terça-feira, 12 de abril de 2016

História: 35 anos do Grande Prêmio da Argentina de 1981

A F1 chegava à Buenos Aires imersa em polêmicas e triste pela morte de Mike Hailwood alguns dias antes dos primeiros treinos no circuito Oscar Galvez. Multi-campeão nas motos, Mike 'The Bike' também correu pela F1 no começo da década de 1970, se tornando um dos pilotos mais populares da história do esporte a motor. O rumoroso caso do desrespeito de Carlos Reutemann à ordem da equipe Williams de ceder sua posição para Alan Jones no Rio de Janeiro ainda dava muito o que falar, apesar de que os torcedores argentinos claramente apoiavam seu ídolo. Contudo, o clima dentro da Williams se tornava cada vez mais irrespirável e Jones chamava Reutemann de traidor a quem quisesse ouvir. Dentro da Ligier o clima não era menos ameno do que na Williams. Jean Pierre Jabouille finalmente estava pronto para estrear na equipe francesa após longa recperação, mas o piloto que o substituiu, Jean Pierre Jarier, criticou acidamente à Ligier pela forma como foi tratado enquanto correu pelo time de Guy Ligier, que se irritava cada vez mais com seu projetista chefe, Gerard Ducarouge, por causa da suspensão hidropneumática, onde todas as equipes tentavam copiar a ideia da Brabham e os franceses ainda sofriam com a novidade. Ligier ficou tão irritado que voltou à Paris ainda no sábado. Colin Chapman mais uma vez tentou inscrever seu polêmico Lotus 88 e recebeu um primeiro OK do Automóvel Clube da Argentina, mas num raro momento de concordância entre Ecclestone (FOCA) e Balestre (FISA), o Lotus foi declarado ilegal antes mesmo da corrida e Chapman, furioso, voltou à Europa cuspindo maribondo. O irônico era que Ecclestone tinha que lhe dar com várias reclamações da sua suspensão hidropneumática, instalada com sucesso na Brabham.

Apesar de tanta confusão fora das pistas, a F1 viu Nelson Piquet confirmar o favoritismo do seu Brabham e o brasileiro fez a pole sem nenhum esforço. Absolutamente ninguém estava surpreso com o desempenho de Piquet, mas o desempenho de Hector Rebaque incitou as rivais da Brabham a mostrar que o carro era mesmo ilegal, Afinal, o limitado mexicano ficar em sexto no grid... A Renault mostrava evolução e Alain Prost conseguia sua primeira fila na F1, superando por muito seu companheiro de equipe Arnoux. Havia uma briga toda particular dentro do boxe da Williams e para tristeza do público argentino, Jones superou Reutemann. Keke Rosberg conseguia uma incrível oitava posição com seu Fittipaldi, Elio de Angelis colocava o Lotus 81, trazido em caso de emergência se o modelo 88 fosse, realmente, desclassificado, em décimo e Jabouille decepcionava nesse seu retorno à F1, não conseguindo tempo para a corrida.

Grid:
1) Piquet (Brabham) - 1:42.665
2) Prost (Renault) - 1:42.981
3) Jones (Williams) - 1:43.638
4) Reutemann (Williams) - 1:43.935
5) Arnoux (Renault) - 1:43.997
6) Rebaque (Brabham) - 1:44.100
7) Villeneuve (Ferrari) - 1:44.132
8) Rosberg (Fittipaldi) - 1:44.191
9) Patrese (Arrows) - 1:45.008
10) De Angelis (Lotus) - 1:45.065

O dia 12 de abril de 1981 estava ensolarado em Buenos Aires e o clima estava perfeito para uma corrida de F1 e também de muita provocação. Os torcedores portenhos sempre invadiam o circuito Oscar Galvez para torcer por Carlos Reutemann, mas 35 anos atrás eles tinham mais motivos para fazê-lo. Primeiro, era o 39º aniversário de 'El Lole'. Segundo, e principalmente, havia a rixa com Jones e eram possível ver várias bandeiras com os dizeres 'REUT-JONES', numa paródia da placa mostrada no Rio. Porém, Jones parecia não ligar muito para as provocações e o australiano conseguiu uma grande largada, pulando para primeiro e se aproveitando da má largada de Prost. Piquet, que nunca largou bem, acompanhou Jones na primeira curva e por fora, garantindo o segundo lugar, seguido por Reutemann, Arnoux e Patrese.

Contudo, a superioridade do Brabham BT49C ficou evidente na facilidade com que Piquet ultrapassou Jones ainda na primeira volta e praticamente não seria mais visto pelos rivais, enquanto Patrese ultrapassava Arnoux, mostrando a boa forma do italiano e da Arrows. Mais atrás, um incidente incomum estraga a corrida de Arnoux, quando um pássaro atinge a asa dianteira do Renault do francês e René, com o carro desequilibrado, perderia muitas posições por causa disso. Porém, a atenção da torcida argentina estava na briga entre os dois pilotos da Williams. Ainda na terceira volta, Reutemann ultrapassou seu desafeto na reta oposta e a torcida argentina comemorou como seu fosse um gol do novo gênio Diego Maradona naquele dias. Contudo, a alegria não duraria muito. Prost e, surpreendentemente, Rebaque, faziam uma boa corrida de recuperação e ganhavam posições nas primeiras voltas, andando praticamente juntos. Enquanto Piquet abria 7s em cima de Reutemann em quatro voltas (!), Prost e Rebaque atacavam a dupla da Williams e quando ultrapassam Jones, que tinha problemas no motor, Prost e Rebaque começam a brigar pela terceira posição. Se Prost utilizava a potência do motor turbo nas retas, o mexicano era claramente mais rápido na parte mista do circuito. Na volta 11, Rebaque ultrapassa Prost no hairpin e imediatamente começa a ameaçar Reutemann, para tristeza da torcida portenha, que via seu ídolo ser atacado por um piloto reconhecidamente fraco.

Na volta 15, Rebaque ultrapassa Reutemann com facilidade, completando uma dobradinha da Brabham, com Piquet 20s na frente do companheiro de equipe, enquanto Reutemann controlava uma vantagem de 6s sobre Prost, que corria isolado, à frente de Jones e Arnoux. A corrida fica estática na frente, com Piquet passando a administrar a vantagem para Rebaque, enquanto Reutemann já aparecia 30s atrás do líder. A única briga era pelo sexto lugar, com Jones, com o motor cortando no final da reta, segurando Arnoux, com a asa dianteira quebrada, mas utilizando a potência do motor Renault turbo nas retas, e John Watson, vindo de outra corrida de recuperação com o novo McLaren MP4/1, o primeiro construído inteiramente de fibra de carbono na F1. As suspeitas do carro da Brabham era mesmo irregular não refletia no domínio de Piquet, que com praticamente um quinto de prova já administrava a corrida, mas pelo excepcional segundo lugar de Hector Rebaque, que fazia a melhor corrida de sua vida, porém, o mexicano teve uma quebra no distribuidor na volta 32 e Rebaque nunca mais teria outra chance de pódio em sua carreira.

A boa corrida de Watson praticamente termina quando o irlandês sente uma vibração na traseira do seu carro e vai aos boxes apenas para ser mandado de volta à pista, pois a McLaren não achara nada de anormal no novo modelo da equipe. A torcida argentina incentivava Reutemann e secava Piquet, mas nada podia deter o brasileiro. Nem mesmo uma laranja jogada por um torcedor argentino fanático nas voltas finais. Nelson Piquet conquistou provavelmente sua vitória mais tranquila na F1, com Reutemann chegando em segundo mais de 20s atrás do brasileiro, enquanto Alain Prost conquistava o seu primeiro pódio na F1. Mesmo com problemas em seus carros, Jones e Arnoux completaram a prova em quarto e quinto, enquanto Elio de Angelis superou todos os problemas em que sua equipe estavam envolvida e fechou a zona de pontuação. Mesmo derrotado em casa, Carlos Reutemann mostrou um raro sorriso quando a torcida cantou 'Feliz Aniversário' para ele no pódio, enquanto Piquet vibrava. O quase segundo lugar de Rebaque fez muitas equipes protestarem contra o Brabham BT49C, mas todas foram negadas. E Nelson Piquet entrava na briga que parecia ser apenas dos companheiros (?) da Williams.

Chegada:
1) Piquet
2) Reutemann
3) Prost
4) Jones
5) Arnoux
6) De Angelis

2 comentários:

  1. Piquet deu um coro no argentino na casa dele... E depois perguntam porque a gente gosta dele.

    ResponderExcluir