A famosa frase de Murici Ramalho sobre os seus áureos tempos no São Paulo já foi utilizada aqui, sobre a pista de Spa, mas hoje vale a pena usar novamente. A pista de Spa Francorchamps nem precisa de chuva para proporcionar uma corrida emocionante e cheia de histórias para contar, mesmo que uma tenha sido bem perigosa, no forte acidente de Kevin Magnussen. As dez primeiras voltas aconteceram de tudo no Grande Prêmio da Bélgica, com vários toques e incidentes que ajudaram bastante Lewis Hamilton sair da última fila para o pódio, diminuindo bastante o prejuízo até mesmo calculado do inglês. A vitória de Nico Rosberg era ainda mais obrigação do que o ouro olímpico no futebol masculino no Rio de Janeiro e o alemão da Mercedes conseguiu sua vigésima vitória com imensa tranquilidade, seguido de Daniel Ricciardo.
Nas corridas da Inglaterra e na Alemanha, foi possível ver o fator casa definindo ou não a atuação dos pilotos anfitriões. Mesmo correndo sobre a bandeira holandesa, Max Verstappen é belga de nascimento e ainda mora no país. Contudo, os torcedores holandeses coloriram Spa de laranja e o jovem piloto da Red Bull estava tendo outro ótimo final de semana, incluindo outro recorde de precocidade quebrado (mais jovem a ocupar um lugar na primeira fila). Porém, a corrida de Max em 'casa' foi desastrosa do começo ao fim. Uma má largada fez com que Verstappen ficasse atrás das duas Ferraris, mas no pouco espaço entre a largada e a curva Source, Max resolveu colocar por dentro de Raikkonen, estragando a corrida do finlandês, de Vettel, que rodou ao ser atingido por Kimi, além da própria corrida de Verstappen, que teve que trocar a asa dianteira ainda na primeira volta. Mesmo não fazendo uma largada espetacular, Nico Rosberg se manteve tranquilamente em primeiro e com a confusão em que se meteram seus mais próximos perseguidores, Nico já tinha 4s de vantagem para o segundo colocado Nico Hulkenberg. Assim como na classificação, pareceu que Rosberg em nenhum momento forçou 100% do potencial dele e o do carro para vencer, acabando com a espetacular sequência de Hamilton, contudo, a subida ao pódio do companheiro de equipe da Mercedes deve ter estragado um pouco a festa de Nico. Hamilton fez uma largada cuidadosa, perdendo até mesmo a posição para Alonso, que largava atrás dele. Porém, os vários incidentes na primeira volta viram Hamilton rapidamente subir para 12º e com a bandeira vermelha, colocou os pneus macios, após largar com os médios. Lewis não fez uma empolgante corrida de recuperação, mas fez as ultrapassagens necessárias e soube aproveitar a situação para minimizar os prejuízos pela programada troca de motor que teria que fazer em algum momento na segunda metade da temporada. Hamilton largou pensando no sétimo lugar, posição que o mantinha na liderança do campeonato. Pois o inglês fez mais e ainda tem nove pontos de vantagem sobre Rosberg.
Daniel Ricciardo largou muito mal, mas o australiano contou com a 'ajuda' do seu companheiro de equipe para permanecer no pelotão da frente, logo assumindo o segundo lugar que manteve até a bandeirada. Com uma estratégia levemente diferente de Nico Rosberg, Ricciardo não ameaçou o alemão, mas se manteve solidamente em segundo, segurando bem o ataque de Hamilton quando o inglês ficou 1s atrás e com pneus mais macios. Ricciardo sofreu um baque com todo o sucesso de Verstappen, mas também fez com que o australiano crescesse e Daniel fez outra bela corrida, superando mais uma vez pelo menos um carro da Mercedes e subindo ao pódio, ficando cada vez mais consolidado no terceiro lugar do Mundial de Pilotos. Logo após bater nas duas Ferraris, Verstappen aprontou poucas e boas, principalmente na primeira volta, quando não tinha condições de andar rápido, mas nem por isso aliviou para cima dos seus concorrentes, fechando alguns pilotos, como Sergio Pérez e Valtteri Bottas, quando não tinha condições de fazê-lo. Depois, encontrou mais uma vez Raikkonen e os dois tiveram uma animada disputa onde Kimi ficou injuriado com as manobras de Max novamente. Verstappen errou a estratégia, colocando os pneus errados nos momentos errados e o resultado foi uma decepcionante 11º posição, não marcando pontos quando largou na primeira fila, além de mostrar alguma falta de preparo psicológico em vários momentos. Com 18 anos, Verstappen tem um talento incrível, mas precisa domar algumas vezes seus impulsos, para não criar momentos perigosos. A Ferrari tinha chance de andar até na frente da Red Bull hoje, mas o açodamento de Verstappen na primeira curva, mais uma curva bem fechada de Vettel na Source, que o fez ser tocado por Raikkonen, estragou o dia italiano. Vettel fez uma boa corrida de recuperação, mas foi apenas sexto, enquanto Raikkonen teve toques com Verstappen e Grosjean, além de mostrar pouca aptidão em ultrapassar. Os pilotos da Ferrari chegaram praticamente juntos em cima das Williams e da McLaren de Alonso. Vettel ultrapassou todos. Raikkonen, só passou Massa...
Se a Williams queria brigar pelo terceiro lugar no Mundial de Construtores no começo do ano, em Spa a equipe mostrou que, de fato e de direito, não está nem mais em quarto lugar, ultrapassado pela Force India em pontos e em desempenho. Nico Hulkenberg poderia ter dado o pulo do gato quando era o piloto mais bem colocado com uma parada já feita, quando veio a bandeira vermelha e todos os carros puderam trocar de pneus. Hulk poderia ter conquistado seu primeiro pódio, mas o quarto lugar do alemão foi bastante comemorado, o mesmo acontecendo com Sérgio Pérez, que chegou 3s depois, mesmo tendo andado bem atrás do que o companheiro de equipe. A bela ultrapassagem de Pérez em Massa na Les Combes mostra bem que a Force India assumiu o lugar da Williams de segunda melhor equipe com motor Mercedes. A Williams fez uma corrida dentro da sua possibilidade, com Bottas sendo oitavo e Massa em décimo, com seus pilotos não sendo páreos para Vettel e Pérez, além de não ter conseguido ultrapassar a McLaren de Alonso. O rabugento espanhol fez a melhor corrida desde que entrou na McLaren. Largando em último, após ter um final de semana extremamente problemático, onde mal andou nos treinos, Alonso talvez tenha tido uma corrida ainda mais espetacular do que a de Hamilton, levou seu McLaren-Honda, ainda com sérios déficits de potência, ao sétimo lugar, na frente da Williams com motor Mercedes. Um ano atrás, um motor Honda na frente de um motor Mercedes seria impossível, por isso, palmas aos japoneses. O talento de Alonso e o equilíbrio do chassi McLaren fez o resto para conseguir o bom resultado. Button foi uma das vítimas da primeira volta e abandonou cedo.
A Renault tinha tudo para pontuar, mas o grave acidente de Kevin Magnussen trouxe a bandeira vermelha que juntou tudo novamente. O dinamarquês perdeu o controle na saída da Eau Rouge, batendo seco no muro de pneus, fazendo até a proteção da cabeça de Kevin sair voando! Miraculosamente Magnussen saiu do acidente apenas com um corte no tornozelo esquerdo, apesar de toda a desaceleração e do seu Renault ter ficado destruído. Jolyon Palmer estava na frente de Magnussen e quando os carros ficaram juntos após a bandeira vermelha, o inglês foi alvo fácil, sendo ultrapassado em sequência. Grosjean foi outro que andou numa posição pontuável, junto com o companheiro de equipe e ainda zerado no campeonato Esteban Gutierrez, mas perdeu rendimento durante a prova. Esteban Ocon estreou na Manor já andando na frente da Sauber de Nasr, que foi o último colocado. Mesmo com novo investidor, será difícil a Sauber sair do poço onde se encontra.
A corrida teve vários lances de emoção, com toques, belas disputas e até mesmo um sério acidente, mas entre vários carros danificados, salvaram-se todos. Nico Rosberg fez o que dele se esperava com Hamilton largando tão atrás, mas o alemão não deve ter ficado muito satisfeito com a eficiente corrida de Hamilton, que subiu ao pódio novamente, contra todos os prognósticos. Alonso fez uma corrida mitológica com seu McLaren. Ricciardo novamente separou as Mercedes. Foram várias ótimas atuações. Afinal, não é Spa que separa os meninos dos homens?
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