terça-feira, 15 de setembro de 2015

História: 30 anos do Grande Prêmio da Bélgica de 1985

Após o bizarro adiamento em junho, quando o asfalto em Spa estava tão ruim, que se soltava até mesmo esfregando os sapatos com força, o Grande Prêmio da Bélgica seria realizado em setembro com um cenário bem diferente da data marcada anteriormente. Na ocasião, Michele Alboreto tinha sido o pole mesmo com o asfalto tendo problemas, mas a Ferrari havia caído muito de rendimento desde então e o italiano se via doze pontos atrás do seu rival Alain Prost. Vindo de vitória em Monza, casa da Ferrari, o francês ia muito forte para o fim do campeonato de 1985, mesmo que ainda houvessem dúvidas quantas provas ainda faltavam para o fim do certame, pois o Grande Prêmio da África do Sul havia se tornado uma grande polêmica, por causa das pressões internacionais contra o Apartheid. O detalhe é que o regime segregacionista acontecia há anos na África do Sul e somente trinta anos atrás os países mais importantes começaram a se importar com o que acontecia no país do ainda preso Nelson Mandela...

Dentro da pista, a vida não era fácil para a McLaren. Durante os Niki Lauda saiu da pista, bateu forte e machucou o pulso, tendo que ficar de fora da corrida belga. A McLaren chama John Watson, aposentado desde o final de 1983, para substituir o austríaco, mas a Ferrari usa suas conhecidas manhas políticas para impedir que a rival McLaren usasse Watson, alegando que o time liderado por Ron Dennis tinha passado do limite para fazer uma substituição de pilotos durante um final de semana de corrida. Porém, dentro da pista, Prost dá uma resposta às políticas ferraristas ao conseguir a sua segunda pole no ano, ficando menos de um décimo na frente de Senna. Piquet ficou em terceiro, com Alboreto colocando sua Ferrari em quarto, mesmo o italiano sofrendo com problemas elétricos durante os treinos. O calvário da Ferrari na segunda metade de 1985 continuava...

Grid:
1) Prost (McLaren) - 1:55.306
2) Senna (Lotus) - 1:55.403
3) Piquet (Brabham) - 1:55.648
4) Alboreto (Ferrari) - 1:56.021
5) Johansson (Ferrari) - 1:56.585
6) Boutsen (Arrows) - 1:56.697
7) Mansell (Williams) - 1:56.727
8) Berger (Arrows) - 1:56.770
9) De Angelis (Lotus) - 1:57.322
10) Rosberg (Williams) - 1:57.465

O dia 15 de setembro de 1985 amanheceu com muita chuva em Spa, clima típico daquela região no mundo. Grande Prêmio da Bélgica sem ter um dia com chuva, não é um típico Grande Prêmio da Bélgica. A primeira vitória de Senna havia acontecido debaixo de muita chuva em Portugal na segunda corrida de 1985 e mesmo sendo injusto considerar que o jovem brasileiro andasse bem apenas com pista molhada, a corrida em Spa sendo realizada com piso molhado era um bom sinal para Senna. E não seria um bom sinal para Piquet. Em Estoril, os pneus da Pirelli se comportaram de forma terrível com piso molhado e a boa posição de Piquet no grid estaria a perigo. O brasileiro só não esperava que a corrida ficasse ruim tão cedo. Na luz verde, Prost e Senna saem forte rumo à Source, com Senna ficando na frente. Quando Piquet foi contornar a curva, o piloto da Brabham rodou na frente de todo o pelotão, mas felizmente Piquet não foi atingido por ninguém. 

Pilotando de forma estupenda na chuva, Senna abre uma pequena vantagem sob Prost, que tinha Mansell, que acabara de ultrapassar Alboreto, nos seus calcanhares. Por sinal, o italiano tinha claros problemas de estabilidade nas primeiras voltas, sendo ultrapassado por Johansson, Boutsen e De Angelis de forma quase que consecutiva. A via-crucis de Alboreto dura apenas quatro voltas, quando o italiano vai aos boxes abandonar com a embreagem quebrada. Se Prost pontuasse, o título estaria nas mãos do francês, enquanto que para Alboreto restava torcer para um mau resultado do francês. Sabendo que não poderia arriscar em hipótese alguma, Prost praticamente deixa ser ultrapassado por Mansell na Les Combes, caindo para terceiro. Porém, a chuva tinha parado antes da largada e a pista secava à olhos vistos. Keke Rosberg foi o primeiro a arriscar colocar pneus slicks, enquanto um tímido sol aparecia entre as nuvens belgas. Depois de cair para 21º, Keke se tornava o piloto mais rápido da pista, dando a senha para os demais pilotos: estava na hora de trocar os pneus de chuva pelos slicks. Na nona volta, Senna, Mansell e Prost entram nos boxes para trocar para os pneus slicks, enquanto o sol já brilhava em Spa. Elio de Angelis foi um dos últimos a trocar os pneus e por isso o italiano liderou brevemente a corrida, mas Elio acabou ultrapassado pelo companheiro de equipe na reta Kemmel. Durante a movimentação intensa nos boxes, a corrida da Ferrari terminava ainda na oitava volta, quando Johansson rodou na Les Combes.

Quando todos já estavam montados com pneus slicks, Keke Rosberg colhia os frutos de sua arriscada aposta e pulava para terceiro, ficando logo atrás do seu companheiro de equipe Mansell, enquanto Senna tinha uma confortável vantagem de 6s. Phillipe Alliot fazia uma ótima corrida pela raquítica RAM, com o francês se aproveitando das condições mutáveis para ocupar um lugar no top-10 da corrida em Spa, mas Alliot era conhecido por apreciar bastante bater em muros e o francês acabou batendo forte na entrada da Eau Rouge, mas a corrida não foi interrompida, mesmo o carro de Alliot tendo ficado numa posição perigosa. A pista já estava seca, quando o tempo mudou novamente e uma neblina caía em certos locais do enorme circuito de Spa-Francorchamps. Enquanto nos boxes chovia fraco, no resto da pista havia sol. O ritmo cai em torno de 10s por volta, mas Senna ainda era o mais rápido na pista, aumentando para mais de 18s sua vantagem sobre Mansell. Sem precisar se arriscar, Prost, que vinha colado em Rosberg na briga pela terceira posição, abranda seu ritmo, ficando 10s atrás do finlandês. Sem Prost para lhe atacar, Rosberg parte para cima de Mansell, mas a neblina fez com que alguns locais de ultrapassagem em Spa ficassem molhados fora da trilha, dificultando as ultrapassagens. Porém, os dois pilotos da Williams brigavam forte pela segunda posição, com direito a algumas fechadas. Porém, antes que Frank Williams pudesse ver um acidente com seus dois carros, Rosberg começa a apresentar problemas nos freios, fazendo com que o finlandês saísse da pista na Les Combes. Keke volta aos pits, troca os pneus e retorna à corrida em quarto, longe de Prost e ainda bem à frente de Boutsen, andando muito bem em casa. Após cair para último, Piquet consegue uma boa corrida de recuperação e ultrapassa Derek Warwick para ser sexto, mas o brasileiro subiria para quinto quando Boutsen, coitado, começa a ter problemas de câmbio e diminui o seu ritmo nas voltas finais.

As voltas finais são de apreensão, pois havia indícios de que a chuva pudesse voltar. Porém, para Senna, isso não faria tanta diferença. Piloto mais rápido em todos as condições presentes naquele dia em Spa trinta anos atrás, Senna foi espetacular e conseguia sua segunda vitória na F1 em outra corrida com chuva, mas ninguém se arriscaria em chamar Ayrton unicamente de piloto de chuva. Senna era estupendo, faça chuva, faça sol! Mansell conseguia o seu melhor resultado na F1 com o segundo lugar e o primeiro pódio com a Williams. Seria o primeiro de muitos! Falando em pódio, a organização belga paga um mico enorme, pois simplesmente não havia o hino brasileiro para tocar no pódio. E olha que o Brasil, ao contrário de agora, tinha dois pilotos de ponta na F1 em 1985! Subindo ao pódio pela sétima corrida consecutiva, Alain Prost dava um grande passo rumo ao seu primeiro título mundial em 1985. Com a vantagem que tinha amealhado sobre Alboreto após a corrida em Spa, fora a fase ascendente da McLaren e a péssima fase da Ferrari, Alain Prost poderia se tornar o primeiro francês campeão da F1 na próxima corrida, em Brands Hatch. E Prost não perderia a oportunidade!

Chegada:
1) Senna
2) Mansell
3) Prost
4) Rosberg
5) Piquet
6) Warwick

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