Vinte e cinco anos atrás, a F1 ia para Monza ainda impressionada com Michael Schumacher, que tinha feito sua estreia na categoria quinze dias antes em Spa. Porém, o que aconteceu nos dias seguintes ao debute de Schumacher marcaria a F1 para sempre, tendo consequências anos mais tarde.
Bernie Ecclestone dizia que seu sonho era ter um ótimo piloto ou chinês, ou negro ou alemão. Quando Schumacher apareceu, o dirigente inglês viu a possibilidade de um terço do seu sonho se realizando e Bernie também sabia que apesar da ótima temporada de estreia, a Jordan passava por dificuldades financeiras, provavelmente não sendo possível que Schumacher pudesse estourar com a velocidade que Bernie desejava. Tão impressionada como o resto do paddock da F1, Eddie Jordan ofereceu um contrato para Schumacher até o final da temporada, incluindo 1992. Porém, Eddie já tinha sido deixado para trás por Willi Weber, empresário de Schumacher, Flavio Briatore, chefe da Benetton, e Ecclestone, que o colocaram na Benetton.
Porém, a Benetton tinha dois pilotos no seu line-up que tinham feito bons papeis em Spa, com Nelson Piquet subindo no pódio e Roberto Moreno marcando a volta mais rápida da corrida. Piquet foi trazido por Flavio Briatore por causa do seu nome e por isso assinou um contrato de risco, onde Piquet ganharia por ponto marcado. Nelson nunca ganhou tanto dinheiro na F1... Porém, Briatore via o bom desempenho do veterano com bons olhos, pois a sua equipe ganhava mais dinheiro com os prêmios da FOCA, além do tricampeão ainda ser um nome respeitado na F1. Então, sobraria para Moreno. O brasileiro tinha feito uma temporada irregular, mas vinha do seu melhor desempenho em Spa. Contudo, na calada da noite, Briatore contratou Schumacher e falou que Moreno 'não tinha condições físicas e mentais para correr na F1'.
Claro que Moreno não aceitou em brancas nuvens a desculpa de sua dispensa e foi atrás dos seus direitos, mas logo o brasileiro percebeu que por trás da vinda de Schumacher haviam muito mais interesses do que o imaginado e na véspera da corrida em Monza, Roberto Moreno estava à pé. Eddie Jordan também não gostou nada de ter perdido um talento como Schumacher na calada da noite, mas foi convencido por Ecclestone a, como se diz no Ceará, não botar boneco. Com um cockpit vago e Moreno dando bobeira em Monza, Jordan convidou o brasileiro para correr com a Jordan no Grande Prêmio da Itália. Tudo foi feito às pressas para que Moreno corresse em Monza e muito provavelmente Roberto nunca correu com tanta gana como naquele final de semana vinte e cinco anos atrás. Moreno colocou a Jordan no top-10 do Grande Prêmio da Itália de 1991, logo atrás do seu antigo companheiro de equipe. O problema era que Schumacher estava na frente dos dois!
O boxe da Benetton vivia um momento estranho, com a chegada do atrevido Michael Schumacher no lugar do querido Roberto Moreno, que era amigo de infância de Nelson Piquet. Lógico que o tricampeão não gostou nada do tratamento dispensado ao seu grande amigo, mas Piquet se divertiu bastante na festa que a Benetton fez para ele por causa dos 200 Grandes Prêmios que o tricampeão estava completando em Monza naquele final de semana. Até mesmo o desafeto Mansell apareceu nos boxes da Benetton, assim como Prost, que foi trolado por Piquet numa cena histórica.
Mansell não estava com cara de bons amigos, pois tinha perdido a pole para Senna, mesmo a Williams sendo amplamente favorita na rápida pista italiana. Mansell fora atrapalhado de forma clara nas suas voltas mais rápidas da classificação de sábado, tendo que se conformar com a segunda posição. Senna fez uma corrida impressionante, onde enfrentou com grande estoicismo a superioridade da Williams. A equipe inglesa colocou Patrese para pressionar Senna, mas o italiano só efetuou a ultrapassagem na volta 26... para abandonar na volta seguinte, com o motor quebrado! Porém, Mansell estava logo atrás, esperando o desfecho da briga para poder atacar Senna e com os pneus desgastados, o brasileiro só aguentou oito voltas da pressão de Mansell. O inglês da Williams vencia novamente e nunca esteve tão perto do Senna no campeonato. Prost ainda tentou um ataque final em cima de Senna, mas o desmotivado francês ficou com o lugar mais baixo do pódio.
Sobre os resquícios de Spa, Moreno largou mal e no afã de conseguir posições rapidamente, acabou rodando ainda na segunda volta, estragando uma corrida com bom potencial para se mostrar não apenas para Eddie Jordan, como para os demais chefes de equipe da F1. Contudo, o fenômeno Schumacher impressionava cada vez mais ao conseguir o quinto lugar, 11s na frente do seu veterano companheiro de equipe Piquet, e marcando seus primeiros pontos na F1. Já contando com 39 anos de idade, Nelson Piquet via que seu tempo na Benetton (e na F1) haviam acabado e que a equipe de Flavio Briatore já tinha até contratado seu substituto. Piquet não brigou publicamente com Briatore com a atitude do chefe da Benetton com seu amigo Moreno, mas com certeza ele não gostou. Porém, ele não gostaria muito mais do que Briatore fez com seu filho anos mais tarde.
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