Quando Valtteri Bottas largou mal e Lewis Hamilton emergiu na frente na primeira volta, o Grande Prêmio da Áustria parecia ter um ritmo bem parecido com as três últimas: modorrenta e sem graça. Minutos antes, a MotoGP tinha nos brindado com uma das melhores corridas dos últimos tempos com várias trocas de posição até a bandeirada. A F1 parecia que iria dar um balde de água fria no torcedor. As corridas atuais tirou um pouco o grande fator de animação das corridas antigas que é o imponderável. Antigamente haviam quebras e as equipes não tratavam suas estratégias com tanto rigor e de forma até científica. Hoje não houve um show de ultrapassagens, mas houve o imponderável. A Mercedes era o provável pivô da chatice da corrida e os alemães, os eficientes alemães, erraram na estratégia e viram seus dois carros quebrarem, entregando a vitória para Max Verstappen, que se recuperou de seu início claudicante de campeonato.
A largada no estreito circuito de Red Bull Ring já mostrava o que vinha pela frente. Raikkonen saiu de sua letargia habitual e meteu sua Ferrari entre os dois carros da Mercedes, com Bottas não repetindo sua largada relâmpago do ano passado e ficando pelo caminho. Kimi tentou a liderança, foi pressionado por Verstappen, mas ambos acabaram superados por Bottas, com o holandês ficando na frente de Raikkonen após um ligeiro toque no final da primeira volta. A primeira volta já tinha sido emocionante, mas para quem via a corrida, parecia que era o que tínhamos para hoje. Hamilton já tinha 2s de vantagem sobre Bottas, que tinha uma vantagem parecida em cima de Verstappen. A corrida parecia no bolso da Mercedes, que trouxe para a Áustria seu novo motor que havia funcionado tão bem na França, mesmo Sergio Pérez tendo dado um susto ao quebrar o seu motor Mercedes. Hamilton liderava tranquilamente, mas a vida da Mercedes começaria a piorar quando Bottas apareceu lento na pista, tendo que abandonar. Como está sendo comum nesses dias, o safety-car virtual apareceu e praticamente todo o grid foi aos boxes fazer a única parada do dia. Menos Hamilton...
A Mercedes cometeu esse decisivo vacilo e Hamilton ficou apenas 13s na frente de Verstappen, quando uma parada dura em média 20s. Era mais do que insuficiente e com pneus novos, Verstappen e todos que pararam andavam até mais rápido do que o piloto da Mercedes, que teve que fazer sua parada e retornar à corrida, contrariado, em quarto. Porém, a emoção da corrida ainda não havia terminado. Durante os treinos livres, as equipes pouco utilizaram os pneus macios, os mais duros do final de semana, mas foi a escolha de todos para terminar a corrida. A falta de tempo de pista com os pneus renderam bolhas nos pneus dos pilotos, fazendo a segunda metade da corrida imprevisível. Ricciardo, que havia ultrapassado Raikkonen antes do problema de Bottas, foi o primeiro a sofrer com o problema e teve que fazer uma segunda parada. Hamilton não apenas não se aproximava de Raikkonen, como era pressionado por Vettel, que efetuou uma belíssima ultrapassagem sobre o inglês. Se já estava injuriado com a situação onde se encontrava, tudo pioraria ainda mais para o inglês quando o motor Mercedes que praticamente lhe garantiu vida tranquila em Paul Ricard abriu o bico e Hamilton saiu zerado da Áustria, deixando o caminho livre para Red Bull e Ferrari batalharem pela vitória. Mesmo sendo um piloto jovem e agressivo, Verstappen já deu mostras que sabe administrar bem seus pneus. Ao ver Ricciardo sendo a primeira vítima das bolhas nos pneus, era esperado Max também sofrer com esse problemas, mas o holandês segurou bem o ritmo e mesmo com Raikkonen tirando muita vantagem nas voltas finais, Max Verstappen cruzou a linha de chegada em primeiro, voltando a vencer depois de muito tempo e se tornando o quarto vencedor da temporada. Vinha sendo um ano complicado e com muitos erros para o holandês, mas Verstappen pôs a cabeça no lugar, não se meteu em nenhum problema na atribulada primeira volta e se colocou na posição certa para vencer.
Mais de dezesseis anos depois da famigerada ordem de equipe para Barrichello, a Ferrari não repetiu a atitude com Raikkonen, que chegou em segundo e ainda marcou a volta mais rápida na perseguição à Verstappen. Kimi fez outra corrida consistente, mas sua vaga parece fadada à Chales Leclerc em 2019. Vettel fez uma corrida apagada, mas sua ultrapassagem sobre Hamilton mostrou a gana do alemão, mesmo Lewis aparentemente já estar sofrendo com problemas de motor. Com o terceiro lugar e o abandono de Hamilton, Vettel reassumiu a ponta do campeonato por um ponto. Daniel Ricciardo não teve muito o que comemorar no seu aniversário de 29 anos e viu seu motor quebrar quando estava na frente de Hamilton.
Romain Grosjean finalmente fez uma corrida digna de nota e pontuou pela primeira vez em 2018. O francês conseguiu levar seu carros com os pneus cheios de bolhas e não parou mais até a bandeirada, terminando a corrida num heroico quarto lugar, mas tomando uma volta do terceiro colocado Vettel, mostrando o abismo entre as equipes top-3 e o resto. O potencial da Haas foi finalmente mostrado com o quinto lugar de Magnussen, que não parou no safety-car virtual de Bottas e foi recuperando a posição que ocupava com várias ultrapassagens. A Force India, com sérios problemas financeiros, marcou pontos com seus dois pilotos, com destaque para Pérez, que largou nas últimas posições e terminou em sétimo, logo atrás de Ocon. Fernando Alonso mostrou mais uma vez seu enorme talento ao sair dos boxes, já que sua equipe feriu o regime do parque fechado, para ser oitavo, numa corrida de muitas ultrapassagens, mas também demonstrando que a McLaren tem a maior diferença entre companheiros de equipe, com Vandoorne cruzando em último, três voltas atrás do líder, ainda se ressentindo de um problema na primeira volta. Alonso não deve ficar em 2019, mas o espanhol está fora da luta por vitórias muito por causa dele próprio, um péssimo político dentro das equipes. Mesmo com seu enorme talento, ninguém quer Alonso! A Sauber colocou seus dois carros da zona de pontuação, algo que não acontecia desde 2015, quando a equipe, mesmo já com problemas de administração, projetou um bom carro, ao contrário do que Reginaldo Leme falou ontem, quando soltou a abobrinha de que Felipe Nasr fez mais do que Charles Leclerc...
A Renault teve um dia para esquecer, quando o seu motor quebrou com Ricciardo e também com Hulkenberg, logo no começo da prova, enquanto Sainz sofreu com as bolhas nos pneus e ficou longe da zona de pontuação. Gasly perdeu rendimento nas voltas finais e perdeu seu lugar entre os dez primeiros, enquanto Hartley foi mais um abandono em uma corrida com várias desistências, mas isso ainda não ajuda a Williams, que já parece mesmo fadada a ser a pior equipe de 2018.
O imponderável apareceu em Red Bull Ring e fez com que pela primeira vez um carro não-Mercedes vencesse na pista austríaca e a Red Bull finalmente vencesse em casa. A Ferrari salvou um final de semana discreto ao tratar melhor os pneus, enquanto a Mercedes sai da Áustria lambendo suas feridas com um carro que era capaz de vencer e até com dobradinha, mas acabaram perdendo a liderança de ambos os campeonatos. Nessa inédita época de três corridas consecutivas, a próxima em Silverstone promete ficar ver a velha base aérea ficar pequena para tentar ajudar Hamilton e virar novamente esse campeonato, que está cada vez melhor.
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