domingo, 23 de outubro de 2016

Anticlímax

Faltando pouco para o desfecho do campeonato 2016 da F1, não se pode negar que a expectativa para as últimas corridas do ano crescem, ainda mais com uma disputa de título ainda em aberto entre os dois pilotos da Mercedes. Porém, num anticlímax total, a corrida em Austin foi um verdadeiro porre, com a pendenga sendo decidida na largada, quando Hamilton tomou a ponta para não ser mais incomodado e partir para a sua vitória de número 50, enquanto Nico Rosberg contou com um Virtual Safety Car para ficar em segundo lugar, algo que parecia distante, pelo ritmo imposto por Daniel Ricciardo. Numa corrida em que dois carros do trio de ferro quebraram, o melhor do resto foi Fernando Alonso, numa ótima corrida do espanhol.

Austin bateu o recorde de público nas arquibancadas e de celebridades nos boxes, mas os expectadores que foram à bela pista texana se decepcionaram com uma corrida morna em praticamente todas as suas voltas. Hamilton não largou muito bem, mas fez o suficiente para se manter na ponta e partir para a sua quarta vitória em Austin, além da 50º na carreira, se aproximando de Prost de ranking histórico de vitórias na F1. Mais duas vitórias e Lewis terá apenas Schumacher na sua frente, mas com praticamente 40 triunfos de diferença, será difícil Hamilton alcançar o mito alemão. Contudo, em 2016, tudo o que Hamilton mais quer é alcançar outro alemão, no caso, Nico Rosberg, que fez sua pior corrida desde o fim das férias na F1. O tedesco da Mercedes mostrou o porquê ser tão criticado quando largou de forma convencional, mas invés de tentar alguma manobra em cima de Hamilton, colou em seu companheiro de equipe, estendendo o tapete para que Ricciardo fosse por dentro e  lhe tomasse a segunda posição. Depois disso, Rosberg teve um ritmo de corrida medíocre, onde não teve nenhuma situação em que atacaria Ricciardo, mas um Virtual Safety Car na hora correta fez com que Nico assumisse a segunda posição e garantisse mais uma dobradinha para a Mercedes. Se chegasse em terceiro, a situação de Rosberg poderia complicar no campeonato, mas ficar logo atrás de Hamilton manteve o campeonato ainda sob total controle de Rosberg. Sorte de campeão hoje? Talvez, mas Nico Rosberg precisa mostrar mais garra para conseguir o seu objetivo.

Mesmo com a enorme reta oposta, a Red Bull foi capaz de andar no mesmo nível da Mercedes de Nico Rosberg, deixando o líder do campeonato ensanduichado entre os dois carros da Red Bull. Os austríacos tentaram de tudo para manter Daniel Ricciardo em segundo, além de colocar Max Verstappen na frente de Nico, o que tiraria o campeonato das mãos do alemão, mas tudo começou a desandar pelos lados da Red Bull no desastrado segundo pit-stop de Max, que apareceu nos pits quando a equipe não o esperava. Porém, o pior viria voltas mais tarde, quando o holandês teve problemas em seu carro e ao não conseguir chegar aos boxes, encostou seu carro e com um trator entrando na pista, o Virtual Safety Car entrou em cena. Ricciardo tinha acabado de fazer sua parada derradeira e estava atrás de Rosberg, que aproveitou a situação para entrar nos pits e tomar a posição do australiano. Se decepcionar com um terceiro lugar é um bom sinal para a Red Bull, o que significa uma maior aproximação com a Mercedes e ter Ricciardo entre os dois carros prateados era o normal hoje, mas as circunstâncias não deixaram. A Ferrari fez uma corrida discreta, onde os italianos não se entenderam com os pneus médios e ainda viu Raikkonen abandonar por culpa da equipe, que 'soltou' o finlandês antes da hora num pit-stop e Kimi acabou abandonando com a roda solta. Vettel esticou ao máximo o primeiro stint, dando a sensação de que poderia tentar algo diferente, mas o alemão só conseguiu mesmo o quarto lugar, sendo o último do hoje trio de ferro da F1.

O melhor do resto foi, provavelmente, o melhor piloto na pista. Alonso não deixou de dar sua patada na McLaren, quando ficou no meio das Renaults após sua primeira parada. Porém, o espanhol fez uma corrida sublime e nas voltas finais garantiu o parco entretenimento do dia, ao ultrapassar Felipe Massa e Carlos Sainz para ser quinto colocado, ou o melhor do 'resto' na F1. Seu grito à la cowboy, após ultrapassar Sainz na penúltima volta mostrou o quanto Alonso se divertiu hoje, o mesmo acontecendo com seu companheiro de equipe Button, que saiu de 19º para 9º. Numa reta oposta enorme, o motor Honda não sofreu como no ano passado, mesmo os japoneses ainda estarem longe de serem os mais rápidos nas retas. Mas levando-se em conta como a McLaren-Honda estava ano passado, pontuar com seus dois pilotos e ainda ser o melhor do resto é uma grande evolução. Carlos Sainz saiu bem da confusão da primeira curva, onde esteve perto de ser envolvido, e passou a maior parte da corrida atrás de Massa, mas o espanhol foi um que aproveitou o bem o VSC e pulou na frente do brasileiro. Se Sainz segurou sem maiores arroubos o brasileiro, não conseguiu o mesmo com o seu compatriota, mas Carlos conseguiu bons pontos para a Toro Rosso, o mesmo não acontecendo com Daniil Kvyat. O anúncio da renovação do russo com a Toro Rosso foi surpreendente e bastou chegar a corrida para provar isso, com Kvyat batendo infantilmente na traseira de Sergio Pérez na primeira volta, perdendo tempo, sendo punido por isso e desperdiçando pontos para a sua equipe. Questionável a decisão de Helmut Marko em manter um piloto rápido, mas errático como Kvyat.

Após a pataquada de Kvyat, Sergio Pérez partiu para uma corrida de recuperação e com o bom Force India que tem nas mãos, o mexicano ainda foi capaz de pontuar, enquanto Nico Hulkenberg se envolveu num acidente com Bottas na primeira curva e se tornou o primeiro abandono do dia. Mesmo com Bottas caindo para as últimas posições e tendo a sua corrida arruinada, a Williams tinha boas chances de aproveitar o mau momento da Force India, mas Felipe Massa decepcionou. O brasileiro passou boa parte da corrida como o melhor do resto e um quinto lugar era possível, mas Felipe acabou atrás de Carlos Sainz. Mesmo com os pneus em melhor estado, Massa sequer esboçou uma ultrapassagem em cima do espanhol, enquanto Alonso passou por cima dele e de Sainz como um trator, mesmo tendo um motor nitidamente inferior. Para completar, um pneu furado deixou Massa definitivamente em sétimo. Prestes a se aposentar, deu para perceber claramente a diferença entre um grande campeão (Alonso) e um bom piloto (Massa). Correndo em casa, a Haas ainda conseguiu um pontinho com Grosjean, que saiu das últimas posições para ser décimo em sua centésima corrida, porém, a Haas não se livrou dos seus crônicos problemas de freio, que fez Gutierréz abandonar a prova. A Renault fez uma prova dentro de suas possibilidades e Kevin Magnussen ficou na bica de marcar pontos. Reginaldo Leme garantiu que Felipe Nasr estará na Force India em 2017 e talvez por isso, a Sauber começou a pensar mais em Ericsson do que em Nasr. Hoje, mais uma vez, o brasileiro ficou atrás do limitado sueco. A Manor mal apareceu na corrida, enquanto seus pilotos, Wehrlein e Ocon, junto com Nasr, aparecem mais nos bastidores, para saberem onde estarão em 2017, do que na pista propriamente dita.

Mesmo a corrida deixando a desejar, Hamilton deu um passo importante na sua luta em virar o campeonato no seu final. Mesmo sendo tecnicamente superior à Rosberg, não deixa de ser uma tarefa difícil para o inglês faltando, agora, apenas três corridas. O campeonato ainda está nas mãos de Nico Rosberg. No momento em que os números de Lewis Hamilton vão ficando cada vez mais superlativos, se o inglês conseguir o seu quarto título superando Nico, mesmo o alemão não tendo nenhum título, numa incrível virada esse ano, definitivamente Lewis Hamilton será um dos grandes da F1.  

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