Alguns anos atrás, a FIA realizou uma pequisa em seu site com os fãs da F1 (e eu me lembro de ter participado) para saber o que a F1 precisava melhorar. E o clamor foi para que houvesse mais ultrapassagens. Todo mundo lembra de 2007 como um grande campeonato, mas a maioria das corridas foram monótonas, onde a torcida era para que a chuva movimentasse as provas. Uma comissão foi formada para tentar aumentar as ultrapassagens e foi criado o DRS, ou simplesmente a Asa Móvel, para que facilitasse as ultrapassagens. E funcionou. Ontem, Mark Webber veio a público dizer que esses artificialismos não faz bem à F1 e que deveria haver... menos ultrapassagens!
Porém, o DRS ou algo parecido, é inédito na história da F1? Nos míticos anos 80, no cockpit dos carros havia o botão de pressão do turbo, que aumentava ou diminuía a pressão do turbo nos potentes carros de então. Resumindo, se um piloto precisasse ultrapassar alguém, seja retardatário ou não, ou precisasse melhorar seu tempo, bastava aumentar a pressão do turbo. Se o caso fosse poupar o carro ou combustível, bastava diminuir a pressão do turbo nesse botãozinho mágico. Ou seja, para se ultrapassar 30 anos atrás, algumas vezes os grandes pilotos da época se valiam de um botão para ajuda-los. Alguém chamava isso de artificialismo?
Após o Grande Prêmio da China desse ano, o promotor local reclamou que a F1 atual não estava boa, pois 'uma equipe está dominando e vários times pequenos estão em crise, ao contrário do que acontecia quando a F1 chegou aqui'. Voltamos à 2004, ano do primeiro Grande Prêmio da China. Bernie Ecclestone e as demais equipes da F1 estavam de cabelo em pé pelo domínio acachapante de Michael Schumacher, que venceu treze corridas em 2004, conquistando o heptacampeonato com os pés nas costas, onde a Ferrari matou às rivais sem dó, nem piedade. No pelotão de trás, as coisas não pareciam tão promissoras, com Jaguar e Minardi colocadas à venda devido à crise...
Vejo nas redes sociais um clamor pela volta dos motores V8 e V10, mas ninguém lembra que no auge desses motores, principalmente do último, haviam problemas de competitividade, incluindo corridas muito monótonas, longe dos 'bons tempos'. Mas os 'bons tempos' eram tão bons assim? Nesse domingo tirei a manhã para assistir o Grande Prêmio da Espanha de 1990, já que não havia nada de melhor para fazer. Senna, em suas voltas de classificação fantásticas, ficou com a pole no apertado circuito de Jerez, mas no warm-up, Prost havia sido 1s mais rápido, demonstrando o quão bom estava a Ferrari no circuito espanhol. Começou a corrida e Senna mantém a ponta, com Prost e Mansell logo atrás. O francês era bem mais rápido com a Ferrari, mas não conseguia a ultrapassagem. Veio a primeira rodada de paradas e Prost resolve ficar uma volta a mais na pista e ganha a posição nos... boxes. Com pista livre, Prost passa a andar 2s mais rápido do que Senna, que acabaria abandonando. Naquele dia, os pneus Goodyear e Pirelli não suportaram em sua maioria o calor espanhol e boa parte dos pilotos pararam duas vezes. E foi só! Foi uma corrida monótona, onde senti falta do DRS e os pneus se desgastaram como hoje em dia. Mas ninguém ousa dizer que há 25 anos atrás, haviam corridas assim, pois todos preferem dizer que só haviam corridas boas naqueles tempos.
Hoje, um dos esportes favoritos de todos é malhar a F1, tendo rasgos de nostalgia, mas se esquecendo que nos 'bons tempos' haviam problemas, corridas monótonas e pedidos de melhorias.
O DRS é uma ótima ideia, na minha opinião, mas sendo gerenciado de forma péssima. Nos anos 80, quem gerenciava o aumento ou diminuição da pressão do turbo dentro do cockpit era o próprio piloto, usando o seu feeling. Hoje, a forma de se utilizar o DRS, somente numa parte da pista e com o piloto menos de 1s atrás do outro, dá um quê de artificialismo, mas dando um número xis de oportunidades de uso do DRS (como é na Indy, quem inspirou essa ideia) para o piloto, deixando-o utilizar quando quiser, proibindo qualquer intervenção via rádio, seria muito mais interessante. E parecido com trinta anos atrás. Crises entre equipes menores sempre existiram e a F1 precisa se reinventar o mais rápido possível, mas a categoria sempre sobreviveu a essas crises. Se inspirando novamente na Indy, vejo as equipes grandes (Penske, Ganassi e Andretti) com até quatro carros. É uma ideia de melhoria, assim como há outras. Tenho fé de que a F1 sobreviverá a mais essa crise, apesar de muita gente por aí parecer torcer contra.
Há uma espécie de memória seletiva dos fãs da F1 hoje em dia. Há um vídeo no YouTube de 1993, onde Nelson Piquet dá uma entrevista à Jô Soares falando dos seus 'bons tempos', onde os carros quebravam mais, as corridas eram mais emocionantes e não havia um domínio tão forte de uma equipe. Sim, tô falando de 1993, não 2003 ou 2013. Vinte e dois anos atrás, reclamava-se de que as corridas estavam chatas e do domínio avassalador da Williams de Alain Prost. Algo parecido com hoje. Porém, todos gostam de lembrar de 1993 como um grande ano, de grandes corridas e onde tudo era bom na F1. Um ano antes, Ayrton Senna resmungava numa entrevista, mostrado no seu ótimo documentário, que a F1 estava se tornando uma competição entre engenheiros e a máquina estava se tornando mais importante do que os pilotos. Lemyr Martins dizia praticamente a mesma coisa numa reportagem sobre os grandes pilotos da F1 numa matéria de... 1978, na Revista Placar! Mesma reclamação do antipático Helmut Marko semanas atrás.
Semana passada estava assistindo, com muita nostalgia, a largada do Grande Prêmio da Itália de 2001. Motores V10, Schumacher na pista, motores gritando pela pista de Monza. Uau! Esses eram bons tempos. Porém, me lembrei das reclamações de quatorze anos atrás: corridas ruins, domínio da Ferrari de Schumacher... Somos realmente chatos e espero que daqui a quatorze anos, em 2029, nos lembraremos com saudades dos tempos de Hamilton, Vettel, Alonso, Button, Rosberg, Massa...
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