domingo, 31 de maio de 2015

Estratégia certeira (II)

Novamente choveu em Detroit neste final de semana. E mais uma vez o vencedor da segunda prova de rodada dupla na cidade do estado de Michigan foi definido na base da estratégia. Sebastien Bourdais, na minha opinião, é um dos pilotos mais subvalorizados da Indy. Tetracampeão nos derradeiros anos da Champ Car, Bourdais passou um ano e meio na F1, mas deu azar de encarar de frente um motivadíssimo Sebastian Vettel louquinho para mostrar serviço. O francês saiu pela porta de trás da F1, mesmo todos reconhecendo nele um piloto muito talentoso. Quando cruzou o Atlântico de volta, Bourdais não encontrou mais a Champ Car, engolida pela IRL para formar uma nova F-Indy. Talvez com o pensamento de que Bourdais tenha conquistado tantos títulos devido a fraqueza da Champ Car nos últimos anos da categoria, ninguém colocou muita fé no já veterano francês. Desde o ano passado Bourdais está na equipe KV, após alguns anos andando em equipes mambembes, e o francês vai aos poucos mostrando a classe de dez anos atrás.

Hoje, Sebastien Bourdais sempre andou no pelotão da frente, como vem fazendo em todas as corridas em circuitos mistos na Indy, mas em condições normais, o francês não tinha como enfrentar o poderio da Penske, que tinha em Roger Penske o organizador das duas corridas em Detroit. O time da casa dominou desde os primeiros treinos e na corrida que começou com piso molhado, Montoya e Power lideravam com certa folga, com boa vantagem para um grupo que tinha Newgarden, Dixon, Castroneves e Bourdais. Porém, assim como ontem, a corrida de hoje não teve a pista todo o tempo numa determinada condição. A pista começou úmida e quando a pista já aparentava estar melhor, a chuva veio e molhou tudo novamente. Contudo, a chuva foi breve e a pista ficava numa situação similar ao começo da prova: um trilho seco se formando aos poucos.

Nesse momento, o segundo colocado Power já tinha tido um problema em seu volante e caía para 13º. Quando a corrida passava de sua metade, Marco Andretti arriscou pneu slick, mas tudo começou a mudar com uma bandeira amarela provocada pelo horrível Rodolfo González. A pista comportava melhor os pneus para chuva ou os pneus slicks? E o combustível? Nesse momento, as estratégias se embaralharam, com alguns pilotos saindo dos boxes com pneus slicks e outros com pneus para chuva, sem contar o fato dos pilotos que ficaram na ponta da corrida, com pneus para chuva. Bourdais e Montoya apostaram nos pneus slicks e eram os primeiros dos que pararam, enquanto vários pilotos atrás deles apostaram nos pneus de chuva, como Dixon e Castroneves. Porém, há uma frase nas corridas americanas que é quase uma axioma: bandeira amarela puxa bandeira amarela. E vários carros rodaram e bateram nas voltas seguintes, provocando o pano amarelo.

Logo, os pilotos com pneus slicks engoliram quem estava com pneus para chuva e Bourdais assumiu a ponta pela primeira vez no dia. A KV tinha sérias dúvidas se o francês teria combustível até o final. Se quisesse ir até o fim, Bourdais teria que dar 38 voltas sem reabastecer, quando a janela normal de paradas era de 26 voltas. Contudo, na metade final não se deu mais de três voltas em bandeira verde e Bourdais pôde completar a corrida sem parar e comemorar sua primeira vitória em 2015. Takuma Sato aprontou das suas quando ultrapassou de forma agressiva Montoya numa das relargadas e terminou em segundo, seguido pelo não menos agressivo Graham Rahal. O filho de Bobby vem fazendo uma bela temporada em 2015. E os favoritos? Perguntariam alguém.

Os pilotos de Penske e Ganassi sofreram as agruras das repetidas bandeiras amarelas e duas duplas das equipes mais fortes da Indy se encontraram em Detroit. Em sua corrida de recuperação, Dixon acabou atingido pelo companheiro de equipe Charlie Kimball numa lambança do americano, que tentou voltar ao traçado ideal após ser ultrapassado por Power, ignorando totalmente Dixon. Power fazia uma baita corrida de recuperação e era o primeiro dos pilotos que tinham certeza de não ter problemas de combustível no final, sendo o grande favorito no momento, mas o australiano acabou provocando uma bandeira amarela por ter sido muito afoito numa relargada e quebrar o bico ao bater na traseira de um carro da Dale Coyne, deixando vários pedaços na pista. Com a asa quebrada, Power foi engolido na relargada posterior, mas acabou tocado, perdendo o controle do seu carro e ao rodar, acabou acertando em cheio Helio Castroneves. Nesse momento, a Indy resolver colocar uma estranha bandeira vermelha, para que os dois Penske fossem retirados. Assim como na Nascar, a Indy está banalizando a bandeira vermelha e de certa forma ajudou Bourdais, que pôde economizar ainda mais combustível. Pagenaud e Kanaan tiveram que fazer um splash-and-go nas voltas finais e Montoya, que última relargada estava em quarto, acabou caindo para décimo, para poder receber a bandeirada e parar seu carro metros depois, sem combustível.

Se Montoya, que estava logo atrás de Bourdais, não teve o mérito de economizar combustível o suficiente, o francês da KV o fez com maestria e venceu uma corrida de azarões, onde tudo podia acontecer. Foi uma corrida cheia de alternativas, onde os fracos carros da Honda ocuparam nove dos dez primeiros lugares, mas para sorte da Chevrolet, o vencedor usava um dos seus carros. Mesmo com os favoritos tendo ficado pelo caminho, a vitória em Detroit ficou nas ótimas mãos de Sebastien Bourdais. 

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