domingo, 6 de setembro de 2020
A loucura de Monza
Após a classificação de ontem, alguém em sã consciência poderia apostar em Pierre Gasly como vencedor de hoje, tendo ao seu lado no pódio Carlos Sainz e Lance Stroll? Muito louco para alguém apostar algum real, dólar ou euro, mas foi exatamente isso que aconteceu nesse domingo em Monza. Para quem esperava um novo passeio da Mercedes de Hamilton acabou vendo um raro erro da equipe tedesca proporcionar um pódio completamente aleatório, com Pierre Gasly acabando com um jejum de mais de 24 anos sem vitórias da França na F1.
O grande dia de Pierre se deveu às circunstâncias da corrida de hoje. Um safety-car difícil de engolir e um forte acidente de Charles Leclerc, que trouxe uma rara bandeira vermelha, bagunçou todo o coreto da F1, que via Lewis Hamilton caminhar impávido rumo a vitória de número 90 na F1. Tudo começou quando Kevin Magnussen encostou seu carro na grama, bem na entrada dos boxes. Em outros tempos, uma bandeira amarela resolveria toda a questão, até porque o carro do danês estava numa posição longe de ser perigosa. Contudo, haviam somente três comissários no local e nenhum guindaste. Resultando num Safety-Car que o diretor de prova terá que explicar muito bem nesse resto de dia. Foi então que aconteceu o erro crucial da Mercedes e de Hamilton. Como o incidente que trouxe o Safety-Car foi bem na entrada dos boxes, o pit-lane estava fechado. Uma placa piscando em vermelho estava à esquerda da pista. Provavelmente prevendo uma oportunidade para trocar os pneus, Hamilton ignorou o placar luminoso e embicou sua Mercedes rumo ao pit-lane. Algo claramente proibido no regulamento e punido com um doloroso stop-and-go de 10s para o inglês da Mercedes. Faltou alguém gritar a Hamilton 'stay out', a mesma que gritou para Bottas, que seguiu o resto do pelotão e ficou na pista.
Quando foi dada a relargada, não demorou a aparecer a punição para o coitado do Giovinazzi, que fez a mesma coisa de Hamilton, mas antes que o inglês fosse punido, aconteceu o grande susto do dia, quando Charles Leclerc perdeu a traseira de sua Ferrari e se espatifou contra o muro. Em outros tempo, aí sim o Safety-Car entraria, mas surgiu a bandeira vermelha. Mais explicações do sr Masi, diretor de provas. Com o monegasco ok, parecia que Lance Stroll tinha tirado a sorte grande. O canadense não tinha feito sua parada e estava logo atrás de Hamilton na outra relargada. Com a punição de Lewis e a possibilidade de trocar pneus em período de bandeira vermelha, estava tudo certo para Stroll, certo? Errado! O canadense largou pessimamente e ainda saiu da pista, perdendo sua chance de vencer. Quem emergiu atrás de Hamilton foi Pierre Gasly. O francês largou muito bem, ultrapassando Stroll e deixando para trás as Alfas, que tinham parado antes do surgimento do SC, rapidamente e quando Hamilton foi cumprir sua punição, Gasly assumiu a ponta para não mais perdê-la. Porém, o piloto da Alpha Tauri não teria vida fácil. Carlos Sainz ultrapassara Stroll e tirava a diferença para Gasly. Numa final de tirar o fôlego, Sainz tentou de tudo nas duas últimas voltas, mas a vitória ficou mesmo com Gasly. O jovem francês da Alpha Tauri comemorou muito sua primeira e inesperada vitória na F1. Gasly é mais um jovem piloto da Red Bull que foi fritado pela dupla Helmut Marko&Max Verstappen na equipe principal e foi humilhantemente rebaixado para então Toro Rosso no meio do ano passado. Ainda em 2019 Gasly conseguiu seu primeiro pódio e nesse ano sempre teve performances sólidas, muito superiores ao seu já experiente companheiro de equipe Daniil Kvyat, além do seu sucessor na Red Bull, Alexander Albon. Gasly soube se livrar dos muitos problemas da prova de hoje para se colocar no lugar certo e na hora certa para dar a Alpha Tauri sua primeira vitória, ou segunda, se contarmos os tempos de Toro Rosso. Por coincidência, também em Monza.
Carlos Sainz disse que na penúltima volta que queria muito essa vitória. Olhando para as expectativas deles para 2021, é bom mesmo que ele queira logo, pois a situação da Ferrari apenas piora. A classificação ridícula de ontem culminou com um duplo abandono no domingo, com Vettel tendo problemas nos freios ainda no início da prova e Charles Leclerc estampando no muro da Parabolica cinquenta anos depois da morte de Jochen Rindt. Felizmente Leclerc saiu do carro correndo, assim como a Ferrari quer correr de 2020 como o Cascão quer fugir de um banho. Não apenas o motor da Ferrari é ruim, mas o carro também não ajuda, com a Alfa de Kimi Raikkonen sendo o tempo inteiro o melhor piloto com motor Ferrari hoje. Uma atuação patética e que para sorte dos tifosi, não precisaram ver ao vivo. A Force India conseguiu seu esperado primeiro pódio de 2020, deixando Sergio Pérez em maus lençóis. O mexicano largou na frente de Stroll, mas perdeu muito ritmo após sua parada e fez uma corrida opaca, bem longe do seu fraco companheiro de equipe, que mostrou que sob pressão, espalha a farofa, como na relargada horrorosa e ter saído da pista alguns metros depois. Sorte que Stroll se recuperou com duas boas ultrapassagens, mas não apagando sua incrível chance de vitória de hoje. Falando em corrida opaca, o que dizer da corrida de Valtteri Bottas? O nórdico foi totalmente burocrático e sorumbático após uma primeira volta tenebrosa, onde caiu de segundo para sexto e passou o resto da corrida impotente, só atacando seu compatriota Raikkonen pela, hoje, grande diferença de motores entre Mercedes e Ferrari. Hamilton mostrou em meia corrida como se ultrapassa em Monza, saindo de décimo sétimo para sétimo sem maiores dramas ou loucuras. Essa é a diferença entre uma lenda do esporte e um bom piloto.
A Red Bull teve seu pior final de semana em 2020, com seus dois pilotos não lutando sequer pelo pódio, antes que Max Verstappen abandonasse e Alexander Albon terminasse em penúltimo, longe, muito longe do seu antecessor na Red Bull. Da mesma forma que o projeto de jovens pilotos da Red Bull dá muitos frutos, a impaciência de Marko também dá muito abacaxi. A Renault, que em 2021 passará a se chamar Alpine, decepcionou após o forte desempenhos nos trechos rápidos de Spa semana parada. Seus pilotos falaram até mesmo em pódio, mas Ricciardo foi sexto e Ocon um distante sétimo colocado. Na despedida da família Williams da F1, em meio a confusão que foi a prova Latifi chegou a ser P11, o que poderia ser uma chance de pontuação, mas o canadense não segurou a força da Mercedes de Hamilton no final.
Para quem esperava uma corrida morna e sem muita emoção como fora em Spa semana passada, viu uma corrida histórica e completamente maluca, que somente grandes palcos como Monza podem nos oferecer. Assim é o esporte, podendo nos surpreender a qualquer momento. Ou alguém esperada a vitória de Gasly ou o pódio de Sainz e Stroll?
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