quarta-feira, 27 de abril de 2016

História: 30 anos do Grande Prêmio de San Marino de 1986

Quinze dias após a histórica chegada do Grande Prêmio da Espanha, a F1 ainda recuperava o fôlego para a próxima etapa do calendário em Ímola, casa da Ferrari, que ainda não tinha mostrado a que veio na temporada de 1986, enquanto a Lola-Haas (nada a ver com a atual Haas) teria pela primeira vez o motor turbo da Ford e como Alan Jones era o primeiro piloto da equipe, o australiano ficou com a primazia da novidade. O Autodromo Enzo e Dino Ferrari recebeu algumas modificações na pista por motivo de segurança, particularmente na Variante Alta e na Rivazza.

Os treinos mostraram o porquê dos italianos estarem chamando, trinta anos atrás, a F1 de F-Brasil, com mais uma dobradinha brasileira, com Senna tirando tudo do motor de classificação da Renault, deixando para trás os dois carros da Williams, mais equilibrados e com o motor Honda mais adaptado com o restrito consumo de combustível. Seguindo a rota de como estava o campeonato naquele tempo, Prost era quarto e para alegria dos tifosi, Michele Alboreto era o quinto colocado, superando Keke Rosberg na segunda McLaren. Mesmo com o motor novo, Jones tomou mais de 2s do companheiro de equipe Tambay, que ainda usava o motor Hart. 

Grid:
1) Senna (Lotus) - 1:25.050
2) Piquet (Williams) - 1:25.569
3) Mansell (Williams) - 1:26.159
4) Prost (McLaren) - 1:26.176
5) Alboreto (Ferrari) - 1:26.283
6) Rosberg (McLaren) - 1:26.385
7) Johansson (Ferrari) - 1:27.009
8) Arnoux (Ligier) - 1:27.403
9) Berger (Benetton) - 1:27.444
10) Fabi (Benetton) - 1:27.538

O dia 27 de abril de 1986 estava nublado e frio em Ímola, mas não havia previsão de chuva para a corrida. Contudo, a pista italiana tinha como característica principal o consumo de combustível e já havia se tornado uma cena corriqueira ver carros praticamente sem combustível nas voltas finais. O Grande Prêmio de San Marino era chamado de 'Corrida da Economia' e os pilotos sabiam que antes de acelerar, primeiro tinha que se pensar em poupar combustível para ver a bandeirada. Na largada, Senna mantém a escrita e larga muito bem, assumindo a ponta da corrida. Por enquanto. A dupla brasileira saiu da Tamburello na liderança, mas com Piquet colado em Senna e antes mesmo da Tosa, já liderava a corrida, seguido por Senna e pela dupla da McLaren, já que Mansell havia largado muito mal e caía para quinto.

Com o carro mais equilibrado e, principalmente, com o motor mais eficiente da F1, Nelson Piquet tratou de abrir vantagem sobre Senna, que ao contrário do compatriota, tinha um motor notoriamente guloso. O brasileiro da Lotus sabia que tinha que poupar muito combustível para ir até o fim da prova e por isso Senna não resistiu aos ataques de Prost e Rosberg, caindo para quarto na terceira volta. Pior sorte teve Mansell. Com problemas no motor desde a largada, o inglês abandonou ainda na quinta volta após várias passagens nos boxes até o motor explodir. Se havia uma dupla de pilotos que eram bem diferentes no quesito estilo de pilotagem, era os pilotos da McLaren. O cerebral Prost e o agressivo Rosberg trocaram de posição logo após deixarem Senna para trás, com o finlandês não dando muita bola para o quesito consumo de combustível. E os pilotos da McLaren ficaram ainda mais despreocupados quando Senna abandonou ainda na 12º volta com problemas no rolamento de seu Lotus. Uma peça barata acabava com a corrida de um carro que custava milhões de dólares, enquanto Ducarouge se desesperava nos boxes da Lotus.

O pior era que os problemas dos brasileiros só começavam. Fazendo uma corrida ao seu estilo, cerebral, fria e calculada, Nelson Piquet liderava com facilidade, sem precisar poupar muito combustível, mas na volta 15 o brasileiro da Williams tem que abrandar o ritmo não para economizar, mas por problemas na embreagem do seu carro. Isso permitiu a aproximação da McLaren de Rosberg, que trazia Prost logo atrás. Porém, os carros branco e vermelho não podiam exagerar na perseguição à Piquet. Afinal, tinham que economizar... Foi então que a corrida foi decidida nos boxes. Isso mesmo que vocês leram. No mítico ano de 1986, os pilotos andavam devagar e as corridas também se decidiam nos boxes, como acontece nos dias de hoje. Piquet é o primeiro a parar e com problemas de embreagem, sai bem devagar, perdendo tempo. Os dois carros da McLaren pararam voltas mais tarde, mas o trabalho no pit-stop de Prost foi melhor e o francês emergiu na frente de Rosberg, com o problemático Nelson Piquet caindo para terceiro, tendo Michele Alboreto, empurrado pelos torcedores da Ferrari, indo para cima tentar um lugar no pódio. Porém, Piquet controlou bem a distância, mesmo com problemas e manteve Alboreto em quarto até o italiano quebrar o turbo nas voltas finais da corrida. Quando a prova realmente iria se decidir. Afinal, quem tinha economizado mais?

A corrida foi praticamente sem emoções, com os pilotos andando num rimo lento. A briga mais interessante se deu entre Berger e Johansson pela sexta posição, com os dois pilotos emergentes trocando de posição várias vezes. Porém, à medida em que as voltas escoavam, o sinal amarelo das equipes soava, com a probabilidade de algum abandono por pane seca. E o primeiro que encostou foi Keke Rosberg, com pane seca faltando duas voltas. O finlandês acelerou demais quando não era preciso, porém, isso fazia bem o estilo de Keke. Quem assumiria a terceira posição seria Riccardo Patrese, um verdadeiro especialista do circuito de Ímola e fazendo milagre com o mal-nascido Brabham BT-55, mas o comilão motor BMW deixou Patrese na mão. Outra pane seca. Surer e Ghinzani, que corriam mais atrás, seriam outras vítimas, mas ninguém deu muito bola. Quem seria, do pelotão da frente, que ficaria sem combustível. Prost abriu a última volta já pensando em comemorar uma vitória que lhe foi tirada uma ano antes, ali mesmo em Ímola, ao ter o carro desclassificado por estar 2 kg abaixo do regulamento. Porém, bem na descida da Rivazza, o motor Porsche apagou. Falta de combustível. Prost balançava o carro desesperadamente, enquanto que nos boxes, Ron Dennis puxava os últimos fios de cabelo que lhe restava. Prost batalhou, o motor funcionou, parou, mas Alain recebeu a bandeirada e logo em seguida parou seu carro definitivamente. Prost estava vingado de sua desclassificação de 1985. Piquet cruzava 7s depois em segundo, lamentando o problema na embreagem do seu carro. Com tantos abandonos, Berger, que havia superado Johansson numa briga que era inicialmente pela sexta posição, subia para terceiro e também subia ao pódio pela primeira vez. Numa corrida sem graça, onde os pilotos mais pouparam do que correram, dois dos pilotos mais cerebrais da história saíram com vantagem.

Chegada:
1) Prost
2) Piquet
3) Berger
4) Johansson
5) Rosberg
6) Patrese

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