quinta-feira, 12 de abril de 2018

História: 20 anos do Grande Prêmio da Argentina de 1998

Conta a lenda que Ron Dennis, após outra dobradinha em Interlagos vinte anos atrás chamou alguns amigos mais próximos e fez uma aposta com eles. Dez anos após a imbatível temporada 1988, a McLaren seria ainda mais perfeita e venceria todas as dezesseis corridas de 1998. Era o que apostava um confiante Ron Dennis. Observando as duas corridas anteriores, a arrogante (como sempre) aposta de Dennis fazia sentido. Foram duas dobradinhas dominantes da McLaren com os rivais mais próximos tomando uma volta. Teorias tentavam explicar tamanha diferença de desempenho entre a McLaren e os demais. Falava-se de um revolucionário sistema de freios em que Hakkinen e Coulthard poderiam controlar a frenagem do volante. Outra teoria era que os pneus Bridgestone tinham se adaptado de forma incrível ao carro projetado de Adryan Newey. Enquanto confabulavam teorias, as outras equipes procuravam formas de ganhar desempenho e na Argentina apareceram apetrechos aerodinâmicos nas laterais do carro de gosto muito duvidoso e logo apelidados de 'candelabro'. Essa corrida em Buenos Aires seria bem especial para o novato Esteban Tuero, enquanto os argentinos teriam para quem torcer dentro do Autódromo Oscar Galvéz desde Carlos Reutemann.

Tentando dar uma resposta à Bridgestone, a Goodyear trouxe pneus novos para a Argentina, mas os treinos livres foram bastante atrapalhados pela chuva e pouco se viu de evolução, mas com o clima frio, a Bridgestone não estava tão à vontade como em Melbourne e Interlagos. Até então o líder incontestável da temporada, Hakkinen não consegue um bom acerto do carro e fica de fora da primeira fila do grid pela primeira vez no ano. Coulthard ainda salvou a honra da McLaren, mas Schumacher estava ao lado do escocês, mostrando a evolução da Ferrari, que ainda tinha Irvine completando a segunda fila. O ano de 1998 seria uma disputa particular entre Ferrari e McLaren. No lugar onde havia conquistado seu primeiro pódio no ano anterior, Ralf Schumacher era o melhor do resto, enquanto Tuero era apenas 20º na classificação.

Grid:
1) Coulthard (McLaren) - 1:25.852
2) M.Schumacher (Ferrari) - 1:26.251
3) Hakkinen (McLaren) - 1:26.632
4) Irvine (Ferrari) - 1:26.780
5) R.Schumacher (Jordan) - 1:26.827
6) Frentzen (Williams) - 1:26.876
7) Villeneuve (Williams) - 1:26.941
8) Wurz (Benetton) - 1:27.198
9) Hill (Jordan) - 1:27.483
10) Fisichella (Benetton) - 1:28.836

O dia 12 de abril de 1998 amanheceu com chuva e tempo muito nublado. O warm-up, liderado por Jean Alesi, foi realizado com pista molhada, mas a chuva cessou e a corrida aconteceria com pista seca, mesmo com frio e a perspectiva de uma chuva a qualquer momento. A largada aconteceu sem maiores problemas, apesar dos irmãos Schumacher terem tido problemas, com Michael sendo ultrapassado por Hakkinen quase que imediatamente, enquanto Ralf caía de 5º para 13º.

Temendo uma nova dobradinha dominante da McLaren e sentindo que sua Ferrari não estava tão inferior na Argentina, Schumacher logo empreende um forte ataque em cima de Hakkinen. Após duas tentativas nas duas primeiras freadas da segunda volta, Michael assume a segunda posição na curva Viborita e parte para cima de Coulthard, que aproveitou a briga pelo segundo lugar para abrir 2s. Mais atrás, Irvine se recupera da má largada e pula para quarto ao ultrapassar Frentzen, rapidamente definindo a dominação McLaren-Ferrari vista desde os treinos livres durante a corrida. Claramente andando mais do que o carro, Schumacher tira a diferença para Coulthard e na volta 5, acontece a polêmica da corrida. Na entrada do hairpin Reutemann, Coulthard alarga a curva e Schumacher vê a oportunidade e coloca a sua Ferrari por dentro, porém, Coulthard resiste e o toque é inevitável. O escocês chega a levantar voo antes de rodar, enquanto Schumacher assumia a ponta da corrida. Era mais uma manobra bruta na carreira do alemão...

Hakkinen vinha num ritmo tão mais lento, que ao assumir a segunda posição já vinha 6s atrás de Schumacher, enquanto Coulthard caía para sexto. O escocês ataca Alesi, que era segurado por Villeneuve. Ultrapassar nunca foi fácil na F1... Schumacher era o piloto mais rápido na pista e abria bastante para Hakkinen, que vinha apenas 3s à frente de Irvine. Na volta 20, Schumacher erra a freada da primeira curva e frita os pneus, deixando uma clara marca na borracha. Oito voltas depois Michael faz sua primeira parada e retorna à pista em segundo, logo atrás de Hakkinen. Enquanto isso, Ralf rodava pela segunda vez e abandona pela terceira vez em 1998. Após a parada de Alesi, Coulthard fica empacado atrás de Villeneuve e por isso muda sua estratégia, ficando muito tempo parado nos pits, colocando combustível para terminar a corrida sem mais paradas. Porém, parar azar do escocês, essa era a estratégia de Villeneuve desde o início e isso era o motivo da lentidão do canadense da Williams. Quando Villeneuve fez sua única parada, ele voltou logo à frente de Coulthard, para desespero dos táticos da McLaren. Hakkinen pára na volta 42, indicando que faria uma única parada e isso significava que Schumacher teria que andar muito para se manter em primeiro no fim com uma parada a mais. 

Na volta 47, numa briga inglesa, Damon Hill tenta uma ultrapassagem desajeitada em cima de Johnny Herbert e o resultado são os dois fora da pista e fora da briga por pontos. Schumacher voava na pista e quando o alemão encontrou um grupo de três retardatários rápidos (Villeneuve, Coulthard e Fisichella), Michael resolveu parar pela segunda vez, na volta 52. Hakkinen estava com dificuldades com seus pneus e ainda perdeu tempo quando ia colocar uma volta em Ricardo Rosset. O resultado foi que Schumacher retornou à pista na liderança, com 3s de folga para o finlandês. Mostrando que aquele não era mesmo seu dia, Coulthard perdeu a paciência com Villeneuve e tentou ultrapassar o então campeão na entrada do S do Senna por fora na volta 53. O impacto foi inevitável e ambos saíram da pista, mas se Coulthard ainda pôde continuar na prova, Villeneuve abandonou ali mesmo. Faltando dez voltas para o fim, a temida chuva deu as caras no Autódromo Oscar Gálvez, mas de forma fina. Porém, o suficiente para tumultuar a prova. Schumacher aumentava sua vantagem para Hakkinen, mas mostrando o quão traiçoeira estava a pista, o alemão saiu da pista na volta 66, mas retornou tranquilamente na ponta. A melhor briga era pelo terceiro lugar entre Irvine e Wurz, que marcara a volta mais rápida da corrida. O austríaco chegou a ultrapassar o piloto da Ferrari na volta 64, mas rodou duas voltas depois na curva um, algo que seu companheiro de equipe Fisichella também faria na mesma volta. Ambos os pilotos da Benetton perderam uma posição, mas permaneceram na pista. Mesmo com os tempos despencando em mais de 10s, nenhum piloto trocou de pneus e mesmo com muitas saídas de pista, a corrida terminou com uma brilhante vitória de Michael Schumacher, estragando a aposta de Ron Dennis sobre a temporada 1998. Hakkinen chegou num obscuro segundo lugar e Irvine conseguia seu primeiro pódio do ano. Com um início de ano animador, Wurz terminou em quarto pela segunda corrida consecutiva. Com seu quinto lugar, Jean Alesi consegue seus primeiros pontos com a Sauber e Coulthard ainda salvou um ponto após uma corrida acidentada. Mesmo com Tuero tendo batido nas voltas finais por causa da chuva, a torcida argentina lotou o circuito e fez uma bela festa. Porém, uma grave crise financeira fez com que o Grande Prêmio da Argentina de 1999 fosse cancelado e o apaixonado povo argentino, louco por corridas, nunca mais fizesse parte do calendário da F1.

Chegada:
1) M.Schumacher
2) Hakkinen
3) Irvine
4) Wurz
5) Alesi
6) Coulthard

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