sábado, 24 de setembro de 2016

Marc

Se fosse comparar nosso personagem de hoje com um piloto da F1 atual, este seria Nico Hulkenberg. Assim como o atual piloto da Force India, Marc Surer sempre foi considerado um dos melhores pilotos de sua geração e ninguém poderia jamais duvidar do talento dele, mas o suíço nunca teve em mãos carros à altura do seu talento na F1, pois Surer só poderia oferecer isso, ao invés de dinheiro e algumas vezes Marc ficou à pé por causa de um piloto endinheirado, mas sem o mesmo talento do suíço. Completando 65 anos nessa semana, vamos ver um pouco da carreira de Marc Surer.

Marc Surer nasceu no dia 18 de setembro de 1951 em Arisdorf, na Suíça e por ter nascido num país onde o automobilismo era proibido, Surer começou tarde sua carreira. Somente aos 20 anos de idade Marc Surer começou a correr no kart, sendo campeão suíço logo de cara, sendo terceiro colocado no campeonato europeu em sua segunda temporada nos micro-bólidos. Como as corridas eram proibidas em seu país natal por causa da tragédia em Le Mans/1955, Surer se mudou para a Alemanha em 1974 para começar sua carreira nos monopostos, na F-Vê. Surer conquistou um bom terceiro lugar no certame alemão em sua estreia e em sua segunda temporada, Surer conquista o terceiro lugar no campeonato europeu. Aos 25 anos, idade em que muitos pilotos atuais de F1 já contam com várias temporadas, Surer estreou na F3, disputando os campeonatos alemão e europeu com sucesso, chamando a atenção de Jochen Neerpasch, chefe de competições da BMW. A marca bávara estava investindo muito dinheiro na F2 Europeia, para posteriormente alcançar a F1. Vendo o talento de Surer, Neerpasch o contrata para ser piloto oficial da BMW na F2, ao lado dos jovens e talentosos Eddie Cheever e Manfred Winkelhock.

Com um chassi March, a equipe BMW dominou a F2 no final da década de 1970 e Surer aproveitou para fazer seu nome na categoria. Em 1977 o suíço teve um ano de aprendizado, mas ainda marcou muitos pontos. Para 1978, Surer conseguiu uma regularidade impressionante, chegando várias vezes no pódio para ser vice-campeão, superado pelo companheiro de equipe Bruno Giacomelli. Com o italiano chegando à F1 no ano seguinte, Surer se torna o favorito ao título em 1979 e Marc não decepciona, conquistando o título após disputa emocionante com Eddie Cheever e o experiente Brian Henton. Ainda em 1979, Surer faz sua primeira corrida na F1 pela equipe Ensign em Watkins Glen, após não se classificar em Monza e Montreal. A estreia de Surer numa equipe pequena mostraria como seria boa parte da carreira do suíço, na época, considerado um dos principais pilotos de sua geração, mesmo não sendo um garoto (28 anos). Para 1980, Surer assina com a ATS do instável chefe de equipe Günther Schmidt. O carro era um dos piores do pelotão e para complicar, Surer sofre um sério acidente em Kyalami, onde quebrou os dois tornozelos, com o suíço ficando um bom tempo preso no seu carro. Surer retornou ao seu cockpit ainda em 1980, mas não marcou nenhum ponto. Com a ATS preferindo os Pesos de Eliseo Salazar, Surer estava a pé em 1981, quando recebeu um convite de Morris Nunn para correr as primeiras etapas da temporada, mas se não conseguisse dinheiro, o suíço poderia se substituído por algum piloto com aporte financeiro a qualquer momento. Surer sabia que teria poucas chances para se destacar e isso aconteceu no Grande Prêmio do Brasil, no extinto circuito de Jacarepaguá, que recebia a F1 com muita chuva naquele ano. Em condições assim, o talento do piloto se sobressai e mesmo largando em 18º, Surer conseguiu uma corrida estupenda para ser quarto colocado. Surer foi o piloto daquele dia no Rio de Janeiro, mas ele acabou ofuscado pela polêmica na Williams. Em Mônaco, outra pista onde o talento se sobressai, Surer marcou um pontinho, mas novamente Eliseo Salazar chegou com uma mala de dinheiro para tirar o lugar do suíço e ele acabou dispensado da Ensign logo após a corrida monegasca. Menos mal que Jabouille tinha decidido se aposentar e a Ligier contratou Patrick Tambay, deixando uma vaga aberta na Theodore, que contratou Surer para o resto da temporada, mas com um carro ainda pior, o suíço não marcou mais pontos.

Para 1982, Surer consegue um bom contrato com a Arrows, que tinha feito um bom papel em 1981, até o dinheiro acabar. Porém, nos testes de pré-temporada, Surer sofre outro sério acidente e o suíço só fica pronto para correr já próximo da metade da temporada. A Arrows não tinha o mesmo carro que fez Patrese ser pole em Long Beach, mas Surer tinha nas mãos um carro melhor do que os anteriores e o suíço marca pontos com um quinto lugar em Montreal e um sexto em Hockenheim. Alçado a primeiro piloto da Arrows, Surer começa 1983 com bons resultados, marcando pontos, mas a Arrows não contava com motores turbo, um fator diferencial naquele ano. Após marcar pontos em três das quatro primeiras corridas, Surer teve uma grande apresentação em Mônaco. Poucos minutos antes da largada, uma chuva assolou o principado, mas logo parou. A pista estava úmida e a maioria dos pilotos de ponta colocaram pneus para chuva. Surer pensou diferente e largou com pneus slicks, mesma escolha da dupla da Williams e de Derek Warwick. A pista logo secou e os quatro primeiros da corrida eram Rosberg, Laffite, Surer e Warwick, com Marc sendo bastante pressionado pelo inglês da Toleman. Quando viu a aproximação de Piquet e Prost, Warwick ficou ainda mais alvoroçado para tomar o terceiro lugar de Surer e na volta 49, Warwick tentou uma ultrapassagem otimista em cima de Surer na Saint-Devote e os dois acabaram batendo, terminando com as chances de pódio de Surer. Apesar do seu talento, Marc Surer nunca subiria ao pódio na F1.

A partir de 1984, Surer passa a dividir seu tempo entre a F1 e as corridas de turismo e no Mundial de Marcas, algo comum na época. Em seu terceiro ano na Arrows, Surer aproveita seu longo relacionamento com a BMW para conseguir o potente motor para o time, mas os motores bávaros tinham sérios problemas de confiabilidade que afetou até mesmo a equipe principal na F1, a Brabham. Surer marcou apenas um ponto na F1 (6º lugar em Zeltweg), mas venceu os 1000 km de Monza no Mundial de Marcas com um Porsche 962 e as tradicionais 24 Horas de Spa, com uma BMW. Substituído por Gerhard Berger na Arrows em 1985, Surer passou a disputar mais corridas de turismo, além de passar a correr em ralis. Contudo, não demorou muito para Surer voltar a F1, quando o segundo piloto da Brabham François Hesnault sofrer um acidente num teste em Paul Ricard e encerrou sua carreira. Graças aos contatos com a BMW, Surer foi contratado pelo resto da temporada, tendo pela primeira vez na carreira um carro verdadeiramente bom, mesmo a Brabham já iniciando seu longo declínio na F1. Surer marcaria pontos com alguma constância e quando Nelson Piquet anunciou que estava de saída da equipe, Surer chegou a superar o brasileiro nas etapas finais do ano, incluindo um abandono quando estava sem segundo lugar em Brands Hatch. As boas apresentações de Surer mostravam que o suíço ainda tinha vaga na F1 e em 1986 o suíço retornou à Arrows, porém o carro era muito ruim e Marc não teve como mostrar seu talento, assim como Thierry Boutsen. Enquanto corria de F1, Marc Surer participava de ralis e no dia 25 de maio de 1986, Surer e seu navegador Michel Wyder participaram do Rally Hessen, com um Ford RS200. Na época, os carros de rali conseguiam grandes velocidades e numa das especiais, Surer bateu seu carro violentamente contra uma árvore, destruindo o carro, que pegou fogo. Infelizmente, o impacto foi todo em cima de Wyder, que morreu na hora. Surer teve sorte em ter saído vivo, mas ainda estava seriamente ferido, com algumas queimaduras. Esse acidente fora da F1 decretou o fim de sua carreira na categoria, com 81 Grandes Prêmios, uma melhor volta e 17 pontos marcados.

Esse acidente que matou seu amigo Wyder marcou profundamente Marc Surer, que se manteve muitos anos ligado a BMW, participando dos excelentes campeonato de Superturismo alemão no início dos anos 1990, além de ter sido por alguns anos diretor da marca bávara em competições de turismo na Alemanha. Há vinte anos Marc Surer é comentarista de F1 da TV suíça. Mesmo talentoso, Marc Surer nunca teve em mãos um carro para comprovar o que todos esperavam dele e que sabiam que ele podia entregar.

Parabéns!
Marc Surer 

Um comentário:

  1. Prezado João Carlos, parabéns pela bela homenagem ao talentoso e injustiçado Marc Surer, um dos melhores pilotos que já vi correr em Fórmula 1. Acompanhando o esporte há várias décadas, constato, entristecido, como, a cada geração, aparece um grande talento a que as grandes equipes permanecem cegas.
    Vi isso acontecer com Jean Pierre Jarier, no final dos anos 70; com o inesquecível Surer, nos anos 80; com Mika Salo, nos anos 90 e agora, na década de 2010, com o excelente Nico Hulkenberg, como você tão bem apontou. Com relação a este último, vamos torcer para que a Renault, com o auxílio do grande Alain Prost, permita ao alemão alcançar os resultados que seu talento, há muito, já merecia.

    P.S. Dois paralelos marcam a carreira desses injustiçados:
    1) Só correram com carros competitivos quando em substituições em corridas avulsas:
    Jarier na Lotus em 78 e na Ligier em 1981
    Surer na Brabham em 1985
    Salo na Ferrari em 1999

    2) Sempre aproveitaram as corridas em condições adversas (sobretudo com chuva) para, com garra e arrojo, apresentar performances bem acima dos equipamentos que guiavam:
    Jarier e Surer no Brasil em 1981;
    Jarier em Long Beach, 83, e Surer, em Mônaco, no mesmo ano.
    Salo em Mônaco em 1997.
    Hulkenberg no Brasil em 2010 e 2012.

    Parabéns pela lembrança.

    Atenciosamente, Bruno.

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