quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Contra gigantes

Desde que a F1 é F1, grandes montadoras investiram milhões na categoria, algumas com equipes próprias e outras fornecendo motores. Enfrentar uma Ferrari (Fiat) ou uma Mercedes nunca foi uma tarefa fácil, mas o personagem de hoje o fez por quase vinte anos. Brian Hart foi um piloto promissor durante os anos 1960, mas logo Hart se dedicou aos motores e nos anos 1980 e 1990 foi figura fácil dentro do paddock da F1, fornecendo seus motores à equipes pequenas. Completando 80 anos hoje, se fosse vivo, vamos olhar um pouco a trajetória de Hart.

Brian Roger Hart nasceu no dia 7 de setembro de 1936 em Enfield, na Inglaterra. Aos 12 anos, o pequeno Hart viu o Grande Prêmio da Inglaterra de 1949 e se apaixonou pelo automobilismo, começando a correr dez anos mais tarde em pequenas categorias inglesas. Hart se torna um piloto bastante atuante nas categorias menores de monoposto na Inglaterra, como a F-Junior e F3. Brian foi contratado pela equipe de Ron Harris de F2, que utilizava os carros da Lotus e o inglês chegou a participar do Grande Prêmio da Alemanha de 1967, que na época também inscrevia carros de F2. Porém, Brian Hart teve a perspicácia em perceber que não tinha talento o suficiente para correr na F1, mas teria outra forma de entrar na categoria. Formado em engenharia e muito interessado na preparação de motores, Hart começa a se dedicar cada vez mais na afinação dos motores do que na pilotagem, abandonando a vida de piloto em 1971. Mas não o automobilismo.

Hart conseguiu um emprego na empresa de aviões Havilland em 1967, onde aprendeu ainda mais sobre a construção de motores, mas Brian ficou apenas um ano, se mudando para a Cosworth em 1968, onde viu de dentro o surgimento do lendário motor Ford-Cosworth. Porém, Hart não queria ser apenas uma parte de uma empresa e por isso, em 1969 criou a Brian Hart Limited, onde por exatos trinta anos construiu e preparou motores de várias categorias. Primeiro, Hart conseguiu um contrato com a Ford para preparar os motores dos seus carros em ralis. Hart aproveitou a ocasião e usando a mesma base do motor Ford para rali, fez modificações para que esse mesmo propulsor fosse usado na F2. Com sucesso. Com os motores Ford FVA e BDA, Ronnie Peterson (1971) e Mike Hailwood (1972) foram campeões da F2 Europeia. Porém, Hart viu pela primeira vez que ele era um 'Davi' contra vários 'Golias' dentro do automobilismo, quando Renault e BMW começaram a investir na construção de motores na F2, deixando Hart e seus motores Ford para trás, porém, a eficiência de Hart fez com essas montadoras sofressem derrotas na F2 para o pequeno construtor inglês no final dos anos 1970. 

Em 1979, Hart se junta à equipe Toleman, que pretendia emergir à F1 em poucos anos. Após dois anos fora da F2, Hart construiu motores do seu nome para a Toleman dominar o campeonato da F2 Europeia em 1980, com Brian Henton e Derek Warwick. Como planejado, a Toleman estreou na F1 em 1981, mas o próprio Brian Hart sentia que não estava tão preparado para estrear na F1 com seus motores turbo e o resultado foi um ano de estreia complicado tanto para a Toleman, como para a Hart, onde só se classificaram duas vezes para a largada durante o ano. Com um ano de experiência, a parceria Toleman-Hart começava a colher alguns bons frutos, mesmo não marcando pontos em 1982. Naquela época, mais e mais montadoras entravam na F1 investindo rios de dinheiro em motores turbo, enquanto a Hart, muitas vezes, tinha um centésimo do investimento de uma TAG-Porsche, por exemplo. Porém, a Toleman-Hart não fazia feio. Após um início de 1983 bastante complicado em termos de confiabilidade (apesar de alguns bons resultados em grid), a Hart melhorou bastante a confiabilidade do seu motor e em Zandvoort, que tem uma reta dos boxes enorme, a Toleman-Hart marcou seus primeiros comemorados pontos, com Derek Warwick. O inglês marcaria pontos nas quatro corridas finais, garantindo muitos elogios para a Toleman e o motor Hart. Porém, se com o bom Warwick a Toleman já tinha feito um bom papel com o motor Hart, o que aconteceria em 1984 seria ainda melhor, com a chegada de Ayrton Senna. Mesmo novato, o brasileiro já demonstrava traços de genialidade e Hart pôde comemorar seus primeiros pódios na F1.

Mesmo sendo claramente o motor menos potente do grid, a Hart fornecia motores confiáveis e baratos, garantindo a admiração de toda a F1. Quando a Toleman se transformava, aos poucos, em Benetton em 1985, Hart ainda teria a alegria de conseguir sua primeira pole em Nürburgring, com Teo Fabi, mas a saída dos antigos donos da Toleman fez com que a equipe passasse a ser mais ambiciosa e para 1986, a equipe teria os potentes motores BMW. Hart ainda cederia seus motores para a Lola em 1986, esperando os motores Ford Turbo. Brian Hart ficou um tempo de fora da F1 no final dos anos 1980, preparados os motores Cosworth da F3000, porém, a F1 decidiu que os motores turbo sairiam de cena em 1989, fazendo com que Hart se retornasse à F1, com sua empresa preparando os motores Ford-Cosworth aspirado para as pequenas equipes da categoria. 

Em 1993 a Hart voltaria com motor próprio à F1 com a Jordan e os resultados foram encorajadores, principalmente com o ótimo início de campeonato de Rubens Barrichello em 1994. Hart conseguiria outra pole, desta vez em Spa, mas quando a Jordan aceita uma parceria com a Peugeot para 1995, a Hart tem que se mudar novamente, se associando à Footwork. Quando a equipe voltou a se chamar Arrows em 1997, a Hart teve uma breve passagem com a Minardi, mas Brian Hart voltaria a se associar à Arrows em 1998, equipando seus motores V10 aos belos carros negros da equipe de Tom Walkinshaw. Completando trinta anos, a Brian Hart Limited foi vendida à Walkinshaw em 1999 e Brian Hart saiu de cena da F1 definitivamente. A Arrows faliu em 2002 e Brian Hart faleceu aos 77 anos de idade em 2014, com o respeito de toda a F1 por ter construído bons motores com pouco orçamento e passando por várias fases (turbo, aspirado, V8, V10) com bastante dignidade.

Um comentário:

  1. Valente Hart, nem só de Enzos se faz F1, bravo Hart!!! Parabéns por sua bela história.

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