sexta-feira, 21 de julho de 2017

Igualando ao maestro

O título de Michael Schumacher em 2002 eram favas contadas desde praticamente a primeira etapa daquela temporada. A Ferrari construiu um carro muito superior aos rivais e Schumacher ainda tinha a equipe italiana em torno de si, como foi provado no famoso e polêmico episódio da bandeirada do Grande Prêmio da Áustria. Com tudo conspirando a ser favor, Schumacher foi massacrando os rivais com poles e vitórias enfáticas, não deixando dúvidas qual era o melhor conjunto da temporada 2002.

Porém, ninguém queria um título de Schumacher em Magny-Cours. O tradicional Grande Prêmio da França acontecia no auge do verão europeu e o título decidido tão cedo na temporada fazia com que o campeonato de 2002 fosse considerado ainda pior do que se mostrava. Para piorar a Arrows chegava à França com seus problemas financeiros aumentados a ponto de Tom Walkinshaw pedir aos seus dois pilotos que andassem lentos na classificação para não conseguirem tempo no grid, pois a Arrows simplesmente não tinha dinheiro para correr. Heinz-Harald Frentzen e Enrique Bernoldi saíram cedo na classificação, fizeram uma volta lenta pelo circuito e foram desclassificados pela regra do 107%, pois se abandonasse o final de semana, a Arrows seria multada numa época em que seus pilotos pagavam sua multas do próprio dinheiro, como confessaria Bernoldi mais tarde.

O final de semana ficaria ainda mais esquisito quando Rubens Barrichello, se preparando para largar, ficou com sua Ferrari em cima de cavaletes, impedindo o brasileiro de participar da corrida. Na época, Galvão Bueno bradou até pela Fiat para interceder a favor de Rubens. O detalhe era que Galvão, impedido de pronunciar Fiat, falava da 'montadora multinacional que é dona da Ferrari e tem uma fábrica no Brasil'. Para os arautos da teoria da conspiração, tudo estava claro. Para ser campeão, Schumacher tinha que vencer e torcer para que Barrichello ou Montoya não chegasse em segundo lugar. Com Barrichello, em outro bom final de semana na França, de fora a Ferrari só precisava se preocupar com o colombiano da Williams...

Mesmo com o domínio da Ferrari naquela temporada, a F1 vinha numa sequência de corridas legais e em Magny-Cours não foi diferente. Montoya liderava e era perseguido de perto por Schumacher, seu irmão Ralf e as duas McLarens, num belo confronto onde os cinco primeiros andavam juntos, mas sem ultrapassagens. Tudo levava a crer que o título seria decidido mesmo na casa de Schumacher dali a duas semanas, quando o alemão da Ferrari foi penalizado por ter cortado a linha branca na saída dos boxes, caindo para terceiro, atrás de Raikkonen, enquanto Montoya liderava, mas o colombiano teria um péssimo pit-stop na segunda rodada de paradas, caindo para terceiro, enquanto Kimi assumia pela primeira vez a liderança da corrida e tinha chances concretas de vencer. Faltando cinco voltas para o fim, a corrida mudaria completamente à favor de Schumacher. O motor do Toyota de Allan McNish estourou no final da reta oposta, deixando óleo no local. Raikkonen foi o primeiro a passar no local, escorregando e praticamente entregando a vitória para Schumacher, que vinha 2s atrás.

Faltando incríveis seis corridas para a temporada terminar, Schumacher cruzou a bandeirada em primeiro pela oitava vez em 2002 em Magny-Cours, conquistando seu quinto título na F1, conseguindo igualar a até então inatingível marca de Juan Manuel Fangio de cinco títulos mundiais, deixando o alemão da Ferrari definitivamente no olimpo da história do esporte. O Grande Prêmio da França de 2002 deixava sua marca na história, mesmo que algumas não sejam das melhores. Num final de semana onde uma equipe abdicou de correr e um favorito a vitória foi alijado da disputa de forma bisonha, Michael Schumacher foi amplamente bafejado pela sorte para vencer e confirmar o título de um campeonato lembrado como um dos piores da história. Menos para o alemão, claro.

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