Como era de esperar, o Grande Prêmio da Áustria de 1976 tinha um ambiente sombrio pelo estado de saúde de Niki Lauda, que quase morreu quinze dias antes em Nürburgring. Porém, o austríaco se recuperava bem dos seus problemas respiratórios, se transferindo para outro hospital para realizar transplantes de pele por causa das queimaduras, principalmente no seu rosto. Após sair do hospital, Lauda voltou para casa e surpreendentemente foi inscrito para o Grande Prêmio da Itália, 42 dias depois do seu acidente em Nürburgring. Ou não? De forma bombástica, a Ferrari anunciava que estava abandonando o Campeonato Mundial de 1976, incluindo a não participação da corrida na Áustria. Enzo Ferrari estaria aborrecido com as duas corridas ganhas pela McLaren (Espanha e Inglaterra) de forma, segundo a visão ferrarista, estritamente política. Ainda pensando em ser campeão, Lauda fica furioso com a decisão e passou a ligar constantemente para a Ferrari, dizendo que ainda tinha chances de ser campeão e que a Ferrari não deveria abdicar do campeonato. Lauda diria mais tarde que Daniele Audetto queria, na verdade, anular o Grande Prêmio da Áustria, tirando uma corrida do calendário e diminuindo as chances de James Hunt tirar a diferença que tinha para Lauda.
Com a Ferrari de fora na Áustria, Hunt tinha uma ótima chance de descontar a desvantagem que tinha para Lauda no campeonato, que eram de 14 pontos, faltando seis provas para o fim. Hunt pôde testar em Zeltweg, uma semana antes da corrida, o novo McLaren M26, além de um melhorado M23, conseguindo bater o recorde da pista com ambos os carros! Porém, ambos se mostraram pouco confiáveis, principalmente em ritmo de corrida. Chocado com o acidente de Lauda, Chris Amon decidiu abandonar a carreira, sendo substituído pelo piloto local Hans Binder, na Ensign. Era a primeira indicação de Helmut Marko na F1... José Carlos Pace iria testar um novo freio de carbono na Brabham-Alfa Romeo, inspirado no Concorde. Na sexta-feira, Hunt, sem surpresas, ficou com o tempo mais rápido. Para surpresa de todos, porém, o segundo lugar foi ocupado por Watson com a Penske funcionando perfeitamente nesta pista austríaca. As surpresas continuaram com Peterson, vencedor em 1973, em terceiro à frente do compatriota Nilsson, na melhor qualificação do piloto da Lotus. Laffite era quinto, à frente da Shadow DN5B de Pryce. No sábado, uma chuva forte caiu pouco antes do início do treino e o grid de largada foi baseado nos tempos da sexta-feira.
Grid:
1) Hunt (McLaren) - 1:35.02
2) Watson (Penske) - 1:35.84
3) Peterson (March) - 1:36.34
4) Nilsson (Lotus) - 1:36.46
5) Laffite (Ligier) - 1:36.52
6) Pryce (Shadow) - 1:36.56
7) Brambilla (March) - 1:36.59
8) Pace (Brabham) - 1:36.66
9) Andretti (Lotus) - 1:36.68
10) Scheckter (Tyrrell) - 1:36.91
O dia 15 de Agosto de 1976 amanheceu nublado e com muita chance de chuva em Zeltweg, deixando o clima do Grande Prêmio da Áustria de 1976 ainda mais sombrio e triste. Sem Niki Lauda e a Ferrari, haviam pelo menos cem mil pessoas a menos nas arquibancadas, fazendo com que os organizadores tivessem um enorme prejuízo. Os promotores austríacos pensaram em processar a Ferrari pela confusão causada nos dias anteriores a corrida, o que afugentou ainda mais os espectadores. Para piorar, uma chuva forte caiu no Österreicherring, fazendo com que as equipes colocassem pneus para chuva antes da largada, mas logo a precipitação parou e ficou a dúvida com que pneu largar. O já influente Ecclestone solicitou o atraso em meia hora da largada, dando tempo para que a pista secasse e os pilotos, mesmo com nuvens ameaçadoras ao redor do circuito, largassem com pneus slicks. Watson largou melhor do que Hunt e assumiu a liderança na primeira curva, seguido por Nilsson, Peterson e Laffite.
Durante a primeira volta, os pilotos descobriram uma pista ainda úmida em sua primeira parte, mas completamente seca no resto do circuito. Hunt pressionava Watson, enquanto Peterson ultrapassa Nilsson na curva Flatschach e, em seguida, o sueco ultrapassa Hunt na descida para a curva Bosch. Laffite era ultrapassado por Pryce. Rapidamente Peterson ataca Watson, tentando a ultrapassagem em todas as curvas possíveis, mas o irlandês se segurava. A animada briga durou até a terceira volta, com Peterson assumindo a liderança, enquanto Hunt era pressionado por Nilsson. Os suecos estavam andando como nunca, 40 anos atrás! Porém, Peterson não dispara, com Watson, Hunt e Nilsson permanecendo perto dele. Vindo de uma corrida de recuperação, após não poder melhorar seu tempo no sábado, Jody Scheckter vinha forte e na sexta volta o sul-africano deixou Nilsson para trás para ser quarto com seu Tyrrell de seis rodas. Numa corrida impressionante, Scheckter ultrapassa Hunt e Watson numa volta, ganhando oito posições em sete voltas! Scheckter já estava atacando Peterson, porém o sueco era um obstáculo mais difícil. Watson, Hunt e Nilsson permaneciam à esteira, na melhor corrida do campeonato até então, com os seis primeiros colados nas dez primeiras voltas.
Os líderes começam a alcançar os primeiros retardatários e Jarier começou a mudar a cara da corrida, atrapalhando os líderes de forma inacreditável. Nilsson consegue ultrapassar Hunt. Na Jochen Rindt Kurve, Scheckter mergulha e consegue assumir a primeira posição. Porém, Jarier não saía do caminho... Segundos depois, Scheckter é atrapalhado por Jarier na reta principal. Peterson ultrapassa por dentro na primeira curva, enquanto Watson fica bem atrás da Tyrrell. Peterson assumiu a liderança, Watson, em seguida, sobe para segundo, ultrapassando Scheckter, que tentou dar o troco no piloto da Penske na curva Voest-Hügel, sem sucesso. Perdendo o momentum, Scheckter é ultrapassado por Nilsson na Jochen Rindt Kurve. Scheckter caiu para quarto lugar e a mãe de Jarier deve ter sido bastante xingada por Jody! Watson volta ao comando da corrida na volta 12, enquanto Nilsson, Scheckter e Hunt ficam um pouco para trás. No meio das disputas por posição, Scheckter danificou a frente do seu Tyrrell, provocando uma saída de pista do sul-africano, que bateu no guard-rail, fazendo-o abandonar uma corrida de recuperação empolgante, no mesmo momento em que Pryce abandonava, totalmente sem freios. Watson conseguia uma pequena diferença de três segundos à frente de Peterson e seis segundos à frente de Nilsson. Atormentado por um problema de equilíbrio no seu carro, Hunt perdia contato com os líderes. Nilsson aumenta o ritmo e toma a segunda posição de Peterson na volta 19. Com o céu mais claro, diminuindo a tensão de uma possível chuva durante a corrida, Watson liderava com 5s de frente para Nilsson, que tinha 1s de vantagem para Peterson. Hunt já aparecia 10s e era acossado por Laffite, Mass e Andretti. Enquanto Watson abria na frente, Peterson passa a ter problemas nos freios e começava a ser atacado por Hunt e toda a trupe que vinha atrás dele. As emoções do Grande Prêmio da Áustria de 1976 não paravam!
Com um carro desequilibrado, Hunt é ultrapassado por Laffite, que logo passa a atacar um também problemático Peterson. Como sempre, o sueco nunca aliviava e o francês demorou várias voltas para assumir o terceiro lugar, tendo que descontar 6s para Nilsson, que vinha 15s atrás de Watson. Mesmo com um carro ruim, Hunt ultrapassa Peterson para ser quarto. A corrida fica mais estática, mas Laffite descontava a diferença para Nilsson, enquanto Pace tem um perigoso acidente quando um superaquecimento do fluído do seus freios de carbono faz com que o brasileiro da Brabham fique momentaneamente sem freios e saía da pista de forma perigosa. Felizmente Pace estava ileso, mas os freios de carbono seriam arquivados por um longo tempo.
Nas últimas voltas, Laffite encostou em Nilsson, enquanto Andretti atacava um problemático Peterson pela quinta posição. Com o carro mais rápido da pista, Laffite assume facilmente a segunda posição e parte ao ataque em cima de Watson, que tinha no momento 14s de frente. Brambilla aprontava mais uma e tirava ele e Emerson Fittipaldi da prova. Um gentleman, Emerson ainda ajudou o italiano sair do carro, enquanto Andretti assumiu o quinto lugar de Peterson. Laffite é atrapalhado por retardatários e não pôde continuar sua caça à Watson, que mantém uma vantagem de 10s. No final de 54 voltas, John Watson conseguiu sua primeira vitória na Fórmula 1, e também a primeira vitória da Penske, exatamente um ano depois da morte de Mark Donohue em um dos seus carros na Áustria. Autor de uma corrida esplêndida, Laffite obtém o segundo lugar, o melhor resultado da Ligier-Matra até então. Nilsson resistiu a um ataque final de Hunt para subir ao seu segundo pódio na temporada. Andretti foi quinto e Peterson foi mal recompensado por seu início impressionante de corrida, mas o seu sexto lugar foi o seu primeiro ponto na temporada 1976. Hunt ficou decepcionado com a sua corrida, uma vez que tirou apenas três pontos de Lauda, agora onze pontos na frente. Num pódio surpreendente, uma equipe americana vencia na F1 pela primeira vez em nove anos. John Watson cultivava uma larga barba e fez uma aposta com Roger Penske de que a tiraria quando vencesse pela primeira vez na F1. Logo após a corrida, Watson aparecia com a cara lisa e feliz!
Chegada:
1) Watson
2) Laffite
3) Nilsson
4) Hunt
5) Andretti
6) Peterson
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