartararo deu a impressão que dominaria o campeonato, igualando aos feitos do próprio Márquez nos últimos anos, contudo, as corridas seguintes mostraram um Quartararo inseguro e nem de longe o piloto dominador em Jerez. Com a MotoGP novamente na Espanha, o piloto da Petronas Yamaha voltou a ter uma corrida tranquila e com a confiança em alta nas terras espanholas, voltou a vencer em 2020, se tornando o primeiro piloto a vencer três vezes esse ano e com o abandono de Doviziozo ainda na segunda curva, reassumiu a liderança do campeonato.

A Yamaha colocou seus quatro pilotos entre os cinco primeiros do grid e estava com a pinta de que poderia dominar o final de semana catalão, porém, as coisas não saíram como o imaginado, mesmo que a marca dos três diapasões tenha vencido no domingo. Primeiro Viñales fez uma largada horrorosa e como normalmente acontece nessas situações, o espanhol teve a sua frágil confiança abalada e nada mais fez durante a corrida, conseguindo a muito custo um top-10. O pole Morbidelli permaneceu em primeiro e segurou o rojão Jack Miller, sempre um bom largador, mesmo que não mantenha o ritmo. Porém, Quartararo não demorou para ultrapassar o australiano da Ducati e atacar o companheiro de equipe. Ao assumir a ponta, a Petronas Yamaha parecia que comemoraria uma dobradinha, mas Franco acabou errando na freada da primeira curva e permitiu que Rossi assumisse a segunda posição.

Com quase o dobro da idade de Quartararo, Rossi parecia ter condições de ataque e voltar a vencer, mas um erro nas voltas decisivos derrubou a lenda, para desespero de toda a torcida no mundo, que lamentou bastante a queda do piloto da Yamaha, que chegou aos boxes de sua equipe arrasado. Ele sabia que tinha chances sérias de vencer. Com Morbidelli perdendo rendimento, Quartararo tomou ainda mais as rédeas da corrida e venceu de forma tranquila. O triunfo em Barcelona pode ser o push que o francês precisava para brigar e ser o favorito ao título. A dupla da Suzuki completou o pódio, com um ritmo muito forte na segunda metade da corrida, algo que já vem sendo característico das motos de Hamamatsu. Porém, o surpreendente Joan Mir vem liderando a equipe. Mais jovem e menos experiente do que Alex Rins, Mir está na vice-liderança do campeonato e sua primeira vitória na MotoGP já é esperada para qualquer momento.

Com a vitória de Quartararo e a queda de Doviziozo, o campeonato deu uma clareada para o francês, que reassumiu a liderança do campeonato, enquanto Mir ainda é um perigoso segundo colocado no campeonato. 

Recorde adiado

 


A expectativa era que Lewis Hamilton se igualasse à Michael Schumacher hoje, no insosso circuito de Sochi, mesmo com todas as dificuldades que o inglês iria enfrentar por parte da longa distância até a largada e a inferioridade estratégica. Contudo, o que definiu o adiamento do recorde de Hamilton aconteceu antes da largada por um erro banal do inglês e da equipe Mercedes, dando a vitória de bandeja para Valtteri Bottas, que mandou seus críticos àquele lugar após a bandeirada, ao melhor estilo Dunga levantando a Copa do Mundo em 1994.


A F1 está cheio de regras e muito provavelmente os pilotos nem saibam a metade do que podem ou não fazer dentro da pista e até fora dela. Por isso que as equipes tem várias pessoas para alertar os piloto sobre algo de irregular que estejam fazendo. Enquanto ia alinhar seu carro para o grid, Hamilton resolver testar largadas na saída dos pits, num lugar que não era permitido. Lewis, com treze anos de experiência, pode ter tido um branco mental e ter feito esse teste de forma até ingênua, mas ninguém da Mercedes avisar ao seu principal piloto que ele estava fazendo algo irregular? Isso, para mim, foi o grande erro da corrida e Toto Wolff só não está mais grosso do que parede de igreja porque pelo menos Bottas voltou a vencer, a primeira desde a abertura do campeonato de 2020. Contudo já surgem teorias da conspiração de que Hamilton foi prejudicado para dar a vitória à Bottas e a Mercedes garantir a dobradinha no campeonato, afastando o risco de Verstappen. Outra foi que a ditatorial Rússia não queria uma manifestação anti-racismo feita por Hamilton igual à de Mugello e por isso, garantiu que alguma regrinha qualquer não deixasse que Hamilton vencesse. De minha parte, acredito mais num erro banal de Hamilton (por ter testado a largada ali) e da Mercedes (por não ter alertado Hamilton da irregularidade). O fato foi que Hamilton descumpriu uma regra e foi punido pela letra da lei. Da mesma forma que há quem critique as regras, seria bem estranho se Hamilton não fosse punido. Diriam: estão armando para Hamilton igualar o recorde histórico de Schumacher na Mãe-Rússia. Assim é a vida e suas ambiguidades.


Com a Mercedes novamente massacrando a tudo e a todos, a corrida foi basicamente definida nesse escorregão de Hamilton. Bottas não teve o mínimo trabalho para vencer novamente em Sochi, abrindo pontuação sobre Max Verstappen na briga pelo segundo lugar no Mundial de Pilotos. O piloto da Red Bull fez outra corrida solitária nesse domingo, onde não atacou e não foi atacado nas arrastadas 53 voltas da corrida na Rússia. Irritadíssimo pela punição, Hamilton perdeu 10s (isso mesmo, foram duas punições!) e fez uma corrida onde apenas levou seu carro até o fim, garantindo pontos que já fazem de seu título uma questão de tempo. Por mais que Bottas vença, nada tirará o campeonato de Hamilton e o recorde de Schumacher é uma questão de tempo. No resto do pelotão quem sobressaiu foi Pérez, que terminou em quarto, sua melhor posição em 2020. O mexicano, bastante chateado por ter sido sacado da equipe que ajudou a salvar, teve a sorte de que Lance Stroll bateu ainda na primeira volta, tocado por Charles Leclerc, não dando ideias à Racing Point de fazer estratégias mirabolantes para colocar Stroll na frente de Pérez, agora cada vez mais fora da equipe. O bom desempenho de Ricciardo nos treinos livres davam até a sensação de que o australiano poderia brigar pelo pódio com Verstappen, mas isso esteve longe de acontecer, porém o piloto da Renault não fez feio e mesmo punido em 5s, conseguiu um quinto lugar, mesmo largando mal e perdendo a posição para Ocon. O francês fez mais uma corrida apagada e foi apenas sétimo, tendo que ceder sua posição à Ricciardo no meio da prova.


Levando em consideração a ruindade da Ferrari esse ano, o sexto lugar de Leclerc é algo a ser ressaltado e até mesmo comemorado. O monegasco tirou tudo do seu carro e levou a Ferrari para lugares bem acima do seu potencial. Cada vez mais escanteado pela equipe, Vettel fez outra corrida sofrível nesse domingo. Somando a Ferrari não estar atento a qualquer suspiro que Vettel dê, o alemão ainda é reconhecido por ser um piloto que se abate muito quando se encontra numa situação desconfortável, como aconteceu em seu último ano de Red Bull. Um fim indigno na Ferrari para um tetracampeão. A dupla da Alpha Tauri fez uma boa corrida e dois pilotos foram aos pontos, com destaque para Kvyat superando Gasly, que fez uma segunda parada para superar Norris e Albon nas voltas finais. Mais uma vez Albon fez uma corrida problemática e cheia de ultrapassagens, mas sua falta de pontos podem fazer diferença na conta que Helmut Marko faz para subir ou rebaixar seus pilotos no programa da Red Bull. A Williams fez outra corrida ruim, o mesmo acontecendo com as equipes clientes da Ferrari. Porém, Grosjean fez outra corrida medíocre e com 34 anos de idade e muitos anos de F1 na bagagem, fica a pergunta: o que o francês está fazendo na F1?


O esperado recorde de vitórias na história da F1 igualado de Hamilton foi adiado e pode acontecer, ironia das ironias, em Nürburgring, autódromo mais próximo da cidade natal de Michael Schumacher. Um recorde que virá a qualquer momento, até mesmo na próxima corrida, mas Hamilton e a Mercedes não podem vacilar como hoje.

sábado, 26 de setembro de 2020

Hoje, com emoção

 


Outra pole para Lewis Hamilton já sai ao natural para a F1 desde 2014, mas dessa vez o inglês passou por alguns apuros que pode ter consequências na corrida de amanhã. Porém, Hamilton mostrou toda a sua classe com uma volta recorde no insosso circuito russo de Sochi.

Havia um risco de chuva, mas a precipitação acabou não atrapalhando ninguém, porém, uma nuvem negra está constantemente sobre a Ferrari em 2020. Se não passou pelo vexame de ficar no Q1 como já aconteceu esse ano, também não viu nenhum dos seus pilotos no Q3 e Sebastian Vettel bateu bem forte, destruindo seu carro e dando muito trabalho à Ferrari. 

Se a Mercedes permaneceu soberana na frente, a briga no pelotão intermediário se mostrava apertada e até empolgante, quando a segunda maior estrela da F1 atual mostrou seu talento. Max Verstappen não ficou em seu habitual solitário terceiro lugar em boa parte da classificação, mas uma volta sensacional não apenas garantiu ao neerlandês ser o melhor do resto, como separou as duas Mercedes, deixando um decepcionante Valtteri Bottas em terceiro.

Contudo, houveram algumas intercorrências que fazem da corrida amanhã ter um quadro diferente do habitual. A batida de Vettel trouxe a bandeira vermelha bem no momento em que Hamilton iria fazer sua volta rápida no Q2. Com receio de ficar nessa fase da classificação a Mercedes resolveu soltar Hamilton com pneus macios e será com esse composto que Lewis largará amanhã, enquanto Verstappen e Bottas sairão com os pneus médios, dando uma vantagem à dupla com relação ao pole, que ainda terá que lhe dar com uma longa reta antes da freada da curva 2. Com 96 poles, Hamilton poderá igualar Schumacher amanhã em número de vitórias, mas terá que suar um pouco para igualar o feito do alemão. 

domingo, 20 de setembro de 2020

Pablito

 


Com sua agressividade dentro e fora das pistas, Juan Pablo Montoya deixou uma legião de fãs em todo mundo, tanto nos Estados Unidos, onde teve mais sucesso, como na Europa. Um dos pilotos mais rápidos e carismáticos do mundo na virada do milênio, Montoya parecia ter todas as ferramentas para conquistar um título na F1, mas a sua mentalidade acabou lhe afetando, tomando decisões drásticas e polêmicas, acabando por abreviar sua passagem na F1. No outro lado do Atlântico, Montoya teve duas passagens vitoriosas na Indy, além de uma passagem apagada na Nascar. Completando 45 anos de idade no dia de hoje, vamos conhecer um pouco mais do colombiano.


Juan Pablo Montoya Roldán nasceu no dia 20 de setembro de 1975 em Bogotá, capital de sua amada Colômbia. As corridas sempre estiveram na rotina do pequeno Juan, pois seu pai Pablo fora um exímio kartista, além de conceituado arquiteto. Pablo chegou a correr ao lado de um jovem Rubens Barrichello no kartismo sul-americano, nos anos 1980. Com apenas cinco anos de idade Juan Pablo deu suas primeiras voltas de kart para logo depois dominar o cenário colombiano vencendo títulos em profusão. Aos 17 anos Montoya teve sua primeira experiência em monopostos, quando participou do campeonato local de F-Renault, vencendo o campeonato. Seu pai entendia que Juan Pablo precisava de mais cancha e por isso o mandou aos Estados Unidos ainda em 1992 para a famosa escola de pilotagem de Skip Barber, com Montoya se tornando um destaque da instituição. Para 1993 Montoya participa do Swift GTI Championship, vencendo quase todas as corridas. Juan Pablo ainda participava de campeonatos de kart, sendo campeão sul-americano e em 1995 ele foi para a Inglaterra, tentar a sorte na ilha da velocidade. Montoya participou da F-Vauxwall e mesmo novato, venceu três corridas e foi terceiro no campeonato.


Bem que Montoya poderia ficar mais um ano na categoria de base, mas estava claro a todos o talento abundante do colombiano e em 1996 JP foi para a então prestigiada F3 Inglesa. Correndo na equipe Fortec, Montoya começou o ano com um capacete todo branco e assombrando a todos com sua velocidade. Desde o kart a velocidade de Montoya impressionava que o acompanhava e todo ano o colombiano era o piloto com mais poles por onde passou. Na F3 não foi diferente. Mesmo não estando na melhor equipe da categoria, Montoya dava verdadeiros shows, superando algumas vezes o favorito Ralph Firman, da poderosa equipe Stewart. Como ocorria na F1 naquele ano, via-se uma luta entre o melhor piloto (Schumacher) e a melhor equipe (Williams) e como na F1, a melhor equipe venceu, com Firman sendo campeão, mas ninguém tinha dúvidas que Montoya era o melhor piloto do ano na F3 Inglesa. Ainda nesse ano Juan Pablo foi convidado pela Mercedes para participar de um evento do ITCC (antigo DTM) e todos ficaram impressionados com o talento do jovem colombiano de 21 anos. Sua temporada assombrosa despertou vários convites para Montoya e enquanto Firman teve que ir ao Japão para continuar sua carreira, a escada rumo a F1 era percorrida por Montoya, que subia para a F3000 Internacional com a equipe RSM Marko. Isso mesmo, do sisudo Helmut Marko. E Montoya não fez feio! Logo em sua primeira corrida na categoria Montoya marcou a pole e venceu na segunda etapa, na difícil pista de Pau. Com mais duas vitórias (Zeltweg e Jerez), Montoya esteve na briga pelo título com Ricardo Zonta, mas foi superado pelo brasileiro por apenas 1,5 ponto.


Com tanto talento aparente, não demorou para a F1 notar Montoya. Em 1997 a Williams o convidou para um teste com outros jovens pilotos e Montoya os destruiu, conseguindo a vaga de pilotos de testes ao lado do brasileiro Max Wilson por duas temporadas. Após perder o título da F3000 em 1997, Montoya se juntou a equipe Super Nova, a melhor da categoria, e venceu o título de 1998, com quatro vitórias (Barcelona, Silverstone, Pau, Enna-Pergusa). Porém, não foi um título tão fácil, pois o novato Nick Heidfeld, apoiado pela Mercedes, deu mais trabalho do que o imaginado, mas Montoya conseguiu nove pódios em doze corridas. Em Pau, Montoya largava na pole e não viu uma confusão na primeira volta atrasar todo o pelotão. Eram outros tempos, onde o Safety-Car não era tão acionado, ainda mais em categorias de base, resultando numa situação bizarra. O líder Montoya se aproximou de todo o pelotão e logo nas primeiras voltas já estava colocando volta em carros praticamente iguais aos seus e na bandeirada, ninguém estava na mesmo volta do colombiano! No outro lado do Atlântico, Alessandro Zanardi dava shows na Indy/CART e despertava o interesse de Frank Williams. Porém, Chip Ganassi não queria liberar o italiano sem uma compensação e então a Williams cedeu seu piloto de testes para a Ganassi, enquanto Zanardi iria para a F1 em 1999. Contudo, o fantástico italiano teve um ano miserável na F1, não se adaptando aos carros bem mais tecnológicos e rápidos do qual estava acostumado. Porém, Montoya teve uma temporada bem diferente...


A CART vivia ainda seus bons anos, com um grid de alto nível técnico e muita competitividade entre as equipes. Montoya entraria na Ganassi, que vinha de um tricampeonato seguido de pilotos. Montoya já tinha morado nos Estados Unidos antes e adaptação não seria um problema para ele, porém os americanos não esperavam para o que estava para acontecer. Logo na terceira corrida do ano, Montoya dominou a sempre complicada pista de Long Beach, chegando a colocar 27s no segundo colocado antes de uma bandeira amarela. Com a confiança em alta, Montoya passou a empilhar pole positions, enquanto seu estilo agressivo impressionava a todos, principalmente os fãs, que nem deu tempo de ficarem 'viúvas' de Zanardi. O sucesso de Montoya também lhe trouxe alguns rivais amargos, que reclamavam do estilo impetuoso do colombiano. Porém, como todo novato, Montoya teve também alguns infortúnios, perdendo algumas corridas devido a sua afobação. Dario Franchitti, muito mais regular, era o principal adversário de Montoya, que nessa época era adorado pelos fãs latinos, que lotavam as pistas americanas. No meio da temporada Montoya teria a companhia do seu amigo Gonzalo Rodríguez, mas o uruguaio acabou falecendo em Laguna Seca. Na última corrida do ano, mesmo com sete vitórias acumuladas, Montoya ainda não tinha o título no boldo e Franchitti era um rival perigoso e forte nos ovais. No começo da corrida decisiva em Fontana, Greg Moore, piloto querido de todos, sofre um acidente pavoroso e que logo se provaria fatal. Nenhum piloto foi avisado. Montoya correu com a cabeça e mesmo com Franchitti a sua frente, administrou a corrida e com o quarto lugar garantiu o título, mesmo sendo novato, igualando o feito de Mansell de 1993. Empatado em pontos com Franchtti, Montoya não pôde comemorar seu triunfo quando soube da morte de Moore. Com Zanardi praticamente saído da F1, o caminho parecia aberto para Montoya, porém Ganassi tinha um contrato de dois anos com o colombiano e fez com que o acerto fosse respeitado.


Mesmo sonhando com a F1, Montoya era feliz nos Estados Unidos e ficou outro ano na Indy. Depois de muito sucesso com o pacote Reynard/Honda, a Ganassi resolveu trocar tudo para o ano 2000 e se tornou a principal equipe da Toyota, correndo naquele ano com o pacote Lola/Toyota. Não chegou a ser um fracasso, pois Montoya ainda venceu três corridas, mas o colombiano não esteve próximo de defender o seu título. O carro funcionava muito bem em ovais, mas sofria em circuitos mistos, na época, já a maioria na CART, algo que fez a IRL criar seu campeonato. Na época a diferença entre as duas categorias era abissal, porém, a IRL contava com o trunfo de ter as 500 Milhas de Indianápolis no seu calendário. Ganassi resolveu comprar dois carros da IRL e participar das 500 Milhas daquele ano. Contra equipe minúsculas comparada a sua, Ganassi dominou o mês de maio e Montoya liderou basicamente mais de três quartos da corrida, se tornando o primeiro novato a vencer em Indianápolis desde Graham Hill em 1966. Com tantos triunfos na América e com o contrato com a Ganassi acabando, a Williams foi atrás do seu antigo pupilo e durante o Grande Prêmio dos Estados Unidos, pela primeira vez sendo realizada em Indianápolis, anunciou que Juan Pablo Montoya seria seu piloto em 2001.


A F1 vivia sobre um domínio gigantesco de McLaren e Ferrari faziam três temporadas, enquanto a Williams desenvolvia o motor BMW, que retornava à F1 em 2000. Jenson Button tinha feito um bom papel em seu ano de estreia, mas a montadora alemã fez questão de manter Ralf Schumacher, que também se destacava na época. Montoya foi logo dizendo que não chegava à F1 para fazer amigos e a antipatia entre os dois foi praticamente instantânea e mútua. Os dois dividiram o boxe da Williams por quatro anos, mas se detestavam e isso não era segredo para ninguém. Montoya chegou a ser terceiro em sua estreia em Melbourne, antes do motor BMW quebrar. Na terceira corrida, em Interlagos, a Williams-BMW mostrou pela primeira vez que poderia ser um importante player daquela temporada. Após um ano de desenvolvimento, a reta dos boxes de Interlagos mostrava que o propulsor alemão era o melhor da F1 e seria isso que ajudaria a Montoya dar seu cartão de visitas na F1. Após Barrichello acertar a traseira de Ralf numa atuação atabalhoada do brasileiro, o SC foi mandado a pista com Michael Schumacher em primeiro e Montoya em segundo. Mais acostumado a relargadas em movimento, Montoya usou a potência do motor BMW e numa agressiva ultrapassagem na entrada do Esse do Senna, deu um chega pra lá em Schumacher e assumia a ponta da corrida. A F1 parecia que tinha visto o messias que acabaria com o reino de Schumacher. Naquele primeiro de abril, Interlagos vivia uma corrida típica, onde o clima era fundamental e por isso, Montoya só pararia uma vez, enquanto Schumacher pararia duas. Juan Pablo dominava a corrida até se aproximar de colocar uma volta na Arrows de Jos Verstappen. No mesmo local onde Ralf foi abarroado por Barrichello, Montoya viu seu sonho de vitória ser atropelado por Verstappen, mas o colombiano tinha dado seu recado a todos. Ele não tinha medo de cara feia, ainda mais a de Michael Schumacher, a grande estrela da época.


Montoya se tornou uma estrela instantânea da F1, mas os resultados teimavam em não vir, até que o colombiano se aproveitou de várias quebras em Barcelona para subir ao pódio pela primeira vez na F1. A primeira pole não tardaria a vir, utilizando a potência do motor BMW para ficar em primeiro no grid na última corrida do antigo Hockenheim, assim como os problemas com outros pilotos. Em Zeltweg, Montoya liderava a corrida, mas tinha problemas de freio, sendo fortemente pressionado por Schumacher, que era claramente mais rápido. Numa freada, acabou saindo de frente e levando Schumacher para fora da pista, que reclamou muito depois da corrida. Em Silverstone, Montoya criticou bastante seu companheiro de equipe Ralf por ele não ter respeitado uma ordem de equipe da Williams. Em Monza, na mesma semana dos ataques de 11 de setembro, Montoya finalmente conquistava sua primeira vitória na F1 e com a confiança em alta, conseguiu alguns pódios para terminar o campeonato em sexto. Porém, pelo o que tinha mostrado nas pistas em seu primeiro ano, Montoya merecia muito mais e todos esperavam que ele fosse o anti-Schumacher. Porém, isso não seria em 2002. Com um carro muito melhor que os demais, a Ferrari venceu 15 de 17 corridas e não deu chances a ninguém naquele ano. Montoya não venceu corridas, mas foi mais regular, conquistando vários pódios, principalmente em terceiro lugar, atrás das Ferraris. Em Indianápolis, Montoya tentou ultrapassar Ralf Schumacher e dois acabaram fora da pista. A TV mostrava um desesperado Patrick Head quase arrancando os cabelos, demonstrando mais uma vez que o clima interno dentro da Williams estava longe de ser bom. A Williams tinha uma configuração especial para a classificação e Montoya conseguiu sete poles em 2002, sendo que cinco consecutivas. O domínio da Ferrari foi tão brutal em 2002 que o presidente da FIA Max Mosley impôs uma série de medidas para tentar equilibrar a F1 na base da canetada. Eram os famoso 'Pacotões do Max'. Uma das afetadas era a própria Williams, que não mais poderia ter uma preparação especial para a classificação com a regra do parque fechado, mas Montoya teria sua melhor temporada na F1 em 2003.


A Williams construiu o seu carro com base no estilo agressivo de Montoya, enquanto a BMW apostava mais em Ralf, demonstrando o claro racha existente dentro da parceria. Na primeira corrida de 2003 e das novas regras, Montoya quase venceu a corrida em Melbourne, ao rodar enquanto liderava. Após uma série de corridas sem brilho, Montoya triunfou em Monte Carlo, acabando com um jejum de vinte anos da Williams e sendo primeiro sul-americano a vencer no principado desde Senna. Os desenvolvimentos da Williams, em conjunto a força do motor BMW e a melhor aderência dos pneus Michelin no forte verão europeu daquele ano transformou a Williams no melhor carro de 2003 e Montoya tentava se sobressair sobre Ralf. Em Magny-Cours a dupla da Williams brigava pela ponta e Ralf se saiu melhor, mas Montoya ficou irritadíssimo quando soube que foi passado a Ralf a volta em que pararia. O colombiano tinha contrato até 2004 com a Williams e de forma surpreendente, ainda mais por estar ainda na briga pelo título, anunciou que iria para a McLaren em 2005. Porém, Ralf Schumacher começou a ter problemas de confiabilidade e num teste em Monza, acabou tendo uma vértebra fraturada, ficando de fora de algumas provas. Essa parecia ser a chance de Montoya e ele venceu em Hockenheim com mais de um minuto de vantagem sobre o segundo colocado. Porém, foi descoberto uma artimanha da Michelin, que fazia com que seus pneus 'engordassem' no calor e a manobra foi proibida. Assim como acontecera em 2000, quando esteve mais ameaçada, a Ferrari preparou um pacote especial para Monza, pista que teoricamente favorecia a Williams de Montoya. Numa luta frenética que durou a corrida inteira, Schumacher bateu Montoya, no que era a melhor chance do colombiano na F1. Depois da corrida, Montoya criticou o retardatário Zolt Baumgartner, dizendo que nem sabia chamar o nome do colega direito. 


Na corrida seguinte, em Indianápolis, local onde Montoya tinha mais torcida no calendário da F1, o colombiano se viu no meio de uma forte polêmica. A corrida começou debaixo de ameaça de chuva, que não tardou em aparecer. Montoya e Barrichello se davam muito bem fora das pistas, mas naquela oportunidade os dois brigavam pela segunda posição quando começava a garoar e como resultados, os dois se tocaram, com Barrichello fora da corrida. Mais atrás, com uma bandeira amarela a mostra, Schumacher ultrapassava Panis. Logo depois apareceu o aviso de uma punição. Para Schumacher? Não, para Montoya, pelo toque em Barrichello, enquanto Schumacher ficou impune e venceu aquela prova. Depois acusou-se que Barrichello só forçou a barra para Montoya por ordem de equipe da Ferrari para beneficiar Schumacher. Para piorar as coisas, Montoya entrou nos pits para pagar sua punição bem no momento em que a chuva ficou muito forte, fazendo o colombiano dar uma volta lentíssima com pneus slicks, perdendo uma volta para Schumacher. Montoya ainda salvou um sexto lugar, mas estava matematicamente fora da luta pelo título e aquele terceiro lugar no Mundial de Pilotos foi o mais próximo que o colombiano esteve do título. Para 2004 havia a expectativa de que a Ferrari tinha perdido sua força e que 2004 seria decidido entre os pilotos de McLaren(Mercedes) e Williams(BMW). Os testes de pré-temporada viu um show de quebras de recordes das equipes, enquanto a Ferrari testava sozinha na Itália. A Williams apresentou um carro com uma frente horrorosa, que se dizia revolucionária, mas que acabaria num tiro d'água. Quando a temporada começou a Ferrari construiu um carro tão bom quanto o de 2002 e a dominação também foi igual, com Schumacher conquistando o hepta campeonato praticamente sem sustos. Montoya teve um ano ruim e irregular. A Williams tinha errado no seu conceito e Montoya mal conseguia brigar pelo pódio, com a Williams superada por Renault e BAR-Honda. Porém, na última corrida de Juan Pablo pela Williams, em Interlagos, o colombiano se aproveitou do clima instável em São Paulo para vencer a corrida e sair por cima da equipe que o colocou na F1.


Montoya havia se tornado o preferido de Frank Williams, mas ao chegar na McLaren, o chefe Ron Dennis já tinha escolhido seu darling: Kimi Raikkonen. De poucas palavras e pouco afeito a amizades, Raikkonen ignorou a presença de Montoya, enquanto o colombiano ainda tentava achar seu espaço dentro da equipe. Porém, um incidente fez do começo do relacionamento de JP com a McLaren o mais turbulento de todos. Logo após a segunda corrida de 2005 Montoya machucou seu ombro seriamente a ponto de ficar de fora de algumas corridas. A McLaren anunciou que Montoya havia se machucado jogando tênis, mas o que se dizia na época foi que Montoya se machucou num esporte bem mais radical: o motocross. Essa polêmica desnecessária transformou Kimi Raikkonen no primeiro piloto da McLaren, que tinha o melhor carro de 2005, mas com sérios problemas de confiabilidade, estragando e muito a temporada de Kimi. Montoya voltou em Barcelona, ainda com dores e correndo abaixo do seu potencial. Em Montreal o colombiano liderava a corrida, quando a McLaren o chamou aos boxes no momento errado e Juan Pablo acabou desclassificado. Montoya venceria pela primeira vez no ano em Silverstone, iniciando uma série de bons resultados. Contudo, quem lutava pelo título com Fernando Alonso era Raikkonen e a McLaren deixava isso claro para Montoya, que com sua marra, não aceitava isso muito bem. Em duas corridas Montoya se envolveu em incidentes desnecessários com retardatários (Pizzônia em Spa e Tiago Monteiro na Turquia), entregando preciosos pontos para Alonso, que garantiu seu título em Interlagos, numa corrida vencida por Montoya. O que o colombiano não sabia era que seu triunfo em São Paulo seria seu último na F1.



Montoya tinha contrato com a McLaren até 2006, mas Ron Dennis estava insatisfeito com a falta de espírito de equipe do colombiano e por isso, contratara Fernando Alonso para 2007. Raikkonen também não tinha contrato para 2007, mas sabia-se que o nórdico negociava com a Ferrari, que abertamente desejava Kimi. Montoya ficou com a sensação de que não teria espaço para ele na F1 e isso acabou com a confiança do colombiano, que foi presa fácil para Raikkonen. Em Melboune, Montoya conseguiu a proeza de rodar durante a volta de apresentação. Na largada para o Grande Prêmio dos Estados Unidos, Montoya forçou a barra em cima de Raikkonen na primeira curva e causou um sério acidente, que envolveu oito carros. Poucos dias depois, o mundo foi surpreendido quando Montoya solicitou uma entrevista coletiva para anunciar que estaria indo para a Nascar em 2008 se juntar ao velho amigo Chip Ganassi. Ron Dennis ficou muito irritado com Montoya, que por ele, já estrearia na Nascar ainda em 2007. Apenas por birra, Dennis segurou o contrato de Montoya, mas o tirou da equipe. Totalmente pelas portas dos fundos, a carreira de Juan Pablo Montoya acabava na F1 com 94 corridas, 7 vitórias, 13 poles, 12 melhores voltas, 30 pódios, 307 pontos e dois terceiros lugares no Mundial (2002 e 2003).


Ainda em 2007 Montoya fez suas primeiras corridas pela Nascar, uma categoria totalmente distinta da F1. A adaptação não seria fácil, mas Juan Pablo rapidamente se destacou nos poucos circuitos mistos da categoria, conseguindo suas únicas vitórias na Nascar nesse tipo de circuito. Em 2009 Montoya quase venceu em um oval, ao dominar em Indianápolis, mas acabou punido após seu último pit-stop. Ainda no rádio Montoya dizia que por seus filhos, não tinha excedido o limite dos boxes, mas o colombiano acabou perdendo aquela corrida. Nesse ano Montoya se tornou o primeiro estrangeiro a chegar no famigerado Play-Off da Nascar, mas ele esteve longe de brigar realmente pelo título. Usando o carro de número 42 da Ganassi, que depois se juntaria à Earnhardt Inc, Juan Pablo Montoya ficou bem abaixo das expectativas na Nascar, mas sua carreira estava longe de terminar. No final de 2013 Montoya anunciava sua volta à Indy, pela poderosa equipe Penske a partir de 2014. Nos tempos em que esteve na Nascar, Montoya engordou bastante, demonstrando que o preparo físico estava longe das suas prioridades, mas nessa volta aos monopostos, Montoya emagreceu bastante, mas ao contrário de quinze anos antes, Montoya demorou a se adaptar a uma nova Indy. Ele só venceria uma corrida, em Pocono, estabelecendo o recorde de corrida de 500 milhas mais rápidas da história, com uma média superior as 200 milhas horárias. Em 2015 Montoya estava mais preparado e dominou praticamente o campeonato inteiro. Para melhorar, Juan Pablo venceu pela segunda vez as 500 Milhas de Indianápolis, quebrando outro recorde, pois o espaço de quinze anos entre suas vitórias ainda é a maior da história da centenária corrida. Porém, Montoya acabaria derrotado por Scott Dixon na última corrida em Sonoma, por causa de uma bandeira amarela na hora errada e por aquela corrida valer o dobro de pontos.


Montoya saiu do carro cuspindo marimbondos por ter perdido um título que parecia ser seu. Porém, esse golpe mexeu com Montoya, já com 40 anos de idade. Juan Pablo não repetiu a regularidade do ano anterior e mesmo vencendo a corrida de abertura em St Petersburg, ele ficaria apenas em oitavo no campeonato. Roger Penske havia colocado na cabeça que queria a contratação do jovem Josef Newgarden e por isso ele teria que escolher um piloto do seu quarteto para sair. Até por ter feito um campeonato ruim em 2015, Montoya foi o escolhido, mas não saiu da asa da Penske até hoje. Em conjunto com a Acura, a Penske passava a investir pesado na IMSA e Montoya foi um dos pilotos escolhidos a representar a equipe nas corridas de longa duração. Enquanto esteve ligado à Ganassi nos tempos da Nascar, Montoya foi um habitué das 24 Horas de Daytona, vencendo a tradicional prova três vezes (2007, 2008 e 2013). Por sinal, Montoya também persegue as tríplice coroa, a exemplo de Fernando Alonso. Só que para Montoya, lhe resta as 24 Horas de Le Mans.


Juan Pablo Montoya continua correndo pela Penske na IMSA, onde foi campeão em 2019. Marrento ao extremo, Montoya casou-se com a bela Connie, uma das mulheres de pilotos mais bonitas de todos os tempos. Com três filhos, assim como fez seu pai, Juan Pablo já tem um filho correndo de kart e procura um lugar para ele numa das academias das equipes de F1. Extremamente veloz, Montoya ficou por muitos anos com o recorde de volta mais rápida da história da F1. Mas Montoya poderia ter outros recordes na F1? Tudo indicava que sim e talento não faltava à Montoya, mas um piloto para ser completo, tinha que ter algo mais do que velocidade e talento, que é a aptidão a preparação física e um bom psicológico, algo que faltou à JP. Porém, sua latinidade dentro e fora das pistas popularizou ainda mais as corridas na Colômbia e mesmo com números nem tão vistosos, Montoya ainda é lembrando como um dos grandes talentos sem título da F1.

Parabéns!

Juan Pablo Montoya

Sorte de Maverick

 


Após a corrida medíocre da semana passada na mesma Misano de hoje, Maverick Viñales desancou a criticar a Yamaha, reclamando da falta de aderência da moto em ritmo de corrida, não importando as poles e as boas posições conseguidas pelo espanhol. Ontem, Viñales fez o seu papel ao conseguir a pole, mas usando da sorte, pois o piloto mais rápido na classificação era Francesco Bagnaia, mas o jovem italiano da Pramac Ducati teve seu tempo deletado por causa do famoso 'track limit'. Hoje novamente Maverick contou com a sorte (e o azar de Bagnaia) para vencer pela primeira vez nesse ano e transformar a disputa do Mundial de MotoGP numa verdadeira loteria.

O leão de largadas Jack Miller largou muito bem novamente, mas não demorou muito para o australiano perder ritmo e no final abandonar. Viñales rapidamente reconquistou a ponta, mas se Bagnaia deu pinta de ser o piloto mais rápido do final de semana no sábado, ele comprovou no domingo. Largando em quinto, Bagnaia foi ultrapassando os pilotos um a um até chegar a primeira posição e administrar de forma até confortável a vantagem sobre o segundo colocado Viñales. Porém, o destino não quis que a MotoGP visse outro piloto ganhar pela primeira vez na categoria em 2020. Faltando poucas voltas Bagnaia errou e caiu, acabando com seu sonho da primeira vitória, mas está nítido que isso é apenas questão de tempo. Sem adversários por perto, Maverick Viñales apenas levou sua Yamaha até a bandeirada para se tornar o sexto piloto diferente a vencer em sete corridas nessa temporada, além de embolar de vez o campeonato.

Depois de muito tempo Fabio Quartararo fez uma corrida decente e brigava pela segunda posição com os espanhóis Joan Mir e Pol Espargaró, mas acabou sendo vítima do 'track limits' e acabou punido, perdendo sua posição de pódio para Espargaró, enquanto o segundo lugar de Mir o coloca na briga pelo campeonato, mesmo sem vitórias do piloto da Suzuki. Doviziozo fez uma corrida totalmente opaca, ficando atrás até mesmo das Hondas, que só funcionam com Marc Márquez, mas com a punição de Quartararo, manteve a ponta do campeonato por apenas um ponto, com Viñales empatado com Fabio e Mir logo atrás. Vencedor da semana passada, Morbidelli foi tocado na primeira volta e teve que fazer uma corrida de recuperação até o top-10. Rossi foi uma das primeiras quedas do dia, logo depois seguido por Brad Binder, que parecia ter ritmo para brigar pela vitória. Mesmo sendo tão bom quanto Mir e ainda mais experiente, Rins fez uma corrida horrorosa e foi o penúltimo dos poucos que receberam a bandeirada, numa prova com muitas quedas.

Sem maiores problemas nas primeiras voltas, a confiança de Maverick o fez ficar mais confortável na corrida de hoje e o espanhol da Yamaha venceu contando com a sorte de ver Bagnaia cair bem na sua frente. Porém, o campeonato da MotoGP está parecido com suas corridas: totalmente indefinidas. São seis vitoriosos diferentes em sete corridas, pilotos vencendo numa semana e ficando para trás na outra. E vice-versa. Por incrível que pareça, a saída indesejada de Marc Márquez fez muito bem à MotoGP.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Figura(TOS): Mugello

 No campeonato da MotoGP há vários anos, o circuito de Mugello sempre foi um dos favoritos dos pilotos de moto, até mesmo por a pista ser de média para alta, sem o freia-acelera dos circuito 'Tilkianos'. A pista de propriedade da Ferrari tem uma reta longa, várias chicanes de alta velocidade e poucas freadas realmente fortes. Quando a F1 aportou na pista italiana devido à Pandemia e homenagear a milésima corrida da Ferrari na F1, logo se tornou um sucesso de público e crítica. Os pilotos adoraram a pista com média de 250 km/h e todos os fãs adoraram uma pista realmente desafiadora. Já fica a hashtag: fica Mugello!

Figurão(TOS): FIA

 O procedimento de entrada do Safety-Car nos pits após a pista ser limpa sempre fui muito claro para toda a F1. No meio da volta o SC apaga suas luzes no teto sinalizando aos pilotos que estava entrando nos boxes e a bandeira verde seria mostrada mais adiante. Isso dava tempo ao primeiro colocado programar quando o ritmo da corrida reiniciava, lhe dando vantagem na relargada. Pois bem, em 2020 a FIA resolveu mudar esse procedimento, com o SC apagando as luzes já no final da volta, com o claro intuito de não dar tempo ao líder para recomeçar o ritmo quando quiser e tentar colocar mais 'emoção' nas relargadas. Em Mugello, o tiro saiu pela culatra! Bottas liderava o pelotão e a luz do SC só apagou na entrada da última curva. O piloto da Mercedes foi tão surpreendido que simplesmente não acelerou quando apontou na reta dos boxes, mesmo com bandeira verde à mostra, Bottas demorou a acelerar de verdade, causando o famoso efeito sanfona no pelotão de trás. Latifi desviou à tempo de Kvyat, mas Giovinazzi acertou Magnussen em cheio e acabou levando Sainz e o próprio Latifi. Os quatro abandonos trouxe a bandeira vermelha e por sorte, ninguém se machucou. Apenas os bolsos dos chefes de equipe, que tiveram que lhe dar com quatro carros destruídos. A linha entre esporte e entretenimento sempre foi muito tênue. O automobilismo em geral sofre para encontrar o equilíbrio e a F1 nunca deverá perder esse equilíbrio, antes que alguém acabe se machucando apenas para a corrida ter mais 'emoção'. 

domingo, 13 de setembro de 2020

Domínios diferentes

 


Domínios acontecem em todos os esporte e ocorrem de forma recorrente. A parte boa do esporte é quando há alternância desse domínio, com determinada equipe vencendo por um período de tempo para ser derrotada por outra alguns anos depois. Na Indy, categoria conhecida por sua forte competitividade, aconteceu algo bem interessante nesse final de semana. Com um calendário bem atropelado por causa da pandemia, a Indy programou duas corridas em Mid-Ohio, tradicional pista mista no mesmo estado.

No sábado, a Penske matou a pau com uma dobradinha dominadora com Will Power e Josef Newgarden, numa corrida onde simplesmente não houve bandeiras amarelas e o australiano chegou a colocar 8s em seu companheiro de equipe. No dia seguinte, numa classificação realizada com pista molhada, foi a Andretti que dominou a corrida de domingo, com Colton Herta liderando uma tripleta com Alexander Rossi e Ryan Hunter-Reay. A Andretti ficou com todo o pódio. Destaque negativo nas equipes dominantes foi Simon Pagenaud no sábado, quando errou na primeira volta e ainda teve problemas no seu pit, destoando na Penske, enquanto Marco Andretti simplesmente não honra seu sobrenome com corridas horrorosas, só estando na forte equipe da família por ser filho do dono.

Em comum a essas corridas foram exibições ruins de Scott Dixon. No sábado o piloto da Ganassi largou muito atrás e numa pista onde domina, ainda conseguiu ultrapassagens que o colocaram em décimo. Largando em terceiro hoje, Dixon rodou sozinho e chegou a cair para último. Tendo que remar tudo outra vez, Dixon repetiu a colocação de sábado, mas viu sua boa diferença para Newgarden no campeonato ir para os ares. Porém, nada impede que a Ganassi domine na próxima corrida, ou então Penske, Andretti, Rahal...

Corrida sem fim

 


Mugello, com sua bela pista e paisagem, sediou uma das corridas mais acidentadas dos últimos tempos na F1. Pilotos não acostumados com uma pista estreita e com áreas de escape cheia de brita, juntando a uma relargada caótica fez do Grande Prêmio da Toscana uma imensa bagunça, mas só do pelotão intermediário para trás. Na corrida Mercedes, a briga pela vitória ficou restrita aos dois pilotos da montadora, incluindo trocas de posição devido as três largada realizadas no dia de hoje, que teve duas bandeiras vermelhas. Hamilton perdeu a primeira batalha para Bottas, mas sobrou nas seguintes e venceu hoje, chegando ao triunfo de número 90 na F1, se aproximando da incrível marca de Schumacher, enquanto Albon diminuiu a pressão que tem em si com o seu primeiro pódio na F1.


A corrida em Mugello começou agitada, mas por incrível que pareça, com pouquíssimo tempo de bandeira verde. Logo na terceira curva uma carambola envolveu Max Verstappen e Pierre Gasly, tirando-os da corrida imediatamente. Max teve problemas de potência e mesmo largando melhor do que Hamilton, foi engolido pelo pelotão e seu mau posicionamento nas primeiras curvas acabou lhe colocando no meio de uma confusão em que foi a maior vítima. Tudo pronto para relargada, quando ocorreu uma situação polêmica. Quando safety-car apaga sua luz, indicando que vai para os boxes e a corrida vai recomeçar, o líder do pelotão diminui o ritmo, justamente para acelerar quando bem entender. Porém, a Mercedes vermelha (em homenagem à Ferrari e seu milésimo GP na F1) apagou a luz já na entrada da última curva, deixando o líder Bottas numa sinuca de bico. O finlandês entrou na longa reta dos boxes muito lentamente e ocorreu o chamado efeito-sanfona, quando alguns pilotos do pelotão de trás aceleraram antes dos da frente e um grande acidente aconteceu na reta dos boxes, acabando com a corrida de Giovinazzi, Sainz, Magnussen e Latifi. Bandeira vermelha.


A prova nem havia iniciado para valer e já haviam seis abandonos, que viraria sete quando Esteban Ocon nem foi para a segunda largada, com problemas em seu Renault. Hamilton largou pessimamente na primeira partida, mas na segunda oportunidade o inglês não perdeu a chance e numa bela ultrapassagem por fora, ultrapassou Bottas para não mais perder a posição. A briga pelo terceiro lugar estava animada entre Stroll, Ricciardo e Albon. Depois do que seria a única rodada de paradas, Ricciardo tomou o terceiro lugar de Stroll e estava pronto para dar o primeiro pódio para a Renault nessa nova fase quando o canadense saiu forte da pista na Arrebiatta2, destruindo o seu Racing Point e seu pai tendo que gastar muito dinheiro com funileiros e outras cositas más. E assim todo o pódio da corrida passada em Monza estava fora da corrida e Mugello. Com a barreira de proteção destruída, nova bandeira vermelha e uma terceira largada seria necessária. Se Hamilton largou normalmente, ao olhar para o lado nem teve com que se preocupar, pois quem ocupada o segundo posto era Ricciardo, com Bottas novamente vacilando em mais um momento crucial. O nórdico rapidamente ultrapassou Ricciardo, mas não teve chances de alcançar Hamilton, tendo que se conformar com um segundo lugar.


Com todos os pilotos utilizando os compostos macios, a Red Bull se comportava melhor do que a Renault e Albon ultrapassou Ricciardo para ascender ao terceiro posto e conseguir seu primeiro pódio na F1 e também do seu país. A pressão sobre Albon só crescia, mas esse pódio, mesmo que ajudado pelos vários abandonos, é um alívio para o tailandês. Ricciardo esteve perto do pódio e se não houvesse a segunda bandeira vermelha, talvez o australiano sorrisse contente ao lado dos pilotos da Mercedes, mas Daniel mostrou todo o potencial da Renault, que deu um salto depois da péssima corrida em Barcelona. Ainda chateado e abatido pela dispensa da Racing Point mesmo tendo contrato, Sergio Pérez fez uma corrida opaca e ficou apenas em sexto, seguido de perto pela Alpha Tauri de Kvyat. Com apenas doze carros restando na bandeirada, Kimi Raikkonen conseguiu seus primeiros pontos em 2020 (mesmo punido) na pista onde experimentou pela primeira vez um carro de F1 vinte anos antes. Anfitriã da festa e homenageada em todos os momentos pela sua corrida de número mil na F1, a Ferrari fez outra corrida abaixo do medíocre, com seus pilotos fechando a zona de pontos. Na primeira relargada Leclerc chegou a ser terceiro, mas a forma como o monegasco era ultrapassado chegava a ser deprimente para um time tão glorioso e que estava em festa. A Williams teve uma chance de ouro para marcar seu pontinho em 2020, mas Russell não foi capaz de ultrapassar Vettel nas voltas finais ou tirar a diferença para capitalizar a punição de Raikkonen.


Destaque também para a estreia do ótimo Everaldo Marques na Globo, que debutou narrando F1, algo que ele já havia feito muito no rádio. Com bastante conhecimento e sem gritarias incessantes, Eve, como é chamado, não deixou de dar informações precisas (tirando a confusão de Tambay e Arnoux em Ímola/1983), perguntar na hora certo aos seus comentaristas e mantendo seu conhecido bom humor. Aprovadíssimo! A F1 também debutou em Mugello com uma corrida cheia de acidentes, mas o resultado do vencedor não mudou muito. Sexta vitória de Hamilton em nove corridas e hepta praticamente assegurado. Com Verstappen de fora logo na terceira curva a Mercedes não teve trabalhos e nem ligou para a carnificina que ocorreu no pelotão intermediário.

A era dos iniciantes

 


A mesma pergunta que se faz na F1, era feita na MotoGP até o início do ano: Como seria se o dominador estivesse de fora? No caso, das duas rodas, o que seria da MotoGP sem Marc Márquez? As corridas, em sua maioria, normalmente são excelentes na MotoGP, mas o vencedor não mudava nunca: no fim, sempre dava o espanhol da Repsol Honda! Com o sério acidente de Márquez ainda na primeira corrida desse ano, essa resposta foi dada com um campeonato de 2020 simplesmente espetacular, permanecendo o alto nível das corridas.

Fabio Quartararo deu pinta que poderia dominar a temporada, mas o francês está dando pinta mesmo de ser um Maverick Viñales melhorado. Depois das duas vitórias de Quartararo, houveram mais quatro vencedores diferentes e assim como o francês, três deles estrearam no topo do pódio. Após as duas vitórias da KTM com Brad Binder e Miguel Oliveira, hoje foi a vez de Franco Morbidelli brilhar em Misano com uma vitória enfática, dominando de ponta a ponta, mostrando a Petronas Yamaha que a equipe não tem apenas Quartararo. A corrida de hoje em Misano foi muito próxima o tempo inteiro, mas o domínio da Yamaha na classificação não se espelhou por completo na corrida. Enquanto Morbidelli e Rossi se mantiveram na ponta, Viñales e Quartararo despencaram pelotão abaixo. Sendo que no caso do francês, literalmente. E duas vezes! Desde as vitórias em Jerez Quartararo esteve longe do nível exibido na Andaluzia e hoje fez uma corrida horrenda, onde conseguiu a proeza de cair duas vezes. Já Viñales fez o de sempre. Conseguiu uma bela pole, largou muito mal e com a confiança abalada, foi sendo ultrapassado em sucessão até cair para sexta posição final.

Com pouco mais de metade da idade de Valentino, Morbidelli não cedeu um centímetro sequer para o experiente piloto e quando Rossi começou a perder rendimento de sua Yamaha, Franco manteve a liderança e não foi incomodado, vencendo de ponta a ponta sua primeira corrida na MotoGP. O surpreendente Francesco Bagnaia, que andava pelo paddock de bengala por causa de uma fratura na perna, foi o melhor piloto da Ducati e saiu de oitavo para segundo com o mesmo ritmo de Morbidelli. Bagnaia é o grande favorito para ser companheiro de equipe na Ducati oficial em 2021 de Jack Miller, que mais uma vez largou bem, brigou pela liderança e foi batido pelo desgaste de pneus. Na busca do seu pódio de número 200, Rossi foi superado na última volta por Joan Mir, que no final da penúltima volta tinha ultrapassado a outra Suzuki de Alex Rins. Segundo pódio seguido de Mir, demonstrando que 2020 vem sendo o ano dos jovens pilotos.

Porém, com a queda de Quartararo, o novo líder da MotoGP é um velho conhecido: Andrea Doviziozo. Meio brigado com a Ducati e sem ritmo em Misano, Dovi fez uma corrida de espera e os nove pontos do sétimo lugar o fizeram superar Quartararo no campeonato, mas por pouco. Sem Márquez, a MotoGP está basicamente sem favoritos e os pilotos novatos (ou quase novatos) vem se aproveitando para brilhar, mostrando que a próxima geração da MotoGP vem com muita força.

sábado, 12 de setembro de 2020

Posição importante

 


Lewis Hamilton conquistar mais uma pole, com seu companheiro de equipe Valtteri Bottas ao seu lado está longe de ser uma surpresa em 2020, mas na pista de Mugello, isso deverá ser essencial para a corrida de amanhã. Qualquer vacilo e as Mercedes teriam muito mais trabalho nesse domingo, devido ao fato de ultrapassar em Mugello não seja uma tarefa das mais fáceis, mas Hamilton e Bottas cumpriram bem os seus papeis, ou seja, Bottas pôde ter sido mais rápido nos treinos livres, mas na hora do vamos ver, Hamilton colocou ordem na casa.

Falando em Mugello, a bela pista italiana já caiu no gosto de todo o 'ecossistema' da F1. Pilotos, equipes e fãs adoraram a pista de alta velocidade (média de 250 km/h), onde a marcha mais baixa utilizada foi a terceira, com curvas de alta e média, além de muitas subidas e descidas. Pista muito utilizado na MotoGP, Mugello caiu como uma luva para os atuais carros de F1, mas isso não garante uma corrida emocionante amanhã. Devido à sua característica de curvas de alta velocidade, Mugello não oferece muitas oportunidades de ultrapassagens, nem mesmo na enorme reta dos boxes, na entrada da famosa curva San Donato. A anfitriã Ferrari não comemorará seu milésimo GP da forma que queria, mas pelo menos não passou o vexame das duas corridas anteriores, com Leclerc beliscando um Q3. O pelotão intermediário está muito equilibrado, com os tempos muito próximos e até mesmo o vencedor da corrida passada Gasly ficando ainda no Q1.

Com uma pista tão complicada de ultrapassar, a Mercedes não poderia dar o mínimo mole, ainda mais com Verstappen mais perto dessa vez. Bottas liderou durante todo o final de semana, mas no momento da onça beber água, Hamilton fez o seu papel e garantiu a pole de número 95. A largada será essencial amanhã pela posição da pista, mas o forte calor e as curvas de alta deverão machucar bastante os pneus. Numa pista nova (e bela), tudo será novo em Mugello, mas os resultados não poderão ser tão diferentes assim. 

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

E ele não se aposentou

 


Como uma peça de dominó que é derrubada, o anúncio da saída de Sergio Pérez da Racing Point no dia de ontem era a deixa para que Sebastian Vettel fosse anunciado nessa manhã como novo piloto da equipe, que em 2021 se chamará Aston Martin e terá status de equipe de fábrica. 

Muito se falava que a Aston Martin seria o porto seguro de Vettel após sua passagem abaixo das expectativas na Ferrari. O alemão sabia que não tinha chances na Mercedes, principalmente com as constantes sovas levadas por Hamilton ao longo dos últimos tempos, apesar dos multi-campeões se respeitarem bastante. Sem muitas opções em cockpits competitivos, Vettel viu na futura Aston Martin uma alternativa viável para continuar sua carreira na F1. Não é de hoje que a Mercedes questiona se vale ou não à pena se manter como equipe própria na F1 e Toto Wolff já demonstra sinais de cansaço. O dirigente estaria estafado da constante pressão de manter o alto sarrafo que a Mercedes colocou nos atuais padrões da F1. Pensando, talvez, num cargo menos estressante, o dirigente austríaco já tem ações da futura equipe britânica. 

Com laços estreitos com a Mercedes, começando com a cópia descarada do carro do ano passado, a futura Aston Martin tem um futuro promissor pela frente e sendo alemão, Vettel se ajuntaria de alguma maneira com a Mercedes. Porém, Vettel pode ter problemas se a política da equipe permanecer. Apesar da força da Aston Martin, o dono da equipe nada mais é que Lawrence Stroll, magnata canadense que faz questão de bancar a brincadeira do seu filho Lance. Apesar de ainda jovem e ter sido treinado para chegar à F1 desde muito novo, é nítida a falta de talento de Lance Stroll, mas como ele é filho do homem...

Não foi raro os outros pilotos da equipe Racing Point fazendo paradas 'estranhas' no final da corrida, fazendo com que Lance fosse o piloto número um da equipe no final das corridas. Pérez e Hulkenberg são claramente muito mais capacitados do que Stroll, mas foram negligenciados na estratégia da equipe em vários momentos e foram deixados de lado por causa do canadense. Será que Vettel aceitaria de bom grado uma parada 'estratégica' nas últimas voltas?

Pérez está no mercado e sua situação não é nada boa, com poucos lugares vagos que valham realmente a pena. O mexicano estava na equipe desde 2014 e ajudou a equipe se recuperar de sua pior fase, quando o chefão Vijay Mallya foi preso. Porém, Pérez acabou tragado pela equipe de Stroll, mesmo tendo ainda contrato. Por um lado, é ótimo para a F1 manter Vettel em seu grid em 2021, porém, claramente o piloto sacado da equipe foi o errado.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Super Aguri

 


Por muitos anos ele foi o único japonês a ter subido ao pódio na F1 e mesmo não sendo tão popular quanto o seu contemporâneo Satoru Nakajima, Aguri Suzuki também tinha seu espaço junto aos japoneses a ponto de ganhar, assim como Nakajima, um vídeo game com o seu nome. A carreira de Suzuki na F1 parecia somente se resumir ao seu pódio único em Suzuka, mas Aguri voltaria à categoria anos depois como dono de equipe, mas de forma efêmera. Completando 60 anos de idade hoje, vamos conhecer um pouco da carreira de Suzuki, que quase era sinônimo de sua pista favorita.

Aguri Suzuki nasceu no dia 8 de setembro de 1960 em Tóquio, Japão e o automobilismo sempre esteve presente em sua vida, pois seu pai fora um dirigente local e fundador da primeira federação de kart no Japão. Aguri deu suas primeiras voltas de kart em 1972, mas só começou a competir aos 17 anos, conquistando o título japonês de kart em 1978. Suzuki subiria para a F3 no ano seguinte, mas em paralelo correria de kart, sendo campeão outras vezes. Em 1982 Suzuki seria vice-campeão de F3 com duas vitórias, mas ao invés de subir para o conceituado campeonato de F2 Japonesa, ele foi contratado pela Nissan para correr em campeonatos locais de turismo, mas também lhe proporcionou sua estreia em Le Mans em 1986. 


Em 1987 Aguri se juntaria com um patrocinador que lhe ajudaria bastante no futuro: a Footwork. Ele estreou na então F3000 Japonesa no mesmo ano sendo logo vice-campeão, conquistando o título em 1988. A Footwork apostava bastante em Suzuki e o inscreveu algumas vezes no certame europeu, mas Suzuki pouco fez, mas não demoraria para ele estrear na F1, na porta aberta por Satoru Nakajima. A equipe Lola estava desfalcada de Yannick Dalmas, que estava doente, quando chegou ao Grande Prêmio do Japão de 1988 e teve que procurar às pressas um piloto local. Com apoio da Footwork Suzuki estreou em Suzuka levando o carro até o fim. Graças a contatos que tinha com a Yamaha, conseguiu um lugar na Zakspeed em 1989, mas a equipe alemã não projetou um bom carro e Aguri não conseguiu sequer sair da pré-classificação durante a temporada. Mesmo não mostrando muita coisa na Zakspeed, Suzuki ainda conseguiu um lugar na equipe Larrousse em 1990, que nada mais era do que a sucessora da Lola. Com mais treinos e um carro melhor, Aguri começava a mostrar bons resultados, com seu primeiro ponto com um sexto lugar em Silverstone e a mesma posição em Jerez.


Desde as categorias de base Aguri Suzuki sempre havia dando muito bem em Suzuka, cujo nome era bem parecido com o seu. Na corrida de 1990 Aguri largou numa boa nona posição e viu de perto o 'atropelo' de Senna em Prost na primeira curva da prova. Mansell e Berger abandonaram cedo, com a corrida indo para as mãos da dupla da Benetton, com Piquet à frente de Roberto Moreno. Suzuki fazia uma corrida sólida e quando Patrese fez sua parada nos boxes, Aguri assumiu a terceira posição e com isso, se tornou o primeiro japonês a subir no pódio na F1. Como esperado, Suzuki comemorou muito seu feito e se tornou herói no Japão. Porém, 1991 seria bem diferente. Com problemas financeiros a Larrousse não desenvolveu seu carro e foi perdendo rendimento ao longo da temporada. O sexto lugar na primeira corrida em Phoenix foi a única vez que Suzuki viu a bandeirada em 1991 e na metade final da temporada ele nem conseguia tempo para largar. A sua antiga parceira Footwork havia comprado a Arrows e Suzuki foi imediatamente contratado em 1992, mas o japonês teve duas temporadas decepcionantes, onde não marcou nenhum ponto, foi superado pelos seus experientes companheiros de equipe (Alboreto e Warwick) e seus erros fizeram crescer um certo tabu na F1, onde piloto japonês era sinônimo de piloto ruim.


Quando Jackie Oliver retomou a equipe Arrows, Suzuki foi dispensado e fez um ano no campeonato de GT no Japão em 1994, quando surgiu outra oportunidade na F1. Em 1995, ajudado pelo fabricante de motores Mugen Honda, Aguri ingressou na equipe francesa Ligier, em alternância com Martin Brundle. Suzuki teve uma temporada difícil, onde só marcou ponto em Hockenheim. Numa dessas ironias da vida, Aguri sofreu um sério acidente nos treinos para o Grande Prêmio do Japão em Suzuka e com dores no pescoço, desistiu da corrida e da carreira, aos 35 anos. Justamente na pista que o marcou para sempre. Foram 64 corridas, oito pontos e seu famoso pódio em 1990.


Aguri Suzuki retornou ao seu país e fez algumas provas, antes de pendurar o capacete para ser agente de jovens pilotos japoneses e chefe de equipe na F-Nippon. Em 2003, ele abriu uma equipe na IRL, chamada Super Aguri Racing, com Roger Yakusawa como piloto e depois seu protegido Kosuke Matsuura em 2004. A Honda mantinha uma equipe na F1, mas tinha um problema na mão. Takuma Sato era muito popular em seu país e havia conquistado bons resultados em 2004, mas o japonês havia perdido claramente desempenho depois disso e se a Honda quisesse dar um passo à frente, teria que se livrar de Sato. Quando a Honda divulgou a contratação de Rubens Barrichello, os japoneses entraram em polvorosa: e Sato? Para não perder sua base de fãs, a Honda entrou em contato com Aguri Suzuki e no final de 2005 anunciaram a criação de uma equipe de Fórmula 1, com motores Honda, tendo como pilotos Takuma Sato e Yuji Ide, esse um protegido de Suzuki. Surgia a Super Aguri Racing, que nas primeiras corridas utilizou um velho Arrows A23 atualizado. Ide foi tão mal que seria quase que expulso da F1. Em 2007 a equipe usou o carro da Honda do ano anterior com adaptações e Sato marcou os primeiros pontos da escuderia, porém, a saída de Sato praticamente selou o fim da Super Aguri no início de 2008. Aguri Suzuki continua procurando jovens talentos japoneses até hoje.

Parabéns!

Aguri Suzuki