Originalmente, esse post seria sobre o Grande Prêmio da Bélgica de 2001 e seus vários significados. Schumacher se tornava o maior vencedor da história da F1 com 52 vitórias e Luciano Burti encerrava sua carreira na F1 num brutal acidente na Blanchimont. Aquela corrida em Spa, marcada pelas múltiplas trapalhadas da Williams, que tinha o melhor carro disparado daquele final de semana quinze anos atrás, também foi a última corrida antes dos tensos dias pós-11 de setembro, que tornou a corrida seguinte, em Monza, numa das mais sombrias da história da F1, potencializado pelo trágico acidente de Alessandro Zanardi, na Indy, no dia anterior.
Porém, com o anúncio nesta manhã do ano sabático de Button em 2017, resolvi voltar à 2001 com o olhar de hoje. Quinze anos atrás, a F1 era dominada pela Ferrari de Michael Schumacher, que tinha como maiores oponentes a tradicional rival McLaren, além da ascendente Williams, empurrada pelo motor BMW, o melhor da época. Considero 2001 um dos melhores anos de Schumacher, pois a Ferrari muitas vezes não tinha o melhor carro, com o favoritismo pendendo de acordo com o tipo da pista. Se fosse muita rápida (Hockenheim, Spa e Monza), a Williams e o seu motor BMW, era bem superior aos demais. Se fosse uma pista com forte apelo aerodinâmico (Silverstone, Barcelona e Suzuka), a McLaren projetada por Adryan Newey se sobressaía. Pois Schumacher usou o equilíbrio da Ferrari para conquistar o seu quarto título com facilidade, derrotando seus rivais e entrando nos livros de todos os recordes da F1.
O alemão contava com 32 anos na época e a sua geração estava levando, como se diz aqui no Ceará, uma pisa de tirar galinha do choco. Com 35 anos, Hakkinen se aposentaria no final de 2001. Aos 30, Coulthard teria seu melhor ano na F1, enquanto aos 29 anos, Barrichello já começava a ver que dificilmente bateria seu companheiro de equipe, principalmente por ser simplesmente mais lento do que Schumacher. Porém, uma nova geração estava chegando na F1 no começo do século 21. Jenson Button tinha estreado na F1 no ano anterior aos 20 anos de idade, levando muita gente a criticar a Williams por ter dado uma chance para um piloto tão inexperiente. Porém, Kimi Raikkonen foi ainda mais impressionante ao estrear com apenas 21 anos de idade e 23 corridas de F-Renault em 2001, mesma corrida em que um espanhol de 19 anos e protegido por Flavio Briatore estava no fim do grid com a Minardi. Seu nome era Fernando Alonso. Um jovem brasileiro, totalmente ofuscado por Antonio Pizzônia na ocasião, vencia a F3000 Italiana e ganhava um teste com a Sauber ainda em 2001. Era Felipe Massa.
Esses quatro pilotos tiveram carreiras distintas ao longos dos quinze anos seguintes, uns demorando a engrenar (Button) e outros já conseguindo entrar numa equipe grande rapidamente (Raikkonen na McLaren em 2002), mas Button, Alonso, Raikkonen e Massa tiveram suas carreiras interligadas de alguma forma, brigando por vitórias e títulos nas temporadas seguintes. Os quatro são pessoas de uma geração diferente da atual. Quando entraram na F1, não havia super simuladores, Redes Sociais ou preocupação extrema com a imagem. Mas havia um objetivo: bater Michael Schumacher. E essa geração conseguiu o objetivo que os contemporâneos do alemão não conseguiram: bater o alemão.
Porém, o tempo passa e da mesma forma que essa geração pediu passagem, veio outra também muito forte, capitaneada por Sebastian Vettel e Lewis Hamilton. No confronto de geração, a mais nova venceu novamente. Entre 2007 e 2010, houve uma luta feroz entre essas geração, com o placar de 2 (Raikkonen/07 e Button/09) a 2 (Hamilton/08 e Vettel/10). O primeiro título de Vettel foi o prenúncio do alemão nos três anos seguintes e de Hamilton, contando a temporada atual.
Button, Alonso, Raikkonen e Massa já não eram os garotos de quando entraram, batendo vários recordes de precocidade. Se nesta semana Felipe Massa anunciou sua aposentadoria, hoje foi a vez de Jenson Button. Piloto de tocada suave, o inglês passou por poucas e boas antes de conseguir o título de 2009 com o conto de fadas que era a Brawn. Se havia a certeza que aquele ano não foi usual, ninguém duvidou do talento de Button, que foi demonstrado nos anos com a McLaren, onde sempre mostrou um desempenho sólido e em 2011 conquistou um vice-campeonato onde pilotou até mesmo melhor do que quando foi campeão, superando Hamilton na casa dele. Ótimo piloto em condições mutáveis de pista, Button também se caracterizou por ser o tipo boa-praça, como era seu pai, além de estar sempre cercado de belas mulheres. Jenson é um dos últimos cavalheiros da F1.
A opção de não anunciar a aposentadoria, mas um ano sabático, pode ser um sinal de Alonso pode estar pensando em fazer outra coisa da vida a partir de 2018, fazendo com que Button voltasse ao cockpit da McLaren ao lado de Stoffel Vandoorne. Não acredito em nenhuma dessas possibilidades. Acho que Alonso pode, sim, se aposentar, mas não terá Button como substituto. Aos 37 anos, Raikkonen (único piloto do grid atual nascido na década de 1970) também não terá muito tempo de F1 pela frente.
Uma geração que acompanhei de perto e cuja a idade é parecida com a minha está chegando ao fim. O tempo passa e fico feliz em ter acompanhado eles e não tenho dúvida de que cada um deles tem um bom lugar na história da F1. Continuarei os acompanhando (Button, Alonso, Kimi e Massa) com uma leve torcida de quem eu nunca os conheci, mas sempre os acompanhei de perto.
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