segunda-feira, 4 de maio de 2015

História: 35 anos do Grande Prêmio da Bélgica de 1980

O início da temporada europeia da F1 de 1980 em Zolder foi precedida por vários acontecimentos nos bastidores da F1. Após pressão da Goodyear, que reclamava dos altos custos dos pneus de classificação, a FISA mediou um acordo entre os americanos e a Michelin, pondo fim a esse tipo de pneus. A partir de Zolder, os pilotos teriam apenas dois jogos de pneus, do mesmo composto, à disposição na classificação. Após o fracasso em Long Beach, Don Nichols resolveu vender a equipe Shadow, de relativo sucesso nos anos 70, para o bilionário Teddy Yip. Porém, o anúncio que mais chamou atenção na Bélgica veio do boxe da Brabham. Bernie Ecclestone tinha sido um crítico dos novos motores turbo, mas com o anunciado fim do efeito-solo, o astuto chefe de equipe sabia que ter um motor turbinado era a garantia de competitividade no futuro. A BMW negociava com a PSA, que visava entrar na F1 com o nome Talbot, havia alguns meses para criar uma equipe franco-alemã, tendo como piloto principal Jody Scheckter. Contudo, Bernie atravessou a negociação e em Zolder anunciou que a Brabham teriam motores turbo BMW a partir de 1982.

Para o lugar do contundido Clay Regazzoni a Ensign contratou o inglês Tiff Needell, piloto regular da série Aurora, na Inglaterra, enquanto Williams e Renault vinha com pequenas modificações em seus carros. A sexta-feira viu Didier Pironi, em grande forma com a Ligier, ficar a maior parte do tempo na liderança dos treinos, mas o francês acabaria sendo superado por Alan Jones no final da classificação. Laffite, que reclamava do acerto do seu Ligier, ficava em terceiro, com Reutemann completando a segunda fila. Jabouille e Arnoux fizeram exatamente o mesmo tempo e compartilhariam a terceira fila, enquanto Nelson Piquet abriria a quarta fila, com a Ferrari novamente decepcionando, com seus dois pilotos fora do top-10. No sábado, a chuva veio com força e o grid acabou definido pelos tempos de sexta.

Grid:
1) Jones (Williams) - 1:19.12
2) Pironi (Ligier) - 1:19.35
3) Laffite (Ligier) - 1:19.69
4) Reutemann (Williams) - 1:19.79
5) Jabouille (Renault) - 1:19.89
6) Arnoux (Renault) - 1:19.89
7) Piquet (Brabham) - 1:20.23
8) De Angelis (Lotus) - 1:20.96
9) Jarier (Tyrrell) - 1:21.36
10) Depailler (Alfa Romeo) - 1:21.45

O dia 4 de maio de 1980 amanheceu claro e com sol em Zolder, garantindo uma corrida sem maiores incidentes e longe da chuva, que atrapalhou os pilotos no sábado. Longe de incidentes? A guerra FISA-FOCA estava prestes a explodir e no briefing de domingo pela manhã, os pilotos ligados à FOCA não se fizeram presentes, numa represália das equipes britânicas da decisão de Balestre de acabar com o efeito-solo. 'Agora é guerra', exclamou Balestre. Porém, mesmo com muito diz-que-me-diz, o grid foi formado normalmente, apenas com Laffite tendo que trocar o seu motor. Na luz verde, Pironi larga perfeitamente e assume prontamente a primeira posição, deixando Jones em segundo, seguido por Laffite, Reutemann, Arnoux e Piquet. Jean-Pierre Jabouille, numa temporada marcada por azares até então, continuava seu calvário ao ficar parado no grid, com a embreagem quebrada, provocando um pequeno incidente com Mario Andretti e Bruno Giacomelli, mas ambos continuaram na prova. O mesmo não acontecendo com Jabouille, que abandonava pela quinta vez em 1980.

Pironi liderava a corrida tendo Jones colado em sua traseira, mas aos poucos, o francês da Ligier aumentava sua vantagem para Jones, que por seu lado, tinha Laffite sob controle, 2s atrás. O francês corria sozinho, pois Reutemann segurava atrás de si Arnoux, Piquet e Jarier. Num ataque sobre o argentino, Arnoux toca na traseira de Reutemann na volta 17, mas quem saiu prejudicado foi o piloto da Renault, que teve a saia esquerda avariada e com isso perdeu muito rendimento, caindo para décimo. Laffite tenta uma aproximação em cima de Jones, mas quando já estava próximo do australiano, o francês começa a sofrer com problemas nos freios, tendo que abrandar o seu ritmo e começa a perder terreno frente à Reutemann, que agora tinha Piquet colado. Dentro do seu Brabham, Piquet tentava diminuir o desgaste dos pneus mexendo nas barras estabilizadoras do seu carro, mas a turbulência deixada pelo Williams de Reutemann atrapalhava o objetivo do carioca. Mal acostumado com a primeira posição, Pironi tem problemas em ultrapassar retardatários. Quando o piloto da Ligier se aproximou de Derek Daly, o irlandês brigava com Keke Rosberg, da Fittipaldi, e distribuiu várias fechadas em cima do líder. Quando finalmente ultrapassou a dupla, Pironi reclamou ostensivamente, mas sua vantagem sobre Jones permanecia nos 9s.

Tentando o ataque em cima de Reutemann, Piquet erra a freada na volta 33 e acaba saindo da pista, batendo grades, tendo que abandonar pela segunda vez na temporada. Isso deixava Reutemann despreocupado e com Laffite tendo seus problemas nos freios agravados, o argentino da Williams logo tirou toda a diferença para Laffite, completando a ultrapassagem na volta 38. Duas voltas depois Laffite foi aos boxes praticamente sem freios e descobriu-se que os mecânicos, ao trocar o motor, esquecerem de limpar os freios e uma bolha de ar se formou no sistema. Laffite retornaria a corrida, mas atrasado demais e fora de qualquer luta por pontos. Com Jarier assumindo a quarta posição, os três primeiros colocados ficam bem separados, com Pironi fazendo uma corrida esplêndida, a ponto de se aproximar da briga pela quinta posição, que tinha Villeneuve se defendendo de Arnoux, numa situação contrária ao histórico Grande Prêmio da França do ano anterior.


Mesmo com o carro desequilibrado, Arnoux ultrapassa Villeneuve na volta 55 e faltando quinze pro final, o francês parte para cima de Jarier, que estava 10s à sua frente. Faltando dez voltas para o fim, o único entretenimento para o público era a briga entre os franceses Jarier e Arnoux, pela quarta posição. Não querendo dar espaço, Jarier fez de tudo para segurar Arnoux, a ponto do piloto da Renault reclamar de Jarier depois da corrida. Pironi corria livre para a sua primeira vitória na F1 e sua vantagem era tamanha, que nas voltas finais ele se aproximou do terceiro colocado Reutemann para lhe colocar uma volta, mas Pironi usou a sabedoria para segurar o ritmo e vencer pela primeira vez na F1 de forma enfática. As Williams de Jones e Reutemann completaram o pódio, mas o australiano chegou 47s atrás de Pironi e o argentino a ponto de tomar uma volta. Arnoux toma a quarta posição de Jarier na última volta na marra, deixando o piloto da Tyrrell triste, mesmo ele marcando seus primeiros pontos em 1980. Quem marcava seu primeiro ponto no ano era Villeneuve, que teve que segurar a pressão da Lotus de Elio de Angelis nas últimas voltas, mas respirou aliviado quando o italiano errou e ficou preso nas grades de proteção. A vitória de Pironi, a primeira da Ligier em 1980, dava uma pimenta a mais no campeonato. O time francês era a quarta equipe diferente a vencer nas cinco primeiras etapas de 1980 e Pironi se juntava a Piquet e Arnoux como estreantes no topo do pódio na F1. Parecia que uma nova geração surgia para aquela década, mas o veterano Alan Jones ainda era o grande favorito ao título.

Chegada:
1) Pironi
2) Jones
3) Reutemann
4) Arnoux
5) Jarier
6) Villeneuve

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