domingo, 26 de julho de 2015

Magia magiar

Quando o calendário aponta o Grande Prêmio da Hungria como a próxima corrida da F1, a maioria das pessoas que acompanham a F1 fazem careta. Ao longo das trinta edições da prova magiar, a grande maioria são de corridas chatas, com direito a procissões intermináveis e o vencedor decidido no sábado. Porém, para comprovar essa regra, há as exceções. Hoje a corrida em Hungaroring foi tudo, menos chata, sem procissão e a dupla da primeira fila fazendo besteiras colossais ao longo da corrida. Para termos essa corrida tão cheia de alternativas, não foi preciso alguma quebra mecânica da Mercedes ou uma chuva. Apenas tivemos uma corrida de verdade, sem grandes intervenções, com algumas pessoas desejam. Quem se aproveitou disso foi Sebastian Vettel, que venceu praticamente de ponta a ponta, colocando seu nome na história da F1 ao se igualar à Ayrton Senna como o terceiro maior vencedor da F1, com 41 vitórias. Hoje também foi dia dos chorões, com a dupla da Red Bull ficando com no pódio e Alonso conseguindo um excepcional quinto lugar.

As mudanças começaram logo na largada. Assim como em Silverstone, a dupla da Mercedes saiu mal no apagar das luzes vermelhas e quem emergiu na frente foi a dupla da Ferrari, com Vettel ponteando Raikkonen. Assim como em Silverstone, Lewis Hamilton tentou acabar com o seu prejuízo o mais rápido possível, mas o inglês acabou tendo ainda mais problemas, com o inglês tentando ultrapassar Rosberg, mas acabou recebendo um chega-pra-lá do alemão e saiu da pista, com Lewis caindo para décimo. Porém, o padrão de Silverstone acaba por aqui. Se na Inglaterra a dupla da Mercedes perseguiu de perto o duo da Williams até ultrapassa-los através da estratégia e da chuva, na Hungria Vettel correu livre, leve e solto na frente, sem ser muito incomodado pelo seu companheiro de equipe Raikkonen e, surpresa maior, com o finlandês aumentando sua vantagem sobre a Mercedes de Nico Rosberg, que sempre teve problemas de equilíbrio em seu carro no final de semana. O final de semana ferrarista só não foi perfeito pelos problemas com o carro de Raikkonen na parte final da prova. O Kers de Kimi falhou e quando a corrida foi neutralizada pelo safety-car, o finlandês foi presa fácil aos adversários, até Raikkonen abandonar. Acusado de não andar no mesmo ritmo de Vettel, desta vez Raikkonen não teve culpa do mal resultado de hoje, exemplificado pelo enorme número de desculpas dadas pelo engenheiro da Ferrari no rádio. Quem não tinha do que se queixar era Vettel. A vitória do alemão só foi levemente contestada na relargada, pois não se sabia como a Ferrari se comportaria com os pneus médios, algo que Nico Rosberg já tinha demonstrado andar bem. Porém, Nico teve um final de semana apagado e depois seria vítima da boa agressividade de Ricciardo. Sebastian desfilou até o final em uma corrida perfeita, numa vitória ainda mais enfática do que na Malásia. Se em Sepang Vettel se valeu de algumas características peculiares daquele dia, hoje o alemão da Ferrari foi mais rápido na largada e imprimiu um ótimo ritmo para vencer sem ser ameaçado. Justo num fim de semana que não estava muito positivo para a Ferrari, Vettel venceu e a dobradinha não aconteceu devido ao azar de Raikkonen. Historicamente, Vettel já tem o mesmo número de vitórias de Senna. E para desespero de alguns, com menos corridas! Ele não pode ser carismático, mas quando olharmos a história da F1, não podemos desmerecer ou ignorar os feitos de Sebastian Vettel.

Como já está sendo usual, a Red Bull começou o final de semana reclamando do motor Renault, dizendo que faz o pode, mas que os franceses mais atrapalham do que ajudam. Em Monte Carlo, a Red Bull tinha tido o seu melhor final de semana e na Hungria, em condições similares, o time austríaco poderia fazer algo de bom novamente. O quarto lugar de Ricciardo no grid já tinha sido um indicador de que as coisas seriam boas para a trupe de Christian Horner. Porém, a corrida começou mal para a Red Bull com a má largada de Ricciardo, ficando até mesmo atrás de Kvyat, obrigando a equipe mandar o russo abrir passagem. Tendo que ultrapassar rapidamente para voltar a ocupar o seu lugar de origem, Ricciardo bolou uma estratégia arriscada, onde iria para a freada da curva um numa espécie de tudo ou nada. Foi assim que Daniel ultrapassou Hulkenberg e Bottas, ambos com motores Mercedes, bem mais fortes que o seu. Em quarto lugar, Ricciardo só foi ultrapassado por Hamilton quando errou na última curva, mas para a relargada, o australiano tinha um trunfo na manga. Dentre os primeiros colocados, era o único com pneus macios. Contrariando a lógica, Ricciardo foi para cima de Hamilton e após uma animada disputa, tomou a posição do inglês e foi para cima de Rosberg. Se quisesse ultrapassar, Ricciardo precisava arriscar. E nas últimas voltas, foi exatamente isso que o australiano fez! Numa audaciosa ultrapassagem por dentro, Ricciardo freou muito depois de Rosberg e a manobra só não foi completada por afobação de Nico, que acabou quebrando a asa dianteira de Ricciardo. O australiano foi aos boxes para trocar o aparato, mas a Red Bull não tinha muito do que reclamar, pois Kvyat, numa corrida de espera, assumiu o segundo lugar quietinho, quietinho, se tornando o segundo russo a subir no pódio após Vitaly Petrov. O russo ainda foi punido em 10s, mas não houve tempo para Ricciardo ameaçar o russo. Por sinal, a direção de prova cometeu um erro crasso na relargada. Após mandar os retardatários passarem os líderes e o safety-car, a organização da prova não esperou o pelotão se alinhar e o resultado foi que havia um buraco de 20s entre os líderes e o resto da turma, acabando por ajudar Ricciardo, Rosberg e Hamilton, quando estes tiveram problemas.

Foi emocionante a reação da dupla da Red Bull no pódio, com ambos apontando para cima com seus troféus, claramente dedicado-os a Jules Bianchi. Ricciardo estava com lágrimas nos olhos. Vettel mostrou ser um poliglota no rádio ao arranhar um francês e dedicar sua vitória à Bianchi. Num momento emocionante, os pilotos, junto com a família de Jules, fizeram um minuto de silêncio em memória do francês. E a Red Bull não teve mesmo do que reclamar (ou chorar...) nesse final de semana, com Max Verstappen fazendo uma prova sem sustos para ser quarto colocado, seu melhor resultado em sua jovem carreira. Carlos Sainz é que teve problemas em seu Toro Rosso, para dar um motivo para a Red Bull reclamar da Renault. Após dar uma declaração lamuriosa ontem, quase fazendo a todos chorar, Alonso fez uma corrida dentro de suas possibilidades, mas esperando os erros alheios e andando na mesma balada de Lotus e Toro Rosso, levou sua McLaren ao quinto lugar. Para um campeão do naipe de Alonso, quinto lugar não é o maior dos prêmios, mas se analisarmos a posição atual da McLaren-Honda, o resultado de hoje, somado ao nono lugar de Button, é como uma vitória para a McLaren. 

Numa corrida em que largou como ampla favorita, a Mercedes saiu de Hungaroring lambendo suas feridas numa prova marcada por vários erros de seus pilotos. Se a partir da próxima corrida a largada será basicamente manual, a Mercedes estará mais aliviada, pois pela segunda corrida consecutiva os seus carros foram engolidos pelos ocupantes da segunda fila com até alguma facilidade. Porém, o que veio a seguir é que deve causar preocupação à cúpula da Mercedes nesse próximo mês de férias. Nico Rosberg, após erro de Hamilton, que o fez sair da pista, não foi capaz de andar no mesmo ritmo da Ferrari e o alemão chegou a ficar 12s atrás de Vettel e outros 9s atrás de Raikkonen. Com ar sujo, a Mercedes simplesmente não teve o mesmo rendimento. Porém, Nico fazia uma prova para tirar a desvantagem que tinha para Hamilton. Lewis teve uma corrida errática, talvez a pior desde a perda do título de 2007, onde o inglês errou tudo o que tinha para um novato na última corrida daquela temporada. Agora, como piloto experiente e bicampeão, Hamilton fez várias besteiras hoje, se metendo em confusões bestas que o fez pedir desculpas para a sua equipe. Lá na frente, Rosberg estava em segundo, se aproveitando dos problemas de Raikkonen, mas tinha Daniel Ricciardo colado e com pneus melhores. Se pensasse sistêmicamente, bastava Nico não se meter em nenhuma encrenca com o australiano, que estava forçando muito na freada da curva um. Ricciardo se jogou na freada, Rosberg poderia pressentir 'caca' vindo por aí, mas ao invés de recuar, tentou manter a posição. Resultado: um pneu furado no começo da volta. E o alemão jogou fora pontos importantes no campeonato, já que Nico voltou justamente atrás de Hamilton e e viu a vantagem de Lewis aumentar de 17 para 21 pontos no campeonato. Um erro que pode ser crucial no campeonato e mostrou a diferença entre um grande campeão e um bom piloto. A Lotus teve um final de semana duro, mas ainda pontuou com Grosjean, enquanto Galvão foi perfeito na descrição de Pastor Maldonado: é doidinho dentro da pista. E ainda parodiando Galvão, Maldonado poderia pedir música pelas três (!) punições recebidas hoje! Já era sabido que a Williams não teria ritmo em Hungaroring, mas Felipe Massa fez uma prova muito ruim, longe de Bottas, saindo de suas características ao largar mal e ficando fora dos pontos com um carro nitidamente desequilibrado. Bottas estava numa posição melhor, podendo pontuar bem, mas um toque com Verstappen furou o pneu do finlandês (num toque de corrida, diga-se) e Bottas acabou também fora dos pontos. A Force India teve um final de semana preocupante. Sergio Pérez capotou seu carro na sexta-feira após a suspensão do seu carro quebrar sozinha, enquanto Nico Hulkenberg causou a entrada do safety-car quando a asa dianteira do alemão se quebrar sozinha no meio da reta dos boxes. Foi um acidente perigoso por vários aspectos. Primeiro, por que Nico batu de frente a alta velocidade. Segundo porque foi a segunda quebra da Force India por causa de fadiga de material em três dias. Tão perigoso que Pérez, que vinha nos pontos como Hulkenberg, abandonou por motivos de segurança. A Sauber continuou com um final de semana em que a falta de recursos para desenvolver o carro ficou evidente numa equipe decadente, mas que ainda somou um pontinho devido aos erros dos demais, mas desta vez com Ericsson, já que Nasr não andou na frente do sueco em nenhum momento da prova. A Manor fez o número de sempre.

Foi a segunda grande corrida de F1 consecutiva nesse ano, mostrando que mesmo a F1 precisando se reinventar, ainda é capaz de nos entreter com uma grande prova, mesmo num circuito onde as expectativas eram muito baixas. Ao invés de ver reclamações nas redes sociais, como eu previa ontem, veremos grandes elogios para a prova de hoje. Essa é a magia da F1.      

5 comentários:

  1. Mas pelo menos duas das três punições do Maldonado foram bastante discutíveis.

    A primeira com Perez,foi incidente de corrida,Pastor defendeu legitimamente sua posição e Sérgio também não aliviou. Não aplicaria punição a ninguém.

    Já a segunda por ter supostamente ultrapassado nos Pits enquanto os carros passavam ali foi simplesmente absurda. Alguns carros aproveitaram enquanto passavam pelos Pits enquanto a reta estava bloqueada pra limpeza dos detritos do carro do Hulkenberg pra fazer paradas,então iriam ser ultrapassados de qualquer maneira. Não tem justificativa pra aplicar uma punição daquelas,visto que não houve irregularidade por parte de Pastor.


    Enfim,acredito que puniram Maldonado mais pelos seus antecedentes e sua péssima fama do que por qualquer outra coisa.

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    1. Porém, continuo achando o Maldonado doidinho, doidinho...

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    2. Mas nessa,ele foi inocente em duas das três punições que levou.

      Maldonado podecser descerebrado,mas nessa temporada não da pra dizer que o lado insano dele tenha aflorado como nos anos anteriores.

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  2. Periga esta ter sido a melhor corrida do ano.
    E como se diz: o burro zurrou... Vai Ham!

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    1. Tomara que não Ron, que tenhamos outras corridas iguais ou até mesmo melhores daqui pra frente!

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