sexta-feira, 17 de abril de 2015

Falta de esportividade

Quando a Red Bull deixou de ser apenas uma forte patrocinadora na F1 e comprou a Jaguar no final de 2004, o time dos energéticos logo ganhou a simpatia do paddock da categoria com suas concorridas festas, seu 'Red Bulletin' e um espírito jovem, algo que já estava em falta há dez anos atrás. Mesmo que os resultados fossem parcos, todos gostavam dos carros azuis, mas Dietrich Mateschitz não estava gastando dinheiro à toa e comandada por Christian Horner e Helmut Marko, a equipe se aproveitou bem da mudança de regulamento no biênio 2008/09 e deu o pulo do gato para se tornar uma equipe grande e vencedora. Foram quatro títulos seguidos com Sebastian Vettel, maior representante da canteira da Red Bull, o seu famoso (e também cruel) programa de jovens pilotos.

No final de 2013, a Red Bull estava na crista da onda e mesmo com a enorme mudança de regulamento marcada para 2014, poucos sugeririam que o time austríaco não fosse o grande favorito ao título e Vettel pudesse conquistar o seu quinto título pela RBR. Naquela temporada, Vettel simplesmente venceu as nove (repito, nove!) últimas corridas de 2013 com enorme facilidade, caracterizando um domínio que apenas grandes equipes na história da F1, como a Ferrari na Era Schumacher e a McLaren, com o comando de Ron Dennis, conseguiram. Quando questionados sobre a falta de emoção na F1 naqueles tempos, Marko e Horner se enfezavam e diziam que toda a equipe tinha trabalhado muito e que aquilo era resultado de trabalho árduo. As outras equipes? Que trabalhem também. Pois bem, a Mercedes trabalhou muitíssimo bem e dominou o ano de 2014, enquanto a Red Bull sofria com a unidade de potência da Renault. 2015 começou e a Red Bull, ao invés de dar uma passo à frente, parece estar um passo atrás em comparação às rivais, cada vez mais longe da briga pela vitória.

O chororo da Red Bull já foi até tema de um post aqui no blog, mas fiquei chocado com o egoísmo e a falta de esportividade de Helmut Marko em uma entrevista para Livio Oricchio, no Globoesporte.com (http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2015/04/livio-oricchio-marko-condena-f-1-atual-e-diz-que-ameaca-da-rbr-e-real.html). Abaixo, alguma frases que me chamaram atenção.

  • "Eu não critico os concorrentes, minha queixa é quanto a forma como estão conduzindo a F1, como não fazem nada para mudar o regulamento. A F1 não pode continuar como está, com uma equipe dominando tanto."
  • "O fato de nossa vantagem (2010 à 2013) vir da eficiência de nosso trabalho no chassi. Todas equipes poderiam dispor das nossas soluções. Não havia segredos. E o que vivemos hoje? Nós ficamos nas mãos dos fornecedores da unidade motriz e seus mistérios, ninguém entende nada, a não ser os engenheiros. Por melhor que seja o seu chassi, essa, sim, nossa responsabilidade, não há como lutar com quem conta com uma unidade motriz muito superior as demais, como a da Mercedes."
  • "A F1 ficou extremamente tecnológica. Deixou de ser esporte. É uma competição de engenheiros de motores, não de engenheiros de chassi e de pilotos."
  • "De novo volto à questão da dependência extrema do fornecedor da unidade motriz. Ficamos nas suas mãos. Se eles acertam, como fez bem a Ferrari, a equipe pode pensar em lutar lá na frente. Mas no nosso caso as unidades da Renault têm todo tipo de problemas."
  • "Nosso show é fraco"
  • "Se a médio prazo nós seguirmos nesse estágio, assistindo aos outros lutando pela vitória e não podermos fazer nada, e não por nossa causa, qual o sentido de permanecermos na F1? Nenhum."
Desde que conheço a F1, uma de suas características, uma de suas marcas mesmo, é que a F1 é o pináculo do automobilismo, onde estão todos os melhores pilotos e ENGENHEIROS do mundo, onde a tecnologia é testada nas pistas para se chegar aos carros de rua. Ou seja, a F1 é uma competição de pilotos e ENGENHEIROS desde que os tempos da Alfa Romeo de Fangio, Farina, Fagioli e o engenheiro Gioacchino Colombo, em 1950. Portanto, sr Marko, a F1 sempre foi um esporte de pilotos e ENGENHEIROS. 

Quando o ENGENHEIRO Adryan Newey projetava carros vencedores entre 2010 e 2013, usando toda a tecnologia possível, ninguém na Red Bull reclamava do esporte F1, ou que a categoria era tecnológica demais. 'Uma equipe dominando tanto' sempre aconteceu na história da F1, desde a Alfa Romeo nos 1950 até a Mercedes atualmente, passando pela Red Bull. Isso é cíclico e hoje a Ferrari, ao invés de ficar reclamando na imprensa sobre o regulamento, fez um belo trabalho no inverno europeu, com uma equipe inteiramente nova, e já começa a incomodar a Mercedes.

Lógico que um domínio na F1, algumas vezes, pode tornar algumas corridas monótonas e campeonatos menos interessantes, mas a Red Bull, na figura do sr Marko, quando dominou, nunca falou que a F1 tinha um show fraco. E além do mais, quem está atrás na corrida rumo ao título, como está a McLaren-Honda hoje em dia, trabalha forte para tirar a diferença e para quem gosta da F1, assistir esse desafio de voltar a brigar pela vitória nos prende na frente da TV quinzena após quinzena. 

Quando foi tetracampeã com a Renault, a Red Bull vivia uma verdadeira lua de mel com a montadora francesa, mas bastou um escorregão da Renault para que os austríacos passassem a achincalhar com os outrora parceiros campeões mundiais. Horner já sugeriu que se voltasse ao V8 aspirado, mas o inglês ou é mal informado, esquecido ou pouco inteligente (acho que a opção correta são as três coisas juntas), pois Renault e Mercedes disseram que a tecnologia dos V8 era ultrapassada e não desafiava mais seus engenheiros, a ponto de quase abandonarem a F1. Os motores híbridos, com seu barulho estranho e tudo, é o futuro do automobilismo mundial e a F1 não podia ficar de fora. Por isso, a vinda dos complexos motores híbridos turbo segurou não apenas Renault e Mercedes, como trouxe de volta a Honda para a F1. Voltando à marca que a F1 é ápice da tecnologia, seria uma enorme contradição a categoria mais forte do mundo andar com motores V8 aspirado, de uma tecnologia anterior, enquanto no WEC, se utiliza motores híbridos há alguns anos...

Por fim, Marko dá um show de falta de esportividade ao, novamente, ameaçar deixar a F1. Isso prova que ao contrário do aniversariante Frank Williams, a Red Bull não vê a F1 como esporte (outra contradição, pois Marko diz que a F1 hoje não é esporte...), mas como um negócio, onde só serve se está vencendo. Investir num projeto de médio ou longo prazo, como vem fazendo Ferrari e McLaren-Honda e a própria Mercedes fez, não está nos planos de Mateschitz, Marko e Horner. Bem ao contrário dessas marcas, onde o automobilismo está em suas entranhas, a Red Bull demonstrou, nessa entrevista de Helmut Marko, ser uma equipe antipática e que não sabe perder. Se quer ir embora? Um time com essa mentalidade não fará falta. Que pague uma multa nada barata à Bernie Ecclestone e venda toda a bagaça, inclusive seu programa de jovens pilotos, que revelou Vettel e Ricciardo, mas deixou outros muito mais desempregados. Que a Red Bull vá embora. E leve Helmut Marko, um Flavio Briatore austríaco, junto!

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