O circuito de Paul Ricard sofreu reformas em sua infra-estrutura para abrigar o Grande Prêmio da França de 1988, enquanto a pista ganhava mais 500 metros. O asfalto abrasivo de Paul Ricard poderia ser um fator na corrida, causando desgaste prematuro dos pneus durante a prova, principalmente se estivesse quente. Na Ferrari, John Barnard assumiu o lugar de Harvey Postlethwaite como diretor técnico, enquanto Marco Piccinini era colocado para escanteio, o que parecia ser o mesmo destino de Michele Alboreto. Após a perca do título de 1985 Alboreto nunca mais voltou a ter uma boa fase e Nigel Mansell, insatisfeito na Williams e muito bem visto por Enzo Ferrari, negociava abertamente para ser o sucessor de Alboreto na casa de Maranello, enquanto a Williams negociava com o próprio Alboreto e também com Boutsen, que fazia um bom trabalho na Benetton e tinha o trunfo de falar francês, algo que agradava bastante a Renault, que supriria motores a Williams a partir de 1989.
Prost estava incomodado com a boa fase do seu companheiro de equipe e queria dar uma resposta em casa. Sempre andando bem na França, Prost obteve a pole position, a primeira dele em dois anos. Ele ficou à frente de Senna na sexta-feira e no sábado, colocando um ponto final na série de seis poles consecutivas de Senna em 1988. Atrás da dupla da McLaren, o grid foi ocupado sempre em dobradinha das equipes. A Ferrari ocupava a segunda fila, com Berger furioso por ter sido atrapalhado por Larrauri no sábado, à frente de Alboreto. Mas as máquinas italianas ainda consumiam muita gasolina. A Benetton-Ford (Boutsen 5º, Nannini 6º) obteve um ótimo desempenho ao conceder apenas dois segundos à McLaren. Eles estavam especialmente melhores que o Lotus-Honda (Piquet 7º, Nakajima 8º). Williams-Judd (Mansell 9º e Patrese 15º) sofria com falta de aderência. Capelli colocou seu March em décimo, muito à frente de Gugelmin (16º), que quebrou um motor.
Grid:
1) Prost (McLaren) - 1:07.589
2) Senna (McLaren) - 1:08.067
3) Berger (Ferrari) - 1:08.282
4) Alboreto (Ferrari) - 1:09.422
5) Boutsen (Benetton) - 1:09.587
6) Nannini (Benetton) - 1:09.718
7) Piquet (Lotus) - 1:09.734
8) Nakajima (Lotus) - 1:10.250
9) Mansell (Williams) - 1:10.337
10) Capelli (March) - 1:10.496
O dia 3 de julho de 1988 amanheceu nublado em Le Castellet, mas logo o sol apareceu e a corrida seria realizada com muito calor, o que incomodava a muitas equipes. A Ferrari diminuiu a pressão do turbo do seu motor para que o carro não sofresse pane seca e no warmup, Berger e Alboreto reclamavam do desgaste dos pneus com apenas cinco voltas. Sendo a Ferrari a segunda força do grid e tendo problemas antes da largada, a corrida seria ainda mais da McLaren. Prost largou muito bem, mantendo a ponta com facilidade, pois surpreendentemente Senna não larga bem e foi ultrapassado por Berger, mas na freada da primeira curva, Senna força e se mantém em segundo. Piquet também sai de suas características e ultrapassa os dois carros da Benetton numa boa largada do tricampeão.
Prost fazia sua corrida calculada, administrando sua vantagem sobre Senna, que era perseguido de perto por Berger, mas o austríaco sabia que se forçasse muito, poderia ficar sem gasolina no final. Alboreto corria sozinho em quarto, enquanto Piquet liderava o segundo pelotão, perseguido pela dupla da Benetton e Mansell. Na volta 13 Berger desiste de perseguir a dupla da McLaren e perde 1s em média por volta para os líderes. Quando Prost se aproxima dos primeiros retardatários, Senna chegou perto do francês, usando sua conhecida agressividade para passar os carros mais lentos, quase jogando Martini para fora da pista na rápida curva Signes. Boutsen entra nos boxes com o motor do seu Benetton rateando, fazendo belga perder uma volta. Na volta 22 Berger erra uma marcha e roda, mas o austríaco só perde uma posição para Alboreto e imediatamente entra nos boxes para trocar os pneus danificados pela manobra. Berger retorna à corrida em sexto, mas logo ultrapassa Nannini e Piquet. Num circuito de alta velocidade, Mansell passava o apuro de ser ultrapassado por Satoru Nakajima, que tinha a sua disposição o potente motor Honda, em plena reta dos boxes pela sétima posição.
Quando Berger assumiu o quarto lugar de Piquet na volta 31, os líderes aproveitaram para fazer seus pit-stops. Senna parou na volta 34 e durou exatos 9s e imediatamente Senna virou 2s mais rápido do que Prost. Percebendo que poderia ser ultrapassado nos boxes, Alain entra nos boxes na volta 37, mas uma roda dianteira esquerda travada fez Prost retornar à pista atrás de Senna. Psicologicamente, uma terceira derrota consecutiva poderia ser fatal para os planos de tricampeonato de Prost e por isso, o francês saiu de sua cautela habitual e partiu para cima de Senna. Terminadas as paradas, Berger era terceiro com mais de 30s de desvantagem para Prost, com Alboreto 5s depois. Piquet era quinto, mas um minuto atrás de Senna, enquanto Capelli, Nannini e os demais já vinham uma volta atrasado. Berger percebe que sua perseguição inicial às McLarens tinha sido demais para o consumo da Ferrari e o austríaco diminui seu ritmo, sendo ultrapassado por Alboreto na volta 47. Três voltas depois Mansell encostava seu Williams com a suspensão quebrada, aumentando o jejum do inglês em terminar, sequer, uma corrida em 1988.
Senna e Prost corriam com uma diferença que não era superior aos 3s entre eles, porém, era nítido que Senna estava andando no limite, como foi exemplificado nas duas travadas que deu na primeira curva. Prost vinha claramente resguardando seu carro, correndo com a pressão do turbo mais baixa, apenas esperando a hora de atacar. E o bote veio na volta 61. Piquet estava para tomar volta na reta Mistral e ficou à esquerda, deixando a dupla da McLaren passar. Prost aproveitou para pegar o vácuo de Senna, que tinha dois retardatários (Martini e Caffi) para passar no final da reta. Caffi vinha bem mais lento, mas na ânsia de passar os dois italianos, Senna acaba saindo de dianteira na Signes na turbulência de Martini. Prost não pensa duas vezes e coloca por dentro na curva seguinte, assumindo a ponta com uma bela ultrapassagem dupla. Com o orgulho ferido, Senna tenta perseguir Prost, mas além de um grande piloto, Prost foi um dos pilotos mais inteligentes da história da F1. O não-ataque de Prost nas voltas posteriores a sua desastrada parada lhe ajudou a economizar combustível e quando Senna tentou um contra-ataque, o brasileiro percebeu que se mantivesse aquele ritmo, acabaria sem combustível no final. Senna abranda seu ritmo, além de ter problemas no câmbio, perdendo até 2s para Prost, que venceu sua terceira corrida em casa. Senna cruzou a linha de chegada mais de 30s depois e parou seu McLaren logo depois da bandeirada. Era a quarta dobradinha seguida da McLaren, enquanto Alboreto completava o pódio feliz por não ter levado uma volta dos pilotos da McLaren. Berger, Piquet e Nannini completaram os seis primeiros. Foi uma vitória importante para Alain Prost. Ele quebrava a sequencia de Senna com uma pilotagem cerebral e consciente. Uma vitória bem ao estilo do Professor.
Chegada:
1) Prost
2) Senna
3) Alboreto
4) Berger
5) Piquet
6) Nannini
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