domingo, 16 de julho de 2017

Ah meu pneu dianteiro esquerdo...

Um mérito da temporada 2017 é que até as corridas chatas estão mais interessantes e com história para contar do que nos outros anos. Confirmando a expectativa, Hamilton completou mais um Grand-Chelem na carreira, conquistando pole, vitória, volta mais rápida e todas as voltas lideradas em sua corrida caseira. Simplesmente um show de Hamilton, corroborando com a virada que a Mercedes deu com relação à Ferrari nessa metade de temporada. Porém, depois de Lewis, muita coisa aconteceu, mesmo que sem muitas ultrapassagens e emoção. Largando em nono, Valtteri Bottas fez uma bela corrida para completar a dobradinha da Mercedes, mas o nórdico se aproveitou dos problemas no pneu dianteiro esquerdo dos dois pilotos da Ferrari, onde o maior prejudicado acabou sendo Vettel, que caiu de terceiro para sétimo, sentindo agora fungando em seu cangote no campeonato Hamilton, apenas um ponto atrás.

Uma das pérolas mais conhecidas do Galvão é dizer que 'quando o tempo fica nublado, aqui chove'. Normalmente ele fala isso em Spa e Silverstone. O problema é que em qualquer lugar do mundo, quando fica nublado... chove! Havia alta expectativa de chuva em Silverstone e o tempo carrancudo na pista inglesa mostrava que uma precipitação poderia acontecer a qualquer momento, o que atrapalharia definitivamente Lewis Hamilton em mais uma tentativa de confirmar seu favoritismo. Porém, ao contrário do axioma de Galvão, não choveu e a corrida transcorreu de forma tranquila. Até demais. Não há muito o que falar da corrida de Hamilton. O inglês largou bem, relargou muito bem após o safety-car aparecer na primeira volta, abriu vantagem, administrou bem as bolhas em seus pneus nas voltas finais e ignorou a concorrência. Uma vitória categórica para Lewis Hamilton, que começou o final de semana bastante criticado por ter faltado a evento da F1 em Londres, mas acabou nos braços da torcida ao conquistar sua quinta vitória no solo sagrado da antiga base de Silverstone, sendo a quarta consecutiva, se igualando duplamente ao lendário Jim Clark nas vitórias no Grande Prêmio da Inglaterra, além de Alain Prost, também vencedor cinco vezes na ilha da velocidade. Porém, o maior prêmio para Hamilton viria no finalzinho da corrida, quando finalmente Sebastian Vettel foi vítima das circunstâncias nesse ano.


A apática narração da corrida não transmitiu de forma necessária a tensão das últimas voltas. Todos os pilotos começaram a reclamar de bolhas nos pneus, não da forma como aconteceu semana passada em Zeltweg, mas de forma preocupante. Na penúltima volta, o pneu dianteiro esquerdo do então segundo colocado Kimi Raikkonen dechapou, forçando o finlandês ir aos boxes de forma emergencial. Naqueles momentos cruciais e derradeiros, a Ferrari ficou na mesmo situação da Williams em Adelaide/86 e o resultado foi bem parecido com o carro de número 5. Vettel estava num ritmo lento, com bolhas nos pneus, maximizado pela forte freada que deu ao se defender de Bottas. Com medo de perder o terceiro lugar para Verstappen, Vettel resolveu ficar na pista e apostar para ver. Porém, o piloto da Red Bull também parou e vendo o que tinha acontecido com Raikkonen, era lógico fazer um pit-stop emergencial. Porém, a Ferrari ficou com a boca aberta enquanto o pneu dianteiro esquerdo de Vettel, o mesmo de Kimi, dechapar também bem no meio do circuito na última volta, fazendo com que Sebastian perdesse não apenas o pódio, mas caindo para sétimo. Resultado disso? Agora Lewis Hamilton está apenas um ponto atrás no campeonato e mais motivado do que nunca, pois agora tem o melhor carro do pelotão.

Bottas foi ajudado pelo azar ferrarista, mas o piloto da Mercedes fez por merecer a segunda posição numa corrida cheia de ultrapassagens e com uma estratégia certeira, que já o colocava bastante próximo de Raikkonen quando o pneu do seu compatriota disse adeus. Claro que a vitória de Hamilton deixa bem claro quem é o primeiro piloto da Mercedes, mas Bottas está fazendo uma grande temporada esse ano e poder marcar os pontos necessários para a Mercedes num dia ruim de Hamilton. Raikkonen ainda salvou um terceiro lugar com o problema de Vettel e a parada de Verstappen, mas a cara de derrota de Kimi sintetiza muito bem o sentimento da Ferrari hoje, a grande derrotada do dia. Max Verstappen garantiu o divertimento do começo da prova com outra largada fabulosa que o deixou entre as Ferrari e interferindo decisivamente no campeonato. Não facilitando as coisas para Vettel, Max forçou o alemão parar mais cedo do que o habitual e o tempo a mais com aquele jogo de pneu pode ter sido decisivo para que Vettel tivesse seu pneu furado no final. Porém, Max também sofreu com os pneus e o fez parar uma segunda vez de forma emergencial, mas o jovem garantiu o quarto lugar, diminuindo um pouco a dose de azar que teve nas últimas corridas. No entanto, o melhor piloto da Red Bull e do dia acabou sendo Daniel Ricciardo, que pulou da penúltima fila do grid para a quinta posição na bandeirada numa corrida repleta de ultrapassagens do australiano. Apesar da alegria com seus dois pilotos, a Red Bull sabe com toda certeza que é a terceira força isolada da F1, longe da dupla Mercedes/Ferrari e bem à frente dos demais. Mesmo mantendo Vettel atrás, Verstappen perdeu mais de 10s atrás de Raikkonen quando parou, enquanto Ricciardo ultrapassou os pilotos das demais equipes de forma até constrangedora pela facilidade.


E o melhor deles foi Nico Hulkenberg, que chegou em sexto com o seu Renault, sendo o último a se aproveitar do pneu furado de Vettel. O alemão da Renault fez uma bela ultrapassagem sobre Pérez na primeira volta e foi líder dos 'normais' com até alguma facilidade, enquanto seu companheiro de equipe sofre. Correndo em casa, o pobre Jolyon Palmer teve uma quebra da volta de apresentação, enquanto as especulações crescem que Palmer seja substituído por Sainz já na próxima corrida, na Hungria. O jovem espanhol não deve estar nada satisfeito com o seu companheiro de equipe Kvyat, que o colocou para fora da corrida na primeira volta em outra cena de descontrole do russo, provavelmente somente à frente de Palmer no quesito pior piloto de 2017. A Force India fez seu feijão-com-arroz e colocou seus dois pilotos nos pontos, com Ocon na frente graças a uma grande largada do francês. Talvez reflexo dos problemas que os dois tiveram nas últimas corridas, Pérez não fez nenhum ataque mais forte ao companheiro de equipe nas voltas finais, mesmo Ocon claramente com problemas nos pneus. De forma mais discreta, a Williams repetiu sua forma na Áustria, onde sofreu horrores na classificação para garantir um pontinho com Massa na corrida. Felipe chegou forte atrás das Force India no final, mas como ocorre semana passada, não tentou uma única ultrapassagem. Na sua melhor corrida em sua temporada de estreia, Vandoorne andou sempre à frente de Alonso, estava na zona de pontos no primeiro stint de corrida e somente por ter ficado tempo demais na pista, ele perdeu a chance de pontuar, mas ficando bem próximo de Massa no final, num bom ritmo numa pista que não favorece à McLaren. Alonso? Quebrou de novo. Após a bela exibição na Áustria, a Haas não foi bem e ficou fora dos pontos com seus dois pilotos, mas pelo menos não há confusões com seus pilotos, o que vem acontecendo com a Sauber. Não bastasse ser a pior equipe e ver o promissor contrato com a Honda indo para a Toro Rosso, a Sauber ainda está sofrendo com a rivalidade crescente dos seus dois pilotos, que se estranharam mais uma vez na Inglaterra.

A corrida esteve longe de ser emocionante, mas garantiu que, adaptando o que diria Paulo Antunes, temos um campeonato! A Mercedes hoje está na crista da onda, com o melhor carro e um Lewis Hamilton motivadíssimo, além de Bottas crescendo prova a prova. Do outro lado, a Ferrari está lambendo suas feridas pelo erro estratégico de não ter trazido Vettel para os boxes, o deixando à mercê de Hamilton e Mercedes no campeonato. Porém, nada garante que a Mercedes continue tão superior a Ferrari, pois os italianos não estão parados e eles querem voltar a vencer. Quem disse que 2017 está chato?   

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