quinta-feira, 23 de abril de 2015

Destino diferentes

O blog do Rodrigo Mattar (Mil Por Hora) lembrou que hoje estão fazendo dez anos da primeira corrida da história da GP2. Após um período fértil no final do século 20, a F3000 entrou em crise com a introdução do novo carro em 2002 e a categoria, mesmo fazendo parte da programação de suporte às corridas europeias da F1, entrou em franca decadência. Apadrinhada por Flavio Briatore e Bernie Ecclestone, a GP2 surgiu em 2005 como uma substituta melhorada da F3000, onde levaria seus maiores destaques diretamente para a F1 com um chassi Dallara muito parecido com o carro da categoria máxima, além de um motor Mecachrome bastante potente, com a categoria permanecendo no programa de suporte à F1, mas desta vez correndo duas vezes por final de semana, uma corrida mais longa no sábado e outra mais curta no domingo.

Essa receita atraiu os pilotos mais promissores daquela época, além das equipes de base mais fortes da Europa. Porém, nem todos os pilotos que largaram em Ímola no dia 23 de abril de 2005 conseguiram sucesso em suas carreiras. Abaixo, um pequeno resumo do que fez e do que faz cada um dos 24 pilotos que inauguraram a GP2.

Scott Speed (EUA) - iSport - Piloto descoberto por Danny Sullivan, que na época trabalhava para a Red Bull, Scott Speed teve seu início de carreira atrapalhada por uma doença estomacal, que o fez chegar à GP2 sem grandes resultados na Europa, mesmo que todos soubessem que se tratava de um piloto muito rápido e isso apareceu na temporada inaugural da GP2, onde terminou o campeonato em terceiro lugar, com cinco vitórias. Speed subiu para a F1 no ano seguinte através da Red Bull, mas os dois anos do americano na Toro Rosso foram nada produtivos e Speed acabou mais conhecido por ser um piloto de difícil trato. Voltando aos Estados Unidos, Speed tentou a Nascar e o Rallycross. Também sem sucesso. Hoje Scott Speed corre na F-E, pela equipe Andretti.

Can Artam (TUR) - iSport - Piloto obscuro e sem grandes resultados na carreira, Artam foi piloto da tradicional equipe Super Nova na última temporada da F3000 e graças aos seus patrocinadores, conseguiu um lugar na boa equipe de Paul Jackson. Muito mais lento do que seu companheiro de equipe Speed, Artam só passou um ano na GP2 e ficou vários anos parados, só retornando à ativa em 2013, correndo no Campeonato turco de turismo.

Nelson Piquet Jr (BRA) - HiTech/Piquet - Filho do tricampeão Nelson Piquet e elevado pelo próprio pai como o maior talento brasileiro nos últimos tempos, Nelsinho Piquet teve uma carreira praticamente perfeita até a F3 Inglesa, onde foi campeão 26 anos após o pai. Sempre correndo com o esquema da família, que lhe propiciava do bom e do melhor, Piquet Jr garantiu o vice campeonato da GP2 em 2006 e estreou na F1 em 2008 pela equipe Renault, graças aos contatos do seu pai com Flavio Briatore. Porém, Nelsinho Piquet nunca repetiu na F1 o sucesso que teve nas categorias de base e acabou demitido da Renault no meio de 2009. Para explodir o 'Crashgate' em Cingapura, onde o brasileiro bateu de propósito, para ajudar a Renault dar a vitória para Alonso. Ileso pela delação premiada, a carreira de Nelsinho Piquet praticamente acabou ali. Um cigano das pistas, Nelsinho Piquet já correu de tudo quanto foi categoria e atualmente se divide entre a F-E e o Global RallyCross.

Xandinho Negrão (BRA)  - HiTech/Piquet - Filho de Xandy Negrão, piloto de muito sucesso na Stock Car nacional, Xandinho teve uma carreira parecida com a de Nelsinho Piquet, onde sua rica família lhe proporcionou sempre o melhor equipamento, mesmo que ao contrário de Piquet Jr, não se via tanto talento no representante da família Negrão. Após ser campeão sul-americano de F3 em 2004, Xandinho debutou na Europa logo na GP2, na equipe Piquet e por lá ficou por três temporadas, sem mostrar nada que fizesse subir de categoria. Seguindo os passos do pai, Xandinho Negrão foi para a Stock Car e hoje corre em categorias de turismo nacionais.

Ernesto Viso (VEN) - BCN - Piloto extremamente rápido e desastrado (parece ser a sina dos venezuelanos...), Viso chegou à GP2 após um bom ano na F3 Inglesa, mas nunca conseguiu transformar seu potencial em resultados concretos, ficando mais conhecido por um espetacular acidente em Magny-Cous na GP2 em 2007, onde escapou praticamente ileso por muita sorte, num acidente muito parecido com o que matou Marcos Campos em 1995 numa corrida de F3000. Graças aos seus patrocinadores, Viso conseguiu uma vaga como piloto de testes da Spyker em 2007 na F1, mas no ano seguinte Viso se mudou para os Estados Unidos, onde passou a ser conhecido como EJ Viso. O nome mudou, mas os resultados na Indy continuaram os mesmos e quando a grana dos seus patrocinadores acabou, o venezuelano  saiu da categoria e hoje corre numa categoria de pick-ups em pistas de terra.

Hiroki Yoshimoto (JAP) - BCN - Yoshimoto fez toda a sua carreira em seu país antes de debutar na Europa logo numa categoria forte como a GP2, mas como é bastante comum para pilotos japoneses, Yoshimoto mostrou muita velocidade e também predileção à acidentes. Após duas temporadas na GP2, Yoshimoto voltou ao seu país, onde corre até hoje no forte Campeonato Japonês de GT.

Giorgio Pantano (ITA) - Super Nova - Piloto muito rápido e talentoso, Pantano é considerado como um dos melhores pilotos de kart da história, mas como normalmente acontece com quem se destaca muito no kart, a vida de Pantano nos monopostos não foi tão gloriosa. Após um ano na F-Palmer Audi, Pantano subiu para a F3000, mas o italiano amargou os anos decadentes da categoria e ainda assim, não conseguiu ser campeão. Porém, graças a patrocinadores, Pantano conseguiu comprar um lugar na decadente Jordan e estreou na F1 em 2004, mas numa equipe ruim, o italiano pouco apareceu e se fez aparecer. Tentando dar um passo atrás e dois na frente, Pantano resolveu participar da nova GP2, mas só foi garantir o título na sua quarta temporada na categoria, já contando com 29 anos de idade. Pantano foi o primeiro campeão da GP2 a não subir à F1 no ano seguinte e após uma tentativa na Indy, hoje Pantano corre no Mundial GT.

Adam Carroll (ING) - Super Nova - Principal rival de Nelsinho Piquet e Bruno Senna na F3 Inglesa, Carroll tinha a fama de ser um piloto muito rápido e talentoso, mas sem o apoio necessário para subir na carreira. Talvez por isso, Carroll tenha tido uma carreira tão irregular, com ótimas vitórias, mas sem títulos. Carroll chegou a ser piloto de testes da BAR-Honda, mas não se segurou no programa da equipe e se tornou um cigano das pistas. Hoje, Adam Carroll corre no Campeonato Britânico de GT.

Nico Rosberg (ALE) - ART - Havia uma certa rivalidade na época entre Nico Rosberg e Nelsinho Piquet, sobre quem seria o primeiro herdeiro de campeão a chegar na F1. Piloto cerebral, Nico venceu o primeiro campeonato da GP2 e debutou na F1 no ano seguinte pela Williams, mas enquanto hoje em dia Nelsinho Piquet corre em categorias e pistas obscuras, Nico Rosberg é hoje uma das estrelas da F1, onde tem como principal rival o seu grande adversário do kart, Lewis Hamilton.

Alexandre Prémat (FRA) - ART - Piloto francês de ótimos resultados nas categorias de base, incluindo vitórias em Macau, Prémat chegou à GP2 como protegido de Nicolas Todt, um dos donos da forte equipe ART e principais agentes de piloto. Porém, Prémat acabou sendo vítima de sua própria equipe, pois viu seus dois companheiros de equipe (Rosberg e Hamilton) sendo campeões na GP2. Contratado pela Audi, Prémat se transferiu para o DTM em 2007 e também participou com a montadora das 24 Horas de Le Mans. Em 2012, Prémat fez uma mudança incomum em sua carreira, ao se transferir à tradicional V8 Supercar Australiana, mas sem grande sucesso.

Olivier Pla (FRA) - David Price - Rival de Prémat nas categorias de base francesa, Pla foi um piloto de ponta na F-Renault e F3, mas não chegou a ser campeão, porém, seus resultados lhe garantiram um ano na temporada inaugural da GP2, mas Pla ficaria conhecido por ter ficado parado no grid em várias corridas em 2005. Pla abandonaria os monopostos em 2006, após meia temporada na GP2 e a grana dos seus patrocinadores acabou, o francês se transferiu para as categorias de turismo e Endurance.

Ryan Sharp (ING) - David Price - Piloto inglês sem grandes resultados nas categorias de base, fez apenas um bom ano na F-Renault V6 e com isso, garantiu um lugar na GP2, onde acabaria ejetado na metade da temporada por falta de resultados. E grana. Sharp muda de foco e participa do WTCC em 2006, mas também sem sucesso. 

José Maria López (ARG) - DAMS - Argentino protegido pela Renault, onde fazia parte do programa de jovens pilotos, 'Pechito' López era um dos favoritos ao título em 2005 na GP2, após um bom ano na F3000 pela mesma equipe DAMS, uma das mais tradicionais das categorias de base europeias. Contudo, López não entrega os resultados esperados e no final de 2006 o argentino se transfere para o turismo local, se tornando uma lenda no TC 2000. Em 2010, com apoio do governo argentino, Pechito entra na roubada da US F1 Team e ainda perde seu lugar na TC 2000. Porém, López daria a volta por cima e em 2014 é contratado pela Citroën como piloto oficial da equipe no WTCC. Mesmo no seu primeiro ano na categoria, Pechito López se torna campeão mundial e hoje luta pelo bicampeonato.

Fairuz Fauzy (MAL) - DAMS - Surfando na onda de popularidade do automobilismo na Malásia na época, Fauzy andou nas melhores equipes da GP2, graças aos seus patrocinadores, sem nunca mostrar bons resultados. Seus apoios ainda lhe garantiram um lugar como piloto de testes da Lotus em 2010, mas Fauzy nunca estreou na F1. Ainda bem!

Mathias Lauda (AUT) - Coloni - Terceiro filho de Campeão Mundial de F1 na GP2, Mathias era de longe o pior herdeiro. O filho de Niki Lauda nunca mostrou um milionésimo do talento do pai e hoje corre de turismo. Como sempre, sem sucesso!

Gianmaria Bruni (ITA) - Coloni - Piloto agressivo e com resultados regulares nas categorias de base, Bruni foi adversário de Antonio Pizzônia nos tempos de F-Renault, e foi piloto titular da Minardi em 2004. Tentando fazer o mesmo movimento do compatriota Pantano, Bruni deu um passo atrás e fez parte da temporada inaugural da GP2, com uma vitória. Após outro ano na categoria, Bruni se mudou para o GT em 2007, sendo piloto oficial da Ferrari e conseguindo muito sucesso desde então.

Neel Jani (SUI) - Racing Engineering - Piloto da Red Bull, o suíço Neel Jani foi um cigano das pistas, com sua pilotagem certinha, mas sem grandes emoções. Jani chegou a ser piloto reserva da Toro Rosso em 2006, mas seu momento de destaque é o atual, onde é piloto oficial da Porsche no WEC.

Borja Garcia (ESP) - Racing Engineering - Rival de Fernando Alonso no kart espanhol, Garcia nem de longe conseguiu emulou seu adversário no automobilismo europeu. Borja Garcia foi campeão espanhol da F3 em 2004 com a Racing Engineering e por isso ganhou um lugar na GP2 em 2005, mas sem resultados de relevo, acabou dispensado, se transferindo à World Series, onde foi vice-campeão em 2006. Retornando à GP2 em 2007, Garcia teve resultados medianos, que o fez andar na malfadada Superliga, correndo por Sevilla e Sporting.

Juan Cruz Alvárez (ARG) - Campos - Praticamente desconhecido, Alvárez foi para a GP2 após dois anos pela equipe Campos na World Series. Sem resultados de relevo, Alvárez só fez esse ano na GP2 e em 2007 retornou à Argentina, onde corre nos fortes campeonatos de turismo portenhos.

Sergio Hernández (ESP) - Campos - Companheiro de equipe de Álvarez na equipe Campos na World Series em 2004, Hernández garantiu seu lugar na GP2 em 2005, com resultados um pouco melhores do que o companheiro de equipe, que lhe garantiram uma segunda temporada na categoria. Em 2007 o espanhol se muda para o WTCC e hoje corre no turismo espanhol.

Heikki Kovalainen (FIN) - Arden - Piloto de sucesso por onde passou, Heikki Kovalainen, que era rival de Kimi Raikkonen no kart nórdico, parecia ser o próximo grande piloto finlandês na F1. Parecia. Após ser campeão da World Series em 2004, Kovalainen era um dos favoritos ao título da nova GP2 e foi o primeiro vencedor da categoria, em Ímola, mas Kova acabaria derrotado por Nico Rosberg no final do campeonato. No entanto, isso não abalou a caminhada de Kovalainen rumo à F1 e o finlandês acabaria sendo piloto de testes da Renault em 2006, sendo efetivado no ano seguinte. Porém, esse foi o limite de Kovalainen, que nunca obteve o sucesso esperado na F1, mesmo sendo, ao lado de Nico Rosberg, o único desse grid da GP2 a ter conquistado uma vitória na F1, quando o finlandês correu pela McLaren. Hoje, Kovalainen corre no campeonato Super GT, no Japão.

Nicolas Lapierre (FRA) - Arden - Contemporâneo de Prémat e Pla, Nicolas Lapierre era uma das esperanças (que não deu certo) da França voltar a ter sucesso na F1. Após um bom ano de estreia na GP2, Lapierre era um dos favoritos para o título de 2006, mas um acidente em Mônaco o deixou de fora algumas corridas, mas o ano não foi perdido para Lapierre, que ajudou a França a vencer a A1GP. Em 2007, Lapierre, assim como Pla e Prémat, se transferiu para as corridas de Endurance, como piloto da Oreca e hoje o francês é piloto oficial da Toyota no WEC.

Clivio Piccione (MON) - Durango - Monegasco que tem nome que mais parece astro pornô, teve uma carreira regular nas categorias de base inglesa. Mesmo tendo vencido uma corrida na temporada de estreia na GP2, Piccione teve uma segunda temporada ruim na categoria e em 2007 o monegasco se transferiu para as corridas de turismo e GT, algo que faz até hoje.

Ferdinando Monfardini (ITA) - Durango - Italiano de carreira medíocre nas categorias de base europeia, conseguiu um lugar na GP2, após dois anos regulares na F3000, mas na nova categoria, Monfardini manteve os resultados medianos e em 2007 se transferiu para o turismo.

Vinte e quatro pilotos largaram para aquela corrida em Ímola com um claro objetivo: chegar à F1. Infelizmente, alguns pilotos talentosos não conseguiram o seu objetivo, por variados motivos, sendo o principal, a falta de investimento. Outros tinham investimento, mas não tinham talento. No final de 2005, apenas Speed, Rosberg, Jani e Kovalainen subiriam à F1, sendo que apenas Rosberg e Speed como pilotos titulares. E somente Nico Rosberg teve uma carreira de sucesso na F1. Os outros vinte e três pilotos tiveram diferentes destinos, alcançando sucesso em outras categorias ou se mantendo como piloto profissionais, mesmo que em categorias menos famosas. É o cruel funil da F1. 

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