Um ano atrás, Lewis Hamilton chegou ao pódio real de Mônaco com cara de poucos amigos e quase atropelando a placa de segundo colocado, tamanha era a sua frustração por ter perdido uma corrida que estava nas suas mãos. Hoje, Hamilton aproveitou uma estratégia certeira e um cochilo absurdo da Red Bull para voltar a ganhar no principado depois de oito anos, por coincidência, largando em terceiro numa corrida que começou com chuva e terminou com todos os carros usando pneus slicks. Em 2016 foi a vez de Daniel Ricciardo subir ao pódio, como se diz por aqui, fumando numa quenga. O australiano tinha claramente o melhor conjunto hoje e terminou em segundo lugar, fruto de um erro grotesco da Red Bull na segunda parada do australiano. Recuperando-se de uma temporada até agora mediana da Force India, Sergio Pérez voltou ao pódio com um ótimo terceiro lugar, segurando um também frustrado Vettel no fim.
As altas expectativas de uma corrida chuvosa em Mônaco não foram plenamente atendidas, mas ninguém em sã consciência poderá dizer que a corrida de hoje no principado não foi animada e cheia de histórias para contar. Com a pista encharcada, as primeiras voltas em safety-car fizeram com que os pilotos pegassem a mão de uma situação em que ainda não tinham enfrentado, além de ter dado tempo para a chuva cessar. E formar um trilho. Tão logo o safety-car foi para os boxes, pilotos começaram a colocar pneus intermediários, enquanto Ricciardo disparava na frente, seguido pelos dois carros da Mercedes. O desempenho de Nico Rosberg em Monte Carlo foi simplesmente bisonho do início ao fim, com seu ritmo chegando a ser 2.5s inferior ao de Ricciardo, fazendo que uma enorme fila se formasse atrás do alemão. Precisou a Mercedes mandar Rosberg deixar Hamilton passar e o inglês começar uma corrida histórica. Ricciardo, mesmo com pneus de chuva extrema, era o mais rápido na pista e já tinha 13s de vantagem para Hamilton. Enquanto a pista melhorava e os pilotos trocavam para os intermediários, Hamilton e a Mercedes pensaram fora da caixa. Com Monte Carlo já apresentando um sol forte, porque não retardar ao máximo a parada e colocar pneus slicks de uma vez? Ricciardo colocou pneus intermediários, colou em Hamilton, muito mais lento com pneus para chuva extrema, mas o inglês se manteu na ponta. Quando Marcus Ericsson colocou pneus slicks, a Mercedes recebeu o sinal de sua estratégia havia sido certeira e Hamilton foi aos boxes. Contudo, o desempenho de Ricciardo era tão bom, que o australiano, mesmo com pneus intermediários, inapropriados naquele momento, ainda era mais rápido do que Hamilton com pneus slicks. Contudo, Daniel não contou com o erro bisonho da Red Bull de não estar pronta nos pits para a chegada do australiano, enquanto Verstappen tinha acabado de parar nos pits. Foi um erro determinante para o resultado da corrida. Perdendo muito tempo, Ricciardo estava atrás de Hamilton, mesmo muito mais rápido, mas incapaz de realizar a ultrapassagem vencedora. Apesar de estar com os pneus ultramacios, Hamilton completou mais 40 voltas com esses pneus, revertendo a lógica, ganhando sua primeira corrida de 2016 e com o péssimo resultado de Rosberg, entrando de vez na briga pelo título. Nico teve uma corrida simplesmente para esquecer. Lento com piso seco ou molhado, o alemão teve a pior corrida desde que a Mercedes passou a dominar a F1, com direito a ultrapassagem sofrida na última volta por Nico Hulkenberg, quando uma garoa chegou a assustar os pilotos nas voltas derradeiras. Hamilton parecia nitidamente emocionando, pois ele saiu de uma situação muito complicada tanto na corrida, como no campeonato, pois o inglês descontou bons pontos de Rosberg.
Se em Barcelona a Red Bull venceu muito pelo acidente entre os carros da Mercedes, em Monte Carlo a equipe austríaca tinha o melhor carro da pista, algo que não se via desde 2013, quando era a equipe rubro taurina que dominava a F1. A frustração de Daniel Ricciardo com o segundo lugar é um claro sintoma de que a equipe dos energéticos está voltando a boa forma, deixando ainda mais claro que o mimimi e o chororô de Horner e Marko nos últimos anos era mesmo injustificável. Trabalho forte vale muito mais à pena do que chorar na imprensa. O novo motor Renault rendeu bons dividendos para a parceria, que rendeu uma renovação até 2018. Mais uma vez Ricciardo não foi bafejado pela sorte, mas o australiano é um dos destaques da temporada com uma ótima pilotagem e se não fosse o erro de sua equipe, teria vencido com sobras esse Grande Prêmio de Mônaco. Estrela quinze dias atrás, Max Verstappen fazia uma boa corrida de recuperação após largar em penúltimo, com ultrapassagens seguras (quando se esperava o contrário...) e um bom ritmo, mas o jovem holandês acabou batendo na curva do Cassino, trazendo um dos vários Safety-car virtuais que marcaram a corrida de hoje. A Force India vinha numa temporada abaixo da expectativa após o time hindu fechar muito bem 2015 e numa pista onde não muito favorável, a FI conseguiu seu melhor resultado, colocando Sérgio Pérez no pódio. O mexicano foi ajudado por Felipe Massa, que segurou Sebastian Vettel por várias voltas e quando colocou os pneus intermediários, Pérez saiu à frente do alemão da Ferrari, garantindo uma ótima posição de pista. Quando colocou os pneus macios, enquanto Hamilton e Ricciardo colocaram pneus ainda mais moles, parecia até que Pérez garantiria uma surpreendente vitória, mas os dois pilotos da frente conseguiram finalizar a corrida sem mais paradas, mas ainda assim Pérez não tem do que reclamar. Largando na frente do companheiro de equipe, Hulkenberg mais vez se vê atrás do mexicano no final da corrida, quando Nico usou a mesma tática de Vettel e acabou preso atrás de Massa. Se serve de consolo, Hulkenberg ultrapassou seu xará na última volta, garantindo um bom sexto lugar, na melhor corrida da Force India em 2016.
Assim como aconteceu na quinzena passada, a Ferrari teve outra corrida abaixo das expectativas. Numa prova com chuva e onde a Mercedes não dominou, o time italiano sequer subiu ao pódio, com Vettel ficando em quarto. Pode-se argumentar que Vettel foi atrapalhado por Massa, quando o brasileiro retardou sua troca de pneus de chuva extrema para intermediários, mas Vettel não conseguiu ultrapassar um carro nitidamente mais lento do que o seu e pouco ameaçou Pérez, que tinha os mesmos pneus do que ele. Raikkonen foi ainda pior, batendo na Lowes no começo da prova e sendo um dos primeiros abandonos do dia. A McLaren ainda está longe dos seus tempos de glória, mas há uma nítida evolução dos carros negros. Alguém poderia supor Alonso segurando Rosberg por mais da metade da corrida? Pois foi exatamente isso que Alonso fez, usando, claro, seu talento, mas mostrando que há muito potencial no chassi e o motor Honda, verdadeiro calcanhar-de-Aquiles da parceria, também vai evoluindo, garantindo outro bom resultado à Alonso, sendo que Button também pontuou, com um sólido nono lugar. Mesmo com Verstappen batendo, a troca que Marko fez entre o holandês e Daniil Kvyat vai se mostrando cada vez mais válida. O russo teve problemas logo no início da prova, perdendo uma volta, mas com um bom carro nas mãos, Kvyat se meteu em brigas que não valiam posições e acabou batendo em Magnussen. Mesmo rápido, falta preparo mental para o russo, que vire e mexe, está batendo em alguém. Enquanto isso, Carlos Sainz fechava a fila iniciada por Alonso, que tinha também Rosberg e Hulkenberg, com Sainz terminando em oitavo. Para quem chegou em Monte Carlo falando que podia brigar com a Red Bull, a Williams teve um final de semana horroroso, onde somou dois fatores em que o time de Grove tem verdadeiro pânico: pista travada e chuva. Massa ainda salvou um pontinho, enquanto Bottas ficou a corrida inteira fora da zona de pontos. Uma corrida muito abaixo do esperado.
A Renault não tem muito o que comemorar, com seus dois carros batidos e seus dois pilotos abandonando, enquanto a Manor ficou muito para trás, numa pista em que Jules Bianchi foi nono dois anos atrás, com muito menos recursos. Porém, ainda pior esteve a Sauber. Alguém ainda lembra da musiquinha do Ratinho quando haviam os testes de DNA? Pois ela deve ter tocado no motorhome da equipe enquanto seus dois pilotos chegaram aos boxes após baterem na Rascasse. Ericsson assumiu o erro numa ultrapassagem, no mínimo, imprudente do sueco, mas já havia polêmica no ar quando a Sauber mandou Nasr ceder a posição para Ericsson e o brasiliense simplesmente se negou. Algumas curvas mais tarde, Ericsson fez a cagada e a corrida da Sauber estava terminada. A falta de moral da Sauber é tamanha, que mesmo a mensagem tendo vindo do topo, Nasr simplesmente ignorou e o piloto brasileiro pareceu ter recebido apoio veemente do seu tio Amir Nasr, após seu abandono. Antes que alguém me chame de machista, Claire Williams fez um bom trabalho na equipe do seu pai, tirando o time da nona posição do Mundial de Construtores para uma posição em que sempre pontua, mesmo a Williams estando, hoje, abaixo de suas altas pretensões. Mas desde que Monisha Katelborn assumiu a liderança da Sauber, o que vemos é a equipe do velho Peter Sauber perdendo patrocínios, se metendo em enrascadas (como não esquecer o rumoroso caso Giedo van der Garde ano passado) e sem a liderança que Peter tinha na equipe. A Sauber está mal e talvez esteja na hora, assim como no futebol, de mudar de técnico. Melhor dizendo, de diretora...
A corrida em Mônaco teve de tudo e mesmo sem muita emoção nas voltas finais, houve muita história para ser contada. Hamilton se recuperou de sua frustrante derrota um ano depois, cedendo o cetro da frustração para Ricciardo, mesmo isso sendo um bom sinal, pois significa que a Red Bull está crescendo, o mesmo não acontecendo com a Ferrari. Se não teve problemas técnicos, foi inaceitável o desempenho de Nico Rosberg no dia de hoje, abrindo a porta para que Hamilton comece a voltar a ter o sonho do tetracampeonato nas mãos.
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