Desde a Malásia, quando a Ferrari usou a estratégia para extrair o potencial do seu carro para derrotar as até então imbatíveis Mercedes, os alemães resolveram fazer a tática de marcar colado o que os italianos tem em mente para a estratégia dos seus carros. Hoje no Bahrein, a Mercedes optou pela estratégia de duas paradas, a mesma de Vettel. O que a trupe de Toto Wolff não esperava foi que Raikkonen fizesse diferente e quase tirasse a vitória certa de Lewis Hamilton ao mudar se tática. Se o finlandês tivesse feito sua segunda parada duas voltas antes, sua diferença para Hamilton seria ainda menor do que os 3s da bandeirada, podendo render uma briga interessante pela liderança nas voltas finais. Vettel fez sua pior corrida no ano, bem parecido com seus tempos de Red Bull em baixa, enquanto Kimi voltou aos bons tempos de Lotus, nesse seu retorno. Quem não volta aos bons tempos é o cada vez mais abatido Nico Rosberg, terceiro hoje...
Foi uma corrida bem estática a de hoje, com as peças sendo posicionadas no tabuleiro para se estabelecer o cenário para o final. Prestando atenção no que fazia a Ferrari, a Mercedes armou uma estratégia de duas paradas para seus dois pilotos, parando logo depois de Vettel. Hamilton dominou a prova, só sendo ameaçado na saída de sua primeira parada, quando Rosberg fez uma bela ultrapassagem sobre Vettel no final da reta dos boxes e Lewis tinha seu companheiro de equipe bem no seu retrovisor, mas o inglês acelerou com os pneus novos e a partir de então administrou até a bandeirada, mesmo um problema de freio ter aparecido no final da prova. Foi a terceira vitória em quatro provas em 2015 e não restam muitas dúvidas de que Hamilton é o favorito destacado para o campeonato deste ano. Mesmo que a Ferrari reaja, e essa reação já é fato consumado, Hamilton ainda pode tirar um coelho da cartola com sua pilotagem cada vez mais exuberante, como sua volta que lhe deu a pole ontem. O inglês parece cada vez melhor e o terceiro título parece favas contadas. Nico Rosberg fez sua melhor corrida em 2015, com belas ultrapassagens sobre as duas Ferraris após uma largada não tão boa do alemão. Por sinal, a placa de titânio colocado no fundo dos carros, assim como as equipes faziam nos 80, fez que o espetáculo visual realmente melhorasse bastante, com as duas ultrapassagens de Nico Rosberg parecessem mais espetaculares do que realmente foi. Contudo, Nico viu os freios do seu carro se deteriorarem no final da prova, mas o pior foi que sua insistência em ter uma estratégia parecida com a de Hamilton o viu a mercê da veloz Ferrari de Raikkonen nas voltas finais. Mesmo se não errasse na freada da curva um, dificilmente Nico não seria ultrapassado por Raikkonen, que vinha ainda praticamente 1s mais rápido. Já é a quarta derrota consecutiva de Nico para Lewis e o pior é que em nenhuma dessas derrotas, Rosberg andou próximo do seu companheiro de equipe, ao contrário do ano passado. Mesmo assumindo a vice liderança do mundial com os resultados de hoje, a diferença entre os dois pilotos da Mercedes já é superior a uma vitória e nada, no momento, indica uma fenda na armadura de Lewis Hamilton, que parte impávido rumo ao tricampeonato mundial.
A Ferrari resolveu colocar ovos em duas cestas hoje e com duas estratégias distintas, quase surpreendeu a Mercedes novamente. Vettel ficou na mesma estratégia da Mercedes, mas o alemão fez uma corrida bastante errática hoje, sendo ultrapassado três vezes por Rosberg, e saindo da pista algumas vezes. O alemão acabou tendo que fazer uma terceira parada para trocar o bico de sua Ferrari e Vettel se viu preso e impotente atrás da Williams de Bottas, acabando em quinto lugar. Restou Raikkonen. Um até agora apagado Kimi Raikkonen, que via sua renovação de contrato em xeque, mesmo com todo o apoio da equipe e até mesmo de Vettel. Porém, desde a prova passada se via lampejos do velho Kimi e hoje, a Ferrari, comandada por James Allison, que fez ótima parceria com Raikkonen na Lotus, resolveu usar o finlandês para uma via diferente. E muito boa. Na sua primeira parada, onde foi último dos quatro grandes (dá para chamar assim os pilotos de Mercedes e Ferrari), Raikkonen colocou os pneus duros para alongar o máximo possível seu segundo stint. Raikkonen ficou várias voltas com o mesmo pneu, andando até mesmo num ritmo parecido com as Mercedes com pneus macios. Porém, a Ferrari deve ter feito um cálculo para que Raikkonen tivesse um ritmo de ponta com os pneus macios no final da prova e ele pudesse atacar. Somente isso explica Kimi ter ficado tanto tempo na pista, sendo ultrapassado (veja a ironia...) até mesmo pela McLaren de Fernando Alonso! O finlandês voltou à pista em terceiro, 16s atrás das Mercedes, mas num ritmo alucinante, chegando a ser 2.5s mais rápido do que os carros à sua frente, Raikkonen foi se aproximando dos líderes e quando começava a ensaiar a manobra em cima de Nico Rosberg, o alemão errou na freada da curva um e assumiu o segundo lugar na abertura na penúltima volta. Rapidamente Kimi deixou Nico para trás e terminou a prova 3s atrás de Lewis, indicando que as voltas a mais do piloto da Ferrari com pneus médios desgastados fizeram falta no final, mesmo que Raikkonen pudesse ter a mesma dificuldade de Vettel na briga com Bottas, mas Kimi tinha pneus macios, ao contrário do alemão, que com o mesmo composto do piloto da Williams, pouco pôde fazer. Porém, essa boa exibição de Raikkonen é muito bem vinda, indicando que a Ferrari conta com dois pilotos de ponta para incomodar ainda mais a Mercedes.
A Williams caminhava para fazer sua corrida arroz com feijão, onde seria quinto e sexto tranquilamente, mas tudo começou a sair do script quando Felipe Massa ficou parado na saída da volta de apresentação, com o brasileiro tendo que largar dos boxes. Bottas fez uma prova solitária, mas a terceira parada de Vettel fez com que o finlandês assumisse o quarto lugar e de forma até surpreendente, Bottas segurou Vettel sem maiores problemas repetindo o melhor resultado da Williams em 2015. Massa teve um dia de azar, como na primeira metade de 2014, e mesmo fechando a zona de pontuação, vimos que seu pouco trato com os pneus o fez perder muito tempo no final da prova, mesmo que um assoalho danificado não ter ajudado os préstimos do brasileiro. A Red Bull foi outra que fez uma corrida solitária com Daniel Ricciardo, que só apareceu com mais destaque no momento em que seu motor Renault estourou espetacularmente no momento em que o australiano recebia a bandeirada em sexto lugar. Mas com mais um motor, literalmente, pelos ares, a Red Bull terá mais motivos para chorar com seu antigo parceiro de sucesso. Largando nas últimas posições, Kvyat mostrou um ritmo de corrida bem melhor do que de classificação e garantiu dois pontinhos com um nono lugar. A Lotus continua garantindo pontos com Grosjean, cada vez mais seguro e longe do 'maníaco da primeira curva' de 2012, e também garantindo minutos de exposição com Pastor Maldonado aprontando das suas, mesmo que isso não garanta valiosos pontos para o time aurinegro.
A decadente Force India mostrou bom desempenho com Sergio Perez, mesmo o mexicano longe de conseguir o pódio do ano passado, mas do jeito que vão as coisas para os indianos, oitavo lugar já é motivo de se comemorar, o mesmo não acontecendo com Hulkenberg, que faz uma temporada apagada como a sua corrida de hoje. O talentoso alemão parece cada dia mais desmotivado por ver que não terá mesmo um carro de ponta à disposição para vencer na F1, tanto que já esse ano correrá pelo WEC como piloto oficial da Porsche. A Sauber teve uma corrida difícil, mas Nasr mostrou suas credenciais ao fazer uma bela ultrapassagem sobre Massa, com um Williams bem superior ao seu carro. Ericsson, que fez uma boa largada, tinha tudo para pontuar, mas um pit-stop desastroso da Sauber pôs tudo a perder e o sueco terminou atrás do seu companheiro de equipe novato. Mais uma vez. A Toro Rosso fazia uma corrida anônima com seus dois bons pilotos e abandonou tanto com Sainz, como com Verstappen. Em uma cena que não foi abordada pela transmissão de hoje, dentro dos boxes da Toro Rosso, Carlos Sainz Sr e Jos Verstappen conversavam, provavelmente sobre os problemas dos seus pupilos. A McLaren soltou um pouco mais de potência do motor Honda e mesmo sendo ultrapassado por quem se aproximasse, Fernando Alonso garantiu um 11º lugar, bem próximo de pontuar. Aos poucos, a McLaren-Honda vai evoluindo, mas precisar melhorar a confiabilidade, pois Button, num final de semana terrível, sequer largou, tamanho eram os problemas em seu carro. A Manor terminou a corrida com seus dois carros, mas já se percebe uma clara vantagem de Stevens sobre Mehri.
E a quarta corrida do ano termina com Hamilton cada vez mais consolidado como melhor piloto do ano e grande favorito ao titulo de 2015. De forma interessante, mesmo com esse domínio todo de Lewis, a Mercedes já não domina como fazia no ano passado e para piorar as coisas pros lados tedescos, hoje a Ferrari provou que tem dois pilotos prontos para atacar os alemães quando derem qualquer brecha. E com Nico Rosberg ainda sem mostrar seu melhor ritmo, a vida para Lewis Hamilton fica ainda mais tranquila. O mesmo não acontecendo com a Mercedes.
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