domingo, 15 de abril de 2018

Aos imediatistas

Após a primeira corrida desta temporada, não faltou quem achasse que a F1 tinha acabado e que 2018 seria uma chatice do começo ao fim. Nessa era atual onde tudo é imediato, houve até reunião da FIA com as equipes para que as corridas melhorassem. Passou quinze dias e vieram as provas no Bahrein e na China. A pergunta agora é: a F1 está chata? Com uma corrida como a dessa madrugada é até difícil não se empolgar, mas muita gente terá que engolir as críticas e quem deixou de ver as duas últimas provas por causa de Melboune perdeu duas grandes provas, com destaque para a metade final da corrida em Xangai, onde três equipes estiveram envolvidas em disputas de tirar o fôlego até a bandeirada. Claro que daqui a quinze dias Baku pode nos trazer uma corrida ruim, como normalmente acontece, mas corridas boas e ruins acontecessem desde que a F1 é F1 e Daniel Ricciardo sorrindo e se emocionando no alto do pódio nos mostra que grande esporte é esse.

A corrida pode ser muito bem dividida em duas. Antes e depois do safety-car forçado pelo toque entre os dois carros da Toro Rosso. Até então, a corrida era tática como havia acontecido semana passada no Bahrein. Após uma largada com mudanças importantes entre os seis primeiros, a corrida estava estática com Vettel na ponta e abrindo vantagem sobre Bottas, que tinha Verstappen numa boa distância. Após o holandês, vinham Hamilton e Ricciardo. A primeira rodada de paradas viu a Ferrari demorar demais para chamar Vettel e o alemão acabou atrás de Bottas, mas bem próximo do carro da Mercedes. As perguntas começaram a pipocar enquanto Vettel atacava Bottas. Assim como em Sakhir, que tem um asfalto bem abrasivo, só haveria uma única parada para os líderes em Xangai? Ao retardar a sua parada, que seria única, Raikkonen teria a vantagem no final? Tudo isso foi pro vinagre quando Pierre Gasly, com pneus macios, tentou uma ultrapassagem para lá de otimista e posteriormente punida de forma correta em cima do seu companheiro de equipe Brendon Hartley, com pneus médios. A sujeira no local, na minha opinião passível apenas para um safety-car virtual, trouxe o safety-car real e a corrida virou pelo avesso pela estratégia da Red Bull.

Quando Bottas e Vettel entraram na reta dos boxes, deram de cara com o safety-car e, portanto, sem tempo de reação. A Red Bull foi mais rápida no gatilho e trouxe seus dois pilotos para colocarem pneus macios novos para o último terço da prova, algo que a Mercedes vacilou feio com Hamilton, que vinha logo atrás de Verstappen e permaneceu na pista com os mesmos pneus. O inglês reclamou com razão. A relargada deu início a uma corrida de tirar o fôlego, com os dois carros da Red Bull partindo para cima de Ferrari e Mercedes com a ferocidade juvenil dos seus pilotos, com a diferença de que Ricciardo tem mais senso estratégico do que seu companheiro de equipe. Somente os hormônios em ebulição podem explicar as tentativas de ultrapassagem que Verstappen tentou em cima de Hamilton e Vettel quando tinha o carro mais rápido do pelotão e praticamente entregou a vitória de bandeja para Ricciardo. Vindo na frente do australiano, Max tentou uma ultrapassagem por fora em cima de Hamilton numa curva rápida e acabou fora da pista, sendo ultrapassado por Ricciardo no processo. Depois tocou em Vettel numa tentativa bem parecida com a de Gasly que acabou rendendo uma punição para o holandês, mas que acabou sendo branda pelo conjunto da obra de Verstappen. O filho de Jos viveu um dia como o do seu pai. Já Ricciardo teve uma corrida inesquecível, onde conseguiu ultrapassagens bem calculadas em cima de Hamilton, Vettel e Bottas rumo a uma vitória que parecia impossível no final do terceiro treino livre, quando o motor Renault explodiu e a Red Bull efetuou a troca no limite do tempo para Daniel participar da classificação. Com a melhor volta no final, Ricciardo mostrou a todos que a Red Bull acertou em cheio ao trocar seus pneus durante o safety-car, em outra grande sacada estratégica que acabou rendendo a vitória, de forma enfática, para os austríacos.

Bottas era o favorito a vitória antes do safety-car, mas acabou em segundo e tendo que segurar Raikkonen com o pneu traseiro direito com uma bolha desde a metade da prova. O finlandês dificultou o que pôde para Ricciardo, mas a manobra do australiano foi boa demais para que Valtteri pudesse fazer algo. Méritos para o finlandês segurar o seu compatriota melhor calçado no final, além de estar encostado em Hamilton no Mundial de Pilotos. Hamilton teve a sua corrida mais apagada em anos, onde não brigou pela vitória em nenhum momento, mas sua reclamação sobre a estratégia da Mercedes era totalmente procedente, pois se estivesse com os mesmos pneus da Red Bull, provavelmente estaria na briga pela vitória. Raikkonen retardou sua parada ao máximo, participou da briga entre Bottas e Vettel, mas o veterano finlandês novamente mostrou passividade quando precisou atacar Bottas no final, quando era nítido que tinha mais carro que o compatriota. Por essas e outras que muito se fala que Kimi será dispensado no final desse ano e seu substituto seria justamente Ricciardo, cujo sobrenome italiano e seu jeito latino de ser ajuda bastante. Vettel fazia uma corrida controlada, onde marcaria mais pontos do que Hamilton até ser acertado por Verstappen e ter sua corrida totalmente estragada, ainda tendo tempo de levar uma ultrapassagem daquelas de Alonso na antepenúltima volta. Depois da corrida Sebastian foi procurado por Verstappen e as desculpas foram aceitas de boa, mas o prejuízo foi grande no campeonato, apesar de Vettel permanecer na liderança.

Nico Hulkenberg foi o melhor do resto e demonstrando a evolução da Renault o alemão acabou superando Vettel quando este foi tocado por Verstappen e segurou muito bem as investidas do piloto da Ferrari e amigo. Quando Carlos Sainz foi contratado, era esperado que Hulkenberg pudesse ser superado pelo jovem espanhol, mas Hulk saiu da zona de conforto onde estava quando corria ao lado de Jolyon Palmer e melhorou bastante, sendo um dos destaques do pelotão intermediário, que ainda vê Alonso muito bem em ritmo de corrida. Após uma classificação decepcionante, o espanhol se esmerou na corrida e ainda efetuou uma bela ultrapassagem sobre Vettel no finalzinho da prova. Detalhe: com o mesmo tipo de pneu. Magnussen perdeu tempo após a relargada e fechou a zona de pontos, enquanto Grosjean caiu para as últimas posições em outra corrida muito ruim do francês, principalmente em comparação ao companheiro de equipe. A Force India ficou de fora da zona de pontos, mesmo com Pérez tendo largado em sétimo, mas o mexicano largou muito mal e ficou brigando o tempo inteiro com o seu companheiro de equipe (sempre um perigo) e com os demais representantes do pelotão intermediário. A ruindade do carro da Williams se reflete na boa largada de Stroll e o canadense sendo ultrapassado seguidamente logo depois, demonstrando a falta de ritmo da Williams em ficar perto até mesmo de pontuar. O conto de fadas da Toro Rosso chegou ao fim numa corrida muito ruim e o toque entre seus dois pilotos ocorreu no momento em que Hartley (único abandono do dia) e Gasly brigavam pelas últimas posições, ocupadas pela Sauber, como no ano passado.

A corrida desta madrugada mostrou que o ritmo entre as três equipes top, principalmente na corrida, está muito parecido. Muito provavelmente a Red Bull não ganharia se não tivesse tirado o coelho da cartola na estratégia, mas os carros azuis estavam misturados com Mercedes e Ferrari antes da entrada do safety-car. Ricciardo mostrou também que ele é muito mais do que um rosto sorridente no paddock. O australiano não poder ter o mesmo talento de Verstappen, mas além de velocidade, um piloto também precisa ter noções táticas e saber o momento de atacar, algo que sobra para Ricciardo e falta para Verstappen, que poderia estar no pódio ou até mesmo vencendo se não fossem seus erros. A F1 volta à Europa fortalecida por duas belas corridas, sendo a segunda metade em Xangai espetacular. Da mesma forma como não devemos nos empolgar com a prova de hoje, não podemos entre em depressão com a próxima corrida morna. A F1 está chata? Não, está espetacular como sempre foi!

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