domingo, 26 de junho de 2016

Coisa de maluco

Apesar da MotoGP estar dando um bom espetáculo há um bom tempo, existe um longo domínio de Honda e Yamaha, mais precisamente, desde a saída de Casey Stoner da Ducati no final de 2010. De 2011 para cá, apenas motos oficiais das duas maiores montadoras gigantes do motociclismo mundial venceu na MotoGP. A última vitória de uma equipe satélite foi no mitológico triunfo de Toni Elias em Portugal/2006. Para se ter uma ideia de quanto tempo faz isso, na F1, nesse mesmo período de tempo, tiveram como campeões pela F1 a Renault, Ferrari, McLaren, Brawn, Red Bull e Mercedes. Precisaria uma corrida de maluco para que esse status quo mudasse. E essa loucura aconteceu hoje na Catedral do motociclismo, em Assen, com a incrível vitória de Jack Miller pela equipe Marc VDS Honda, passando por cima de um temporal, se esquivando das várias quedas dos seus adversários e superando suas duvidosas temporadas na MotoGP, após o pulo direto da Moto3.

Pela primeira vez acontecendo num domingo, a corrida em Assen já começou diferente pela classificação afetada pela pista úmida no sábado, que viu a pole de Andrea Doviziozo e Jorge Lorenzo apenas em décimo, enquanto Marc Márquez precisou roubar uma scooter para marcar um tempo na classificação. Para desespero de todo o grid, a corrida seria com pista molhada e com isso, pilotos que andam muito bem na chuva se sobressaíram. Último colocado de quem marcou pontos em 2016, Yonny Hernandez consegue uma boa largada e vai subindo o pelotão, marcando tempos muito rápidos e subindo para primeiro com sua Ducati 2014 com impressionante tranquilidade, superando Doviziozo e Rossi como se ambos tivessem sua moto e ele, Hernández, tivesse a única moto oficial do pelotão. Da mesma forma, Danilo Petrucci já se aproximava dos líderes, trazendo seu companheiro de equipe Scott Redding, quando a chuva apertou de vez. E uma das poucas vítimas desse momento foi justamente Hernandez, que caiu para último. Outro quem caiu, como não poderia deixar de ser, foi Andrea Iannone.

Quando a bandeira vermelha apareceu por conta da tempestade que castigou Assen, a Ducati estava pronta para celebrar uma dobradinha, com Doviziozo e Petrucci. Redding, piloto mais rápido na pista no momento, ficou revoltado, mas a pista alagada pedia a bandeira vermelha. Contudo, a chuva passou e a direção de prova resolveu recomeçar a corrida, num showdown de doze voltas. Com poucas voltas para dar e a pista ainda muito molhada, os pilotos foram menos cautelosos e as quedas aconteceram aos borbotões. Pedrosa e Bradley caíram na primeira volta da relargada. Rossi tomou a ponta e quando todos pensavam que o italiano venceria pela décima vez em Assen, como aconteceu em Barcelona, o piloto da Yamaha saiu de frente e teve que abandonar. Voltas antes, Doviziozo caiu de forma mais rápido e violenta. A pista estava muito perigosa, enquanto o sol aparecia. Márquez liderava, mas tinha uma Honda satélite atrás de si. Jack Miller quase foi campeão na Moto3 em 2014, mas acabou derrotado na ocasião por Alex Márquez. Considerado o sucessor de Casey Stoner, Miller foi contratado pela Honda e alçado diretamente para a MotoGP, numa aposta arriscada de ambas as partes.

Miller ficou mais no chão do que na moto em sua estreia em 2015, mas a Honda continuou apostando no australiano, colocando-o na Marc VDS, porém, os resultados de Miller continuavam bem abaixo do equipamento que tem em mãos. Contudo, em condições traiçoeiras, Miller mostrou a que veio e o jovem australiano foi escapando dos problemas, além de manter um ritmo forte e rapidamente se aproximou de Márquez. Com Rossi no chão e Lorenzo numa atuação medonha, Márquez nem quis muita briga. Praticamente deixou Miller passar e pode até mesmo ter esperado que Miller cometesse os mesmos erros que o derrubaram tantas vezes no último um ano e meio, mas Miller se segurou e conseguiu a vitória mais improvável do esporte a motor em alto nível dos últimos tempos.

Redding ultrapassou Pol Espargaró nas voltas finais para completar um pódio completamente alternativo em Assen, além de dar um pequeno consolo para Ducati, que poderia ter vencido pela primeira vez desde 2010. Márquez foi o único 'normal' entre os três primeiros e aumentou sua vantagem na liderança para 24 pontos no campeonato. Rossi brigou pelo título ano passado na base da regularidade, mas em 2016 o italiano teve o seu terceiro abandono no ano, enquanto Lorenzo parece estar com a cabeça em outro lugar, não obtendo confiança para tirar tudo da sua moto e se não fossem os vários acidentes, o resultado teria sido ainda pior para o espanhol da Yamaha. Enquanto seus rivais sofrem, Márquez vai abrindo no campeonato, usando a cabeça e permitindo uma zebra gigantesca com a vitória de Jack Miller, que pode mostrar, com a confiança adquirida com essa vitória, que a Honda acertou em cheio com sua contratação. 

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