A temporada de 1990 chegava ao seu berço, na Europa, e com isso várias equipes, que participaram com carros da temporada anterior nas duas primeiras corridas do ano na América, traziam seus novos carros para Ímola, local onde a Ferrari trazia um carro modificado para o início da temporada europeia de 1990, assim como a Benetton trazia seu novo carro. Quase vinte anos após se aposentar da F1, a lenda Jack Brabham entrava na equipe que levava seu nome com a ascensão do seu filho David na equipe Brabham. Já o outro filho de Brabham, Gary, abandonou a barca furada chamada Life, que trouxe o experiente Bruno Giacomelli para correr em Ímola. Durante os treinos, o italiano pagou o mico de fazer a volta mais lenta da história da F1. Com o carro preso na terceira marcha, Giacomelli completou os 5.040m do circuito Enzo e Dino Ferrari em sete minutos (!), com uma média de 22 km/h...
Lá na frente, Ayrton Senna dava o seu tradicional show na classificação ao conseguir sua 44º pole na carreira, com Gerhard Berger completando a primeira fila, mostrando o ótima fase da McLaren, Na segunda fila, domínio completo da Williams, com a Ferrari sofrendo em encontrar um bom acerto para o novo pacote lançando em Ímola. Mesmo Mansell cometendo vários erros na classificação, o Leão superou Prost, que esperava fazer outra corrida de espera, como em Interlagos, onde surpreendeu e derrotou as McLarens. A nova Benetton mostrava bom potencial, mas Nannini acabou destruindo um dos carros ao bater forte na curva Gilles Villeneuve, mas o pior acidente foi de Pierluigi Martini, que quebrou o tornozelo após bater forte seu Minardi e obviamente ficou de fora do resto do final de semana.
Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:23.220
2) Berger (McLaren) - 1:23.781
3) Patrese (Williams) - 1:24.444
4) Boutsen (Williams) - 1:25.039
5) Mansell (Ferrari) - 1:25.095
6) Prost (Ferrari) - 1:25.179
7) Alesi (Tyrrell) - 1:25.230
8) Piquet (Benetton) - 1:25.761
9) Nannini (Benetton) - 1:26.042
10) Warwick (Lotus) - 1:26.682
O dia 13 de maio de 1990 estava ensolarado em Ímola, num clima primaveril na Itália, onde deixava o ambiente bastante agradável para pilotos e torcida, que como sempre, lotava as velhas instalações de Ímola para torcer para a Ferrari. Na transmissão da Globo, apenas Reginaldo Leme estava na Itália, enquanto Galvão ficava no Brasil, pois ambos já não se falavam e essa falta de entrosamento ficou clara na largada. Ainda revoltado com a FISA, Galvão 'enxergou' uma queima geral na largada, onde todos foram induzidos por Berger na primeira fila. Quando Reginaldo entrou diretamente da Itália, o comentarista negou enfaticamente a desconfiança de Galvão. O clima não era muito bom... mas voltando à corrida, a verdade foi que Berger largou bem, mas não tomou a ponta de Senna. Quando o bolo de carros passava pela Tamburello, que um ano antes viu Berger arder em chamas, Mansell saiu um pouco da pista e a poeira levantada fez com que boa parte do grid ficasse cega por um momento. Capelli roda e sem ver nada, Nakajima atinge o italiano em cheio, mas felizmente ambos estavam bem. Alguns metros mais à frente, Martin Donnelly roda na curva Tosa e milagrosamente ninguém bate no inglês.
Com tantos problemas, ninguém percebeu Boutsen ultrapassando Berger pelo segundo lugar e a ótima largada de Alesi, que ficou à frente das duas Ferraris. Para piorar as coisas, Piquet ultrapassa Prost na segunda volta, deixando o francês apenas em oitavo. O carro da Benetton mostrava-se muito equilibrado, principalmente nas curvas, diminuindo a desvantagem do motor Ford V8. Lá na frente, Senna liderava soberano, aumentando a vantagem para Boutsen, mas ainda na terceira volta, o brasileiro tem uma roda traseira quebrada e sai da pista na Rivazza, abandonando prematuramente em Ímola, local onde Senna sempre andou bem. Boutsen assumia a ponta, com Berger logo atrás. Mansell não perde muito tempo atrás de Alesi e ultrapassa o francês da Tyrrell ainda na volta quatro e para delírio dos tifosi, Piquet vai aos boxes por causa de um pneu furado. Da mesma forma de Senna, Piquet colheu destroços do carro de Nakajima na Tamburello. Sem Senna, a corrida fica emocionante, com os seis primeiros colocados andando juntos. Na ordem: Boutsen, Berger, Patrese, Mansell, Prost e Nannini. Em tempos que o pit-stop já eram realizados rapidamente e não havia limite de velocidade nos boxes, Piquet retornou à pista em 12º e logo fazia uma boa corrida de recuperação, subindo para 8º em apenas cinco voltas!
Porém, Piquet logo subiria para sétimo devido a um abandono surpreendente. Boutsen liderava de forma tranquila, quando na volta 18 uma fumaça branca saía atrás do seu Williams e o belga teve que ir aos boxes, apenas para constatar que o seu motor Renault havia explodido e era fim de prova para o belga, enquanto Piquet já entrava na zona de pontuação ao ultrapassar Alesi. Agora quem liderava a prova era Berger, mas o austríaco não forçava sua McLaren, tentando levar a corrida inteira sem trocar pneus, fazendo com que a corrida fosse muito equilibrada. Mansell, ao seu estilo, pressionava Patrese e na volta 22, na freada da curva Tosa, o inglês assumia o segundo lugar, para deleite dos torcedores italianos. Os pilotos da frente já chegavam nos retardatários e Mansell levou um susto quando tocou na Dallara de Andrea de Cesaris, após ser fechado pelo italiano. Era o velho 'De Crasheris' em estado puro! Para sorte de Mansell, quem acabou ficando de fora da corrida foi o italiano, enquanto o inglês começava a se aproximar de Berger para brigar pela ponta. Fazendo uma corrida discreta até então, Prost tenta mudar sua estratégia ao colocar pneus novos, mas o francês ainda retorna na frente de Piquet, em quinto.
Berger e Mansell eram considerados dois dos pilotos mais agressivos da F1 no começo da década de 90 e havia um expectativa de como seria uma briga pela ponta entre os dois. A resposta veio na volta 33. Mansell tirava tudo da sua Ferrari, mesmo uma luz de alerta do seu motor estar piscando no cockpit do seu carro e uma insistente fumacinha branca sair da traseira da Ferrari do inglês. Mansell saiu colado em Berger da Tamburello e tenta colocar de lado, mas o austríaco da McLaren não tem pudores em fechar a porta e Mansell vai para a grama, rodando espetacularmente, mas de forma ainda mais espetacular, Nigel consegue controlar seu carro e permanece em segundo. Porém, esse entrevero entre Mansell e Berger faria com que os dois trocassem farpas após a corrida e teria outros desdobramentos durante o campeonato. Para tristeza de quem gosta de corrida e dos torcedores da Ferrari, o motor de Mansell finalmente se entrega na volta 38, fazendo com que Patrese assumisse a segunda posição, logo atrás de Berger. Riccardo Patrese sempre andava bem em Ímola e já esteve próximo de vencer no circuito onde conhece tão bem.
Berger se aproxima de leva grande de retardatários e acaba se atrapalhando, fazendo com que Patrese colasse em sua traseira. Na volta 50, o italiano da Williams se aproveita de um vacilo de Berger e toma a liderança, faltando menos de dez voltas para o fim. Com pneus mais novos que boa parte do pelotão, Prost se aproxima rapidamente de Nannini, que solidamente e comendo pelas beiradas, já estava em terceiro. O francês tentou a ultrapassagem nas últimas voltas, mas teve que se conformar mesmo com o quarto lugar. Nas voltas finais, mostrando que tinha conservado bem seu carro e os pneus, Patrese abriu uma vantagem confortável para Berger e vencia pela terceira vez na F1, a primeira depois de sete anos. Berger chegava em segundo, mas a opinião geral era que o austríaco tinha desperdiçado uma chance de ouro para vencer, com o abandono de Senna no começo da corrida. Piquet fica mesmo em quinto e Alesi completava a zona de pontuação. Aquela vitória era bastante especial para Patrese, não apenas por ter colocado fim a um jejum de sete anos, mas pelo o que tinha acontecido em Ímola, também em 1983. Patrese brigava com a Ferrari de Patrick Tambay pela ponta da prova e nas voltas finais, após ultrapassar o francês, Patrese batia seu Brabham na curva Acqua Minerale. E via a sua torcida vibrar com o seu infortúnio, já que o vencedor seria uma Ferrari. Aquilo machucou bastante o coração do gente boa Patrese, mas em 1990 ele viu a mesma torcida que vibrou com o seu triste abandono sete anos antes, vibrar com sua vitória.
Chegada:
1) Patrese
2) Berger
3) Nannini
4) Prost
5) Piquet
6) Alesi
Nenhum comentário:
Postar um comentário