quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Início de um mito

Quinze anos atrás, tinha matado aula na faculdade para assistir os treinos da F1 em Monza e logo depois, a Indy na Alemanha. Vivíamos dias históricos pelos piores motivos, pois na terça-feira tinha acontecido o 11 de Setembro e de um dia comum, aquela terça se tornou histórica. O mesmo acontecendo nos dias seguintes.

A Indy retornaria à Europa após vários anos, mas a corrida quase não aconteceu não pelo medo de algum ato terrorista, mas principalmente porque o espaço aéreo americano ficou fechado alguns dias e as equipes chegaram na Alemanha em cima da hora. Não faltaram homenagens e tudo que ninguém queria ver era algo de ruim acontecer. Mas infelizmente aconteceu...

Zanardi vinha fazendo uma temporada apagada em seu retorno à CART e era especulado que o italiano iria se aposentar no final do ano, se juntando à Mika Hakkinen, que tinha anunciado sua aposentadoria da F1 no final de 2001 naquele sábado. Porém, o italiano que corria pela equipe de Morris Nunn estava liderando a prova em Lausitzring, mas precisou fazer um splash-and-go quando faltavam poucas voltas. Zanardi saiu dos boxes quase uma volta atrás do líder de Kenny Brack, mas com um bom carro, Alex poderia voltar e tentar ganhar mais algumas posições. Talvez na ânsia disso, Zanardi não economizou no acelerador na saída dos boxes e com os pneus frios, Alex rodou e, pior, foi para o meio da pista. Patrick Carpentier passou perto, mas Tagliani acertou bem no meio do carro de Zanardi. Me lembro que dei um pulo do chão, pois tinha (e ainda tenho) a mania de assistir TV deitado.

A câmera logo distanciou seu foco, mas quando mostraram a retirada de Zanardi do carro, era perceptível o sangue na pista. Emerson Fittipaldi e André Ribeiro estavam nos comentários da corrida e estavam claramente emocionados. A corrida foi encerrada, assim como a transmissão da TV Record. Como não haviam smartphones, corri para o PC e me conectei à Internet discada, já que era começo de tarde e os pulsos não seriam um incômodo. O Globoesporte deu a informação em tom fúnebre. 'O piloto Alessandro Zanardi sofreu um acidente muito grave na Indy', noticiou Mylena Ciribelli. As notícias caíam à conta gotas. Passei a tarde na frente do PC, mas as notícias não vinham. Lá pelas cinco da tarde, veio a notícia de que Zanardi tinha perdido as pernas e seu estado era muito grave.

Me lembrei do jeito alegre de Zanardi, de como ele corria com coração e de como não tinha entendido como ele havia fracassado na F1 em 1999. A F1 teve sua corrida no dia seguinte em tom ainda mais triste, porém, os dias foram passando e as notícias sobre Zanardi eram, na medida do possível, boas. Ele estava alegre e se sentia desafiado. Zanardi voltou às pistas e venceu no WTCC. O italiano poderia ser uma pessoa amargurada, mas sua alegria contagiante o transformou em mais do que um campeão. Mais do que um piloto. Mas num super-homem. Que acaba de ganhar sua segunda medalha paralímpica no Rio. Mito.

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