A silly-season estava à todo vapor trinta anos atrás nos bastidores da F1. Alain Prost criticou publicamente a política interna da Ferrari, que lhe causou a derrota para Senna em Estoril. Mesmo chegando em segundo, Senna precisava somar um ponto a mais do que Prost para ser campeão em 1990, porém, o apertado circuito de Jerez favorecia à Ferrari, que prometia a Prost a primazia de ter o carro reserva para ele até o final do ano. Desiludido com a Ferrari, Mansell chegou a anunciar que estava se aposentando da F1, mas na verdade negociava abertamente com a Williams, que estava interessado numa grande estrela para a equipe em 1991. Mesmo fazendo uma melhor temporada do que seu companheiro de equipe Patrese, Thierry Boutsen foi sacado da Williams para a entrada de Mansell e anunciou que tinha um contrato até 1992 com a Ligier.
Para sempre os treinos para o Grande Prêmio da Espanha de 1990 ficarão marcados pelo terrível acidente de Martin Donnelly, que espatifou sua Lotus contra o guard-rail na curva Ferrari, tendo a frente do seu carro arrancada. Donnelly foi jogado para o meio da pista, ainda amarrado ao banco, com seu tornozelo virado, numa cena arrepiante. Todos no paddock prenderam a respiração, lembrando do acidente fatal de Gilles Villeneuve apenas oito anos antes. Donnelly estava vivo, mas profundamente inconsciente e foi levado para um hospital em Sevilla em estado grave, mas incrivelmente fora de perigo. Porém, a carreira de Martin Donnelly fora encerrada naquele momento. Senna conseguiu sua pole de número 50 na F1, mas estava tão triste com o acidente de Donnelly que nem comemorou seu feito.
Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:18.387
2) Prost (Ferrari) - 1:18.824
3) Mansell (Ferrari) - 1:19.106
4) Alesi (Tyrrell) - 1:19.604
5) Berger (McLaren) - 1:19.618
6) Patrese (Williams) - 1:19.647
7) Boutsen (Williams) - 1:19.689
8) Piquet (Benetton) - 1:19.700
9) Nannini (Benetton) - 1:20.367
10) Warwick (Lotus) - 1:20.610
O dia 30 de setembro de 1990 estava nublado em Jerez de la Frontera, mas ainda com muito calor naquele outono na Espanha. Desde 1986 no calendário da F1, Jerez nunca levou grande público às suas corridas e por isso aquele seria o último GP da Espanha no circuito, que daria lugar a um circuito moderno, construído nos arredores de Barcelona, a partir de 1991. O chefe de equipe Cesare Fiori se reuniu com seus dois pilotos e convenceu Mansell a ajudar Prost até o final do ano, mas o racha entre Prost e Mansell era claro e ambos não se falavam mais. Na luz verde Senna se mantém na ponta, à frente dos dois pilotos da Ferrari, enquanto Berger colocava Alesi quase fora da pista, fazendo o francês encurralar Patrese, que tocou no pneu traseiro de Alesi, furando-o. Na freada da primeira curva, Alesi perdeu o controle do seu Tyrrell com o pneu já murcho e roda. Antes da largada Ron Dennis havia pedido à Alesi aliviar para Berger, deixando o piloto da Tyrrell furioso, mas no fim, foi Berger que forçou a barra e acabou com a corrida de Alesi na primeira volta.
Com um carro mais bem acertado para pistas lentas como Jerez, a dupla da Ferrari atacava Senna desde a primeira volta, mas a dificuldade de ultrapassagens impedia uma manobra mais agressiva de Prost. Largando com pneus duros, o quarto colocado Berger criava uma linha indiana atrás de si. Não haviam ultrapassagens, parecido com o que ocorre hoje e da mesma forma como em 2020, a luta de trinta anos atrás seria decidida nos boxes. Na volta 20 Mansell foi aos boxes trocar seus pneus, com Prost fazendo seu pit-stop cinco voltas depois, com Senna parando na volta 26. Numa manobra chamada hoje de undercut, a dupla da Ferrari emergiu na frente de Senna, com Mansell rapidamente cedendo sua posição para Prost, mas o inglês não presta atenção na manobra e acaba dando a segunda posição para Senna! Outra trapalhada de Nigel que não ajudou muito os planos da Ferrari. Nelson Piquet retardava sua parada e com isso, liderava uma corrida de F1 depois de três anos, mas bem mais lento, era alcançado por Prost e Senna, que andavam juntos. O motor de Piquet falhou e o brasileiro saiu da pista permitindo que Prost e Senna assumissem a ponta, porém, logo Prost marcou a volta mais rápida da corrida e se distanciava de Senna, que sabia que nada poderia fazer contra a força da Ferrari em circuitos com muito downforce.
Após ultrapassar Piquet, que tinha problemas no motor e abandonaria logo depois, Mansell alcançava Senna, que já tomava 27s de Prost, que fazia uma corrida mais agressiva do que o normal do francês. Na volta 42 Martini sai dos boxes, mas a Minardi não aperta bem uma de suas rodas e o italiano logo abandona. Enquanto era guinchado, o pneu de Martini se soltou no meio da pista, mas felizmente ninguém atingiu o pneu perdido. Na volta 51 Prost faz sua segunda parada e retorna à corrida ainda em primeiro, enquanto um filete de água era visto na McLaren de Senna. Seu radiador estava furado e na volta 53 o brasileiro encostou sua McLaren um pouco depois da saída dos boxes. Senna ficou um tempo assistindo a prova em cima do muro, enquanto a Ferrari partia para uma tranquila dobradinha. A prova da McLaren pioraria ainda mais algumas voltas depois, quando Berger, mais rápido do que Boutsen após fazer sua segunda parada, tenta uma manobra deveras otimista na última curva e acaba batendo na Williams de Thierry. A McLaren de Berger chegou a sair do chão, mas felizmente o austríaco pousou no lado certo, mas pela primeira vez em 1990 nenhum carro da McLaren veria a bandeirada.
O acidente de Berger foi praticamente o final dos acontecimentos daquela triste corrida espanhola de trinta anos atrás. Com os carros bem espaçados e sem maiores brigas no pelotão dianteiro, Prost e Mansell tiraram o pé nas voltas finais e garantiram a segunda dobradinha da Ferrari em 1990. Era também a quinta vitória de Prost no ano e uma sobrevida para o francês no campeonato. Numa corrida sólida, Nannini completou o pódio, com Boutsen sobrevivendo ao toque de Berger para ser o quarto, enquanto Patrese, que foi aos boxes para limpar o seu radiador pelo incidente com Alesi na primeira volta, terminou em quinto e Aguri Suzuki fechou a zona de pontuação. No pódio, toda a tensão da semana anterior dentro da Ferrari parecia terminada com um caloroso aperto de mãos entre Prost e Mansell. Senna ainda tinha nove pontos de vantagem sobre Prost com duas corridas para o fim. Mesmo com essa vantagem, o brasileiro estava tenso. As cicatrizes de 1989 ainda estavam abertas, mas a F1 respirava aliviada em não ter mais uma morte.
Chegada:
1) Prost
2) Mansell
3) Nannini
4) Boutsen
5) Patrese
6) Suzuki
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