A expectativa era que Lewis Hamilton se igualasse à Michael Schumacher hoje, no insosso circuito de Sochi, mesmo com todas as dificuldades que o inglês iria enfrentar por parte da longa distância até a largada e a inferioridade estratégica. Contudo, o que definiu o adiamento do recorde de Hamilton aconteceu antes da largada por um erro banal do inglês e da equipe Mercedes, dando a vitória de bandeja para Valtteri Bottas, que mandou seus críticos àquele lugar após a bandeirada, ao melhor estilo Dunga levantando a Copa do Mundo em 1994.
A F1 está cheio de regras e muito provavelmente os pilotos nem saibam a metade do que podem ou não fazer dentro da pista e até fora dela. Por isso que as equipes tem várias pessoas para alertar os piloto sobre algo de irregular que estejam fazendo. Enquanto ia alinhar seu carro para o grid, Hamilton resolver testar largadas na saída dos pits, num lugar que não era permitido. Lewis, com treze anos de experiência, pode ter tido um branco mental e ter feito esse teste de forma até ingênua, mas ninguém da Mercedes avisar ao seu principal piloto que ele estava fazendo algo irregular? Isso, para mim, foi o grande erro da corrida e Toto Wolff só não está mais grosso do que parede de igreja porque pelo menos Bottas voltou a vencer, a primeira desde a abertura do campeonato de 2020. Contudo já surgem teorias da conspiração de que Hamilton foi prejudicado para dar a vitória à Bottas e a Mercedes garantir a dobradinha no campeonato, afastando o risco de Verstappen. Outra foi que a ditatorial Rússia não queria uma manifestação anti-racismo feita por Hamilton igual à de Mugello e por isso, garantiu que alguma regrinha qualquer não deixasse que Hamilton vencesse. De minha parte, acredito mais num erro banal de Hamilton (por ter testado a largada ali) e da Mercedes (por não ter alertado Hamilton da irregularidade). O fato foi que Hamilton descumpriu uma regra e foi punido pela letra da lei. Da mesma forma que há quem critique as regras, seria bem estranho se Hamilton não fosse punido. Diriam: estão armando para Hamilton igualar o recorde histórico de Schumacher na Mãe-Rússia. Assim é a vida e suas ambiguidades.
Com a Mercedes novamente massacrando a tudo e a todos, a corrida foi basicamente definida nesse escorregão de Hamilton. Bottas não teve o mínimo trabalho para vencer novamente em Sochi, abrindo pontuação sobre Max Verstappen na briga pelo segundo lugar no Mundial de Pilotos. O piloto da Red Bull fez outra corrida solitária nesse domingo, onde não atacou e não foi atacado nas arrastadas 53 voltas da corrida na Rússia. Irritadíssimo pela punição, Hamilton perdeu 10s (isso mesmo, foram duas punições!) e fez uma corrida onde apenas levou seu carro até o fim, garantindo pontos que já fazem de seu título uma questão de tempo. Por mais que Bottas vença, nada tirará o campeonato de Hamilton e o recorde de Schumacher é uma questão de tempo. No resto do pelotão quem sobressaiu foi Pérez, que terminou em quarto, sua melhor posição em 2020. O mexicano, bastante chateado por ter sido sacado da equipe que ajudou a salvar, teve a sorte de que Lance Stroll bateu ainda na primeira volta, tocado por Charles Leclerc, não dando ideias à Racing Point de fazer estratégias mirabolantes para colocar Stroll na frente de Pérez, agora cada vez mais fora da equipe. O bom desempenho de Ricciardo nos treinos livres davam até a sensação de que o australiano poderia brigar pelo pódio com Verstappen, mas isso esteve longe de acontecer, porém o piloto da Renault não fez feio e mesmo punido em 5s, conseguiu um quinto lugar, mesmo largando mal e perdendo a posição para Ocon. O francês fez mais uma corrida apagada e foi apenas sétimo, tendo que ceder sua posição à Ricciardo no meio da prova.
Levando em consideração a ruindade da Ferrari esse ano, o sexto lugar de Leclerc é algo a ser ressaltado e até mesmo comemorado. O monegasco tirou tudo do seu carro e levou a Ferrari para lugares bem acima do seu potencial. Cada vez mais escanteado pela equipe, Vettel fez outra corrida sofrível nesse domingo. Somando a Ferrari não estar atento a qualquer suspiro que Vettel dê, o alemão ainda é reconhecido por ser um piloto que se abate muito quando se encontra numa situação desconfortável, como aconteceu em seu último ano de Red Bull. Um fim indigno na Ferrari para um tetracampeão. A dupla da Alpha Tauri fez uma boa corrida e dois pilotos foram aos pontos, com destaque para Kvyat superando Gasly, que fez uma segunda parada para superar Norris e Albon nas voltas finais. Mais uma vez Albon fez uma corrida problemática e cheia de ultrapassagens, mas sua falta de pontos podem fazer diferença na conta que Helmut Marko faz para subir ou rebaixar seus pilotos no programa da Red Bull. A Williams fez outra corrida ruim, o mesmo acontecendo com as equipes clientes da Ferrari. Porém, Grosjean fez outra corrida medíocre e com 34 anos de idade e muitos anos de F1 na bagagem, fica a pergunta: o que o francês está fazendo na F1?
O esperado recorde de vitórias na história da F1 igualado de Hamilton foi adiado e pode acontecer, ironia das ironias, em Nürburgring, autódromo mais próximo da cidade natal de Michael Schumacher. Um recorde que virá a qualquer momento, até mesmo na próxima corrida, mas Hamilton e a Mercedes não podem vacilar como hoje.
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