domingo, 22 de julho de 2018

O troco fora de casa

Como num campeonatos de mata-mata, o fator casa não se fez muito presente nessa boa briga entre Vettel e Hamilton pelo título. Na Inglaterra Vettel venceu muito pelos erros da Mercedes e a corrida turbulenta de Hamilton. Duas semanas depois, na Alemanha, Hamilton deu o troco em Vettel, que estava tendo uma corrida até tranquila rumo à vitória até ser o único abandono pela pista úmida pela chuva que caiu em Hockenheim. Sebastian estava com a faca e o queijo na mão para disparar no campeonato em duas corridas onde Hamilton teve que sair de trás, mas saiu de Hockenheim com uma bela desvantagem nas costas. Essa briga tão polarizada entre Vettel e Hamilton trouxe de volta à F1 algo que a categoria reclama, mas que sempre ocorreu: as ordens de equipes explícitas.

O novo circuito de Hockenheim sempre trouxe polêmica por causa do fim do tradicional traçado cheio de retas longas no meio da Floresta Negra, culminando com o travado setor do Estádio. Hockenheim foi cortado ao meio em 2002, derrubando várias árvores e destruindo o tradicional setor da floresta. Os tradicionalistas reclamam e a mãe de Tilke, autor da reforma, é xingada. Contudo, o antigo traçado de Hockenheim era tratado como 'fácil demais' pelos pilotos e nem sempre as corridas eram boas. Muita gente lembra da famosa vitória de Rubens Barrichello em 2000, mas a verdade era que as longas retas de Hockenheim também provocava longos bocejos. A nova pista não tem a identidade da antiga, mas as corridas melhoraram desde então e a de hoje não foi exceção, mesmo que a excitação trazida hoje foi pelo mesmo motivo que tornou a corrida de dezoito anos atrás tão lembrada: a instabilidade climática.

Com um carro superior e muito motivado para quebrar o tabu de nunca ter triunfado em Hockenheim, Vettel era o grande favorito para vencer a prova e a largada limpa corroborava para isso. O alemão administrava a corrida muito bem, não deixando que Bottas se aproximasse, enquanto mantinha Raikkonen à distância. Não demorou mais do que quinze voltas para Hamilton atravessar o pelotão da 14º para a 5º posição, com os pilotos do pelotão intermediário nem tentando dificultar alguma coisa para o piloto da Mercedes, pois sabiam de antemão que era uma luta perdida. O único ponto de atenção era a possível chuva, que as nuvens pesadas no horizonte poderiam trazer. Os pilotos retardavam ao máximo suas paradas esperando a chuva que teimava em não vir. Raikkonen fez o contrário. Preso atrás de Bottas, antecipou sua parada e com pneus macios novos, passou a ser o mais rápido na pista. Porém, isso acabou trazendo problemas para a Ferrari, pois o ritmo de Kimi era tão bom, que quando os líderes pararam, ele estava na liderança da corrida, na frente de Vettel. Como Fernando Alonso oito anos atrás, Vettel reclamou, esperneou e chorou pelo rádio. Raikkonen, com um pé fora da Ferrari, se fazia de desentendido. A frase 'Kimi, Seb is faster than you' não veio, mas Kimi foi obrigado a Vettel passar. Com pneus macios, Hamilton foi o último a parar e duas voltas depois... a chuva veio! Assim como em 2000, a chuva veio em determinadas parte da pista e não com a força esperada. Mas serviu para mudar o rumo da corrida e do campeonato.

Vettel realmente abriu bastante sobre Raikkonen, que acabou ultrapassado por Bottas e ambos eram alcançados por Hamilton. Os pilotos do pelotão intermediário foram mudando de estratégias, colocando pneus intermediários e de chuva forte ou até mesmo arriscando ficar com os slicks. Leclerc e Ocon rodaram, enquanto a corrida se tornava uma loteria nas voltas finais. Vettel estava com 9s de frente quando apareceu espetado no muro no setor do Estádio, bem na frente da torcida alemã. O incrível é que muita gente vibrou, numa torcida pela Mercedes, em cena que lembrou um pouco o abandono do italiano Patrese na Itália (Ímola) em 1983, mas como a Ferrari assumia a ponta, os tifosi vibraram. Porém, 35 anos depois a maioria da torcida lamentou o imenso erro de Vettel num momento decisivo do campeonato. Enquanto xingava e batia no volante em sua raiva e impotência, Vettel viu a sua situação ficar ainda pior. O safety-car resultante do seu acidente, mais a chuva que não vinha forte, fez com que muitos voltassem aos pits. Raikkonen e Bottas colocaram pneus slicks, mas hipermacios, os mesmo que Hamilton tinha, que ficou na pista e assumiu a ponta da corrida. Foi então que veio a segunda ordem de equipe do dia. Com pneus bem mais novos, Bottas partiu para cima de Hamilton, mas logo veio a frase 'Hold your position' para pôr ordem na casa. Mesmo ameaçado pela chuva, Hamilton venceu pela 66º vez, mas essa foi uma das mais especiais pelo fato de ter sido numa situação que parecia perdida.

Pela segunda corrida consecutiva, Lewis Hamilton mostrou uma pilotagem espetacular para sair do final do pelotão para o pódio, com uma segunda posição na sua casa e agora dando o troco em Vettel na casa do alemão. Num momento em que a Ferrari parecia estar mais forte, Hamilton saiu de uma situação adversa para uma vitória redentora, onde ele virou mais uma vez o campeonato e se coloca forte na luta pelo pentacampeonato, que parece bipolarizada entre ele e Vettel, o grande derrotado do dia. As ações de Ferrari e Mercedes hoje com os seus pilotos finlandeses deu uma mostra de como há, por mais que neguem, uma diferença entre primeiro e segundo pilotos nas duas equipes. Bottas completou a dobradinha da Mercedes em casa, enquanto Raikkonen completou o pódio de uma corrida em que ele se colocou com chances de vencer. A Red Bull foi uma nada brilhante terceira força. Verstappen chegou a atacar Raikkonen no início, mas ficou apenas rondando a briga pelo pódio. O holandês foi um dos que arriscaram pelos pneus intermediários, mas a tática foi errada e holandês foi mesmo um comportado quarto colocado. Ricciardo largou com os pneus mais duros, demorou para atravessar o pelotão mesmo largando logo atrás de Hamilton, mas acabou abandonando por problemas de motor. Ironia das ironias, pois o australiano largou lá atrás por ter que trocar de motor...

O animado pelotão intermediário teve como 'vencedor' Nico Hulkenberg, que usou o conhecimento da pista para conseguir um bom quinto lugar. Porém, Kevin Magnussen passou a maior parte do tempo na posição de líder dos pequenos, mas o danês acabou se atrapalhando no momento da chuva e saiu da zona de pontuação, algo que Grosjean ainda teve tempo de alcançar. Pérez teve uma parada ruim, mas ainda conseguiu se manter na frente de Ocon, que rodou no momento que a chuva estava mais presente. Alonso, Leclerc e Gasly arriscaram tudo quando a chuva veio e acabaram sem nada. Seus companheiros de equipe foram mais pacientes e todos chegaram à frente, com Ericsson e Hartley marcando pontos. Nem em uma corrida complicada a Williams teve força para conseguir alguma coisa e viu seus dois pilotos abandonarem quase que simultaneamente. 

A esperada chuva só veio mais forte bem no momento do pódio, em forma de uma tempestade que possivelmente suspenderia a prova ou, no mínimo, traria o safety-car. Numa temporada cheia de reviravoltas, o regresso do Grande Prêmio da Alemanha no já não tão novo Hockeheim foi o símbolo de um ano completamente imprevisível e cheio de surpresas. Quando todos esperavam que Vettel vencesse em casa e disparasse no campeonato, aconteceu exatamente o contrário. Hamilton e seu cabelo de gosto duvidoso conseguiu uma façanha e tanto ao fazer duas espetaculares corridas de recuperação consecutivas. Agora é o inglês que lidera com folgas, mas da forma como está o campeonato, ninguém deve apostar nada até o final.    

5 comentários:

  1. Ordens de equipe sempre existiram, mesmo em times que se diziam não acontecer nada disso como McLaren e Williams em seus tempos áureos(já beeeeeeeem distantes).

    Já fui mais resistente quanto a isso, mas hoje não me incomodo com elas. As equipes sabem direito em qual piloto elas devem de fato confiar pra obterem os resultados que almejam e tanto Vettel quanto Hamilton tiveram cacife(leia-se resultados) pra obterem contratos favoráveis do jeito que eles quisessem.

    A Raikkonen e Bottas não foi isso, a eles cabiam aceitar os termos que Ferrari e Mercedes lhes ofereciam ou não aceitar. E como Barrichello, Coulthard e Massa, eles aceitaram os termos.

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  2. A relação profissional na F1(assim como no restante do automobilismo e motociclismo) é essa mesmo: Os pilotos são pagos pra defender os interesses das equipes e não o contrário por mais injusta e leonina que possa parecer.

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  3. E com um campeonato tão imprevisível e maluco como esse, não dá pra sequer tentar arriscar qualquer tipo de prognóstico mesmo.

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  4. Grande corrida, pra desespero dos senhores Victor Martins e Flávio Gomes que só sabem falar merda!

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    1. Eles são tão chatos, que ainda acham o que criticar na corrida de ontem. Deveriam ficar falando da 'emocionante' F-E...

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