segunda-feira, 11 de maio de 2015

História: 40 anos do Grande Prêmio de Mônaco de 1975

Duas semanas após o trágico Grande Prêmio da Espanha de 1975 em Montjuich, a F1 se mudava para outro circuito de rua, mas desta vez na sua mais tradicional sede, em Monte Carlo. Temendo pela segurança, o presidente do ACM (Automóvel Clube de Mônaco) Michel Boeri manda reforçar ainda mais os guard-rails ao redor do circuito e limitava o grid para apenas 18 carros, sendo que haviam 26 carros inscritos. Com Rolf Stommelen gravemente ferido no acidente em Montjuich, o veteraníssimo Graham Hill assume o carro da própria equipe, mas o 'Mister Mônaco' fica menos de quatro décimos do 18º colocado durante a classificação do sábado e fica de fora da corrida no domingo. Rodando após forçar demais numa última tentativa no seu antigo quintal de casa, Hill volta aos boxes muito aplaudido pelo público. Aos 46 anos, essa seria a última corrida do inglês bicampeão mundial.

A nova Ferrari 312T tinha impressionado bastante em sua estreia na Espanha, mas como Lauda e Regazzoni bateram na primeira curva, o verdadeiro potencial do carro não tinha sido mostrado ainda. Porém, num circuito de características parecidas, a Ferrari corroborou com a expectativa criada em Montjuich e Lauda marcou sua segunda pole consecutiva, mas surpreendentemente os maiores rivais do austríaco foram os dois carros da Shadow, com Pryce e Jarier sendo os únicos a conseguirem andar a menos de um segundo de Lauda. Bastante confortável com seu Lotus nas ruas do principado, onde havia vencido em 1974, Peterson passava por cima do seu carro antiquado (um projeto de 1970!) e fechava a segunda fila. Regazzoni ficava muito longe do seu companheiro de equipe, enquanto o líder do campeonato Emerson Fittipaldi tinha muitos problemas com a suspensão do seu McLaren durante os treinos.

Grid:
1) Lauda (Ferrari) - 1:26.40
2) Pryce (Shadow) - 1:27.09
3) Jarier (Shadow) - 1:27.25
4) Peterson (Lotus) - 1:27.40
5) Brambilla (March) - 1:27.50
6) Regazzoni (Ferrari) - 1:27.55
7) Scheckter (Tyrrell) - 1:27.58
8) Pace (Brabham) - 1:27.67
9) E.Fittipaldi (McLaren) - 1:27.77
10) Reutemann (Brabham) - 1:27.93

O dia 11 de maio de 1975 amanheceu chuvoso no belo cenário do principado de Mônaco, à margem do Mediterrâneo, e isso seria um desafio extra para os pilotos, que ainda não correram com piso molhado em Monte Carlo até então. Para alívio dos pilotos, ainda traumatizados com todos os acontecimentos na Espanha, a chuva cessou momentos antes da largada, mas estava claro que os pneus utilizados para a ocasião eram os de chuva. Na luz verde, com pista livre e, principalmente, com visão clara à sua frente, Lauda chega tranquilamente na frente na curva St Devote, liderando o pelotão coberto pelo spray dos carros. Jarier permanece em segundo, seguido por Peterson e Brambilla, que passam Pryce por fora. 

A primeira volta é bastante agitada, com Jarier batendo na entrada da curva da Tabacaria e abandonando no local. Alguns metros antes, Pryce tentava se recuperar de sua péssima largada e tenta tomar a posição de Brambilla. Mas quem disse que o 'Gorila de Monza' cederia a posição sem antes uma boa briga? Nas apertadas ruas de Monte Carlo, Pryce e Brambilla tocam rodas e o galês fica na frente. Com seu March danificado, Brambilla vai aos boxes e abandonaria mais tarde pelos toques da primeira volta, que afetaram o a direção do seu March. Regazzoni e Scheckter também se tocam durante a primeira volta e o suíço da Ferrari acaba caindo para 11º. No final do conturbado giro um, Lauda liderava à frente de Peterson, Pryce, Scheckter, Fittipaldi, Pace e Hunt. Com a pista muito escorregadia, os carros andavam na casa 1:48, com Lauda liderando um pelotão de cinco carros, mas na medida em que a pista ia secando, o quarto colocado Scheckter perdia contato com os três primeiros, com Pryce surpreendendo ao andar no mesmo ritmo de Lauda e Peterson com um Shadow danificado pelos toques com Brambilla. O sueco também surpreendia, pois a nova Ferrari 312T era claramente mais equilibrada que o antiquado Lotus 72, mas Peterson tirava a diferença no braço, andando pouco mais de 1s atrás do líder Lauda. Na volta 15, um trilho seco já estava claro no traçado de Mônaco e três voltas depois, o sétimo colocado James Hunt é o primeiro a ir aos boxes colocar pneus slicks. Iniciando uma romaria aos boxes para que todos colocassem os pneus corretos.

Em tempos de pit-stops só ocorrendo em casos emergenciais na F1, o trabalho bom ou ruim nos boxes causava maiores estragos do que atualmente. Dez voltas depois de Hunt inaugurar os pit-stops e a pista ficar definitivamente seca, muita coisa havia mudado lá na frente. Lauda fez sua parada na volta 25 e retornou à pista com a Ferrari realizando um ótimo trabalho, o mesmo não acontecendo com a Lotus na volta seguinte e Peterson perdeu 15s com relação à Lauda. Na volta 19, ainda antes de fazer sua parada, Pryce sai da pista ligeiramente a ponto de danificar mais um pouco seu Shadow, mas o galês retornou à pista, porém ultrapassado por Scheckter e Emerson Fittipaldi, que fazia uma boa corrida de recuperação e 'ultrapassa' Jody nos pits, num péssimo pit-stop da Tyrrell. Na trigésima volta, Lauda liderava com 15s à frente de Emerson, que tinha uma vantagem de 20s sobre Pace, que era seguido por Scheckter, Peterson, Mass, Hunt e Depailler. Por incrível que pareça, Pryce sofre um terceira acidente quando o retardatário John Watson bateu no guard-rail e voltou em cima do galês, que novamente retornava à corrida com seu Shadow ainda mais danificado. Porém, na volta 42 Tom Pryce abandona com seu carro já cansado de tanta pancada! Três voltas antes, Scheckter vai aos boxes pela segunda vez com um pneu furado, entregando o quarto lugar para Peterson. Lauda tinha a corrida nas mãos e aumentava a diferença para Emerson em mais de 20s, enquanto mais atrás, na briga pela quinta posição, Mass, Hunt e Depailler garantiam o entretenimento da corrida, onde os líderes corriam isolados. E mostrava toda a rebeldia de James Hunt!

Na volta 64, Depailler tenta ultrapassar Hunt na apertada curva Mirabeau, mas o inglês resiste a ultrapassagem e acaba indo reto, batendo nas barreiras de pneus. Hunt sai do seu Hesketh furioso, acusando Depailler de tê-lo jogado para fora da pista de forma proposital. Hunt fica na beira da pista, esperando a próxima passagem de Depailler, enquanto seu carro é removido e por isso, um fiscal solicita a Hunt que saísse da pista. No que é respondido com um soco no rosto. Hunt só sossega quando mostra seu punho, demonstrando sua raiva, para Depailler e depois atravessa a pista perigosamente para retornar aos boxes. Hunt e Depailler deixaram de se falar depois desse incidente, mas isso mostrava James Hunt em sua forma pura!

Faltando aproximadamente quinze voltas para o fim e com 25s de vantagem, Lauda tira o pé perigosamente. Avisado pela McLaren, Emerson aumenta o seu ritmo e passa a andar 2s mais rápido do que Lauda. Com a corrida tendo começado com pista molhada, dificilmente as 78 voltas seriam completadas antes das duas horas regulamentares e por isso, era difícil precisar quantas voltas ainda faltavam para o fim. Sem se preocupar com as ameaças de Hunt, Patrick Depailler aumenta o seu ritmo, marca a volta mais rápida da corrida, começa a pressionar Jochen Mass e com isso a dupla se aproxima do quarto colocado Peterson, que já não tinha o mesmo ritmo do começo da prova. Lá na frente, Emerson Fittipaldi tirava tudo de sua McLaren na sua tentativa de chegar na Ferrari de Lauda, mas na volta 72, apenas 7s atrás de Niki, Emerson e todos os demais pilotos são avisados que a corrida terminaria na volta 75. Mesmo sabendo que era praticamente impossível alcançar a Ferrari, Emerson não diminuiu e cruzou a linha de chegada apenas 2.7s atrás do vencedor Niki Lauda. José Carlos Pace terminava em terceiro numa pista que não casava com seu Brabham e após um início de corrida muito bom, Peterson ficou feliz pelos primeiros pontos do ano com o quarto lugar, ainda tendo que tendo que segurar Depailler no final, que ultrapassou Mass nas últimas voltas. Lauda é recebido no pódio pelo gerente da Ferrari, Luca di Montezemolo, e com o potencial do novo carro, o austríaco sabia que o seu campeonato tinha começado ali, em Mônaco.

Chegada:
1) Lauda
2) E.Fittipaldi
3) Pace
4) Peterson
5) Depailler
6) Mass   

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