quinta-feira, 12 de julho de 2018

Foi muito, mas poderia ser mais

Algumas vezes eu brinquei com a situação de Daniel Pedrosa na MotoGP. Já o chamei de 'múmia' de 'ex-piloto em atividade' e de que seu agente 'é o melhor da história'. Dani Pedrosa conquistou três títulos mundiais, 54 vitórias, 153 pódios, 49 poles em 285 corridas disputadas. Porque Pedrosa seria tratado desse forma por esse humilde blogueiro com todos esses números?

Pedrosa talvez foi o primeiro espanhol que foi criado para ser campeão desde a tenra idade. Quando ainda tinha 13 anos, ele foi contratado pela Honda por todo o seu talento precoce e a montadora japonesa não mediu esforços para que Pedrosa se tornasse um gigante no Mundial de Motovelocidade, principalmente pelo potencial mostrado até então. Dani estreou no Mundial em 2001 quando completou 16 anos e não precisou de muito tempo para conquistar o título nas 125cc ao final de 2003. Em 2004, Pedrosa subiu para as 250cc e nem precisou de tempo de adaptação. Foi campeão logo de cara, conquistando o seu terceiro título no ano seguinte. Três títulos consecutivos em duas categorias diferentes. A Honda parecia ter acertado na mosca! Ela tinha seu super campeão criado com todo o carinho para isso. Tendo Alberto Puig como mentor, Pedrosa estreou no Mundial de MotoGP em 2006 ainda com 20 anos. Apesar da categoria-rainha do Mundial de Motovelocidade ser bem mais complexa do que 125cc e 250cc, o título de Pedrosa parecia ser questão de tempo. Pena que o título nunca viria...

Tendo todo o apoio da Honda, Daniel Pedrosa se tornou uma estrela do Mundial de MotoGP e seu talento nunca foi contestado. Porém, alguns aspectos físicos e psicológicos pesaram na carreira do espanhol. Muito pequeno e franzino, Pedrosa sempre sofreu muito mais do que os seus rivais as inevitáveis quedas que um piloto de moto sempre é submetido. Dani sofreu mais de vinte fraturas em seu corpo, o atrapalhando em muitas oportunidades em que tinha tudo para deslanchar na briga pelo título. Corridas perdidas e longos períodos de recuperação sempre tiravam Pedrosa do páreo.

E isso foi mexendo no psicológico do espanhol. Sempre apoiado fortemente pela Honda, Pedrosa tinha a fama de não ser muito simpático e a imprensa italiana o apelidou de 'O Triste'. Seu estilo retraído se refletia nas pistas, onde Pedrosa sofria nos confrontos corpo a corpo, tendo seu físico nada privilegiado como outro fator de dificuldade. Como não poderia deixar de ser, esse apoio da Honda lhe trouxe inimigos que talvez almejassem estar no lugar de Pedrosa. E o principal rival de Daniel Pedrosa tinha nome e sobrenome, além do mesmo país: Jorge Lorenzo.

Pedrosa e Lorenzo sempre foram rivais desde antes de ambos entrarem no Mundial de Motovelocidade, quando disputavam a primazia de quem era a maior esperança espanhola nas motos. Quando ambos começaram a se enfrentar no Mundial, Pedrosa já estava num estágio mais avançado e Lorenzo via no seu compatriota um alvo a ser abatido. Mais expansivo, Lorenzo não media esforços para provocar Pedrosa e os dois simplesmente se detestavam. Até o rei Juan Carlos tentou uma aproximação dos dois jovens potenciais campeões. Somente o tempo fez com que Pedrosa e Lorenzo começassem a se falar e, principalmente, a se respeitar.

Os acidentes e algumas atuações apáticas pareciam que apagavam a estrela de Pedrosa. O tempo foi passando e o esperado título do espanhol não vinha. A Honda usou sua força política para mudar o motor da MotoGP de 990cc para 800cc para ajudar o pequeno físico de Pedrosa, mas nem isso fez com que o espanhol ganhasse um título. Logo em seu ano de estreia, Dani viu seu primeiro companheiro de equipe ser campeão: Nicky Hayden. O americano não tinha o talento de Pedrosa, mas soube ser forte e aproveitou o seu momento. Mais experiente, Pedrosa tomou as rédeas da equipe, mas viu seu rival Lorenzo estrear na MotoGP e ser campeão uma, duas, três vezes! Casey Stoner foi contratado pela Honda como sua principal estrela e o talentoso não quis saber de Pedrosa e todo o seu tempo de equipe. Stoner venceu o título logo em seu primeiro ano de Honda. Quando Stoner se aposentou repentinamente, surgiu Marc Márquez.

Pedrosa deve ter se visto no jovem compatriota. Considerado um fenômeno desde criança, Márquez foi atropelando nas categorias menores do Mundial até ser contratado pela Honda, que já estava de olho nele desde sempre. O que aconteceu? Márquez foi campeão logo em seu primeiro ano de MotoGP e com apenas 25 anos, vai se tornando uma lenda viva da MotoGP.

Enquanto isso, Pedrosa ia ficando na Repsol Honda num papel muito longe do que dele se esperava dentro da equipe. De supercampeão trabalhado para derrotar Valentino Rossi, que virou as costas para a Honda e se sagrou multi-campeão pela rival Yamaha, Pedrosa foi ficando na Honda por sempre garantir bons pontos para a equipe, além de ser um grande acertador de motos.

Nos últimos anos, as lesões apareciam e demoravam cada vez mais para sarar. Pedrosa já não era o garoto com potencial de ser campeão da MotoGP. Ele fez 30 anos e os cabelos branco apareceram com força. Sem a velocidade para competir com Márquez, Pedrosa foi ficando mais e mais para trás. O anúncio da saída da Honda após 18 anos era um indício do que poderia vir. Mais uma temporada com a mais dócil Yamaha numa equipe satélite? Pedrosa disse que não.

Hoje ele anunciou que, aos 32 anos (irá completar 33 em setembro), a temporada de 2018 será sua última no Mundial de Motovelocidade. Fiel à Honda, deverá ficar na equipe com algum cargo, mesmo que Puig, seu antigo mentor, esteja no comando da equipe e o final do relacionamento entre eles não foi dos mais tranquilos. Em Valencia se completarão treze temporadas na MotoGP.

Porque então Daniel Pedrosa poderia ser mais do que foi? A expectativa. O espanhol fez toda a sua carreira na melhor equipe da MotoGP, viu três companheiros de equipe serem campeões, sendo que um deles era claramente inferior, mas Pedrosa ficou sem nenhum título para dizer que é seu em treze anos. Não faltou apoio da Honda, mas Pedrosa sempre falhava no momento decisivo. Seja uma lesão ou uma corrida perdida no final, Pedrosa foi engolido por Rossi, Lorenzo e Márquez.

A carreira do espanhol foi belíssima e ele foi um dos grandes talentos de sua época, mas para sempre Daniel Pedrosa deixará um gostinho de quero mais. 

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