quarta-feira, 10 de junho de 2015

História: 25 anos do Grande Prêmio do Canadá de 1990

A F1 cruzava o Atlântico para uma série de duas corridas na América do Norte, começando pelo agradável Grande Prêmio do Canadá, que tinha como principal conversa no bastidor a renovação de Ayrton Senna com a McLaren. O brasileiro, considerado o melhor piloto da época, endureceu a renovação com a McLaren, cujo contrato terminava no final de 1990. Também a Williams-Renault estava no jogo, pois a nova parceria queria crescer a partir de 1991 e ter Senna como principal piloto poderia aumentar esse crescimento. Contudo, Senna queria ter o melhor carro em mãos e este era a McLaren-Honda.

A chuva afetou as duas classificações, mas quando houve piso seco, Senna ficou com o melhor tempo, superando por muito pouco o já bastante criticado Gerhard Berger. O austríaco nem de longe fazia uma campanha parecida com o do seu antecessor Alain Prost e Berger dava inúmeras desculpas, como o fato do seu cockpit ser muito apertado para o seu tamanho. Prost iniciava a segunda fila, com os dois Benettos logo atrás. Vencedor em 1989, Thierry Boutsen supera Mansell e talvez usasse isso com trunfo para a sua renovação (ou não) de contrato com a Williams. A Leyton House decepcionou com Mauricio Gugelmin ficando de fora do grid de 26 pilotos.

Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:20.399
2) Berger (McLaren) - 1:20.465
3) Prost (Ferrari) - 1:20.826
4) Nannini (Benetton) - 1:21.302
5) Piquet (Benetton) - 1:21.568
6) Boutsen (Williams) - 1:21.599
7) Mansell (Ferrari) - 1:21.641
8) Alesi (Tyrrell) - 1:21.748
9) Patrese (Williams) - 1:22.018
10) Modena (Brabham) - 1:22.660

O dia 10 de junho de 1990 amanheceu chuvoso e nublado em Montreal, repetindo de alguma forma o que aconteceu em 1989, quando uma tumultuada corrida aconteceu após muita chuva, em variadas quantidades durante a prova. Porém, o tumulto em 1990 começou com Berger queimando a largada descaradamente, mas o austríaco nem assim assumiu a ponta, com Senna permanecendo em primeiro, seguido pelo seu companheiro de equipe. Prost faz uma largada tenebrosa, caindo de terceiro para sexto. O inverso fez seu compatriota Jean Alesi, pulando de oitavo para quarto, enquanto ficava num sanduíche dos dois carros da Benetton.

Ao contrário de 1989, quando a chuva mais forte veio durante a corrida, a edição de 1990 se provou menos molhada. Enquanto as McLaren disparavam na frente, ficava claro que os pneus slicks seriam usados rapidamente e Patrese é o primeiro a fazer a troca na nona volta, quando o italiano ocupava a nona posição. Nannini posterga ao máximo sua parada, assumindo a ponta, enquanto Senna praticamente cedia sua posição para Berger, pois havia sido anunciado que o austríaco seria penalizado em um minuto pela queima de largada. Sem muita alternativa, a McLaren libera Berger para acelerar o máximo possível pela pista traiçoeira de Montreal, com um trilho seco, mas bastante úmido ao redor desse trilho. Quando o italiano vai aos boxes, retorna em terceiro, enquanto atrás de si Prost, que havia 'ultrapassado' Boutsen nos boxes, era pressionado pelo belga da Williams. Na volta 19, com a pista ainda muito traiçoeira, Boutsen tenta ultrapassar Prost, mas ao colocar seus pneus slicks na parte molhada do asfalto, Thierry perde o controle do seu Williams e bate no retardatário Nicola Larini, da Ligier. Com Nannini tendo que retornar aos boxes para consertar seu Benetton, Senna liderava com mais de 30s em cima de Prost, que via a aproximação de Piquet, após este ultrapassar Mansell no hairpin.

Porém, lá na frente, Berger fazia a corrida de sua vida e tentando tirar a diferença, andava num ritmo alucinante. Até mesmo para Senna! Na volta 22, tentando se recuperar após sua parada não programada, Nannini acaba cometendo o mesmo erro de Boutsen, mas em outro local, e ao tentar fazer uma ultrapassagem, acaba perdendo o controle do seu Benetton e desliza rumo a barreira de pneus. Outro piloto que tentava se recuperar após uma parada, mas programada, muito ruim era Alesi. O jovem francês tentava uma ultrapassagem no mesmo local de Nannini e o resultado foi o mesmo, mas se não fosse a diferença de cinco voltas entre os dois incidentes, poderia ter ocorrido uma tragédia. Nannini saiu do seu Benetton normalmente, mas o carro ficou parado no local. Quando Alesi perdeu o controle do seu Tyrrell, deslizou em alta velocidade e acertou o carro vazio de Nannini em cheio, partindo o Benetton em três! Na metade final da prova, Prost, Piquet e Mansell andavam próximos, mas sem muitas oportunidades de ataque. Porém, na volta 49 Piquet aproveita uma indecisão de Prost com retardatários e ultrapassa o francês no Hairpin, garantindo assim uma dobradinha brasileira. Vendo o mapa da mina à sua frente, Mansell joga qualquer hierarquia da Ferrari pro alto e ultrapassa Prost no Hairpin na volta seguinte, tirando o francês do pódio. Ou será que não? Berger era o mais rápido na pista e tinha mais 40s de vantagem para Senna, mas descontando sua punição, ele estava relativamente 'próximo' das duas Ferraris, pois de forma impressionante, Piquet abriu rapidamente vantagem sobre os carros vermelhos. Como era de seu costume, Senna abranda bastante o seu ritmo nas voltas finais, já com pista seca e um sol tímido, e recebe a bandeirada em primeiro, com Nelson Piquet completando a dobradinha brasileira. O ritmo alucinante de Berger quase lhe paga dividendos, pois as Ferraris tiveram problemas com retardatários e o austríaco perdeu o pódio para Mansell por apenas 1s469.

Essa corrida canadense foi cheia de fatos interessantes. Vinte e cinco anos atrás o Brasil estreava na Copa do Mundo e com isso, o narrador da F1, Galvão Bueno, estava em Turim para a transmissão da estreia brasileira na Copa do Mundo da Itália, fazendo com que Cléber Machado narrasse sua primeira corrida de F1 pela Rede Globo. Para quem não lembra, a corrida foi interrompida várias vezes para mostrar flashes da seleção brasileira entrando no estádio 'dos Alpes', como Galvão chamava na época o estádio D'Alpi. Não sei se foi uma ordem na época, mas vários nomes foram traduzidos literalmente pelas transmissões globais, tanto que meses depois a Eau Rouge se transformou na 'Curva da Água Vermelha'. Com Senna e Piquet no pódio em Montreal, só restava à seleção brasileira garantir a vitória em Turim para completar o dia. Foi um jogo duro. Mais duro do que o imaginado, mas o Brasil bateu a Suécia por 2x1, com dois gols de Careca. Com direito à 'lambadinha', moda na época, na frente da bandeirinha de escanteio. A capa dos jornais do dia seguinte estavam divididas entre a dobradinha brasileira em Montreal e a estreia vitoriosa na Copa do Mundo. Pensando vinte anos depois, a sensação do brasileiro com a F1 e a seleção brasileira de futebol mudou bastante. Hoje, virou esporte predileto de muitos malhar a F1, dizendo que está 'sem graça'. Muitos acusam a Mercedes de estar muito na frente das demais, mas nesse final de semana, Hamilton bateu o primeiro carro não-Mercedes por 40s666. Em 1990, Berger, numa de suas melhores apresentações na carreira, colocou 49s503 sobre o primeiro carro não-McLaren. Ou seja, foi um domínio abissal da McLaren na época, mas como o primeiro piloto da equipe dominante era brasileiro, não haviam tantas 'reclamações' assim. Eram os bons tempos! Já com a seleção brasileira, depois do 7x1 e da prisão dos corruptos da FIFA e da CBF, a amarelinha está cada dia mais desacreditada, com as pessoas (eu, por exemplo!) preferindo muito mais acompanhar, torcer e sofrer (infelizmente, a fase não está boa no vozão, mas vamos nos recuperar!) pelos seus clubes do que com a seleção. Se Senna aproveitou muito bem a fase não muito boa do futebol brasileiro naqueles tempos (seleção de Careca seria eliminada já nas oitavas de final da Copa do Mundo), hoje não há ninguém  na F1 para se aproveitar da calamitosa situação do futebol brasileiro.

Chegada:
1) Senna
2) Piquet
3) Mansell
4) Berger
5) Prost 
6) Warwick

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