Na F1, assim como no esporte e na vida, é muito difícil conseguir lealdade das pessoas, principalmente em uma organização pequena e sem horizonte para crescimento. Porém, Pierluigi Martini fez isso com a simpática Minardi. Em seus praticamente dez anos de F1, Martini correu boa parte dela pela Minardi, lutando na parte inferior do grid e, eventualmente, conseguindo resultados bem acima do esperado na equipe em que participou desde antes de entrar na F1. Completando 55 anos no dia de hoje, vamos conhecer um pouco mais de Pierluigi Martini, mais conhecido no meio da F1 como Piero.
Pierluigi Martini nasceu no dia 23 de abril de 1961 na pequena cidade de Lugo di Romagna, próximo à Ravenna, na Itália. Desde cedo o pequeno (literalmente!) Pierluigi sempre esteve ligado às corridas. Seu primo mais velho, Giancarlo Martini, correu na Europa nos anos de 1970, incluindo uma participação numa corrida fora do campeonato de F1, na tradicional Corrida dos Campeões dos Campeões de 1976, em Brands Hatch, onde Giancarlo participou com uma Ferrari particular pela equipe Everest, cujo dono era xará do italiano e seria muito ligado ao seu primo mais novo no futuro: Giancarlo Minardi. O irmão mais novo de Pierluigi, Oliver Martini, também se tornou piloto, vencendo a F3 Italiana em 1997, mas não conseguiu o mesmo sucesso do irmão mais velho. Vivendo no meio das corridas, não foi surpresa ver Pierluigi estrear nas corridas quando completou 18 anos, na F-Abarth e no ano seguinte, se tornou campeão da categoria que servia principalmente para revelar jovens pilotos italianos. Em 1982 Martini se mudou para a forte F3 Italiana, vencendo três corridas, nas tradicionais pistas de Monza, Ímola e Misano, mas ficando apenas em quarto lugar no campeonato vencido por Enzo Coloni, que se tornaria dono de equipe na F1. Confiante com o seu bom resultado logo na estreia na F3, Martini permanece mais um ano na categoria, mas em 1984 participaria do Campeonato Europeu. Correndo pela equipe Pavesi, Martini começou o ano devagar, mas com quatro vitórias nas últimas cinco corridas, o italiano derrotou o dinamarquês John Nielsen e se sagrou campeão da temporada.
O talento de Martini já havia chamado a atenção de alguns chefes de equipe e ainda em 1983, Pierluigi é chamado por Minardi para participar de uma corrida na F2 e o italiano usa o seu conhecimento da pista de Misano para terminar num bom segundo lugar. Este era o primeiro contato mais forte entre Martini e Minardi, o que não demoraria muito para se transformar num longo casamento. A Lancia tentava se destacar no Mundial de Marcas utilizando vários pilotos italianos e em 1984 Martini foi contratado para participar de algumas corridas, incluindo as 24 Horas de Le Mans, mas o italiano acabaria abandonando a tradicional prova. Durante a dura e controversa negociação entre Ayrton Senna, Toleman e Lotus em meados de 1984, o piloto brasileiro acabaria suspenso da equipe inglesa e como Martini sempre andou bem na pista de Monza, foi chamado para correr o Grande Prêmio da Itália, mas sem muita experiência no carro e na F1, Pierluigi acabou não se classificando para a corrida, mas este seria o primeiro contato de Pierluigi Martini com a F1. Minardi já construía seu próprio chassi desde os tempos da F2 com o claro objetivo de entrar na F1 em algum momento e Giancarlo Minardi acho que este momento havia chegado quando a F2 acabou no final de 1984, dando lugar à F3000. Mesmo sem grandes resultados na F2, Minardi fez sua estreia na F1 em 1985 e teria como único piloto o jovem Pierluigi Martini, que tinha o status de campeão europeu de F3, mas com pouca experiência na F1, o mesmo acontecendo com a Minardi. A primeira corrida da Minardi ainda foi com o motor Ford-Cosworth aspirado, mas logo ganharia motores turbo da Motori Moderni, mas isso não fez tanta diferença para a equipe e Martini, que sempre largou nas últimas posições e só foi ver a bandeirada na última corrida do ano, no conturbado Grande Prêmio da Austrália. Martini tinha um ótimo relacionamento com Minardi, mas achou que tinha dado um passo maior do que a perna e resolve recuar para a F3000 em 1986.
Retornando à equipe que tinha sido campeão europeu em 1984, a Pavesi, Minardi teve um ótimo ano na F3000, vencendo duas vezes em pistas em que conhecia muito bem (Ímola e Misano), garantindo um bom terceiro lugar no campeonato. Permanecendo na equipe em 1987, Martini era um dos favoritos ao título, mas o italiano teve um ano abaixo do esperado, conseguindo apenas um segundo lugar em Enna-Pergusa como melhor resultado e um pálido décimo primeiro lugar no campeonato. Para 1988, Martini permaneceu mais um ano na F3000, agora pela equipe First, além de trocar o chassi Ralt pelo March. Contudo, Pierluigi não teve um ano vitorioso, ganhando em Enna-Pergusa, um ano depois de perder a corrida, mas na metade do ano, Martini seria convidado pela Minardi para retornar à F1 no lugar de Adrian Campos. E logo em sua reestreia, no difícil circuito de rua de Detroit, Martini mostrou que os quase três anos fora da F1 não lhe fizeram mal, conquistando o primeiro ponto da história da Minardi na F1 e também o do próprio italiano. Nos próximos anos, a história de Martini e Minardi se misturariam, como se fossem uma só. Martini quase marca outro ponto na última corrida do ano em Adelaide, mas seu bom resultado e o bom relacionamento com a equipe faz com que o italiano ficasse no time para 1989, quando a Minardi passaria a utilizar pneus da Pirelli. Os italianos retornavam à F1 após um hiato de três anos dispostos a mostrar que tinham potencial para rivalizar com a Goodyear e equipando equipes médias e pequenas, causou várias surpresas em 1989. Era Dallara na primeira fila, Brabham entre os dez primeiros e... Pierluigi Martini conseguindo um excelente quinto lugar no grid do Grande Prêmio de Portugal, no Estoril, pista onde a Minardi treinava bastante e Martini se adaptou muito bem. Meses antes os pneus Pirelli já tinha dado à Martini um ótimo quinto lugar no Grande Prêmio da Inglaterra, o melhor resultado da Minardi até então. Durante a corrida portuguesa, Martini não teve como enfrentar McLarens e Ferraris, mas adiando ao máximo sua parada, Martini estava na liderança na volta 40, sendo esta a única volta liderada pela Minardi. Quem estava ao volante? Claro, Pierluigi Martini. O italiano repetiria o bom resultado da Inglaterra ao chegar novamente em quinto em Portugal e somado ao ponto conquistado no caótico Grande Prêmio da Austrália, Martini conseguia cinco pontos para a Minardi, um verdadeiro feito para uma equipe que já era conhecida pela simpatia e pela pequenez. Mas ainda não havia acabado as surpresas causadas por Martini e os pneus Pirelli.
O clima para a abertura da temporada de 1990 estava muito pesado pelos acontecidos no final de 1989, mas a F1 deu um breve sorriso quando Pierluigi Martini surpreendeu a todos ao colocar a Minardi numa impressionante primeira fila, apenas 0.047s mais lento que o pole Gerhard Berger. Porém, uma má largada de Martini estragou a ótima posição de pista que tinha e aquela seria praticamente a única alegria do italiano no ano. Nos treinos para o Grande Prêmio de San Marino, Martini bate forte nos treinos, machucando o tornozelo e ficando de fora da prova onde sempre andava muito bem. A Goodyear melhorou seus pneus, estancando as surpresas da Pirelli e suas equipes pequenas. Martini acabou 1990 zerado, mas a expectativa para 1991 era muito boa, pois a Minardi conseguia o enorme reforço que era o motor Ferrari. As posições de grid melhoraram e em Ímola, Martini se aproveita dos vários abandonos numa corrida que começou com chuva e conquista um quarto lugar, seu melhor resultado na carreira. Em Estoril, pista dos sonhos de Martini e da Minardi, o italiano fez a melhor corrida de sua carreira e quase conquistou um pódio. Largando em oitavo, Martini ultrapassou Maurício Gugelmin e era o melhor do resto da F1 de 1991. Nas seis primeiras posições, estavam os carros de McLaren, Ferrari e Williams, as melhores equipes de 25 anos atrás. Martini não tinha como lutar com eles, mas se tivesse paciência, poderia conseguir um bom resultado, que começou a se materializar com a bizarra desclassificação de Mansell, por problema nos pits, e as quebras de motor de Berger e Prost. A Ferrari tinha receio de que o mesmo acontecesse com Alesi e pediu ao francês, terceiro colocado, abrandasse o ritmo, permitindo a aproximação de Martini, que tinha em seu encalço Ivan Capelli. Os três andaram juntos por um bom tempo, mas com Capelli abandonando no final e Alesi conseguindo um pequeno respiro, Martini conseguia um excelente quarto lugar.
Para 1992, a Minardi teria motores Lamborghini, que desde 1989 tentava acertar na F1 sem sucesso. Prevendo um ano difícil na Minardi, Martini resolveu por uma pequena separação com a Minardi, se transferindo para a Scuderia Italia, a antiga Dallara, mas com motores Ferrari. O ano parecia promissor como havia sido em 1991, mas a falta de desenvolvimento da Dallara fez com que a equipe, que até começou com Martini marcando dois sextos lugares de forma consecutiva em Ímola e em Barcelona, perdesse rendimento ao longo do ano e no final de 1992, a Dallara anunciou que estava saindo da F1. A Scuderia Italia ficou mais um ano na F1, agora em parceria com a Lola, mas Martini fica desempregado no começo de 1993. Pierluigi acharia abrigo na Minardi quando o dinheiro do limitado Fabrizio Barbazza acabou no meio da temporada, permitindo que Martini voltasse ao seu habitat natural, mas foi durante esse ano ano que Martini se envolveria na sua maior polêmica. Mesmo sendo gente boa, Martini não se dava muito bem com o jovem Christian Fittipaldi e durante o Grande Prêmio da Itália, os dois pilotos da Minardi brigavam pela sétima posição nas voltas finais. Na bandeirada, Christian tenta uma última manobra para ultrapassar o companheiro de equipe, mas Martini joga duro e os dois se chocam, fazendo com que Christian Fittipaldi desse um looping no ar e cruzando a linha de chegada com o carro todo arrebentado. Apesar do susto, Christian estava ileso e cuspindo maribondo, acusando Pierluigi Martini de ter jogado seu carro em cima do seu de forma proposital e ser um piloto sujo. Pelos vários anos juntos, Minardi ficou ao lado de Martini e o manteve para 1994, onde formaria com Michele Alboreto uma dupla de veteranos pilotos italianos. Martini supera Alboreto com facilidade e ainda marca quatro pontos no campeonato com dois quinto lugares, em Barcelona e Magny-Cours. Pontos esses que seriam os últimos de Pierluigi Martini na F1. A Minardi lutava pela sobrevivência e mesmo confiando cegamente no velho companheiro de tantas jornadas, Giancarlo Minardi substituiu Martini no meio da temporada de 1995, trocado pelos dólares de Pedro Lamy. Já contando com 34 anos de idade e sem nenhuma equipe em vista, Pierluigi Martini abandonou a F1 com 118 Grandes Prêmios e 18 pontos conquistados. A maioria pela Minardi...
Após sua saída da F1, Pierluigi Martini conseguiu algum sucesso nas categorias Endurance. Em 1996 ele disputaria novamente as 24 Horas de Le Mans com um Porsche da equipe Joest, mas acabaria abandonando. Martini voltaria à Scuderia Italia em 1997, agora correndo com um Porsche no FIA GT, onde conquistaria algumas vitórias. Em 1998 Martini se envolveria no projeto da BMW em Le Mans, na preparação da marca bávara para entrar com tudo na F1. Mais do que o belo protótipo, a BMW queria testar o motor, que seria a base do que seria utilizado na F1 em parceria com a Williams no ano 2000. Ao lado de Joachim Winkelhock e Yannick Dalmas, Martini conseguia seu maior resultado de relevo ao vencer as 24 Horas de Le Mans, Devidamente testado e comprovado, a BMW saiu do Endurance e passou a focar unicamente na F1, fazendo com que Pierluigi Martini abandonasse as corridas no começo de 2000, ao abandonar nas 12 Horas de Sebring. Martini participaria do mal-fadado projeto da GP Masters em 2006, além de ter visto com tristeza a Minardi finalmente sucumbir na F1 e ser vendida à Red Bull no final de 2005, transformando-se em Toro Rosso. Poucas vezes o binômio piloto-equipe ficou tão marcado como Pierluigi Martini e Minardi. Tanto que, quando a Red Bull preparou uma festa com carros antigos no Grande Prêmio da Áustria de 2015, quem dirigia um carro da Minardi? Pierluigi Martini, claro!
Parabéns!
Pierluigi Martini
Giancarlo Martini não era primo,mas sim tio de Pier-Luigi Martini.
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