domingo, 24 de maio de 2015

Puto!

Em todos os meus anos em que acompanho a F1, não me lembro de um piloto ir tão puto pro pódio de uma corrida. Lewis Hamilton passeava em Monte Carlo, liderando com extrema facilidade uma corrida que seria uma resposta para Rosberg, que venceu de forma enfática a corrida anterior em Barcelona. Porém, um safety-car provocado por Max Verstappen mudou toda a corrida e fez com que a Mercedes entregasse a vitória para Nico Rosberg, que não tinha nada com a raiva de Hamilton e venceu pela terceira vez consecutiva em Mônaco, se igualando à Graham Hill, Alain Prost e Ayrton Senna como os únicos a realizarem esse feito.

A corrida tinha as características que sempre marcaram o Grande Prêmio de Mônaco. A notória e histórica dificuldades de ultrapassar deixava a corrida estática, com alguns pilotos andando juntos, mas sem possibilidade de ultrapassagem. Hamilton largou bem, seguido por Rosberg e Vettel. Quando os primeiros retardatários apareceram, Hamilton deu mostras do espírito que estava encarando a prova em Monte Carlo. Enquanto o inglês deixava os carros mais lento para trás com agressividade, Rosberg sempre esperava a próxima curva ou uma reta para deixar os retardatários para trás. Com isso, a vantagem de Hamilton só aumentava, chegando aos 13s, enquanto Nico segurava, sem maiores dificuldades, a Ferrari de Vettel, que andava na mesma balada, mas sem ameaçar em qualquer momento. Então, veio o acidente de Max Verstappen. Primeiramente apareceu na tela que a corrida entraria no modo de Safety-car virtual, algo inédito na F1. Sexta-feira, na prova longa da GP2, os líderes Stoffel Vandoorne e Alexander Rossi aproveitaram o Safety-car virtual para fazer seus pit-stops obrigatórios e saírem ainda na ponta da corrida. Talvez, isso fica na especulação, a Mercedes pensou em trazer Hamilton aos boxes e colocar pneus supermacios para as voltas finais e como a sua grande vantagem seria a mesma durante o Safety-car virtual, sair ainda na frente e controlar o final da corrida. Porém, a aposta da Mercedes deu errado quando, quase que imediatamente, o FIA resolveu mandar o Safety-car 'real' para a pista, anulando a vantagem de Hamilton. Se (e enfatizo o SE) a Mercedes pensou nisso, teve tempo suficiente para mudar de ideia e deixar Hamilton na pista, como fizeram Rosberg e Vettel. O primeiro rádio após a segunda parada de Hamilton foi 'O que aconteceu pessoal?', dito pelo inglês, claramente incomodado com a terceira posição, mesmo com pneus novos. Quando foi dada a relargada, Vettel imediatamente virou a chave de 'caçador' para 'caça' e passou as últimas voltas fazendo traçados defensivos, não dando chance para Hamilton e permitindo à Rosberg disparar na frente e vencer uma corrida completamente perdida, onde não tinha chances de vitória. Hamilton fez a maior questão do mundo de mostrar sua raiva para o mundo. Atropelou a placa de terceiro colocado no pódio, não sorriu em nenhum momento, falou um 'good job' sorrateiro para Rosberg e não estourou o champanhe. Ao contrário de Galvão, gostei dessa atitude de Hamilton. Basta nos colocar na pele do inglês. Se você perdesse uma corrida ganha da forma como aconteceu, alguém ficaria indiferente e comemoraria no pódio como se nada tivesse acontecido? Eu não...

Nico Rosberg não tinha nada com isso e comemorou muito a vitória, mas as próximas horas serão quentes pelos lados da Mercedes, que terá que dar muito mais do que as desculpas ouvidas no rádio para Hamilton, que nessa semana anunciou que renovou o contrato com a Mercedes pelos próximos três anos com uma salário astronômico. No campeonato, a diferente caiu para perigosos dez pontos, o que deixa a disputa entre os dois pilotos da Mercedes ainda em aberto, apesar de que, fora o erro da sua equipe, Hmailton mostrou hoje em Mônaco que sua fome por vitórias e títulos continua intacta. Vettel conseguiu o seu objetivo, com clamorosa ajuda da Mercedes, de se meter entre os carros prateados e ficou em segundo lugar. O alemão da Ferrari passou a corrida inteira próximo de Rosberg, mas sem ameaçar efetivamente o seu compatriota, mas quando se viu com Hamilton, bufando de raiva e com pneus supermacios novos, Vettel fez o que se deve fazer em Mônaco: colocar o carro um pouquinho por dentro na chicane do porto e na Saint Devote. E foi assim, sem maiores sustos, que Vettel garantiu outro segundo lugar no campeonato. Raikkonen fez uma corrida discreta, onde não conseguiu ultrapassar os dois carros da Red Bull na pista, mas pelo menos ultrapassou Ricciardo nas manobras dos boxes e quando se aproximava de Kvyat, veio o Safety-Car. Preferindo ficar na pista, Kimi acabou levando uma ultrapassagem sensacional e improvável de Ricciardo na Mirabeau, voltando ao sexto lugar em que largou. E com o orgulho ferido!

A Red Bull teve a melhor corrida do ano, com seus dois carros andando solidamente em quarto e quinto lugar. Kvyat largou melhor do que Ricciardo e tomou a quarta posição, fazendo uma corrida sólida, onde o motor Renault não deu problemas. Ricciardo foi um dos protagonistas das voltas finais quando colocou pneus supermacios novos e ultrapassou Raikkonen de forma sensacional na Mirabeau, e deixou Kvyat, após ordens de equipe, para trás e foi para cima de Hamilton, tentando beliscar um pódio. Não conseguindo, Ricciardo cedeu sua posição para o russo na última volta, permanecendo a mesma ordem da Red Bull que se estabeleceu na largada. Os dois pilotos da Toro Rosso vinham fazendo uma boa corrida, no caso de Sainz, uma prova de recuperação após o espanhol ter sido desclassificado. Max Verstappen fazia uma bela corrida, solidamente na zona de pontos, mas tudo começou a desandar quando a Toro Rosso errou em sua parada, o colocando atrás mesmo de Sainz. Então, o holandês imprimiu um ritmo de corrida forte e foi bastante esperto em colar em Vettel e na medida que seus rivais abriam para o alemão para tomar uma volta, Verstappen vinha e ultrapassava. Funcionou com Sainz e Bottas, mas avisado da esperteza de Verstappen, Grosjean se cuidou mais. Mais cedo, Max havia ultrapassado Maldonado na freada da Saint Devote, mas o venezuelano estava tendo problemas de freios, o que não acontecia com Grosjean. Faltando dez voltas e muito mais rápido, Max Verstappen tentou emular a manobra em cima da outra Lotus, mas o adolescente holandês errou completamente os cálculos, batendo na roda traseira de Grosjean e depois batendo ainda mais forte no soft-wall na Saint Devote. As discussões sobre a precocidade de Max Verstappen explodirão com esse erro, que poderia ocasionar um acidente ainda maior, mas o holandês fazia uma corrida esplêndida até ali e erros, nessa idade e no seu primeiro ano na F1, acontecem, Resumindo, nada de crucificar o rapaz. Mais sólido do que o companheiro de equipe, Carlos Sainz completou uma bela corrida de recuperação após largar dos boxes e pontuou em Mônaco, chegando em décimo, se aproveitando os problemas do outros pilotos.

Sergio Pérez fez uma corrida sólida com o carro que tem, chegando nos pontos, ao contrário do seu companheiro de equipe Hulkenberg, abalroado por Fernando Alonso na primeira volta e tendo que trocar o bico, o alemão acabou ficando para trás, mas terminou na beira da zona de pontuação. E a McLaren tem o que comemorar, com Jenson Button marcando pontos com um oitavo lugar sem muitos sustos, ao contrário da corrida assustadora do inglês em Barcelona, mas a McLaren ainda teve que lamentar o abandono de Alonso, que também vinha pronto para marcar pontos, abandonando quando estava em nono. E de abandono em abandono, de erro em erro, Felipe Nasr fez outra ótima corrida, ganhando posições nos erros alheios e mostrando sua maturidade, o piloto da Sauber terminou em nono, quando não tinha carro para essa posição. Nasr está fazendo um ótimo campeonato de estreia na F1, fazendo o básico nessa situação, onde a Sauber não tem condições de brigar lá na frente: superar o seu companheiro de equipe. E Nasr vem superando Marcus Ericsson com constância, mesmo o sueco já tendo um ano de experiência. A Williams fez uma corrida nível 2013, onde esteve longe de marcar pontos, com seus dois pilotos ficando muito atrás. O incidente de Massa não foi mostrado, mas o brasileiro se atrasou a ponto de ficar duas voltas atrás dos líderes. O sinal de alerta da Williams já está soando. De brigar por vitórias, como o time esperava para 2015, a Williams passou longe dos pontos em Monte Carlo. Pontuando antes do incidente com Verstappen, Grosjean saiu da zona de pontuação, enquanto Maldonado abandonou ainda no início da corrida, provando que a fase não está nada boa para o venezuelano. A Manor só aparecia quando atrapalhava alguém enquanto levava voltas. Realmente é de outra categoria.

E de uma corrida do nível de Mônaco, sem muitas emoções e sem ultrapassagens, a corrida de hoje ganhou um tempero todo especial com o erro de cálculo de Max Verstappen e outro erro, desta vez estratégico, da Mercedes, que trouxe o líder inconteste da prova Hamilton para os boxes, acabando por entregar a vitória de bandeja para Nico Rosberg, aumentando ainda mais o rancor de Hamilton. Num campeonato dominado pela Mercedes, esse erro da equipe pode custar muito caro para a delicada harmonia do time. Hamilton provou hoje que está numa fase impressionante, mas perder a corrida na situação de hoje pode causar uma erupção dentro dos boxes da Mercedes. 

Um comentário:

  1. Excelente post
    O que me incomoda na verdade é que se a equipe já havia definido que o Rosberg não iria parar, então porque parar o Hamilton, isso vai dar brechas para as famosas teorias da conspiração.

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