Como diria Toto Wolff depois da corrida, não foi a maneira como Hamilton queria, mas isso não importava. Lewis Hamilton é o mais novo tetracampeão mundial de F1, se igualando à Alain Prost e Sebastian Vettel na história da categoria. Como a decisão pelo título estava muito fácil à favor de Hamilton, o toque entre os dois protagonistas da luta pelo campeonato nem trouxe tanta polêmica e mesmo conseguindo apenas um nono lugar, Lewis garantiu seu nome ainda mais cintilante no panteão dos grandes da F1.
Era esperado uma luta forte entre Hamilton e Vettel na corrida, com Verstappen sendo um ilustre convidado na briga pela vitória, mas tudo praticamente acabou na curva dois da corrida. Os três primeiros colocados largaram muito bem e na freada da curva um chegaram a fazer um improvável 'three-wide'. Logicamente que Hamilton recuou, mas Vettel e Verstappen continuaram na briga e os dois acabaram se tocando, além de terem se atrasado. Hamilton tentou se aproveitar da situação, mas acabou tocado por Vettel, furando seu pneu traseiro direito. Por um momento, a conquista do título parecia adiada, mas os seguidos toques na Ferrari do alemão fez com que ele precisasse trocar o bico do carro, enquanto Hamilton se arrastava com o pneu furado na primeira volta. Com Verstappen dominante e muito atrás no pelotão, mesmo à frente de Hamilton, a missão de Vettel era quase impossível. O título de Hamilton viria mesmo no México. Primeiro o alemão colocou os pneus macios para não parar uma segunda vez, mas com a entrada do virtual safety-car com a quebra do motor de Hartley, Vettel mudou de ideia. O ferrarista fez uma bela corrida de recuperação, com destaque para a briga com Massa, mas quando se viu 23s atrás de Raikkonen nas voltas finais, Sebastian nem teve coragem de pedir uma troca de posição de que nada adiantaria. Hamilton também colocou pneus macios em sua primeira parada, mas os pneus mais duros pareciam incapazes de aquecer e gerar aderência necessário ao inglês. Era incrível como Lewis não conseguia ultrapassar a Renault de Sainz e a Sauber de Wehrlein. Sorte do inglês que sua situação era privilegiada. Quando trocou de pneus no VSC, Hamilton recuperou bastante do seu desempenho e ainda brigou de forma forte com Alonso, no melhor momento da corrida. Lewis talvez tenha se arriscado demais na briga com Alonso, mas até um zero ponto lhe daria o tetracampeonato naquela situação. Ser campeão com um nono lugar não é o ideal, mas o título não foi conquistado hoje. Hamilton soube lutar com Vettel, um piloto do seu naipe, em vários momentos da temporada e o inglês da Mercedes não se exasperou, sua grande característica anos atrás. Aos 32 anos de idade, Lewis Hamilton chegou à maturidade para controlar um campeonato disputado e sua complexa corrida de hoje. O toque entre Vettel e Hamilton poderia ter causado uma polêmica grande se o campeonato não estivesse tão à favor de Hamilton. Depois da corrida, Vettel bateu palmas para Hamilton de forma merecida. O alemão sabe que está bem acompanhado no rol dos tetracampeões. Lewis Hamilton já tem números superlativos e quem o acompanha desde que estreou como um furacão dez anos atrás sabe que Lewis tem um estilo de pilotagem empolgante e não é nenhum exagero o colocar, no mínimo, entre os dez grandes da história da F1
Assim como Lewis Hamilton em 2007, Max Verstappen chegou à F1 como um dos grandes fenômenos dos últimos tempos. A Red Bull demorou muito a acordar, mas finalmente o fez nessas últimas corridas de 2017 e Verstappen vem se aproveitando dessa melhora para conquistar ótimos resultados. Max forçou na briga com Vettel na curva um, mas seu ritmo hoje mostrou bem que ele tinha totais condições de vencer mesmo com Vettel e Hamilton nas primeiras posições. Foi uma vitória dominadora, indicando que a Red Bull pode vir muito forte em 2018, tendo Verstappen como seu principal piloto. Depois de trocar de motor um pouco antes da largada, Ricciardo foi o primeiro a abandonar e ainda viu seu talentoso companheiro de equipe ganhar cada vez mais confiança. E um piloto confiante, além de super talentoso, é um perigo para um piloto claramente um degrau abaixo como Daniel Ricciardo. Os dois pilotos finlandeses tiveram uma corrida discreta, particularmente Bottas. O piloto da Mercedes tomou quase 20s de Verstappen de uma forma quase natural e só chegou em segundo por causa dos problemas de Vettel e Hamilton, o mesmo acontecendo com Raikkonen. Perdendo várias posições na largada, Kimi Raikkonen demonstrou mais uma vez uma grande dificuldade em ultrapassar pilotos com carros claramente inferiores ao seu e só subiu para terceiro com os pit-stops da turma da Force India e Nico Hulkenberg. Depois disso, Kimi fez uma corrida bastante burocrática e só subiu ao pódio por que não valia a pena para a Ferrari ordenar uma troca de posições com seus pilotos tão distantes entre si. O ritmo da Ferrari no tour asiático e na corrida de hoje mostrou bem que se não fossem os erros cometidos nas três corridas na Ásia e o título seria decidido até a última corrida, com Vettel apertando Hamilton. Se serve de consolo, esse grupo da Ferrari ganhou uma experiência valiosa para estar novamente na briga em 2018, mas a Mercedes ainda será o alvo a ser atingido por Ferrari e Red Bull.
Para desespero de Sergio Pérez, correndo em casa ele viu Esteban Ocon ser o melhor do resto com alguma folga, fazendo o francês repetir sua melhor posição na vida com um quinto lugar, sendo ultrapassado por Vettel já nas voltas finais. Stroll largou muito bem, chegou a ser quarto e num ritmo muito bom, conseguiu ficar entre os dois carros da Force India, salvando um bom sexto lugar para a Williams, muito na frente de Massa, que teve um pneu furado no início da prova e ao contrário de Vettel e Hamilton, não mais parou nos boxes e com pneus macios, ficou fora dos pontos por apenas uma posição. Magnussen se aproveitou dos problemas alheios e fez uma boa corrida ao levar a sofrível Haas aos pontos, enquanto Grosjean foi o último dos que receberam a bandeirada. A equipe americana caiu bastante nas últimas provas. Largando nas últimas posições após uma montanha de punições, os pilotos da McLaren subiram de posição até chegar à zona de pontuação com Alonso, com Vandoorne colado em Massa. Fernando se divertiu na briga com Hamilton, mas olhando de um plano maior, o espanhol tem com o que se preocupar em 2018. Todos os pilotos com motor Renault tiveram problemas no final de semana, garantindo o abandono da dupla da Renault (Hulkenberg vinha bem posicionado, junto com Ocon) e de Hartley. Felizmente Verstappen resistiu bem, mas a Renault ainda precisa melhorar sua confiabilidade. A Sauber fez seu papel de sempre, já pensando em 2018.
E a F1 já começa a pensar na próxima temporada. Com o seu campeão definido, a F1 parte para as duas últimas corridas do ano mais relaxado, mas já percebendo alguns bons sinais para 2018. O crescimento da Red Bull pode indicar uma briga à três ano que vem e Verstappen mostrou hoje que não tem medo de se digladiar com as grandes estrelas Hamilton e Vettel. Mesmo com um motor que rende até 20 km/h a menos, a McLaren mostrou um chassi muito bom e como falou bem Alonso, com um motor melhor, estaria na briga lá na frente nesse final de semana. E hoje, mesmo nem tão confiável, a Renault é bem melhor do que a Honda. Galvão Bueno narrou com emoção em sua estreia pela Sportv e com a Williams querendo claramente um outro piloto para o lugar de Massa em 2018, devemos nos acostumar com a ideia da F1 saindo da Globo e se mudando o canal fechado. A Liberty trouxe uma lufada de ar fresco à uma F1 carrancuda dos últimos tempos de Bernie. A festa no México para Hamilton foi midiática como aconteceu na apresentação de Austin quinze dias atrás. Houve zerinhos, uma corrida do inglês no meio da torcida, uma entrevista improvisada com um DJ aparecendo atrás do pódio. Essa nova F1 midiática (sinceramente achei dispensável Neymar aparecer no rádio com Hamilton, mas como o brasileiro é midiático...) tem tudo a ver com Hamilton. O inglês soube usar seu talento sobrenatural para ganhar fãs em outros nichos e se tornar uma superestrela pop mundial. Admirador confesso (e as vezes meloso demais) de Senna, Hamilton já superou o brasileiro em todos os números e sem medo de errar, já é uma lenda viva. Lewis Hamilton já está na história da F1.
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