sexta-feira, 6 de abril de 2018

História: 15 anos do Grande Prêmio do Brasil de 2003

Após duas corridas surpreendentes, a F1 esperava que tudo voltasse à normalidade em Interlagos no empolgante campeonato de 2003. A Renault havia negociado com a FIA que testaria bem menos durante a temporada, mas teria duas horas a mais de testes durante o final de semana de Grande Prêmio e a escolha do time de Flavio Briatore vinha se mostrando acertada, com a Renault obtendo informações importantes com o tempo a mais na pista. Apesar de São Paulo não fazer o mesmo calor de Sepang, a Michelin poderia ter uma vantagem em pista quente, enquanto a Williams poderia ter uma vantagem graças à potência do motor BMW. Porém a previsão era de chuva em todo o final de semana paulistano de quinze anos atrás e todas as apostas poderiam ir, literalmente, por água abaixo.

Na sexta-feira, uma chuva forte já tinha atrapalhado bastante a vida dos pilotos na primeira classificação, onde se definia a ordem de quem tentaria sua volta lançada no sábado. Era o prenúncio do que iria acontecer no domingo, porque no sábado o sol apareceu forte em Interlagos e Rubens Barrichello fez a festa da torcida ao ficar com a pole, com uma diferença ínfima para David Coulthard. Como estava virando praxe em 2003, onde as surpresas aconteciam praticamente a cada corrida e desta vez foi Mark Webber que conseguiu a terceira posição, ficando menos de um décimo do tempo da pole. Na verdade, o piloto da Jaguar foi o mais rápido em todas as parciais, mas Webber acabou 'sem' motor na subida dos boxes e perdeu o que seria uma surpreendente pole numa temporada cheia de surpresas. Num grid muito equilibrado, os quinze primeiros estavam separados por 1s, mas tudo indicava que a chuva voltaria na corrida. E com mais força ainda!

Grid:
1) Barrichello (Ferrari) - 1:13.807
2) Coulthard (McLaren) - 1:13.818
3) Webber (Jaguar) - 1:13.851
4) Raikkonen (McLaren) - 1:13.866
5) Trulli (Renault) - 1:13.953
6) R.Schumacher (Williams) - 1:14.124
7) M.Schumacher (Ferrari) - 1:14.130
8) Fisichella (Jordan) - 1:14.191
9) Montoya (Williams) - 1:14.223
10) Alonso (Renault) - 1:14.384

O dia 6 de abril de 2003 estava chuvoso em São Paulo, num clima típico da cidade, mas em determinados momentos, se duvidou sobre a corrida aconteceria no começo da tarde. Horas antes da largada, em alguns locais corriam verdadeiras cachoeiras sobre a pista e um setor preocupava os comissários de pista: a curva do sol. Como esperado, a torcida encheu Interlagos para ver Barrichello finalmente espantar o azar que ele tinha em sua pista caseira, num final de semana onde o piloto da Ferrari andou muito bem e, coisa rara, superava seu companheiro Michael Schumacher. Após uma pequena trégua, a chuva voltou com força minutos antes da largada e houve um atraso de dez minutos. Quando a largada foi dada, os pilotos sairiam atrás do safety-car, enquanto vários pilotos mudavam de estratégia e iam aos boxes encher o tanque. O instável clima de São Paulo sempre trazia surpresa e mesmo com todo aquele toró, poderia parar de chover de repente. 

O safety car ficou na pista até a 7ª volta e logo na largada propriamente dita Coulthard ultrapassou Barrichello na primeira curva. O brasileiro continuou perdendo posições nas voltas seguintes, ultrapassado por Raikkonen, Montoya, Webber e Michael Schumacher. Raikkonen fez uma grande manobra em cima do seu companheiro de equipe uma volta depois e assumiu a liderança, sendo acompanhado por Montoya logo depois. Com a chuva mais fraca, os pneus de chuva forte perdia rendimento e a primeira vítima foi Montoya, ultrapassado por Coulthard na volta 14 e duas voltas depois por Schumacher. Para sorte de Montoya, Ralph Firman sofreu um perigoso acidente na volta 17, quando sua suspensão quebrou sem aviso na reta dos boxes e o piloto da Jordan acabou acertando Panis, que vinha logo à frente dele. Safety-car na pista e todo nos boxes para colocar pneus intermediários. Na volta 24 a corrida reiniciou e Montoya rodou na curva do sol, sendo atingido por Antônio Pizzônia logo em seguida. A direção de prova decidiu não paralisar a prova e um trator entrou na pista para tirar os carros batidos, mas algumas voltas mais tarde Schumacher rodou e bateu poucos metros do trator. Uma cena pitoresca, mas que anos mais tarde acabaria sendo uma tragédia na F1. Safety-car de volta e todos passaram a se preocupar com a situação do asfalto na curva do sol. Mesmo com a pista um pouco mais seca, no local a drenagem era claramente falha e podia-se ver claramente um rio passando no local. 

Quando a corrida reiniciou, Coulthard liderava a corrida seguido por Barrichello e Ralf Schumacher, enquanto Michael voltava aos boxes cabisbaixo com o seu capacete nas mãos. Era o pior início de temporada do alemão em muitos anos! Na pista, seu irmão mais novo chegou a ultrapassar Barrichello, mas o brasileiro deu o troco logo em seguida e passou a perseguir Coulthard, numa briga de tirar o fôlego pela liderança. Os dois se viravam na molhada curva do sol, mas a fatídica curva faria outra vítima quando Button rodou e bateu no local. Um total de seis carros jaziam no local e o safety-car liderava a corrida pela quarta vez. Após perder posições no início da prova, a chuva mais fraca parecia favorecer o acerto de Barrichello e tentando reverter sua sorte na frente de sua torcida, o piloto da Ferrari imediatamente retornou ao ataque em cima de Coulthard. O clima era elétrico em Interlagos, com Rubens atacando David em todos os pontos possíveis e na volta 43 o brasileiro efetuou a ultrapassagem que muitos imaginavam ser da sonhada vitória de Rubens em casa. Próximo de sua parada, Barrichello era o piloto mais rápido da pista, mas na volta 48 sua Ferrari apareceu lenta na pista na entrada do Laranjinha. O autódromo ficou em estado de petrificação. Barrichello saiu do carro sem acreditar, assim como todos ficaram sem acreditar quando a Ferrari anunciou que o problema havia sido pane seca. Como os italianos, tão infalíveis com Schumacher, poderiam errar desse jeito com Rubens?

A corrida continuava com a McLaren fazendo uma dobradinha, mesmo com seus dois pilotos em estratégias distintas. Raikkonen tinha parado na segunda entrada do safety-car, enquanto Coulthard tinha parado na intervenção anterior. O escocês fez seu pit-stop na volta 49, junto com o quarto colocado Ralf Schumacher. Raikkonen assumia a liderança da corrida, mas estava claramente sem pneus e por isso era atacado pela Jordan de Fisichella, que fazia uma corrida acima do que seu carro poderia fazer. Na volta 53 o italiano ultrapassou Raikkonen e era o líder da prova, quando recomeçou o caos. Webber havia sobrevivido a uma rodada na curva do sol, mas na perigosa curva do café o australiano bateu muito forte, deixando muitos detritos na pista. O terceiro colocado Alonso vinha logo depois e sem tirar muito o pé, atingiu um pneu do carro de Webber e bateu mais forte ainda, bloqueando a pista. Bandeira vermelha e festa na equipe Jordan. Ou não? Fisichella chegou aos boxes radiante, enquanto seu carro pegava fogo no parque fechado. Porém, Eddie Jordan parecia preocupado. O acidente havia acontecido na volta 55 e o resultado final da prova, já que 75% da corrida já tinha sido percorrida, seria decidido na volta 53. E o líder na volta 53 era... Raikkonen. Mesmo subindo ao pódio de forma casual, Fisichella estava claramente irritado por perder a corrida por tão pouco. Numa cena surreal, apenas os dois primeiros subiram ao pódio, já que o terceiro colocado Alonso tinha sido levado ao hospital por causa de seu acidente. Porém, a corrida não havia terminado ainda. Dias mais tarde, descobriu-se imagens mostrando Fisichella iniciando a volta 56 na frente e antes da bandeira vermelha ser mostrada, significando que os resultados que valeriam seriam o da volta 54 e quem liderava era... Fisichella! Numa confusão histórica, a corrida teve seu vencedor alterado e quinze dias depois, em Ímola, o italiano receberia seu troféu de vencedor numa das corridas mais caóticas da história da F1.

Chegada:
1) Fisichella
2) Raikkonen
3) Alonso
4) Coulthard
5) Frentzen
6) Villeneuve
7) R.Schumacher
8) Trulli

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