quarta-feira, 11 de março de 2015

F1 e a justiça

Às 22h30 de amanhã, horário de Brasília, os boxes do circuito improvisado de Melbourne estará aberto para que os carros de F1 façam suas primeiras voltas na temporada 2015. Será uma temporada cheia de novidades entre pilotos e equipes, mas a grande notícia de uma F1 que nem começou ainda está vindo da Suprema Corte de Victoria, com a inacreditável e surreal história de Giedo van der Garde entrando na Sauber basicamente arrombando a porta de Monisha Katelborn e Peter Sauber. Isso ainda dará muito pano pra manga, mas por enquanto, vamos para o que os testes nos indicaram.

E para quem sonha com uma F1 'emocionante' e 'disputada', melhor ficar logo sabendo que a Mercedes veio tão, ou mais forte para 2015, mas isso não é necessariamente uma má notícia para a competitividade da F1, pois Lewis Hamilton e Nico Rosberg protagonizaram uma temporada interessante ano passado, cheio de brigas dentro e fora das pistas, bem ao estilo das encarniçadas guerras dos anos 80. Com a Mercedes parecendo ser bem superior às demais, fica mais fácil para Toto Wolff e Niki Lauda liberarem a briga entre seus dois pilotos pelo título esse ano. Sete anos após seu primeiro título, Hamilton tirou um piano dos seus ombros e se manter a força que mostrou na segunda metade da temporada passada, deverá ser o grande favorito para 2015. Porém, Nico Rosberg disse que já provou o gosto da derrota e que não quer repetir a dose. Mais lento que Hamilton, Nico tentará usar sua força mental para derrotar o inglês novamente. Não devemos esquecer que 2014 foi o primeiro ano em que Rosberg Jr realmente brigou pelo título e deve ter aprendido com os poucos erros que cometeu nas últimas corridas decisivas do ano passado, vindo, também, mais forte esse ano. Perguntado como seria o relacionamento com o companheiro de equipe, Nico Rosberg falou apenas em respeito. Para quem eram amigos de fé, irmão, camarada...

Atrás da Mercedes, deverá vir um grupo formado por três equipes brigando entre si para se aproveitar de algum erro dos prateados: Williams, Red Bull e Ferrari. A Williams sempre andou forte em 2014, mas vindo de seguidos anos no limbo, a tradicional equipe de Frank Williams derrapou em vários momentos decisivos e por isso, perdeu, com folgas, o segundo lugar no Mundial de Construtores para a Red Bull, mesmo sendo claramente o segundo carro mais rápido do pelotão. Agora mais entrosados, a Williams deverá aproveitar melhor as chances que terá, com uma dupla forte e homogênea, em Valtteri Bottas e Felipe Massa. Porém, para dar o próximo passo, a Williams deverá tentar sair da situação de equipe-cliente da Mercedes, como fez a McLaren. A Red Bull terá como principal desafio começar um ano sem duas peças-chave do sucesso da equipe nos anos dourados do time. Adryan Newey começou seu processo de aposentadoria da F1 e hoje é apenas um consultor da Red Bull, mas apesar de estar, teoricamente, na equipe, Newey estará vendo tudo de fora e verá seus antigos carros azuis sem o capacete mutante de Sebastian Vettel. O alemão não se entendeu com a nova geração da F1 e desmotivado, chegou a pensar em abandonar tudo, segundo Horner. Pensando em mudar tudo isso de verdade, Vettel deixou a Red Bull após anos de parceria, entregando o cargo de piloto líder da equipe para o sorridente Daniel Ricciardo, o único capaz de tirar uma lasca da Mercedes em 2014, com três vitórias. Terceiro colocado ano passado, Ricciardo mostrou muita velocidade, mas nesse ano ele terá a responsabilidade de liderar uma equipe que ainda chora por ter perdido o reinado da F1, a ponto de, cinicamente, Christian Horner reclamar que o domínio da Mercedes poderá afastar os fãs da F1. Mas quando a Red Bull dominava, os fãs não se afastavam, cara-pálida?

Para o lugar de Vettel, virá o russo Daniil Kvyat, piloto muito rápido, mas que ficou atrás do dispensado Jean-Eric Vergne no ano passado na forte briga interna da Toro Rosso. Mesmo não passando pelo martírio da pré-temporada passada, a Red Bull foi uma das equipes com menos quilômetros na Espanha e os motores Renault voltaram a dar problemas aqui e ali. Quem pareceu ter evoluído bastante foi a Ferrari. Vettel e Raikkonen sempre estiveram entre os mais rápidos e mostraram bastante confiabilidade durante a pré-temporada. Após um ano terrível, a Ferrari foi bem italiana e dispensou todo mundo, com Kimi Raikkonen sendo um dos poucos sobreviventes. Porém, todo mundo sabe que as atenções ferraristas estarão todas em Vettel, que vindo de passagem vitoriosa na Red Bull, irá para a Ferrari tendo a sombra da história de Michael Schumacher e a gloriosa campanha do alemão com a Ferrari. Porém, o mimimi de Vettel na Red Bull é preocupante, pois não será em 2015 que a Ferrari irá voltar a ganhar corridas, como Vettel se acostumou na Red Bull e o alemão haverá de ter muita paciência para voltar ao topo.

A Toro Rosso terá a dupla de pilotos mais jovem da história da F1, mas Carlos Sainz Jr não estará no foco das atenções. Max Verstappen fará sua estreia com 17 anos de idade, onde normalmente garotos como ele estão entrando na faculdade. O holandês mostrou muita consistência na pré-temporada e só se ouve elogios à seu respeito, mas um piloto tão jovem fez com que a FIA mudassem os critérios para entregar a famosa super-licença. O detalhe é que Jenson Button, Fernando Alonso e Kimi Raikkonen imitarão Alain Prost e Riccardo Patrese, que em 1980 correram contra Mario Andretti e treze anos depois, enfrentaram Michael. Em 2003, Button, Alonso e Raikkonen deram muitas voltas no retardatário Jos Verstappen, pai de Max.

As três equipes que tem nítidos problemas financeiros tentarão sobreviver esse ano. A Lotus trocou a Renault, após uma parceria que durou vinte anos com os franceses, pela Mercedes. Mesmo com problemas financeiros, a Lotus deverá evoluir com a chegada do melhor motor da F1 e Grosjean tentará, mais uma vez, cavar um lugar numa equipe de ponta, enquanto Maldonado fará a alegria de funileiros em geral. Outro que tentará uma vaga num carro melhor será Nico Hulkenberg, mas a vida do alemão não será nada fácil, com a Force India atrasando a estreia do seu novo carro para a última bateria de testes em Barcelona, demonstrando a falta de dinheiro do time hindu, mesmo com os bem vindos dólares de Sergio Perez. A Sauber teve uma pré-temporada para lá de decente, com seus dois pilotos-pagantes completando muitos quilômetros na Espanha, mas o time suíço, nem Nasr e Ericsson, esperavam pelo processo movido por Giedo van der Garde tão em cima da hora.

Quem reestreia na F1 é a Honda, com a parceria com a McLaren. Tendo dois pilotos campeões mundiais, bastava que os japoneses acertassem no novo motor, por sinal, algo que eles mostraram durante a história serem mestres. Porém, um projeto ambicioso da McLaren, que desde 2012 não faz uma temporada decente, fez o trabalho para os eficientes japoneses ainda mais desafiador e o resultado foi uma pré-temporada horrível da McLaren-Honda, incluindo aí um acidente para lá de estranho com Alonso, que não estará presente em Melbourne. Por último, a Manor conseguiu uma sobrevida, também em cima da hora, e será a décima equipe do mundial sem ter feito um único quilômetro em 2015. Correndo (?) com seu carro de 2014, também colocará dois pilotos novatos (Will Stevens e Roberto Mehri) para fecharem o grid, até onde a Manor aguentará correr.

Se houver justiça na F1, a Mercedes ganhará esse campeonato de 2015, até mesmo com alguma facilidade, mostrando que 2014 ainda não acabou por completo, mesmo com as demais equipes terem crescido nesse meio tempo, mas os alemães não ficaram de braços cruzados e construíram um carro tão forte como o do ano passado, com o bônus de ser também mais confiável. Porém, nesse começo de ano, a justiça aparecerá na F1, literalmente, nos tribunais.   

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