domingo, 12 de junho de 2016

Fora do padrão

O Grande Prêmio do Canadá tem como tradição proporcionar corridas emocionantes e movimentadas ao longo de sua já longa história. Numa temporada 2016 bem diferente de 2015, cheia de histórias para contar, o GP do Canadá saiu do seu padrão e trouxe uma corrida aborrecida, mesmo que com algumas histórias para contar. O pole Hamilton venceu, mas o inglês não dominou a corrida. Para ser justo, Hamilton tem que agradecer a sua vitória ao estrategista da Ferrari, que tirou a vitória de Vettel com uma açodada parada no começo da corrida, ajudando a muito Lewis confirmar o seu favoritismo, mesmo que o piloto da Mercedes não teve vida fácil. Red Bull e Nico Rosberg tiveram corridas problemáticas e quem se aproveitou foi Valtteri Bottas, que conquistou o primeiro pódio da Williams em 2016.

A esperada chuva não veio em Montreal, mas o frio intenso se manteve no Canadá, fazendo com que os pilotos tivessem que se preocupar em aquecer os pneus. Porém, na largada, as coisas ficaram novamente tensas na Mercedes e velhos fantasmas reapareceram. No apagar das luzes vermelhas, novamente os carros prateados saíram lentamente a ponto de Vettel quase ter que fazer uma baliza para não bater em Hamilton. Para completar, os dois pilotos da Mercedes se estranharam na primeira curva, com Hamilton não dando espaço à Rosberg e o alemão sendo forçado a sair da pista, estragando definitivamente sua corrida. Rapidamente Vettel e Hamilton dispararam da turma, mesmo com o alemão da Ferrari insistindo no erro da forte freada da reta oposta. Porém, o lance culminante da corrida veio na volta 12, quando o motor Honda de Button explodiu e veio o safety-car virtual. A Pirelli tinha indicado que os pilotos teriam que utilizar pelo menos uma vez os pneus macios, complicando o descomplicado, pois seria muito mais prático as equipes e pilotos decidirem que borracha usar. Mas como está no regulamento, é o que tem pra hoje. E com Hamilton totalmente sob controle, eis que a Ferrari chamou seus dois pilotos para os pits colocar pneus supermacios, indicando que parariam mais tarde. Hamilton venceu ali. Vettel voltou à corrida em quarto, ultrapassou os carros da Red Bull, assumiu a liderança com a parada de Hamilton, mas precisando parar uma segunda vez, todos no autódromo sabiam que a corrida era de Hamilton, que desfilou para a sua 45º vitória na F1 e a segunda consecutiva na temporada. Na comemoração, Hamilton homenageou Muhammad Ali. Voando como uma borboleta e picando como uma abelha, Lewis já está menos de dez pontos atrás de Nico Rosberg, que teve outra corrida para esquecer. O alemão caiu para décimo após seu entrevero com Hamilton e não ganhou posições como imaginado. Nas voltas finais teve um furo lento, mas Nico chegou a flertar com o pódio quando, com pneus novos, partiu para cima de Max Verstappen. No ponto alto da corrida, Rosberg tentou uma manobra ousada em cima do atrevido holandês, mas acabou rodando na penúltima volta, tendo que se conformar com a quinta posição. Um ato de bravura de Rosberg, mas também de desespero, pois o alemão viu em duas corridas suas quatro primeiras corridas de sonho evaporarem e já vê Hamilton fungando no seu cangote no campeonato. O toque entre eles na primeira curva pode render ainda mais problemas para Toto Wolff e Niki Lauda.

Há uma brincadeira no Facebook onde uma vinheta do Globo Repórter faz várias perguntas sobre um determinado tema. Seria interessante saber o que a Ferrari pensou ao trazer Vettel e Raikkonen aos boxes com tão poucas voltas. Previsão de chuva? Os pneus macios não eram duráveis o suficiente? Um frio na espinha? Como vivem? O certo é que Maurizio Arrivabene terá que dar boas explicações por mais uma vitória desperdiçada nesse ano, na primeira prova onde a Ferrari tinha um ritmo nitidamente parecido com a Mercedes, com Vettel sendo mais rápido do que Hamilton a maior parte do tempo. O alemão teve a sua melhor corrida do ano, mas novamente terá que se conformar com apenas mais uma subida ao pódio. Raikkonen fez outra corrida sem-vergonha, onde esteve sempre muito longe de Vettel e mostrando a mesma desmotivação de 2009, quando saiu da F1 praticamente pelas portas dos fundos. Não é surpresa que a agitada imprensa italiana já pede um piloto para o lugar de Kimi. E bem que podia ser Valtteri Bottas. Após uma corrida terrível em Mônaco, a Williams deu a volta por cima e se aproveitando dos problemas alheios, conseguiu um ótimo pódio com Bottas, que sempre andou muito bem em Montreal. Valtteri andou no mesmo ritmo dos carros da Red Bull, mas como os carros austríacos pararam duas vezes, o finlandês garantiu o terceiro lugar sem maiores sustos no final. Felipe Massa andava no ritmo de Bottas, até abandonar por um problema no motor Mercedes, que parecia inquebrável, mas vem apresentando vários problemas com diferentes pilotos. Novamente Max Verstappen mostrou a personalidade que só os grandes tem. A Red Bull pediu ao holandês que cedesse sua posição para Ricciardo. Aparentemente não houve resposta verbal, mas apenas na pista, pois Max despachou o australiano e ainda deu show ao segurar Nico Rosberg nas voltas finais com manobras duras, mas leais, fazendo com que o experiente piloto da Mercedes rodasse no fim.

Os sete primeiros colocados das quatro principais equipes da F1 (Massa abandonou) foram os únicos que completaram na mesma volta do líder, indicando um pequeno abismo entre essas equipes e as demais. O melhor do resto foi Nico Hülkenberg, mostrando que a Force India ainda está muito longe da Williams para brigar a vera com a tradicional equipe, mas com Sergio Pérez terminando em décimo, a equipe hindu é a melhor do resto. Carlos Sainz bateu na classificação, largou nas últimas posições, mas o espanhol conseguiu escalar o pelotão para terminar em nono, superando com folga o cada vez mais desmotivado Daniil Kvyat, fora dos pontos hoje, mesmo largando na frente de Sainz. Numa pista que não lhe favorece, a McLaren sofreu em Montreal e Alonso perdeu seu bom momento e ficou longe dos pontos, enquanto Button abandonou com motor em chamas ainda no começo da prova. Após um início de ano impressionante, a Haas vai mostrando que experiência ainda faz muita diferença e vai sofrendo nesse meio de temporada, com seus dois pilotos ficando duas voltas atrás do líder. A Renault sofre não por falta de dinheiro ou experiência, mas por ter comprado a Lotus tão em cima da hora e de ter dois pilotos meia-boca. Palmer abandonou, enquanto Magnussen só apareceu ao bater em Nasr na primeira volta. A Sauber, por sinal, já se vê seriamente ameaçada pela Manor, com Werhein ficando na frente de Nasr, que apesar de insistir que está fazendo um bom trabalho, os resultados não mostram isso.

A corrida de hoje não foi das melhores, mas houve muitas histórias para contar. Após um começo de ano horripilante, Hamilton já vê o tetracampeonato mais perto, ainda mais com Rosberg andando tão mal como hoje. Porém, a Mercedes não dominou como de costume. A Ferrari de Vettel esteve muito próxima de derrubar os alemães e se não fosse o estrategista jogar contra o patrimônio, Sebastian teria vencido. Há esperança de mais equilíbrio em 2016, mas Hamilton pode estar se aproximando do seu tetra, pois sem um carro dominante, Rosberg pode começar a ficar para trás. E com seu talento, Hamilton tem mais chances de derrotar os rivais que só crescem.    

Um comentário:

  1. Nasr que dê graças aos céus se ainda estiver empregado como titular pra 2017.

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