No espaço de uma hora e meia, tivemos praticamente duas corridas diferentes hoje, em Silverstone. Com pista seca, uma emocionante e surpreendente briga entre os dois pilotos de Williams e Mercedes dava o tom de uma corrida próxima e empolgante, com a Williams, literalmente, surpreendendo a todos ao ter um ritmo similar ao das dominantes Mercedes num dia de sol e sem muito calor na Inglaterra. Porém, o típico clima inglês se fez presente na segunda parte da corrida. Se a largada aconteceu com sol, nuvens negras no horizonte fazia crer que a chuva viria. E ela veio de leve, mas o suficiente para modificar totalmente a cara da prova, porém, o resultado foi o mesmo das outras corridas, com uma dobradinha da Mercedes, com Lewis Hamilton, para delírio do público que lotou as dependências de Silverstone, na frente. Contudo, mesmo com outra dobradinha da Mercedes, o Grande Prêmio da Inglaterra foi de longe a melhor corrida do ano.
A largada deu o tom das primeiras voltas da corrida. Os dois pilotos da Williams, na segunda fila, conseguiram uma largada estupenda e assumiram as duas primeiras posições, com Massa na frente. Bottas deu um mole inacreditável e foi ultrapassado por Hamilton ainda na primeira volta, mas um incidente na parte de trás do pelotão trouxe o safety-car para a pista. Na relargada, com toda a torcida a seu favor e com anseio para retomar logo a primeira posição, Hamilton atacou de forma agressiva Massa, mas o brasileiro da Williams se defendeu muito bem e Bottas aproveitou a pequena saída de pista de Lewis para assumir o segundo lugar, completando a dobradinha da Williams na ponta. A primeira depois de muitos anos. Era esperado um ataque direto dos dois carros da Mercedes em cima dos clientes da Williams, mas tanto Massa como Bottas conseguiram imprimir um ritmo forte a ponto de repelir os ataques Hamilton, enquanto Rosberg ficava na espera. Bottas parecia mais rápido do que Massa, mas Felipe não queria nem saber de 'alguém is faster than you' e segurou sua posição sem sustos. Hamilton queria a vitória para satisfazer seus fãs e se fosse fazer igual aos Williams, poderia ficar na posição que estava. A Mercedes antecipou a parada de Lewis e com pneus novos e pista livre, Hamilton passou os dois carros da Williams quando Massa e Bottas pararam nas voltas seguintes. Foi a primeira vez na corrida em que a Mercedes deu um banho estratégico na Williams. Contudo, Massa e Bottas ainda tinham um desesperado Nico Rosberg atrás e com pneus duros, Felipe conseguia abrir uma pequena vantagem sobre o companheiro de equipe, que segurava Nico sem muitos arroubos. Contudo, o tempo já tinha mudado. O sol deu lugar às nuvens negras se aproximando de Silverstone e a chuva era iminente. Primeiro, uma leve garoa, que fez alguns carros irem aos boxes colocar pneus intermediários. Os quatro primeiros ficaram na pista. Com um carro mais equilibrado que o da Williams, Rosberg ultrapassou Bottas com facilidade e não tomou conhecimento de Massa, quando a chuva diminuiu. De forma impressionante, o alemão vinha 2s mais rápido do que Hamilton quando a chuva voltou. E com mais força. Lewis foi mais rápido e entrou logo para os pits, colocando os pneus intermediários. Nico enfrentou a pista molhada por uma volta e quando voltou à pista com os pneus corretos, estava 9s atrás de Hamilton e muito na frente dos carros da Williams. A Mercedes estava com a dobradinha feita! Faltando poucas voltas para o final, Hamilton ainda aumentou sua vantagem para o companheiro de equipe e recebeu a bandeirada, já fazendo sol, com tranquilidade. Com cara de poucos amigos, pois sabe que perdeu uma boa chance nesse final de semana, Nico Rosberg completou a dobradinha da Mercedes, a mais difícil da equipe alemã nos últimos dois anos. A Mercedes mostrou hoje que além de ter construído o melhor carro, já tem cancha o suficiente para escolher as melhores estratégias para quando seus pilotos serem incomodados.
Me recordo nos anos da briga entre Damon Hill e Michael Schumacher, quando a Williams vivia se embananando toda na estratégia de corrida, sendo sempre superada por Schumacher mesmo tendo um carro melhor. Passados vinte anos, a Williams ainda não aprendeu a lição. A posição perdida por Hamilton ainda é perdoável, pois a Mercedes agiu rápido e surpreendeu a Williams, com Lewis fazendo o resto na pista. Porém, vendo Hamilton entrar nos boxes quando a chuva aumentou, era a senha para a Williams trazer seus dois carros, já bem espaçados, para os pits e garantir ao menos o pódio de Massa. Mas a Williams arriscou a mesma tática de Rosberg e acabou destruindo o melhor final de semana da Williams em muito tempo. Desde os tempos da parceria Williams-BMW que o time inglês não liderava com seus dois carros uma corrida, ainda mais em condições normais e após a ótima largada dos seus dois pilotos, Massa e Bottas suportaram sem muitos problemas os ataques de Hamilton. Nesse caso, já faltou um pouco de tato da Williams, pois era nítido que Bottas tinha um ritmo melhor do que o de Massa com pneus médios, mas a equipe não promoveu uma troca de posição, mesmo que de forma polêmica, vide o passado recente de Massa. Porém, a Williams tinha praticamente um lugar no pódio na mão, com Massa muito bem com pneus duros e Bottas segurando Rosberg sem maiores problemas, mas quando a estratégia se fez importante na corrida, a equipe deixou seus carros uma volta a mais do que o nítido necessário e com um carro que desde o ano passado não anda bem com pista molhada, quem se deu bem foi Vettel. O alemão da Ferrari vinha fazendo uma corrida discretíssima, largando mal e caindo para nono. Para ganhar posições, a Ferrari mudou a estratégia e Raikkonen e Vettel assumiram as posições em que largaram, mas fatalmente teriam que fazer uma segunda parada, mas com a chuva, a estratégia de todos se igualou e Vettel aproveitou o vacilo da Williams para assumir um suado terceiro lugar. Raikkonen foi um dos primeiros a parar, ainda quando a chuva apareceu pela primeira vez, mas a parada se mostrou muito prematura a ponto de Kimi ter que parar novamente, pois os seus primeiros pneus intermediários estavam destruídos. Típico caso de de uma tática de tudo ou nada. E Raikkonen ficou com nada. Mesmo com esse pódio, a Ferrari teve um final de semana preocupante, pois não teve ritmo para ultrapassar a Force India de Nico Hulkenberg e ainda viu a Williams andar no mesmo ritmo da Mercedes, algo que a Ferrari só conseguiu em situações bem específicas durante a temporada.
Daniil Kvyat foi o melhor representante da trupe da Red Bull. E também o único sobrevivente, pois Ricciardo e Sainz abandonaram com problemas mecânicos e Verstappen rodou sozinho. Porém, o russo fez uma boa prova e chegou colado em Bottas, garantindo um bom sexto lugar. Quando abandonou, Ricciardo fazia uma corrida ruim, até mesmo longe de Kvyat. Ainda empolgado com a vitória em Le Mans, Hulkenberg fez uma ótima largada e ultrapassou as Ferraris para alcançar o quinto lugar, segurando os ataques de Raikkonen sem grandes problemas, mas quando a estratégia entrou em cena, o alemão, que costuma andar muito bem com pista molhada, acabou perdendo ritmo e acabou em sétimo, mas Hulk amealhou mais pontinhos em sua poupança. Sergio Pérez andou sempre entre os dez primeiros, marcando alguns pontos no final, mas o mexicano andou sempre longe do seu companheiro de equipe. Após um início de corrida desastroso, onde Alonso bateu em Button e tirou o inglês de sua corrida caseira, Fernando aproveitou o fato dos muitos abandonos para garantir o seu primeiro pontinho de 2015 e o primeiro também de sua volta à McLaren. O acidente que trouxe o safety-car para pista na primeira volta não ficou muito claro, mas três carros abandonaram, inclusive os dois carros da Lotus. Com Maldonado envolvido, tudo levar a crer... deixa pra lá! A Sauber teve um domingo tenebroso, com Felipe Nasr abandonando antes da largada, quando seu câmbio quebrou enquanto levava o seu carro para o grid. Ericsson tinha boas chances de pontuar e quando a pista esteve seca, ele estava entre os dez, mas quando a chuva veio, o sueco foi um dos primeiros a colocar pneus intermediários e de onze carros competitivos que receberam a bandeirada, Ericsson chegou... em 11º! Nada bom para o sueco, que chegou à frente dos dois carros da Manor, que com mais dois abandonos, poderiam marcar pontos. No rimo atual, só numa corrida como a de hoje, confusa, a Manor poderia marcar algum ponto.
Para quem reclamava da previsibilidade da F1, o Grande Prêmio da Inglaterra provou a magia das corridas, com uma prova cheia de alternativas e calando a boca de quem só se preocupa em criticar F1 e ficar babando categorias inferiores como a F-E. Talvez até por outros motivos que a gente só especula... No futuro, quando olharmos para a corrida de hoje e vermos outra dobradinha da Mercedes, poderemos pensar em outro passeio, mas o 1-2 da equipe tedesca foi a mais suada nos últimos dois anos. A Williams impressionou ao andar no mesmo ritmo da Mercedes e se não fosse a chuva, tão ansiada por muitos para dar uma agitada nas provas, poderia dar ainda mais trabalho para os alemães. Hamilton conseguiu sua ansiada vitória em casa, agradecendo os torcedores após a bandeirada e dando até zerinhos. Após a decepção na Áustria e a aproximação de Rosberg, Lewis Hamilton deu a resposta em casa e se estatística serve de alguma coisa, o inglês venceu em Silverstone nos anos em que foi campeão...
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