Poucas corridas recentes tiveram tanto significado histórico como o Grande Prêmio do Brasil de 2006, que hoje completa exatos dez anos. Além dos motivos óbvios, outros fatos que seriam conhecidos mais tarde fazem daquela corrida, acontecida debaixo de muito sol e calor em São Paulo, ainda mais marcante.
Interlagos recebia a última corrida da emocionante temporada 2006 ainda com o título a ser decidido, mas com Fernando Alonso praticamente campeão, pois o espanhol tinha nove pontos de vantagem em cima de Michael Schumacher. O alemão havia anunciado em Monza que estaria se aposentando da F1 no final de 2006 e logicamente Michael gostaria de sair de cena na melhor forma possível. Porém, a quebra do motor em Suzuka pôs tudo a perder e as coisas piorariam ainda mais nos treinos em Interlagos, quando Schumacher tem problemas no Q3 da classificação, quando um a bomba de combustível da Ferrari parou de funcionar e fez com que o alemão largasse apenas em décimo no domingo, enquanto o favorito Alonso largava em quarto.
Isso abria espaço para Felipe Massa brilhar. O brasileiro fazia uma ótima segunda metade de temporada em seu primeiro ano na Ferrari e com o time italiano conseguindo um ótimo carro em Interlagos, Massa conseguia a pole e tinha boas chances de conseguir uma importante vitória em casa, já que teoricamente não teria a obrigação de ajudar Schumacher. E Massa não decepcionou. O brasileiro dominou a corrida em Interlagos de forma enfática e conseguiu uma emocionante vitória na frente do seu público, que vibrou como há muito não acontecia. Mais especificamente desde 1993, última vitória brasileira em Interlagos com Ayrton Senna.
Alonso fez uma corrida tranquila, se mantendo entre os primeiros e com um segundo lugar sem maiores arroubos, o espanhol se tornava o mais jovem bicampeão da história da F1. E quanto a Schumacher? Após ser homenageado por Pelé antes da corrida, Schumacher tentou uma corrida de recuperação, mas num toque com Fisichella, companheiro de equipe de Alonso, no Esse do Senna o alemão furou o pneu e caiu para último. Quando dominou a F1, falava-se de tudo para diminuir os feitos de Schumacher e uma delas era que o alemão não sabia ultrapassar. Em Interlagos, numa pista onde ultrapassar era (e é) possível, Schumacher fez uma corrida esplêndida, superando adversário por adversário com belas ultrapassagens para ser quarto. O alemão não conseguia seu sonhado oitavo título, mas não se podia negar que Schumacher saía da F1 pela porta da frente, numa última corrida inesquecível.
Vendo aquela corrida dez anos atrás, parecia que Alonso, pela forma como derrotou Schumacher num campeonato de alto nível, poderia se tornar um dos maiores de todos os tempos, mesmo o espanhol tomando a perigosa decisão de trocar de equipe, mudando-se para a McLaren em 2007. Porém, Alonso iria para uma equipe de ponta, acostumada a vencer e não teria que se preocupar com o seu companheiro de equipe novamente, afinal, Alonso poderia até mesmo servir de professor para o talentoso estreante Lewis Hamilton, que após anos sendo tratado com leite de cabra pela McLaren, estrearia na F1 em 2007. Contratado pela Ferrari para substituir Schumacher, Kimi Raikkonen tinha tudo para ter trabalho com um ascendente Felipe Massa.
O ano de 2007 mostrou uma temporada bipolarizada entre Ferrari e McLaren, com a Renault ficando para trás, mas viu também surgir o fenômeno Lewis Hamilton, que fez da vida de Alonso dentro da McLaren um inferno, a ponto do espanhol abandonar a equipe após apenas um ano. O espanhol nunca pararia de evoluir e passados dez anos sem vencer um título depois do seu bicampeonato, ainda é considerado o melhor piloto da atualidade. Ao lado de Massa e Alonso no pódio de 2006, Jenson Button iria para a sua oitava temporada sem muitas perspectivas, mas mal sabia o inglês que três anos mais tarde ele se sagraria Campeão Mundial na F1. Massa e Raikkonen fizeram uma dupla forte na Ferrari, mas com apenas um título para o finlandês em 2007, enquanto o brasileiro ficou no quase em 2008. Ainda em 2007, um jovem alemão faria sua estreia na F1, fruto do boom de Schumacher na Alemanha: seu nome era Sebastian Vettel. Da mesma idade de Nico Rosberg, que estreou em 2006, Vettel era um 'filho' de Schumacher, que encerrava sua Era naquela abafada tarde de domingo em Interlagos. O alemão pode ter voltado à F1 anos depois numa pálida participação, mas a temporada 2006 marcava o fim da Era Schumacher e iniciava uma nova ordem na F1. Com quatro pilotos que começaram na F1 no começo da década (Button, Alonso, Raikkonen e Massa) e dois pilotos que só estreariam em 2007, mas entrariam para a história: Vettel e Hamilton. Era uma salada especial de grandes nomes reunidos e que dominaria a F1 nos anos seguintes.
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