Sebastian Vettel teve que passar por alguns obstáculos para vencer hoje no Bahrein. Primeiro, o alemão precisou largar bem e administrar a vantagem sobre Bottas, que assumiu a segunda posição na largada. Depois o piloto da Ferrari teve que se desviar das táticas da Mercedes, que passando por cima do vacilo na Austrália, deu um show hoje no Oriente Médio e quase venceu quando a foi a Ferrari que dominou durante o final de semana. Por último, Vettel teve que passar por cima da flagrante tristeza ferrarista pelo triste acidente que vitimizou um mecânico durante a parada de Kimi Raikkonen, produzindo uma das imagens mais chocantes dos últimos tempos na F1.
A corrida foi feito numa espécie de tabuleiro gigante de xadrez onde Ferrari e Mercedes moviam suas peças para ser tudo decidido no final. A Ferrari tinha demonstrado mais velocidade em todo o final de semana, deixando a Mercedes na situação de sair da caixinha para tentar superar a rival. Para os alemães a prova até começou bem com a boa largada de Bottas e a rápida recuperação de Hamilton, logo aparecendo em quarto, incluindo uma bela ultrapassagem tripla, demonstrando também o poderio das gigantes da F1 frente ao resto do grid. O primeiro movimento foi da Ferrari, que trouxe Vettel aos boxes primeiro e colocou pneus macios, indicando que pararia duas vezes, principalmente por causa do asfalto áspero de Sakhir. Então a Mercedes deu sua cartada com um movimento pouco usual, ao colocar pneus médios no carro de Bottas. Mesmo com o asfalto extremamente aderente o finlandês pararia uma vez apenas? A corrida foi transcorrendo e o ritmo de Valtteri era bom, enquanto Hamilton postergava sua parada e sem nenhuma surpresa, colocou pneus médios. O inglês não iria para mais.
Foi então que a Ferrari fez o terceiro movimento da corrida, logo após a parte triste da corrida. Raikkonen vinha bastante próximo de Bottas em terceiro e foi chamado pelos boxes para fazer sua segunda parada. A roda traseira esquerda não se desprendeu e alguém acendeu a luz verde para Kimi, que acelerou como sempre faz. Porém, um dos mecânicos estava bem na frente da roda traseira esquerda e foi atropelado por Raikkonen. A imagem da perna do mecânico virando para frente foi daquela de dar um frio na espinha de todos. Incrível também foi ver a reação de Raikkonen. O finlandês saiu do carro irritado, deu uma olhada na movimentação e saiu de cena, como se nada de grave tivesse acontecido com um membro da SUA equipe. Lamentável...
Talvez pelos mecânicos estarem abalados, talvez por ter percebido que se parasse perderia a corrida, a Ferrari resolveu deixar Vettel na pista, num movimento arriscado, pois o alemão chegaria ao fim da prova totalmente sem pneus. Mesmo com pneus médios, Bottas tinha um bom ritmo e quando a Mercedes percebeu que Vettel não pararia mais, o finlandês partiu para cima de Vettel fazendo as três últimas voltas da corrida serem de tirar o fôlego, mas Vettel segurou a ponta e comemorou muito, certamente sem saber do ocorrido durante o pit-stop de Raikkonen. Contra todos os prognósticos, Vettel lidera o campeonato com 100% de aproveitamento, enquanto a Mercedes terá que correr atrás do prejuízo, que só não é maior do que o da Red Bull. Os austríacos saíram dos treinos livres esperançosos de que tinham um bom ritmo de corrida, a ponto mesmo de atacar Mercedes e Ferrari, porém, tudo se acabou em duas voltas. Max Verstappen tem que aprender que largar no meio do pelotão lhe deixa mais exposto à incidentes e numa disputa com Hamilton (experiente, esperou a poeira baixar para começar a atacar) acabou furando o pneu traseiro, causando-lhe mais um abandono por excesso de vontade. Praticamente ao mesmo tempo, Daniel Ricciardo encostava seu carro com um problema elétrico e os mecânicos da Red Bull começaram a empacotar tudo para a corrida da China semana que vem.
Porém, nem tudo foi lamentação para a Red Bull. Pensando já em 2019, o motor Honda finalmente deu mostras que está mesmo evoluindo e Pierre Gasly teve uma corrida fabulosa para ser quarto colocado e o melhor do resto. O francês chegou a brigar com Ricciardo antes que o australiano abandonasse e segurou bem os ataques de Kevin Magnussen antes de se estabelecer na ponta do segundo pelotão para não mais perde-la. Gasly aproveitou os abandonos para subir de posição, enquanto não era atacado. O motor Honda não foi engolido como nos anos anteriores quando Gasly foi atacado pelo motor Ferrari de Magnussen e seus dois carros chegaram ao fim da corrida, demonstrando alguma confiabilidade, como demonstrado na pré-temporada. Foi o melhor resultado da Honda nessa era dos motores híbridos e uma esperança para a Red Bull para os próximos anos. Magnussen chegou a brigar com o seu apagado companheiro de equipe Grosjean para ser quinto, recuperando um pouco do fiasco em Melbourne. Todas as paradas da Haas foram filmadas de perto e nada aconteceu, mas a cena do carro de Grosjean se despedaçando não pegou muito bem. Hulkenberg fez uma corrida segura para ficar em sétimo e ser o melhor motor Renault na corrida, logo à frente de Alonso. E todos eles atrás da Honda...
A Force India voltou a marcar pontos, mas o time hindu dificilmente terá a capacidade de repetir as temporadas anteriores, enquanto Marcus Ericsson repetiu a mesma estratégia de Hamilton e colheu os frutos com pontos logo na segunda corrida na temporada. Esses pontos podem fazer diferença na luta pelo penúltimo lugar no Mundial de Construtores. Hoje, a única equipe zerada na F1 é a Williams. É triste ver a situação da equipe de sir Frank Williams. Dois pilotos ruins e um carro ruim, sem nenhum desenvolvimento em uma equipe sem direção, acabando a corrida de hoje nas duas últimas posições. Claire preferiu o viés da grana no lugar da competitividade e o resultado pode ser o fim de uma equipe que já foi gloriosa na F1.
Quinze dias atrás havia lamentações pela falta de emoção da prova na Austrália. Hoje, a corrida foi mais tática e isso contribuiu para um final de corrida de tirar o fôlego, apesar de ter faltado à Bottas aquele instinto assassino que sobra nos grandes campeões. Ferrari e Mercedes permanecem equilibradas, mas a festa italiana, com alguns mecânicos com lágrimas nos olhos, foi contida pelo triste incidente no pit de Raikkonen.
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