quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Saindo de cena

A notícia era tão conhecida, que nem chegou a impactar ninguém, apesar de ter como protagonista um piloto com história numa equipe como a Penske. A equipe do capitão Roger Penske nem esperou um mês em que Josef Newgarden venceu o título da Indy para anunciar a saída de Helio Castroneves da categoria em forma integral, se mudando para a IMSA, ainda com o apoio da Penske a partir de 2018, além de voltar para as 500 Milhas de Indianápolis ano que vem.

Os comentários da mudança de Helio para a IMSA eram intensos há vários meses e mesmo com desmentidos aqui e ali, fazia total sentido. O brasileiro já tem 42 anos e seu auge na Indy, apesar da sua popularidade com os fãs da categoria, já tinha passado há muito tempo. Helio Castroneves sai de cena da Indy com um cartel muito forte, com 30 vitórias, 38 poles e vários top-5, além das três vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis, que foi o motivo que sustentou Helio por tanto tempo na Penske.

Em momentos como esse, onde um piloto se despede de uma categoria com relativo sucesso, a tendência é cobrir de elogios e adjetivos como 'brilhante' ser colada na carreira do recém-aposentado. Os números de Helio Castroneves são muito bons, não restam dúvidas, mas correndo por dezoito anos numa equipe como a Penske, os números acabam deixando um pouco a desejar e o fato de nunca ter sido campeão não deixa de ser uma mácula. Chances não faltaram para Helio se sagrar finalmente campeão da Indy, mas ele não aproveitou uma sequer, mesmo tendo total apoio da maior e melhor equipe dos Estados Unidos.

O carisma de Helio o ajudou bastante a se manter tanto tempo em alto nível na Indy, mas foram suas vitórias em Indianápolis que o sustentaram na Penske, mesmo sem título. Em 2001 ele derrotou seu companheiro de equipe Gil de Ferran numa corrida dominada pela Penske. No ano seguinte, uma final polêmica deu a vitória para Helio. Arriscando na tática de combustível (Helio não chegaria ao final da prova em bandeira verde), Helio estava sendo ultrapassado por Paul Tracy quando veio a bandeira amarela salvadora. Até hoje há dúvidas se a bandeira amarela veio antes ou depois da ultrapassagem de Tracy... Já em 2009, Helio viveu um conto de fadas quando escapou da prisão após problemas com o fisco americano para vencer pela terceira vez em Indiana. Nos últimos oito anos, viveu-se a expectativa de uma quarta vitória de Helio, o que o deixaria igual às lendas A.J. Foyt, Al Unser Sr e Rick Mears com quatro triunfos. Minha opinião é polêmica, mas Helio Castroneves se juntar à esses três nomes seria de uma aberração tão grande, que talvez por isso ele tenha batido na trave tantas vezes nos últimos tempos. 

Gigante em Indianápolis, Helio sempre pecou durante o campeonato da Indy. Viu cinco (!) companheiros de equipes serem campeões. Foi vice algumas vezes, mas como ficou claro na última corrida da temporada 2017, faltava estofo de campeão ao paulista. A opaca corrida em Sonoma foi apenas mais uma apática corrida decisiva de Helio. Nos últimos anos o ritmo de corrida de Helio, particularmente em circuitos mistos, era sempre descendente e as vitórias rarearam, resultando em um inacreditável jejum de três anos, num período onde a Penske dominou a Indy. Outro fato que Helio pecou nesses anos todos foi um pouco do seu recalque quanto à F1. Quando ele saiu do Brasil para se tornar um piloto profissional, Castroneves primeiro foi para a Europa, mas apenas por um contingência ele acabou nos Estados Unidos. Mesmo com o seu sucesso na Indy, algumas vezes Helio mostrava uma certa mágoa de nunca ter corrido na F1 e não raro, quando tocava no assunto, atacava os pilotos da F1, se colocando na situação de injustiçado. Helio chegou a testar na F1, mas não chamou atenção de ninguém. Foram duas décadas na Indy sem que sequer fosse cogitado se transferir para a F1. Azar da F1? Sinceramente, não.

A ida para a IMSA em 2018 foi uma espécie de prêmio para Helio, devido à lealdade prestada à Roger Penske e o próprio dono da equipe pode ter ficado relutante em demitir um funcionário com tantos anos prestados à equipe. Os números de Helio na Indy não são de se jogar fora. As três vitórias em Indianápolis estão na história. Mas ficar dezoito anos na melhor equipe dos Estados Unidos sem um título não é algo a se comemorar.   

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