quinta-feira, 5 de março de 2015

O comentarista

A passagem de Luciano Burti pela F1 foi efêmera, mas bastante marcante pelo gosto do paulista com acidentes. De razoável sucesso nas categorias de base inglesas, Luciano Burti começou a correr relativamente tarde no Brasil, aos 16 anos de idade, vindo de uma rica família paulistana, dona de uma editora. Completando 40 anos no dia de hoje, Luciano Pucci Burti nasceu em São Paulo em 5 de março de 1975. Mal saiu do kart, Burti se mandou para a Inglaterra, onde começou na F-Vauxhall Jr em 1996, não chegando a participar de nenhum campeonato no Brasil.

Estreando com um bom terceiro lugar na Inglaterra, Burti se junta à equipe Stewart em 1997 e logo no seu primeiro ano, fatura a F-Vauxhall, uma categoria inglesa bastante similar à antiga F-Chevrolet. Com o apoio da Stewart, Burti gradua-se à então conceituada F3 Inglesa em 1999 e como Stewart tinha uma equipe na F1, o brasileiro tem seus primeiros contatos com a categoria máxima do automobilismo. Porém, na F3, Burti tem uma boa oposição nos ingleses Marc Hynes e Jenson Button, este com apenas 19 anos e na sua primeira temporada no automobilismo. Como a equipe Stewart vinha dominando a F3 nos anos anteriores, Burti era um dos favoritos para ganhar o campeonato, mas acaba perdendo o título para Hynes, enquanto o terceiro colocado Button consegue um lugar na F1 já no ano 2000 pela equipe Williams.

Contudo, Burti também cava seu lugar na F1 ao ser nomeado piloto de testes da Jaguar, que nada mais era o novo nome da Stewart, comprada pela Ford em meados de 1999. O desempenho de Luciano Burti era muito bom nos testes (num tempo em que a F1 testava bastante...) a ponto de Jackie Stewart, um dos vários chefes da Jaguar, assegurar-lhe um lugar na equipe como piloto titular em 2001. Porém, a chance de Luciano Burti de estrear na F1 vem mais cedo do que o esperado, quando o piloto titular Eddie Irvine tem uma misteriosa doença às vésperas do Grande Prêmio da Áustria de 2000. Pego de surpresa e sem conhecer a pista, Burti contou com a ajuda do seu grande amigo Rubens Barrichello, que no primeiro treino livre em Zeltweg, saiu com sua Ferrari dos boxes à frente da Jaguar de Luciano Burti para lhe mostrar a pista. Algo praticamente inimaginável hoje em dia...

Logo em sua primeira corrida na F1, Luciano Burti mostrava suas características. Mesmo não largando entre os primeiros, o brasileiro conseguiu levar seu Jaguar até o final da corrida, terminando a prova em 11º. No final do ano, Burti foi confirmado como piloto titular da Jaguar em 2001, substituindo Johnny Herbert, que se aposentara no ano anterior, e tendo como companheiro de equipe Eddie Irvine. Porém, quando Luciano Burti assumiu seu lugar na equipe, a Jaguar era uma time totalmente diferente. A Ford contratara Bobby Rahal e Niki Lauda para chefiarem a equipe juntamente com Jackie Stewart, mas o escocês, que tinha feito essa equipe para seu filho muitos anos antes, abandona a Jaguar ainda antes de 2001. Sem seu maior apoiador, Burti fica órfão dentro da equipe e para piorar, Rahal anuncia a contratação de Pedro de la Rosa como piloto reserva da Jaguar com a garantia que o espanhol iria ser titular em 2002... no lugar de Burti! Sem ser um piloto espetacular, Luciano consegue terminar a maioria das provas que fez pela Jaguar, em posições em que hoje daria pontos no Campeonato Mundial, num carro longe de ser vencedor. Porém, Luciano percebe que não teria lugar ali e enxerga uma oportunidade ainda em 2001.

Gastón Mazzacane tinha feito uma temporada ruim em 2000 pela Minardi, mas graças aos seu patrocinadores (alguém aqui lembra da PSN?), o argentino conseguiu um lugar na Prost em 2001, que estava desesperado por dinheiro. Porém, Mazzacane fez um começo de ano terrível pela Prost, superado de longe por Alesi. Por sinal, Mazzacane brigava com as duas Minardis para não ficar na última fila em várias corridas. Mesmo necessitando de dinheiro, Alain Prost dispensa Mazzacane, mas querendo fazer uma média com os patrocinadores sul-americanos, o chefe de equipe procura um piloto da região. Burti sabia que estava sendo fritado pela Jaguar e mesmo a Prost estando em dificuldades, sua situação, pelo menos moralmente, poderia melhorar com a mudança. Em questão de dias, Luciano Burti negocia sua saída da Jaguar e assina contrato com a Prost. Continuando seu desempenho na Jaguar, Burti era um piloto que todo chefe de equipe admirava, pois sempre levava o seu carro até o final das corridas, mesmo não sendo o mais rápido dentro da equipe. Nas suas seis primeiras corridas pela Prost, Burti finalizou cinco provas, duas delas entres os dez primeiros, onde hoje daria pontos, mas que em 2001, garantia apenas um tapinha nas costas.

Porém, Luciano Burti não tardaria em se envolver em sérios e assustadores acidentes, que marcariam sua carreira na F1. Em Hockenheim, última prova do lendário circuito com enormes retas, Burti largava em 16º, apenas duas atrás do seu companheiro de equipe Jean Alesi. Lá na segunda fila, Michael Schumacher tem problemas em sua Ferrari e largava lentamente. Obviamente, os pilotos que vinham nas filas da frente puderam desviar sem problemas da lenta Ferrari de Michael, mas Burti vê um carro cortando à sua frente e ao desviar, deu de cara com a traseira da Ferrari de Schumacher. Sem tempo para nada, Burti disse que tudo que lembra foi ter visto a traseira de uma Ferrari e depois tudo ter ficado azul. Azul do céu. O carro de Luciano Burti decola ao bater no carro de Michael Schumacher, num acidente similar ao de Maurício Gugelmin na largada do Grande Prêmio da França de 1989, e o Prost do brasileiro acaba aterrisando na Arrows de Enrique Bernoldi e saiu forte rumo à barreira de pneus. Apesar de toda a preocupação pela violência da batida, Burti sai do carro apenas com um arranhão no seu braço e larga com o carro reserva na nova largada.

Foi um susto enorme, mas seria fichinha do que viria mais tarde. Como é usual, o Grande Prêmio da Bélgica era marcado pelo clima inconstante e Burti, que largava em 18º, brigava com seu antigo companheiro de equipe Irvine quando ambos se tocaram na rapidíssima curva Stavelot ainda nas primeiras voltas. Sem sua asa dianteira, Luciano Burti passou reto e entrou de frente na barreira de pneus. Preocupado com o impacto, Irvine comandou a ajuda inicial à Burti, desmaiado dentro do seu Prost. Pelo o que me lembro, essa foi a última vez que um piloto de F1 ajudou o colega após um acidente. Porém, o estado de Luciano Burti inspirava cuidados. Levado ao hospital, Burti chegou a ficar um tempo em coma induzido pelo inchaço no cérebro, mas felizmente o piloto brasileiro saiu do hospital sem maiores sequelas. Mas essa fora sua última corrida na F1, onde fez 15 corridas.

Graças a indicação de Rubens Barrichello, logo que se recuperou do seu gravíssimo acidente, Luciano Burti foi contratado como piloto de testes da Ferrari ainda em 2002, onde ficou até o final de 2004. Com o crescimento da Stock Car, Luciano Burti voltou ao Brasil para disputar a categoria, mas em dez temporadas na Stock, Burti só conseguiu duas vitórias e nunca esteve perto de lutar pelo título. Porém, quando voltou ao Brasil em 2005, Luciano Burti passou a exercer, primeiramente como convidado, o cargo de comentarista de F1 da TV Globo. Colunista na revista Quatro Rodas e com boa fluidez, no início de sua experiência, Burti somou à transmissão com algumas impressões de quem estava dentro de um carro de F1 à pouco tempo, mas com o tempo, o ufanismo global acabou afetando Burti, que passou a ser quase uma cheerleader de Felipe Massa e Rubens Barrichello. Quando este abandonou a F1 (ou a F1 o abandonou...) em 2011, Barrichello foi contratado pela Globo em 2013, fazendo com que Burti, muito menos famoso do que Rubinho, ficasse numa situação delicada, mas após algumas polêmicas, Barrichello acabou demitido da Globo e Luciano Burti irá começar sua décima primeira temporada como comentarista da Globo, enquanto corre pela Stock.

2 comentários:

  1. Até gosto dele, mas na boa? Como comentarista eu preferia o Barrichello, tava mais dentro dos assuntos atuais da F1 por ter parada há menos tempo,

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  2. Concordo Groo, mas como falei no post. Barrichello não abandonou a F1. Foi a F1 que o abandonou e Rubens não aceitou até hoje!

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